As eleições gerais, que no país latino-americano marcaram o fim do socialismo, após 20 anos, levam a Igreja local a olhar com confiança para uma nova mudança política. O prelado do Vicariato Apostólico de El Beni e presidente da Conferência Episcopal declara: "agora, a maior aspiração é superar os erros do passado. Esperamos, sinceramente, que haja uma mudança visão, que não seja tudo como antes”.
Federico Piana - Vatican News Após vinte anos, a Bolívia voltou as costas ao ‘Movimento pelo Socialismo’, cujo líder principal era o ex-presidente Evo Morales. A história das eleições gerais, concluídas no país sul-americano, há poucos dias, é narrada pelo desafio entre Rodrigo Paz Pereira e Jorge Fernando Quiroga Ramírez, que as pessoas aprenderam a chamar carinhosamente de Tuto. Ambos os concorrentes marcaram a história: o primeiro, senador moderado, representa o Partido Democrata Cristão; o segundo, tecnocrata independente, é apoiado pela coalizão ‘Liberdade e Democracia’. Na disputa final, não houve adversário, porque o senador Rodrigo Paz prevaleceu com 54,96% dos votos. Mudança de ritmo A mudança política radical, com a ascensão ao poder de um centrista, que afirma querer reabrir o país ao mundo, não deixou a Igreja local indiferente. Tanto é verdade que o presidente da Conferência Episcopal, Dom Aurelio Pesoa Ribera, bispo do Vicariato Apostólico de El Beni, aponta seu modo de pensar sobre a evolução da Bolívia, partindo do que considera uma certeza: “Cada coisa em seu tempo. Agora, a maior aspiração é superar os erros cometidos no passado. Esperamos, sinceramente, uma mudança de ponto de vista e que tudo não seja como antes”. Dom Aurelio, como o senhor avalia o resultado geral da disputa eleitoral? “A participação eleitoral foi pacífica; não houve grandes dificuldades em todo o país. Acredito que isto seja um sinal de maturidade da nossa democracia”. O que o resultado destas eleições significa para a Igreja e a sociedade? “Para a sociedade, representa a esperança de que os novos líderes possam agir, com criatividade, para tirar o país da estagnação econômica, que o acometeu duramente. Para a Igreja, representa uma oportunidade concreta de dias melhores para todo o povo”. O que os bispos esperam, de modo concreto, do novo governo político? “Que leve em conta todos os bolivianos, sem discriminação, sem que ninguém seja excluído por pertencer a um partido ou grupo político. Esperemos que todos se sintam protagonistas do crescimento do nosso país, inclusive a oposição, chamada a colaborar na busca do bem comum”. O país, porém, precisa de reformas profundas e urgentes... “As questões que não devem mais ser adiadas e que todos os bolivianos desejam são as da justiça, da educação e do sistema de saúde”. Precisamente no campo da saúde e da educação, a Igreja local demonstrou sua capacidade de colaboração, chegando onde o Estado não podia... “Acho que o novo poder político deveria continuar a dar à Igreja a oportunidade de prosseguir a sua missão social: estar ao lado dos mais pobres e vulneráveis. Igreja e governo deveriam também trabalhar juntos para resolver a situação econômica, que elevou às estrelas o preço dos bens de primeira necessidade”. A unidade do país também é uma prioridade? “A unidade deve ser encontrada. Houve um período em que a divisão dominava, tomava conta, dilacerando profundamente as famílias, que, agora, nada mais querem que uma visão comum e partilhada”.