Leão XIV recebeu os participantes do Jubileu do Mundo Educativo, no Vaticano. Em seu discurso, disse que a educação une as pessoas em comunidades vivas e organiza as ideias em constelações de sentido", disse ainda o Pontífice, ressaltando que "a educação nos ensina a olhar cada vez mais para o alto". "Não se limitem a olhar para o celular e para os seus fugazes fragmentos de imagens: olhem para o Céu, para o alto", sublinhou.
Mariangela Jaguraba/Raimundo Lima – Vatican News O Papa Leão XIV recebeu em audiência nesta quinta-feira (30/10), na Sala Paulo VI, no Vaticano, cerca de seis mil estudantes que participam do Jubileu do Mundo Educativo que teve início na última segunda-feira, 27 de outubro, e se concluirá no domingo, 2 de novembro. O Pontífice iniciou o seu discurso, dizendo-lhes que esperou "por este momento com grande emoção" e que a companhia deles o fez "lembrar dos anos em que ensinava matemática para jovens vibrantes" como eles. "Agradeço por terem aceitado o convite para virem aqui hoje, para compartilhar as reflexões e esperanças que, por meio de vocês, transmito aos nossos amigos em todo o mundo", disse o Papa. A seguir, Leão XIV recordou São Pier Giorgio Frassati, "um estudante italiano canonizado durante este ano jubilar". O Pontífice citou duas frases que Frassati repetia com frequência: “Viver sem fé não é viver, mas ir vivendo” e “Para o alto”. "São afirmações muito verdadeiras e encorajadoras", disse ainda o Papa, convidando os jovens a terem "a audácia de viver em plenitude". "Não se contentem com as aparências ou as modas: uma existência centrada naquilo que passa nunca nos satisfaz. Em vez disso, cada um diga em seu coração: 'Sonho mais, Senhor, quero mais: inspira-me!'", disse ele. Esse desejo é a força de vocês e expressa bem o compromisso dos jovens que planejam uma sociedade melhor, da qual não aceitam ser meros espectadores. Encorajo-os, portanto, a tender constantemente “para o alto”, acendendo o farol da esperança nas horas sombrias da história. Como seria bonito se um dia a sua geração fosse reconhecida como a “geração plus”, lembrada pelo impulso extra que saberão dar à Igreja e ao mundo. O Papa disse ainda aos estudantes que "este sonho não pode permanecer apenas de apenas uma pessoa", mas que "devemos nos unir para realizá-lo, testemunhando juntos a alegria de crer no Senhor Jesus". De acordo com o Papa, "devemos conseguir isto através da educação, um dos instrumentos mais bonitos e fortes para mudar o mundo". "Queridos jovens, este não pode ser o sonho de uma única pessoa: unamo-nos, então, para o realizar, testemunhando juntos a alegria de acreditar no Senhor Jesus", disse ainda Leão XIV, ressaltando que isso pode ser obtido "através da educação, um dos instrumentos mais bonitos e poderosos para mudar o mundo". Há cinco anos, o amado Papa Francisco lançou o grande projeto do Pacto Educativo Global, uma aliança de todos aqueles que, de várias formas, trabalham na área da educação e da cultura, com o objetivo de envolver as novas gerações numa fraternidade universal. Na verdade, vocês não são apenas destinatários da educação, mas seus protagonistas. Leão XIV os convidou a se aliarem "para inaugurar uma nova era educativa, na qual todos - jovens e adultos - nos tornemos testemunhas críveis da verdade e da paz". O Papa acrescentou uma reflexão de John Henry Newman, "um santo estudioso que muito em breve será proclamado Doutor da Igreja". "Ele dizia que o saber se multiplica quando é partilhado e que é no diálogo das mentes que se acende a chama da verdade. Assim, a verdadeira paz nasce quando muitas vidas, como estrelas, se unem e formam um desenho. Juntos, podemos formar constelações educativas, que orientam o caminho futuro", disse o Pontífice. "Cada um é uma estrela, mas, juntos, vocês são chamados a orientar o futuro. A educação une as pessoas em comunidades vivas e organiza as ideias em