Cardeal Tagle: só no sangue de Jesus é possível uma nova aliança
Lorena Leonardi e Rosario Capomasi – Vatican News
“Há dinheiro suficiente para armas, mas não o suficiente para comida, moradia, medicamentos e educação. A discriminação, a desigualdade e a manipulação dos seres humanos são contrárias à aliança no sangue de Jesus”. Uma forte advertência, lançada na manhã de terça-feira, 1º de julho, pelo cardeal Luis Antonio G. Tagle, pro-prefeito do Dicastério para a Evangelização, na homilia da celebração eucarística presidida na Basílica do Vaticano diante dos participantes do Jubileu das famílias religiosas e dos movimentos leigos do Preciosíssimo Sangue.
Iniciado na segunda-feira (30/06), o evento do Ano Santo envolveu os devotos do Preciosíssimo Sangue de Jesus vindos de todo o mundo, reunidos na significativa coincidência com a solenidade da devoção impulsionada no século XIX por San Gaspare del Bufalo. Tagle deteve-se longamente no conceito de aliança, “não levada a sério” num mundo em que as divisões “atingem proporções destrutivas, desumanizantes e violentas”. Assim, o cardeal centrou a sua reflexão na primeira leitura do Êxodo, que recorda como a aliança entre Deus e Israel é “essencialmente uma relação pessoal composta por níveis diferentes, mas interligados”. E eis que no sangue de Jesus se realiza “uma nova e perfeita aliança”: Deus assegura que “nunca nos abandonará” e o ser humano jura-lhe plena fidelidade “em nome da humanidade e da criação”.
Ninguém é estranho
Então, da carta de São Paulo aos Efésios emerge outro “aspecto importante da nova aliança no sangue de Jesus”, ou seja, “o nascimento de uma nova comunidade reconciliada”. De fato, na pessoa de Jesus, os discípulos de diferentes nações e culturas “não são mais estranhos, mas concidadãos e membros da mesma família”. Ninguém, concluiu Tagle, deve ser tratado “como um estranho, uma ameaça ou um bode expiatório”, mas “como um vizinho, um irmão e uma irmã”.
Em uma troca de fraternidade
Antes de chegar a São Pedro, os fiéis fizeram a peregrinação pela Via della Conciliazione para atravessar a Porta Santa da Basílica do Vaticano. Os chapéus e mochilas vermelhas, cada vez mais numerosos, se agruparam rapidamente: após uma oração, um canto se ergueu e, atrás da cruz jubilar, começou a caminhada em direção a São Pedro. Foi aqui que o casal italiano Anna Rita e Fabrizio, há 40 anos animadores litúrgicos na paróquia do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, em Roma, contaram sua vida inteiramente dedicada a Cristo. “Vivemos, com isso, três jubileus e cada um deles foi um momento para viver a fé ainda mais intensamente”, explicou Anna Rita. “E tudo isso junto com pessoas vindas de todas as partes do mundo, com as quais compartilhar as alegrias e as dores, a troca recíproca de fraternidade para colocar à disposição dos outros aqueles grandes dons que Deus nos deu”.
Para ir ao encontro do próximo
Dons dos quais se beneficiou Olga, 60 anos, venezuelana, que explicou como a peregrinação jubilar é para ela um convite a “parar”. “Sim, parar e olhar para dentro de nós mesmos para fazer um balanço da situação, perguntando-nos: ‘o que fiz pelos outros até hoje? É suficiente ou devo me esforçar mais para ir ao encontro do próximo, sacrificando-me se necessário?’. Uma vez encontradas as respostas, podemos partir com uma esperança mais forte em um mundo melhor”.
Semeando a presença de Deus
“Ao nos colocarmos em caminho, levamos conosco o peso e os sofrimentos dos paroquianos que não estão conosco, a dor do mundo, mas também as alegrias de muitos e as esperanças de todos. Com nosso testemunho, semeamos a presença de Deus”, afirmou Pe. Das, de origem indiana, mas em Bari há 13 anos. Da capital da Apúlia partiram mais de 100 fiéis para participar da koinè, o encontro anual da Família do Preciosíssimo Sangue.
O desafio de acreditar
Em viagem desde o amanhecer, os cerca de 50 peregrinos vindos de Sonnino, na província de Latina, procuraram um pouco de abrigo do calor já opressivo nas sombras da Piazza Pia. Eram paroquianos de São Miguel Arcanjo, uma comunidade missionária administrada pelos religiosos do Preciosíssimo Sangue. Este Ano Santo é particularmente significativo para eles, porque também é a festa jubilar de Maria Santíssima das Graças em Sonnino: uma ícone “à qual somos particularmente ligados”, explicou Davide, 23 anos, envolvido em um caminho voltado para os jovens e convencido de que esperar é hoje “essencial”. Acreditar pode ser “um verdadeiro desafio”, especialmente para um jovem: “penso em Gaza, na Ucrânia, nos jovens como eu que lutam, e então ter esperança não é uma opção, é um passo obrigatório”, disse ele.
Um grande dom
O mais jovem do grupo, que veio do sul do Lácio, tem apenas 9 anos: “esta é minha segunda peregrinação, porque já participei do Jubileu da minha diocese, no dia 30 de maio — contou ele. Foi lindo, e hoje voltei aqui com a minha avó: quando termina a escola, passo o verão com ela, e para mim é um grande presente poder atravessar novamente a Porta Santa da Basílica do Vaticano junto com ela”.
O crescimento espiritual
A Basílica de Latrão, por sua vez, já havia sido atravessada, por ocasião da vigília presidida em São João pelo cardeal Baldassare Reina, vigário geral do Papa para a diocese de Roma. O evento fez parte das iniciativas da koinè e foi enriquecido por testemunhos. Como o de Manuela, de Munique, com a voz embargada pela emoção ao contar sobre sua adolescência turbulenta, o uso de drogas que a levou a abandonar a Igreja, até o encontro com uma pessoa que a convidou a participar de um seminário sobre o Espírito Santo. A partir daí, um crescimento espiritual contínuo e o novo “encontro” com Jesus, durante um retiro com as freiras do Preciosíssimo Sangue, onde descobriu a prática do rosário que mudou radicalmente sua vida.
“Sempre há redenção”
A tanzaniana Martha também se emocionou ao relembrar como, até 2023, estava “perdida no desespero”, de luto pelos pais, separada de seu único filho e “completamente sozinha”. O encontro com Pe. John, sacerdote da família espiritual querida por San Gaspare del Bufalo, marcou para a mulher o início de uma nova vida: “fui ouvida com profunda compaixão, algo que não sentia há anos. Em vez de ser julgada, encontrei um guia”. Após 40 anos, Martha voltou à confissão, que lhe deu “uma sensação de libertação avassaladora, como se um peso esmagador tivesse sido tirado de mim. O encontro com a comunidade — concluiu — não só me mudou, como me salvou. Agora vivo com esperança, sabendo que há sempre redenção, cura e vida nova”.
Apoio aos doentes
Por fim, as Irmãs do Preciosíssimo Sangue que vivem na diocese de Yangon, em Mianmar, também contaram a sua história. No país do Sudeste Asiático, após o golpe militar de 2021, “luta-se e morre-se, mas poucos falam sobre isso no mundo”, explicaram as religiosas que sofrem, juntamente com seu povo, a “situação de crise política, miséria e fé”. Além de compartilhar “os sofrimentos, as preocupações e a pobreza das famílias”, as freiras apoiam os doentes e vivem ao lado dos jovens que lutam pela justiça e pela paz, mesmo que isso lhes custe a vida.