Cidadãos angolanos descrevem conquistas e frustrações nos 50 anos de independêcia e o Presidente da República, João Lourenço,, apela à união e ao trabalho conjunto para o desenvolvimento do país.
Anastácio Sasembele - Luanda O Presidente da República de Angola, João Manuel Gonçalves Lourenço, apelou esta terça-feira aos angolanos para “arregaçarem as mangas” e trabalharem em conjunto pelo desenvolvimento do país, sublinhando que as disputas partidárias não devem consumir o tempo e as energias da Nação. O Chefe de Estado fez este apelo durante o acto central das comemorações dos 50 anos da Independência Nacional, realizado na Praça da República, em Luanda, perante milhares de cidadãos, representantes dos órgãos de soberania, partidos políticos e membros da sociedade civil. “É tempo de trabalharmos todos pelo país” No seu discurso à Nação, João Lourenço destacou que Angola vive um momento histórico que deve inspirar um novo ciclo de compromisso e de reconstrução nacional. “Depois de 500 anos de colonização, 50 anos de independência e 23 anos de paz, chegou o momento de todos nós arregaçarmos as mangas e trabalharmos juntos, sem distinção partidária, para consolidar a nossa economia e garantir um futuro melhor para as próximas gerações”, afirmou o Presidente. O Chefe de Estado frisou que, nas últimas duas décadas, o Executivo priorizou a reabilitação e expansão das infraestruturas básicas, mas reconheceu que o combate à fome, à pobreza e às desigualdades sociais deve agora assumir o centro da acção governativa. “A reconstrução física do país foi uma etapa necessária, mas hoje o maior desafio é o bem-estar das famílias. Precisamos concentrar esforços na criação de empregos, no aumento da produção nacional e na melhoria das condições de vida dos angolanos”, acrescentou. Educação como base do progresso João Lourenço reconheceu que ainda há um número elevado de crianças fora do sistema de ensino, e defendeu a necessidade de acelerar a redução da taxa de analfabetismo e ampliar o acesso à educação de qualidade. “Não basta construir escolas. É fundamental investir na formação e valorização dos professores, pois são eles os verdadeiros construtores do futuro da Nação”, sublinhou. No domínio económico, o Presidente convidou todos os cidadãos e empresários a apostarem na produtividade, na inovação e no empreendedorismo, de modo a garantir o crescimento sustentável e a diversificação da economia nacional. Reacções e opiniões - Populares pedem mais resultados Nas ruas de Luanda, vários cidadãos expressaram sentimentos mistos em relação aos 50 anos de independência. Embora reconheçam a paz como uma das maiores conquistas, muitos lamentam a persistência de dificuldades económicas e sociais. “A independência trouxe liberdade, mas a vida contínua difícil para o povo. Falta emprego e muitas famílias vivem com o mínimo”, afirmaram os nossos entrevistados. Mara Quiosa reconhece desafios, mas exalta conquistas Mara Quiosa, Vice-presidente do MPLA, partido que governa o país a 50 anos, destacou que as cinco décadas de independência representam “um marco de orgulho nacional”, mas reconheceu que persistem grandes desafios para garantir o bem-estar de todos os angolanos. “O país cresceu, conquistou estabilidade e recuperou a sua infra-estrutura. No entanto, temos plena consciência de que é preciso intensificar o combate às desigualdades, criar mais oportunidades para a juventude e consolidar a justiça social”, afirmou. Mara Quiosa apelou ainda à união nacional e à responsabilidade colectiva: “Angola só continuará a avançar se todos participarmos activamente no seu desenvolvimento — Governo, oposição, sociedade civil e cidadãos.” Adalberto Costa Júnior pede mais liberdade e transparência O presidente da UNITA (maior partido na oposição), Adalberto Costa Júnior, avaliou os 50 anos de independência como um período de “conquistas políticas incompletas”, argumentando que o país ainda enfrenta limitações nas liberdades fundamentais e na transparência governativa. “Celebramos a independência, mas não podemos ignorar que muitos angolanos continuam sem voz. O futuro deve ser construído com base no respeito pelas liberdades, na justiça e na boa governação”, afirmou o líder da oposição. Contudo, Adalberto Costa Júnior destacou sinais de esperança: “Há uma nova geração que acredita num país diferente — mais democrático, mais justo e mais desenvolvido. É essa esperança que precisamos transformar em realidade.” Luzia Inglês apela à preservação da paz e dos ideais da independência A nacionalista Luzia Inglês, combatente da luta de libertação, considerou que os 50 anos de independência são motivo de orgulho e reflexão. “A nossa luta valeu a pena. A independência foi conquistada com muito sacrifício e sangue. Hoje, os jovens devem honrar essa história, preservando a paz, a unidade e a soberania nacional”, declarou. Não desistir dos ideais que moveram os fundadores da Nação A histórica militante apelou à juventude a não desistir dos ideais que moveram os fundadores da Nação: “Cabe a vocês, jovens, continuar a luta — não nas frentes de combate, mas nas escolas, nas universidades e nos locais de trabalho.” As comemorações dos 50 anos da Independência Nacional foram marcadas por discursos de apelo à unidade e ao trabalho, mas também por reflexões críticas sobre o caminho percorrido e os desafios que ainda persistem. Entre conquistas e frustrações, Angola entra no segundo meio século de independência com a promessa de renovar o seu compromisso com o desenvolvimento e o bem-estar do seu povo.