Irmã Irene Lopes, uma vida dedicada à defesa dos povos da Amazônia e do meio ambiente - Vatican News via Acervo Católico

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Irmã Irene Lopes, uma vida dedicada à defesa dos povos da Amazônia e do meio ambiente - Vatican News via Acervo Católico
Fonte: VATICANO

A Repan está presente na COP30, refletindo sobre 10 anos de trabalho em prol da proteção da Amazônia e dos direitos dos povos indígenas. A participação da igreja é fundamental, destacando o papel dos leigos e das mulheres, e a necessidade de dar voz aos povos originários diante das ameaças que enfrentam. A entrtevista com Irmã Irene Lopes é a secretária executiva da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM-Brasil) e assessora da Comissão Episcopal para a Amazônia.

Silvonei José – Belém Irmã Irene Lopes é a secretária executiva da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM-Brasil) e assessora da Comissão Episcopal para a Amazônia. É uma figura importante na Igreja Católica na Amazônia, atuando em defesa dos povos e do meio ambiente. Com a convocação do Sínodo para a Amazônia, Ir. Maria Irene Lopes foi nomeada para fazer parte do Conselho Pré-Sinodal, na preparação do Sínodo. Então, com muito empenho e dedicação, a religiosa conduziu os processos do Sínodo nas mais diversas realidades da Amazônia brasileira. Em outubro de 2019, foi convidada pelo Papa Francisco a participar do Sínodo como auditora. A Rádio Vaticano – Vatican News conversou com ela na COP30, em Belém. Irmã, a REPAM se faz presente na COP30, e se faz presente para trazer uma reflexão muito mais profunda, colocando as pessoas no centro, como se pode ver em tantos desses momentos e eventos criados pela própria REPAM. Que REPAM está presente na COP30? Na verdade, a gente tem um processo de 10 anos, nós não começamos agora. E hoje mesmo, pela manhã, a gente tinha todo processo que aconteceu aqui, a gente traz esse momento de 10 anos, de 11 anos, na verdade, de história. E essa história começou lá com o dom Cláudio Hummes, com o dom Erwin e com tantos outros bispos que sonharam com esse processo, com o Papa Francisco, que foi aquele grande inspirador da REPAM, e nós temos esse legado hoje, fazer com que isso aconteça de forma muito concreta na COP30. Quando a gente estava se preparando para a COP30, a gente lembrava daquelas pessoas que também marcaram a história da Rede e que sonhavam. Com certeza dom Cláudio era daqueles que dizia muito, e todo tempo dizia da importância de cuidar da casa comum. Então a nossa preocupação como Rede, como REPAM, como outras instituições que fazem parte da Rede também, é esse cuidado com a casa comum. E cuidar da casa comum é cuidar das pessoas, é cuidar do meio ambiente, é cuidar de tudo aquilo que nós estamos podendo presenciar também nesses dias aqui na própria Amazônia. Vivendo essa experiência concreta aqui na Amazônia a Igreja está presente na COP. E isso é uma realidade bonita que a gente vê através da presença dos nossos bispos, dos nossos cardeais, dos nossos sacerdotes e dos nossos leigos engajados. Com certeza, eu acho que sem os leigos, sem a vida religiosa, sem essas pessoas, não existiria a igreja. E a igreja da Amazônia, ela é feita de leigos, então a importância da participação dos leigos dos jovens. Nós estamos aqui esses dias com jovens, com pessoas leigas, que estão muito engajadas nos territórios. Então são essas pessoas que são a força da Igreja. Hoje, pela manhã, eu estava numa reunião onde as pessoas diziam, se não fosse a Igreja, nós não teríamos sobrevivido. Há tantos ataques. A Igreja tem sido esse colo, esse ombro, essa voz, esse ouvido dessas pessoas que estão sofrendo nos territórios. A presença da Igreja é muito importante para todo esse processo que a gente está vivendo, não só como COP, mas como pós-sínodo, como sínodalidade e outros processos que a Igreja tem feito com muita maturidade e com muita força aqui no território. O Sínodo ajudou muito, mas a continuação do Sínodo a gente pode perceber agora também no engajamento dos nossos leigos, não só da nossa Igreja. A senhora falava desse acompanhamento. Como é a realidade da Igreja na Amazônia junto aos povos indígenas? A presença da igreja junto aos povos indígenas é muito forte. Nós temos o CIMI (Conselho Indigenista Missionário), e tem outras instituições que também têm feito esse trabalho, e a gente sabe que são dos povos mais ameaçados que a gente tem nesse momento, não só no Brasil, mas fora do Brasil, inclusive, são os povos originários. Então, eu acredito que a força da Igreja junto com esses povos vem fortalecer também as suas lutas e que não são fáceis. Todos os dias a gente escuta experiências não positivas de pessoas sendo tiradas dos seus territórios, muitas pessoas que são mortas, outras que são obrigadas a deixar suas terras pelo fato de chegar aos grandes projetos. Então, assim, os povos indígenas são aqueles que são muito afetados porque eles são aqueles que estão cuidando da floresta, estão cuidando daquela sua região e ao mesmo tempo são os mais ameaçados pelo agronegócio e por tantas outras empresas que têm chegado na Amazônia. E como a Igreja responde a esse grito? De forma concreta mesmo, nós temos por exemplo como Rede, como REPAM, acionado, inclusive o governo. Nós temos uma pauta de incidência que a gente tem levado para o nosso governo e o governo tem sido muito solícito e estão nos ouvindo bastante. Nós estamos dizendo que não dá para continuar da forma que eles estão fazendo. Então