Debate “Justiça climática, democracia e direito à vida: diálogo inter-religioso pela justiça ambiental”. O evento faz parte das atividades do Tapiri Ecumênico e da Cúpula dos Povos, iniciativas que, na agenda da COP30.
Paola Calderón Gómez - REPAM O poder das contradições sistêmicas e a força das narrativas que conseguem dissuadir e confundir a opinião pública sobre a responsabilidade das indústrias na devastação da casa comum, foi o ponto de partida da reflexão feita por Dom Vicente Ferreira bispo de Livramento de Nossa Senhora, Bahia, durante o debate “Justiça climática, democracia e direito à vida: diálogo inter-religioso pela justiça ambiental”. O evento faz parte das atividades do Tapiri Ecumênico e da Cúpula dos Povos, iniciativas que, na agenda da COP30, são desenvolvidas sob o impulso do Movimento Laudato Si'. O prelado comentou que, nos territórios onde desenvolve sua missão, muitas coisas positivas são ditas sobre as indústrias que não correspondem à realidade. “Quando você chega às distâncias mais longínquas, os empreendimentos se declaram grandes defensores da vida, mas estão matando nosso povo e destruindo nossa terra; contradições sistêmicas”, ratificou. Ações reais A esse respeito, o bispo lembrou o compromisso da Igreja com o fortalecimento da ecologia integral que, no caso da comissão à qual pertence na CNBB, promove diversas iniciativas; formas pelas quais amadurecem seu pensamento e fazem com que seus compromissos se traduzam em ações reais, como é o caso das campanhas que serviram de prelúdio à COP30. “Em 2025, tivemos a grande campanha da fraternidade e da ecologia integral, com muitos frutos que mobilizaram nossas igrejas locais”, explicou. Da mesma forma, Dom Vicente falou sobre o processo que preparou a realização do evento, ou seja, as cinco pré-COP. Atividades que, a partir da escuta e da reflexão, aproximaram os objetivos da cúpula das necessidades das populações. “Foram mais de dois anos de reuniões em todas as regiões, mobilizando, conscientizando e chamando as comunidades a pensar na valorização da ecologia integral”, indicou. Iniciativas que o bispo define como “ações que vão além dos discursos. Propostas em nossos territórios e comunidades católicas que estão gerando frutos neste momento”. Narrativas falsas A isso se somam documentos como o manifesto pela ecologia integral que, de acordo com o Bispo da Diocese de Livramento de Nossa Senhora, Bahia, é uma resposta à crise socioambiental planetária. “O manifesto é baseado na encíclica Laudato Si' do Papa Francisco e enfatiza a necessidade de uma ecologia integral que considere a conexão entre a crise social e ambiental”. Ele também denuncia os efeitos do modelo extrativista e neoliberal que, de acordo com o representante da CNBB, “subordina a vida ao lucro, depreda os povos e os territórios”. Sem esquecer as “soluções falsas que vão surgindo e reduzem a ecologia a uma forma estética de caráter superficial que deixa de lado a justiça social”. Sem minimizar a gravidade da crise, Dom Vicente Ferreira lembra que este documento oferece uma mensagem de esperança, ao identificar os caminhos de vida que nascem da fé, encarnada nas comunidades e na espiritualidade dos povos indígenas. Além disso, porque “propõe uma conversão ecológica integral que vincula a fé, a justiça social e a defesa do meio ambiente”, ou seja, insiste na proteção da vida em todas as suas dimensões. O passo para a conversão Lembrando que, neste momento, o capitalismo é verde, a economia é verde, até o ferro é verde, o Bispo indica que a Igreja deve definir sua posição. “Como igrejas, como espiritualidades, temos que combater esse domínio das narrativas falsas”. Mesmo em nossos territórios”. Para Dom Vicente, “ninguém se converte ainda e a ecologia integral é um tema transversal, até mesmo inter-religioso, porque se não unirmos nossas espiritualidades para defender nossa casa comum, nenhum outro ponto nos convencerá ou nos converterá, além do fato de que não vamos teremos mais uma casa comum”. O apelo de Dom Vicente é para reconhecer que a ecologia integral “não é apenas uma opção nossa, mas também uma opção do nosso próprio Deus, que se tornou pobre e se encarnou. É o Deus dos pobres e desamparados”. Também participaram do debate, animado pelo padre Dário Bossi, a Bispa anglicana Marinez Bassotto, o pastor Josias Vieira, Luiz Felipe e Felício Pontes.