Cáritas leva segurança alimentar e esperança para quem atravessa fronteiras no Norte do Brasil - Vatican News via Acervo Católico

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Cáritas leva segurança alimentar e esperança para quem atravessa fronteiras no Norte do Brasil - Vatican News via Acervo Católico
Fonte: VATICANO

Homens e mulheres que chegam sozinhos ou acompanhados por familiares. Junto a eles, crianças de diferentes idades e idosos. Todos saíndo de seus países de origens - Venezuela, Cuba e outros da América Latina – em busca de refúgio e sobrevivência no Brasil. A porta de entrada: o Norte do país. Uma delas, Roraima.

Mariane Rodrigues - Cidade do Vaticano  Em Boa Vista, ao chegarem na rodoviária da capital, os imigrantes vulneráveis encontram esperança e apoio na ajuda que chega emergencialmente: refeições diárias que sustentam e dão dignidade aqueles que enfrentaram horas de estrada – por rio e por terra – e que os levam à exaustão mental, emocional e, sobretudo, física.  O projeto Sumaúma Nutrindo Vidas, de iniciativa da Cáritas Brasileira, é um tipo de esperança que recepciona aqueles que fogem da fome, da pobreza, dos conflitos e do declínio econômico de seus países. A alimentação, base do sustento e da dignidade humana, é o carro-chefe do trabalho social desenvolvido pela entidade, pertencente a Igreja Católica.  É em um posto de apoio próximo à rodoviária, de onde chega boa parte dos imigrantes, que ele se desenvolve.  Segundo a entidade, o projeto Sumaúma funcionou integralmente entre agosto de 2022 – quando o mundo vivia o ápice da pandemia da Covid-19 – até o início de 2025. Ao todo, foram servidas aos imigrantes 1.258.843 refeições prontas, mais de mil refeições por dia entregues à população vulnerável, beneficiando mais de 40.500 pessoas, de acordo com os números da Cáritas Brasileira.  Em 2023, o projeto foi o vencedor do prêmio Pacto Contra a Fome, premiação organizada com o apoio da UNESCO e da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). A iniciativa concorreu com outras 310 de todo o Brasil e venceu na categoria “Combate À fome”.  No dia 17 de fevereiro deste ano, o projeto se viu forçado a suspender suas ações. Após a retirada da ajuda humanitária de seu principal financiador, uma agência estadunidense, os organizadores foram compelidos a fechar as portas. Por outro lado, o desejo de manter a iniciativa viva impediu que o projeto acabasse definitivamente.  A busca por novos financiadores permitiu que a ação fosse retomada em 12 de maio deste ano e tenha fôlego para funcionar até janeiro de 2026 com os financiamentos que já estão garantidos.  Atualmente, ele é realizado pela Cáritas Brasil,  com a Associação Mexendo a Panella e a Cáritas Diocesana de Roraima. Mas conta com parceria financeira da agência humanitária internacional da Igreja Católica nos Estados Unidos, Catholic Relief Services (CRS); com doações de alimentos da Igreja de Jesus Cristo dos Últimos dias, com o Fundo Canadá para Iniciativas Locais, e com os próprios fundos de campanha da Cáritas, por meio de doações espontâneas individuais. “A maior parte das pessoas apoiadas são migrantes e refugiados recém-chegados ao Brasil, principalmente venezuelanos, mas também cubanos e pessoas de outras nacionalidades. São pessoas em situação de rua, dormindo em espaços de pernoite ou em ocupações espontâneas e outras moradias precarizadas. Como essas pessoas não possuem acesso a um espaço adequado para armazenar e cozinhar alimentos, oferecer refeições prontas é a melhor forma de apoiar para que elas possam atender as suas necessidades alimentares urgentes”, explica a Assessora Nacional Cáritas Brasileira, Giovanna Kanas.  Quem trabalha prestando assistência a imigrantes sabe que as necessidades são amplas, complexas e muitas delas se desenvolvem a médio e longo prazo, como integrar essas pessoas, proporcionando dignidade de trabalho e bem-estar social, e construindo projetos, a exemplo do fortalecimento comunitário e da agricultura familiar por meio das políticas públicas.  Mas enquanto isso, quando a fome bate à porta, as ações emergenciais são imprescindíveis.  “A gente sempre fala que o nosso objetivo é que aquelas pessoas possam melhorar as suas condições de vida. Acessar refeições de uma forma digna e que, naquele momento em que elas têm aquele prato de comida na frente delas, possam, por aqueles 20 minutos, esquecer todo sofrimento. São pessoas que vêm de um contexto migratório muito complexo, de jornadas muito cansativas, que tão em uma situação de vulnerabilidade em Boa Vista. Então, que elas possam acessar uma refeição gostosa, uma refeição nutritiva, uma refeição alinhada às suas necessidades, prioridades, de um projeto que elas se sintam partes, que elas se sintam envolvidas”, expõe Giovanna Kanas.  A assessora nacional da Cáritas considera que o maior indicador de sucesso é permitir que essa população acesse a uma refeição de forma digna, garantindo segurança alimentar.  “O cardápio é elaborado por uma nutricionista. E ele é sempre adaptado de acordo com os mecanismos de participação comunitária que a gente mobiliza para o projeto Sumaúma, porque a gente quer garantir que as refeições não só sejam nutritivas, mas que elas sejam culturalmente contextualizadas, que elas transmitam os valores da Cáritas de acolhimento, de dignidade e de empoderamento”, relata a assessora. Isso ocorre, por exemplo, por meio da compra de insumos locais, priorizando os produtos naturais e que são provenientes da época em que são distribuídos, além de atender de modos específicos, de acordo com a condição de saúde do indivíduo.  “Além das refeições, a gente também realiza atividades de promoção do aleitamento materno e de hábitos saudáveis. E o cardápio conta com opções para atender grupos vulneráveis, como crianças em fases de introdução alimentar, mulheres grávidas ou lactantes, idosos e pessoas com doenças crônicas”, explica Giovanna.  Ela lembra de uma história, quando um homem, vindo de outro país, chegou a Boa Vista em estado de desnutrição aguda agrave. Ele precisava de uma alimentação própria para sua condição de saúde: tinha esclerose múltipla.  “Ele chegou num quadro realmente muito crítico e a nutricionista do projeto adaptou o cardápio para atender as necessidades específicas desse caso e, aos poucos, ele pode se recuperar, reconquistando a sua autonomia”, recordou Giovanna.  De acordo com a assessora nacional da Cáritas Brasileira, do total de pessoas atendidas pela entidade, 27% são formadas por crianças e adolescentes. Outras 24% por idosos. Aqueles que têm algum tipo de deficiência são 17¨%, segundo ela. E 4% são mulheres grávidas ou lactantes. Com isso, a interpretação que fica é o impacto que essa ação provoca, porque, como observou Giovanna Kanas, a maior parte das pessoas beneficiadas pelo projeto está fora da faixa etária típica de trabalho.  “A Cáritas Brasileira avalia que o perfil majoritariamente composto por mulheres, crianças e pessoas com deficiência evidencia a necessidade de respostas humanitárias sensíveis e adaptadas às vulnerabilidades específicas desses grupos. Trata-se de pessoas que, frequentemente, enfrentam múltiplas camadas de vulnerabilidade, como insegurança alimentar, limitações de acesso a serviços básicos, barreiras linguísticas e riscos de proteção. Por isso, o Projeto Sumaúma adota uma abordagem integrada que articula segurança alimentar e nutricional, proteção e mobilização comunitária, assegurando que a resposta seja sensível ao gênero, à idade e à diversidade. A coordenação afinada com os demais serviços também é essencial para poder encaminhar casos e fortalecer a autonomia e dignidade das pessoas atendidas”, explicou ela.  Atualmente, O projeto “Sumaúma: nutrindo vidas” oferece uma média de 800 refeições por dia no almoço, explica Giovanna. “Antes a gente oferecia também o café da manhã, mas essa ação foi impactada pelo corte do financiamento do governo dos Estados Unidos e por isso hoje ela funciona, parcialmente, só com almoço”, afirma.  Agora, ela espera que a solidariedade das pessoas, instituições e ações governamentais garantam a continuidade da ação que “salva vidas”.  Para a assessora nacional da Cáritas, estar livre da fome por meio do acesso à refeição pode ser um dos primeiros passos para que essas pessoas se reintegrem no Brasil.  Ela reforça ainda que, embora a retomada seja parcial, ainda assim, a oferta do almoço já leva alívio para muitas famílias em Boa Vista, especialmente migrantes, refugiados e pessoas em situação de rua.

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