A missão da Igreja para com os pobres não se resume a prestar-lhes assistência em situações de emergência, mas sim a ajudá-los a recuperar a sua autonomia – assim entende o presidente da Cáritas África, Monsenhor Pierre Cibambo, a implementação do princípio do desenvolvimento humano integral. Isto pressupõe um trabalho de defesa de direitos com o objectivo de transformar estruturas injustas, mas também combater a obsessão pela acumulação de recursos a nível individual.
Fabrice Bagendekere, SJ – Cidade do Vaticano Na sequência da celebração do Dia Mundial dos Pobres e da conclusão do Jubileu a eles dedicado, as palavras de Leão XIV nessa ocasião continuam a ressoar nas organizações dedicadas à promoção da solidariedade eclesial. Em entrevista à Rádio Vaticano, Monsenhor Pierre Cibambo, presidente da Cáritas África, fez eco a este sentimento. Para ele, saber que existem pessoas que podem perder a autoestima e mergulhar no isolamento e na depressão, ou até mesmo sentir culpa pela sua pobreza, é antes de mais um lembrete crucial para os cristãos, mas também para qualquer humanista, do seu profundo dever de preservar e defender a sacralidade da sua humanidade. "A pobreza não é uma maldição", sublinha o sacerdote, lembrando que é a própria sociedade que cria "situações que geram pobreza para a sua própria exploração". Consciente disso, afirma, o trabalho das organizações sociais deve consistir, antes de mais, em "lutar pelos pobres e com eles, acreditando neles e nas suas capacidades". Lutar contra a obsessão de acumular riqueza para si Nada pode ser invocado para justificar a pobreza e a manutenção de pessoas em condições desumanas, insiste Mons. Cibambo. Pelo contrário, afirma ele, “deveríamos envergonhar-nos se não fizermos nada, se nos tornarmos cúmplices, incluindo dentro da Igreja, nestas situações de pobreza que deploramos”, sublinhando a necessidade de tomar medidas concretas para restaurar “a dignidade dos pobres que nos rodeiam e, em seguida, avançar gradualmente para as instituições nacionais e internacionais”. O Monsenhor demonstra que o que se exige, antes de mais, é uma conversão na nossa relação com o bem comum. Para Mons. Cibambo, para termos esperança na erradicação da pobreza nas nossas sociedades, devemos, acima de tudo, "superar a obsessão, que persiste na nossa época, de acumular riqueza para si próprio ". E indica que isto pode ser conseguido sem grandes privações, simplesmente lutando contra a tendência de querer aproveitar-se dos outros. Esta consciência, diz o sacerdote, seria um passo importante para levantar o véu da vergonha que cobre os rostos daqueles que, "por serem desprezados pela sociedade, acabam por se desprezar a si próprios". Dar mais voz aos pobres Monsenhor Pierre Cibambo elogia o empenho da Igreja, reflectido nas escolhas ministeriais dos Papas recentes, em prestar maior atenção aos membros marginalizados da sociedade. Espera também que se aprofunde o princípio do desenvolvimento humano integral, promovido pela Doutrina Social da Igreja, dando particularmente maior voz aos pobres; para que sejam ouvidos com mais atenção e considerados os principais agentes do seu próprio empoderamento. Assim, diz, o papel da Igreja será de acompanhá-los na sua caminhada, capacitá-los, equipá-los e apoiá-los para que possam tomar o seu destino nas suas próprias mãos. O presidente da Cáritas África sublinha ainda que existe todo um esforço de advocacia que visa a transformação de estruturas injustas, que nunca deve cessar. Estas incluem "ações junto dos decisores políticos para os incentivar a adotar políticas que promovam o desenvolvimento humano, combatam a corrupção e implementem instrumentos de apoio à paz e à coesão social". O Papel Profético da Igreja Perante a globalização da indiferença, Mons. Cibambo insiste na necessidade de a Igreja, “não só denunciar os anti-valores, mas também propor respostas credíveis e realistas capazes de oferecer as melhores soluções possíveis”, de forma a preservar o seu papel profético. Pierre Cibambo lembra-nos que hoje, particularmente em África, os rostos da pobreza são muitos. Entre eles, diz, não são só “todos os homens, mulheres e crianças que passam fome”, mas também “todos aqueles e aquelas que não têm acesso a cuidados de saúde e que morrem de doenças que deveriam ser erradicadas”; “aqueles e aquelas que são vítimas de guerras e que são continuamente deslocados e amontoados em campos de miséria”; “crianças privadas de escolaridade e recrutadas por grupos armados”; “aqueles e aquelas em rota de migração forçada que são maltratados ou devolvidos”; e “aqueles e aquelas que são vítimas do extremismo, incluindo o extremismo religioso, aqueles e aquelas que sofrem violência sexual, por vezes utilizada como arma de guerra”. Estas situações, segundo o presidente da Caritas África, exigem um compromisso contínuo da Igreja para "permanecer como sinal de esperança para o nosso tempo".