constelações de sentido", disse ainda o Pontífice, ressaltando que "a educação nos ensina a olhar cada vez mais para o alto". "Não se limitem a olhar para o celular e para os seus fugazes fragmentos de imagens: olhem para o Céu, para o alto", sublinhou. O Papa frisou que "não basta ter grande conhecimento científico, se depois não sabemos quem somos e qual é o sentido da vida. Sem silêncio, sem escuta, sem oração, até as estrelas se apagam". "Podemos conhecer muito do mundo e ignorar o nosso coração: vocês já devem ter experimentado aquela sensação de vazio, de inquietação que não nos deixa em paz", disse ainda o Papa Leão. Nos casos mais graves, vemos episódios de desconforto, violência, bullying, opressão, e até mesmo a jovens que se isolam, não querendo mais relacionar-se com os outros. Penso que por trás destes sofrimentos esteja também o vazio criado por uma sociedade incapaz de educar a dimensão espiritual da pessoa humana, e não apenas as dimensões técnica, social e moral. Leão XIV recordou Santo Agostinho que, quando jovem, "era um rapaz brilhante, mas profundamente insatisfeito". "Até que descobriu Deus no próprio coração, escrevendo uma frase muito profunda, que serve para todos nós: «O nosso coração vive inquieto, enquanto não repousa em Vós». Portanto, educar para a vida interior significa: "Ouvir a nossa inquietação, não fugir dela nem empanturrá-la com o que não sacia". A seguir, falou a propósito de um dos novos desafios educativos: a educação digital. Vocês vivem nela, e isso não é mau: contém enormes oportunidades de estudo e comunicação. No entanto, não permitam que o algoritmo escreva a sua história! Sejam os seus autores: sirvam-se da tecnologia com sabedoria e não permitam que a tecnologia se sirva de vocês. "A inteligência artificial também é uma grande novidade – uma das rerum novarum, ou seja, das coisas novas – do nosso tempo: todavia, não basta ser “inteligente” na realidade virtual, é necessária humanidade no trato com os outros, cultivando uma inteligência emocional, espiritual, social e ecológica", frisou ainda o Papa. Eduquem-se de modo a humanizar o digital, construindo-o como um espaço de fraternidade e criatividade, não como uma prisão onde vocês se fecham, nem como uma dependência ou uma fuga. Em vez de turistas da rede, sejam profetas no mundo digital "A este respeito, temos diante de nós um exemplo muito atual de santidade: São Carlo Acutis", frisou ainda Leão XIV. "Um jovem que não se tornou escravo da rede, antes a utilizou com habilidade para o bem. São Carlo uniu a sua linda fé à paixão pela informática, criando um site sobre milagres eucarísticos e fazendo assim da Internet um instrumento para evangelizar. A sua iniciativa nos ensina que o digital é educativo quando não nos fecha em nós mesmos, mas nos abre aos outros", disse ainda o Papa. Por fim, Leão XIV falou sobre um desafio que "está no cerne do novo Pacto Educativo Global: a educação para a paz. Vejam bem como o nosso futuro é ameaçado pela guerra e pelo ódio que dividem os povos. Este futuro pode ser alterado? Certamente! Mas como? Através de uma educação para a paz desarmada e desarmante". Com efeito, não basta silenciar as armas: é preciso desarmar os corações, renunciando a toda forma de violência e vulgaridade. Deste modo, uma educação desarmante e desarmada cria igualdade e crescimento para todos, reconhecendo a igual dignidade de cada jovem, sem nunca os dividir entre aqueles poucos privilegiados que têm acesso a escolas caríssimas e aqueles muitos que não têm acesso à educação. Com grande confiança em vocês, convido-os a serem construtores de paz, em primeiro lugar, onde vivem, na família, na escola, no esporte e entre os amigos, indo ao encontro de quem provém de outra cultura. Concluindo, Leão XIV os convidou a olharem "para o alto, para Jesus Cristo, «o sol da justiça», que os guiará sempre pelos caminhos da vida".