“Gaza’s Silent Threat” (a ameaça silenciosa de Gaza) mostra trabalhadores humanitários correndo contra o tempo para vacinar as crianças de Gaza e conter um surto de poliomielite. Destruição no enclave palestino favorece o ressurgimento de doenças. Cortes de fundos dificultam campanhas de vacinação em países vulneráveis
Ricardo Balsani - Vatican News Entre a tragédia ostensiva de bombas e ruínas na Faixa de Gaza, esconde-se também uma ameaça silenciosa, invisível. Com a destruição de cerca de 80% da infraestrutura sanitária do enclave pelo exército de Israel, foi criado o ambiente ideal para o ressurgimento de vírus e bactérias que há muito não ameaçavam a região. Entre eles está o vírus causador da poliomielite, doença que não era registrada em Gaza há mais de 25 anos. Atualmente os únicos países onde a pólio circula e é considerada endêmica são o Paquistão e o Afeganistão. Devido à gravidade da doença, que além da morte pode causar paralisia entre os sobreviventes, há décadas campanhas globais tentam erradicar completamente o vírus. Não por acaso, o surto ocorrido em Gaza no final de 2024 gerou uma reação rápida do fundo das Nações Unidas para a infância (Unicef), da Organização Mundial da Saúde (OMS) e de outras instituições, que conduziram uma campanha de vacinação em condições heroicas para imunizar as crianças do enclave palestino. Essa história é contada no documentário “Gaza’s Silent Threat” (a ameaça silenciosa de Gaza), que mostra como foi possível vacinar 600 mil crianças em meio a ataques aéreos e à destruição causada pela guerra. O filme é um testemunho da entrega dos operadores humanitários, entre eles o doutor Younis Awadallah, que abriu mão da aposentadoria para coordenar a campanha. Os desafios foram muitos, como refrigerar as vacinas sem um fornecimento regular de eletricidade ou alcançar as crianças em campos de refugiados, mas a vacinação conseguiu afastar o risco de uma epidemia de poliomielite. Campanhas de vacinação enfraquecidas “Gaza’s Silent Threat” é também uma denúncia dos impactos da guerra sobre a saúde das pessoas mais vulneráveis, como as crianças. Além disso, debater a importância da vacinação é importante em um momento em que crescem os movimentos que desconfiam dos seus benefícios. O ministro da saúde nos Estados Unidos é conhecido pelas posições contrárias às vacinas, que vêm sendo adotadas também por correntes políticas de outros países. O corte de fundos para a ajuda humanitária, mais uma tendência encabeçada pelos Estados Unidos, é outra ameaça aos esforços globais de vacinação. Nessa terça-feira (21/10) foi anunciado um corte de 30% no orçamento da Iniciativa Global de Erradicação da pólio, projeto encabeçado pela OMS. Além do gigante norte-americano, outros países ricos, como a Alemanha e o Reino Unido, também diminuíram seus repasses para a OMS. Especialistas em doenças infecciosas alertam que seria tolice diminuir os esforços para a erradicação da pólio no momento atual, em que o número de casos no mundo cai e essa meta parece mais possível do que nunca.