Dom Giulio Jia Zhiguo, a testemunha (1935-2025) - Vatican News via Acervo Católico

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Dom Giulio Jia Zhiguo, a testemunha (1935-2025) - Vatican News via Acervo Católico
Fonte: VATICANO

Dom Jia Zhiguo foi ordenado sacerdote somente após "um longo e difícil período de formação", em 7 de junho de 1980, pelo bispo de Baoding, dom Peter Fan Xueyan, que alguns meses depois — clandestinamente — o consagrou bispo da diocese vizinha de Zhengding, na província de Hebei, uma das mais importantes para a presença cristã na China.

Por Gianni Valente* "Temos muito trabalho a fazer. A China é um grande campo onde devemos semear o Evangelho de Jesus". Em fevereiro de 2016, dom Giulio Jia Zhiguo tinha 81 ano. E seu coração jovem pulsava como sempre ao ritmo de sua paixão missionária. "Minha vida - dizia ele sobre si mesmo em entrevista ao portal de informações eclesiais e religiosas do jornal italiano "La Stampa" - é falar de Jesus. Não tenho outra coisa a dizer ou fazer. Toda a minha vida, todos os dias, é apenas falar de Jesus aos outros. A todos." Ele também confessava sua fé em Jesus ao falar com autoridades que a cada pouco o levavam para sessões de doutrinação e períodos de residência supervisionada. Giulio Jia Zhiguo, bispo católico da Diocese de Zhengding, não reconhecida como tal pelas autoridades chinesas, concluiu sua intensa aventura cristã nesta terra na quarta-feira, 29 de outubro, aos 90 anos. Nas últimas décadas, ele viveu perto daquela que chamava "a catedral", no povoado de Wuqiu, sua cidade natal, atualmente na cidade de Jinzhou, província de Hebei. Foi lá que foi sepultado, em 31 de outubro, no jazigoda família. Agora, aqueles que o amavam choram por ele, mas também dão graças pelo dom de terem conhecido uma testemunha que professou sua fé em Cristo em momentos felizes e em tempos de provação e dor. Viram nele como vivem verdadeiramente aqueles que perseveram "em meio às perseguições do mundo e às consolações de Deus", como repetia Santo Agostinho. Protegidos na tribulação   Para Jia Zhiguo, os verdadeiros problemas começaram quando ele era seminarista. De 1963 a 1978, ele passou por períodos de prisão e "reeducação pelo trabalho" em lugares remotos, frios e inóspitos. Após o fim dos "tempos difíceis" da Revolução Cultural, em 7 de junho de 1980, ele foi finalmente ordenado sacerdote por Joseph Fan Xueyan, bispo de Baoding, que alguns meses depois também lhe conferiu a ordenação episcopal. Falava sem ressentimentos, sem reivindicar heroísmos por ter atravessado tempos de tribulação. Também na época - contava na entrevista mencionada anteriormente - "bastava-nos ter Deus no coração. Isso me acompanhou e me protegeu durante todo aquele período. Portanto, é obra Sua, não mérito meu. Houve muitas dificuldades, mas Deus estava ao nosso lado, e isso bastava. Estávamos tranquilos, porque confiávamos tudo ao Senhor." Depois de ter recebido a ordenação episcopal, Giulio também foi ao Escritório de Assuntos Religiosos para informar as autoridades sobre sua nomeação como bispo. Eles não o levaram a sério porque, insistiam, ninguém na China pode exercer o ofício de bispo sem o reconhecimento governamental. Nas décadas que se seguiram, Jia Zhiguo perdeu a conta de quantas vezes foram buscá-lo para que viver sob vigilância. E contava tudo isso com paz no coração, sem qualquer traço de queixa ou reprovação na voz. Durante os dias passados ​​nessa condição, ele rezava, lia, celebrava a Missa e conversava com seus "hóspedes". Eles o repreendiam porque, quem sabe, tivesse ordenado um novo sacerdote. E ele respondia, indefeso e desarmante, que "esta é a minha vida, o meu trabalho. Os padres são ordenados pelo bispo, e eu sou o bispo, não posso fazer nada a respeito. Se eu não os ordenar, ninguém mais o fará." E quando os funcionários repetiam as fórmulas sobre a necessidade de afirmar e proclamar "independência" e "autonomia" da Igreja de Roma, ele respondia que uma separação era impossível, "porque sou um