O brilho da África sempre esteve presente na história do mundo, porém, muitas vezes foi obscurecido pelos interesses daqueles que, pela arrogância e voracidade, tentaram apagar a grandeza de seus povos.
Padre José Inácio de Medeiros, CSsR - Instituto Histórico Redentorista Foi no continente africano, vasto e multifacetado, que os primeiros ancestrais do ser humano surgiram e desenvolveram dando base às demais civilizações. Saindo das areias do Saara até as densas florestas do Congo, das terras férteis do vale do Rio Nilo até as savanas do sul, em seu passado a África abrigou impérios florescentes, reinos e sociedades complexas muito antes do advento das grandes nações europeias que posteriormente subjugariam e explorariam suas riquezas. O brilho da África sempre esteve presente na história do mundo, porém, muitas vezes foi obscurecido pelos interesses daqueles que, pela arrogância e voracidade, tentaram apagar a grandeza de seus povos. Povos e civilizações Diversos povos africanos desenvolveram sofisticadas culturas e avançadas formas de organização política e social. O Antigo Egito, frequentemente citado por narrativas ocidentais como se fosse uma civilização isolada do restante do continente, na verdade, se constitui num dos muitos exemplos da riqueza histórica africana. O Reino de Kush, ao sul do Egito, localizado onde existe o Sudão, floresceu como potência militar e econômica, chegando a governar a terra dos faraós em um período conhecido como Dinastia Núbia. A grandiosidade de Timbuktu, no Império Mali, se rivalizava com as mais célebres cidades europeias da Idade Média, como um centro de saber, onde se reuniam estudiosos, filósofos e matemáticos que alimentavam a ciência muito antes do Renascimento europeu. No Império de Gana, riquezas incalculáveis em ouro circulavam por rotas comerciais que conectavam a África ao mundo islâmico e mais além. Enquanto a Europa vivia no sistema feudal, os reinos africanos já haviam estabelecido dinâmicas comerciais bem sofisticadas. No Zimbábue foram erguidas edificações em pedra sem o uso de argamassa, um feito arquitetônico notável. O Reino do Congo já mantinha diplomacia com Portugal no século XV, mostrando que os povos africanos não eram meramente receptores passivos da presença estrangeira, mas agentes de suas próprias histórias. No entanto, à medida que as potências europeias foram conhecendo as imensas riquezas da África, iniciou-se a longa e brutal campanha de exploração que definiria séculos de sofrimento e resistência. O mercantilismo, muitas vezes explorando divergências entre reinos e tribos locais gerou séculos de colonização. Confronto com as civilizações ocidentais A chegada dos europeus não significou um intercâmbio pacífico de culturas, mas o início de uma de uma triste página da história mundial graças à escravização transatlântica. Milhões de africanos sequestrados de suas terras, arrancados de suas famílias e acorrentados em navios negreiros cruzaram o oceano rumo às Américas. A partir do final do século XV e início do século XVI, algumas florescentes sociedades foram destruídas, com a fragmentação de estruturas políticas que haviam levado séculos para serem construídas. Os impérios africanos, que haviam prosperado foram minados por uma política de desestabilização que visava garantir um fluxo contínuo de seres humanos para alimentar a necessidade de mão de obra que sustentaria a produção em outros continentes. Maia tarde, ao longo do século XIX, aconteceu a partilha da África em várias áreas de influência e dominação. Fronteiras artificiais foram traçadas, povos que antes coexistiam foram separados, e inimigos históricos foram forçados a compartilhar o mesmo espaço, criando conflitos que repercutem até hoje. As marcas da colonização com a exploração de suas terras e de seus recursos agro-minerais persistiram por muito tempo e ainda hoje não foram de todo superadas. Várias regiões foram palco de exploração que geraram morte e perda de milhões de vidas humanas. Mas a África nunca se curvou completamente. A resistência sempre esteve presente, desde as revoltas contra o domínio colonial até os modernos movimentos de libertação. Homens e mulheres lutaram pela liberdade com grande coragem e determinação. A Etiópia, sob Menelik II, impôs uma das maiores derrotas a uma potência europeia na Batalha de Adwa, mantendo sua soberania diante do imperialismo italiano. Samori Touré resistiu bravamente ao domínio francês, assim como os Ashanti contra os britânicos. E, no século XX, líderes como Kwame Nkrumah, Patrice Lumumba e Nelson Mandela desafiaram as forças coloniais e neocoloniais, mostrando ao mundo que a África pertencia aos africanos. O continente ainda carrega as cicatrizes da exploração, mas sua resiliência nunca se apagou. A África continua sendo um berço de inovação, cultura e resistência, mesmo enfrentando os desafios herdados do colonialismo. A história africana é uma história de grandiosidade, e sua trajetória futura será escrita por aqueles que continuam a desafiar os resquícios de um passado que tentou, mas nunca conseguiu, apagar sua luz.