O Estado angolano condecorou, a título póstumo, o Papa Paulo VI (1897 – 1978) com a Medalha dos 50 Anos da Independência de Angola, na classe Independência, grau de Honra.
Anastácio Sasembele – Luanda, Angola A cerimónia decorreu nesta quinta-feira (6/11), em Luanda, durante a oitava e última sessão de condecorações atribuídas a cidadãos nacionais e estrangeiros pelos seus contributos à luta de libertação nacional, à construção da paz e ao desenvolvimento do país, no âmbito das comemorações do cinquentenário da independência, a celebrar-se no próximo 11 de novembro. Em nome do Santo Padre, o Núncio Apostólico em Angola e São Tomé, Dom Kryspin Dubiel, recebeu das mãos do Presidente da República, João Lourenço, a medalha e o diploma honorífico. Na ocasião, o Chefe de Estado recordou a importância do gesto do Papa Paulo VI, que em 1 de julho de 1970 recebeu no Vaticano os líderes dos principais movimentos de libertação africanos, entre eles Agostinho Neto (Angola), Amílcar Cabral (Guiné-Bissau e Cabo Verde) e Marcelino dos Santos (Moçambique). O encontro foi considerado um marco diplomático que deu visibilidade internacional às lutas de libertação no Continente, apesar de o Papa ter apelado ao uso de meios pacíficos para a concretização dos ideais independentistas. Fontes históricas relatam que, num contexto político conturbado, em plena vaga das independências africanas, Paulo VI decidiu receber, ainda que de forma breve e informal, representantes de três movimentos de libertação: Amílcar Cabral, por Cabo Verde e Guiné-Bissau; Agostinho Neto, por Angola; e Marcelino dos Santos, por Moçambique. À época, o governo português considerava esses líderes “terroristas” e havia emitido mandados de captura contra eles, o que provocou um incidente diplomático entre Lisboa e a Santa Sé. Como resposta, Portugal chegou a chamar o seu embaixador junto do Vaticano de volta a Lisboa. Segundo analistas, essa audiência foi um momento decisivo no reconhecimento internacional das causas de libertação africanas. O gesto do Papa, embora discreto, reforçou a legitimidade das aspirações à liberdade e independência dos povos colonizados. Cinco anos depois, a 11 de novembro de 1975, Agostinho Neto proclamaria a independência de Angola. Eleito em 1963, Paulo VI foi o primeiro pontífice a visitar o Continente africano, ao deslocar-se ao Uganda, em 1969, sete anos após a independência daquele país do domínio britânico. Em março de 1967, atento às transformações políticas e sociais das novas nações africanas e aos desafios do desenvolvimento humano integral, o Papa publicou a Encíclica “Populorum Progressio” (O Desenvolvimento dos Povos), considerada um dos documentos mais influentes do Magistério social da Igreja. Ainda no mesmo ano, em outubro de 1967, escreveu a Carta Apostólica “Africae Terrarum”, dirigida aos povos africanos, na qual expressava apreço pela cultura do Continente e encorajava o fortalecimento das Igrejas locais. Demonstrando atenção pastoral a Angola, antes mesmo da independência, Paulo VI nomeou vários Bispos autóctones, entre os quais Dom Eduardo André Muaca, Dom Armando Amaral dos Santos, Dom Zacarias Kamwenho, Dom Alexandre do Nascimento, Dom Francisco Viti, Dom Manuel Franklin da Costa e Dom Óscar Braga. O seu pontificado ficou marcado pela abertura da Igreja ao mundo moderno, pela promoção do diálogo inter-religioso e pela defesa da paz e da justiça social, princípios que hoje continuam a inspirar a missão da Igreja Católica em Angola e em todo o Continente africano.