isso tem feito com que as pautas deles não fiquem só entre eles, não só no território, mas que sejam pautas ouvidas, inclusive pelo próprio governo. Isso tem facilitado pouco o diálogo também entre as instituições que estão pensando nessas pautas e que são responsáveis por essas pautas junto com a Igreja. E a igreja é muito ouvida. Nesse governo a gente tem essa possibilidade de estar conversando muito mais proximamente das pessoas que são responsáveis por essas pautas. Então isso eu vejo como uma força também, não só para a Igreja, mas também para os povos indígenas. Os povos indígenas estão presentes também aqui na COP30 e eles trazem também o seu grito? Com certeza. Sempre se tem dito que nada é sem a Amazônia, sem os amazônidas, e eles são da Amazônia. Eu acredito que essa responsabilidade também é nossa de abrir portas e abrir o espaço também para que eles possam falar, serem a voz, não nós, mas as pessoas que são do território. Então, eles são os porta-vozes das suas próprias dificuldades, do próprio sofrimento, das alegrias também. Eu acredito que essa é a nossa responsabilidade enquanto Igreja também de estar trazendo a voz deles para esses espaços em nível também internacional. Qual seria hoje para o mundo indígena o maior desafio? Eu acredito que um dos maiores desafios é eles serem os porta-vozes das suas próprias dificuldades, seus próprios sofrimentos, suas próprias alegrias, porque muitas vezes eles não são deixados falar. Por isso, eu acredito que dar voz a essas pessoas, deixar que eles realmente possam fazer com que os espaços deles possam ser cuidados, melhor cuidados, e eles sejam os porta-vozes das suas dificuldades, sofrimentos. Mas, ao mesmo tempo, eles é que estão ali nos dizendo o tempo todo o que nós precisamos fazer. para que a terra não seja destruída, para que sejam cada vez mais respeitados os seus direitos. A nossa responsabilidade também é dar esse espaço para que eles sejam os protagonistas da própria voz. Neste universo da Amazônia e da Igreja da Amazônia, o papel da mulher? Então, todos os dias a gente escuta isso, que sem a mulher, a Igreja da Amazônia não seria uma igreja da Amazônia. A responsabilidade nossa, enquanto mulheres, é muito forte. Muitas comunidades da Amazônia, se não fossem as mulheres, elas não estariam de pé hoje. A responsabilidade da mulher não só na Igreja, mas também em outros papéis também, nas universidades, em outros espaços, é importante a sua presença. E tem sido muito forte essa presença da mulher. Eu acredito que, inclusive o Papa Francisco mesmo abriu muitas portas para que a gente pudesse ter mais voz, eu acredito que esse é um dos legados dele, dessa abertura, inclusive, da Igreja para dar mais espaço às mulheres, inclusive dentro da própria Igreja. Papa Francisco disse, eu estou conhecendo a rainha da Amazônia quando a senhora se encontrou com ele. Olha, eu só tenho que agradecer, porque foi através de dom Cláudio, meu grande amigo dom Cláudio, que eu tive essa oportunidade de participar do Sínodo, de estar perto pela primeira vez do Papa, de poder sorrir junto com o Papa, abraçar ele. Então isso para mim foi uma experiência muito rica, de poder dizer eu conheci o Papa, eu abracei o Papa e eu tive a oportunidade de conversar com o Papa. Assim, para mim, é uma responsabilidade muito grande, de inclusive poder participar desse momento da história da Igreja da Amazônia. E daquele momento tão especial de termos um Sínodo para a Amazônia, o que é que sobrou, e como é está indo esse caminho pós-sínodo? Então, eu acredito que nós temos tentado durante todo esse período de vários anos pós-sínodo, trazer a pauta do Sínodo como uma pauta nova, que precisa ser colocada em prática. Muitas coisas já foram colocadas em prática, muitas das resoluções do Sínodo já foram colocadas em prática, mas nós acreditamos que ainda tem muito ainda para ser colocado em prática. Muito territórios, muitas dioceses já têm feito programas, já têm feito vários projetos a partir do Sínodo, então já cresceu muito, muitas das resoluções do Sínodo já foram colocadas em prática. Claro que isso vai levar anos. São momentos e momentos da história da Igreja na Amazônia. Mas o Sínodo, ele é muito presente ainda em muitos territórios, muitas dioceses, a própria criação da Ceama, a criação da Repam, a criação de outras instituições que surgiram depois do Sínodo e que era o sonho do Papa Francisco. Então, acho que os sonhos dele aos poucos estão sendo concretizados. E a presença agora de Papa Leão XIV nessa realidade? Nós estamos conhecendo o Papa Leão XIV. Eu acredito que ele veio com toda essa simplicidade. Eu acredito que é um Papa muito simples e que aos poucos ele está se mostrando ao mundo. Então, creio que ele vem muito para somar com a pauta do Papa Francisco. Aquilo que o Papa Francisco já tinha em mente, muitas coisas. A própria encíclica que ele escreveu, então eu acho que isso já é uma pauta que a gente vê. Acho que ele tem seguido aqueles sonhos do Papa Francisco também, de uma Igreja pobre, de uma Igreja sinodal, de uma Igreja que está junto do povo. Eu acredito que o Papa Leão veio pra somar com todas essas nossas causas que o Papa Francisco já tinha, e que hoje a gente também tem como Igreja do Brasil e igreja da Amazônia. Esperamos o Papa Leão na Amazônia? Com certeza! É um sonho ter o Papa Leão na Amazônia. Quem sabe, como ele já viveu um período na Amazônia peruana, quem sabe, agora virá à Amazônia brasileira.

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