bispo católico, e estar em plena comunhão com o Bispo de Roma faz parte da fé católica. Mas eles - acrescentou na entrevista de 2016 - não conhecem a natureza da Igreja, e por isso, quando lhes digo essas coisas de forma simples, ficam perplexos e incertos, e não sabem como me pegar." Reconciliar-se na comunhão com o Bispo de Roma   Em 2016, o acordo entre a Santa Sé e o governo de Pequim sobre a nomeação de novos bispos chineses, que deveria ter sido assinado em setembro de 2018, ainda não havia sido alcançado. O bispo Jia, questionado sobre o diálogo em curso entre a República Popular da China e a Santa Sé, recordou as tentativas de levar a Igreja da China à separação total do Papa, acrescentando que "enquanto as questões não fossem esclarecidas, os motivos para a divisão persistirão". Ele também recordava os muitos bispos ordenados em diferentes épocas sem o consentimento do Papa, que posteriormente solicitaram e obtiveram o reconhecimento como bispos da Igreja Católica. Reconhecia que esses bispos estavam "em plena comunhão com o Papa, mas há sacerdotes que não aceitam isso. Eles alimentam suspeitas sobre esses bispos e seus sacerdotes, condenam outros lançando dúvidas sobre a autenticidade de sua fé", criando "divisão sobre divisão" e apresentando-se "como os únicos crentes autênticos". Ele também recordava que o Papa Bento XVI, em sua Carta aos Católicos Chineses publicada em 2007, "nos exortou à união" e acrescentou: "Seguimos à risca as palavras do Papa: reconciliação com todos aqueles que estão em comunhão com o Bispo Roma". Em relação aos procedimentos para as nomeações de novos bispos chineses, então no centro das negociações, reconhecia que "pode-se encontrar uma maneira de levar em conta as expectativas do governo. Mas não precisa ter confusão.  É preciso que ao bispo chegue a nomeação do Papa. A nomeação deve vir do Papa. Nós - continuou ele - confiamos no Papa. É ele o Sucessor de Pedro e, em comunhão com toda a Igreja, salvaguarda a fé dos Apóstolos com a ajuda do Espírito Santo. Não se trata de habilidades humanas: confiamos no Papa porque temos confiança no Senhor que sustenta e guia a Sua Igreja, e a Ele nos entregamos." A bênção de viver com os órfãos   A fé em Jesus também proporcionava a Giulio Jia Zhiguo um olhar realista sobre as novas urgências para a missão apostólica da Igreja na China contemporânea. Na entrevista mencionada, o bispo reconhecia que "muitos estão se tornando mornos devido ao crescente materialismo e consumismo. Muitos não vêm mais à igreja para rezar, em parte porque estão sempre ocupados e nunca encontram tempo". As vocações sacerdotais e religiosas, disse ele, "também diminuíram. Muitos não querem mais entregar suas vidas a Deus, colocando-se a serviço de seus irmãos". E se a fé que se preservou em tempos de tribulação agora parece, em algumas situações, "como uma chama que não encontra mais combustível" (Papa Bento XVI), não há sentido em lamentar os tempos de crise. Em vez disso, como repetiu o bispo Jia, "devemos testemunhar que entregar-nos a Deus é algo belo, que ganhamos uma riqueza maior do que a ilusória que o materialismo e o consumismo nos proporcionam". Nas últimas décadas de sua vida, o bispo escolheu viver em um lar que abrigava cerca de setenta órfãos, incluindo várias crianças com deficiência, todos cuidados por freiras. Uma obra "bela e boa", também apoiada por doações de benfeitores budistas. "Para mim - contava o bispo - esta obra é a coisa mais importante, a coisa que mais me importa. É a realidade da qual não podemos abrir mão. Por meio dela, todos veem o amor gratuito de Jesus por cada um de nós." O sepultamento do bispo Giulio Jia Zhiguo em seu povoado natal foi autorizado. Lá ele repousará para sempre. O povo de Deus encontrará maneiras de celebrar sua dedicação e encontrar conforto em sua memória e em sua vida exemplar. Assim, o milagre da Igreja na China caminha através da história.  *Gianni Valente é diretor da Agência Fides

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