O abraço de Pedro aos nômades, os Papas e povo cigano - Vatican News via Acervo Católico

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O abraço de Pedro aos nômades, os Papas e povo cigano - Vatican News via Acervo Católico
Fonte: VATICANO

Por ocasião do Jubileu dos Ciganos, Sinti e Itinerantes, repercorremos os encontros dos Papas com esses irmãos que estão no coração da Igreja. O primeiro foi em 1965, com Paulo VI.

Amedeo Lomonaco – Vatican News Os pobres, os aflitos, os descartados. É entre esses irmãos, considerados à margem da sociedade e entre os mais desfavorecidos da família humana, que a Igreja encontra o sentido evangélico do amor cristão. O olhar do vigário de Cristo é cheio de amor por todos os seus filhos, especialmente por aqueles que são excluídos, que sentem todos os dias o peso do preconceito. Os ciganos vivem essa realidade, muitas vezes confinados em periferias geográficas e existenciais. O Papa Paulo VI foi o primeiro Pontífice a encontrá-los. Suas palavras são as de um pai. Ele os define como “peregrinos perpétuos, exilados voluntários, refugiados sempre em caminho, viajantes sem descanso”. Era 26 de setembro de 1965, o dia de seu aniversário. Esse encontro histórico realizou-se num clima de profunda emoção. O encontro com Paulo VI O povo reunido no campo internacional dos ciganos em Pomezia, nas proximidades de Roma, abraça o bispo da Cidade Eterna. Muitos desses peregrinos vestem trajes coloridos. “Trata-se de nômades, ciganos, de diferentes estirpes, nações e origens – lê-se na edição do jornal “L'Osservatore Romano” com a crônica daquele dia memorável – todos unidos pelo vínculo da fé”. Estão presentes mais de 3.000 ciganos, vindos de várias regiões da Europa e do mundo. No ofertório, vários presentes foram oferecidos ao Papa, entre os quais um ostensório em forma de cruz com uma auréola de arame farpado em memória dos ciganos mortos nos campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial. Em sua homilia, Paulo VI primeiro estendeu sua saudação a esse povo: "A vocês, que olham o mundo com desconfiança e são olhados com desconfiança por todos; a vocês, que sempre e em toda parte desejaram ser estrangeiros, isolados, estranhos, empurrados para fora de qualquer círculo social; a vocês, que estão em movimento há séculos e ainda não decidiram onde chegar, onde permanecer!" O que realmente importa, enfatizou o Papa Montini, é uma "descoberta diferente". Paulo VI: "Vocês estão no coração da Igreja" Vocês descobrem que não estão fora, mas dentro de outra sociedade; uma sociedade visível, mas espiritual; humana, mas religiosa; esta sociedade, vocês sabem, se chama Igreja. Hoje, talvez mais do que nunca, vocês descobrem a Igreja. Vocês não estão à margem da Igreja, mas, de certa forma, estão no centro; vocês estão no coração. Vocês estão no coração da Igreja porque estão sozinhos: ninguém está sozinho na Igreja; vocês estão no coração da Igreja porque são pobres e necessitados de assistência, instrução e ajuda; a Igreja ama os pobres, os que sofrem, os pequenos, os deserdados, os abandonados. É aqui, na Igreja, que vocês se dão conta de que não são apenas membros, colegas, amigos, mas irmãos; e não apenas entre vocês e conosco, que hoje os acolhemos como irmãos, mas, num certo sentido cristão, irmãos de todos os homens. O encontro de Paulo VI com o povo cigano realizou-se num momento crucial para a Igreja. Faltavam apenas algumas semanas para o encerramento do Concílio Ecumênico Vaticano II, que exortou os bispos a "cuidarem particularmente daqueles fiéis que, devido às suas condições de vida, não podem se beneficiar do ministério ordinário dos párocos ou estão privados de qualquer assistência". Entre esses fiéis, também há os "nômades". O resultado desse encontro histórico é o selo de uma fraternidade sem exclusões: todos fazem parte da Igreja, o povo de Deus. O abraço de Bento XVI Em 2011, o encontro dos representantes de diferentes etnias ciganas e roms com Bento XVI retoma o encontro de 1965 com Paulo VI. O Pontífice abraça mais de dois mil ciganos vindos de toda a Europa nos 150 anos de nascimento e no 75º aniversário do martírio do beato cigano Ceferino Giménez Malla. Repercorrendo as etapas da complexa e dolorosa história do povo cigano, que nunca “aspirou dominar outros povos”, mas “considerou idealmente todo o continente” europeu como sua “própria casa”, Bento XVI repetiu com carinho o que foi expresso pelo Papa Montini: “Vocês estão na Igreja! Vocês são uma parte amada do Povo de Deus peregrino e nos lembram que “não temos aqui uma cidade estável, mas caminhamos em busca da futura”. Lembrou sua visita ao campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, em 28 de maio de 2006. Naquela ocasião, o Pontífice alemão rezou pelas vítimas da perseguição e se curvou diante da lápide em língua romani. Em 2011, ao encontrar-se com diferentes etnias de ciganos, as palavras de Bento XVI unem essas páginas trágicas da história com caminhos de esperança. Bento XVI: "Busquem sempre a justiça" A consciência europeia não pode esquecer tamanha dor! Nunca mais o seu povo deverá ser submetido a assédio, rejeição e desprezo! Da parte de vocês, busquem sempre a justiça, a legalidade e a reconciliação, e se esforcem por nunca ser a causa do sofrimento alheio! Hoje, graças a Deus, a situação está mudando: novas oportunidades abrem-se diante de vocês, à medida que adquirem uma nova consciência. Com o tempo, vocês criaram uma cultura de expressões significativas, como a música e o canto, que enriqueceram a Europa. Muitos grupos étnicos deixaram de ser nômades, mas procuram estabilidade com novas expectativas de vida. A Igreja caminha com vocês e convida-os a viver de acordo com as exigentes exigências do Evangelho, confiando na força de Cristo, rumo a um futuro melhor. Em 11 de junho de 2011, na Sala Paulo VI, cores e danças ao ritmo cigano alternaram-se com momentos de genuína emoção, enquanto vários ciganos partilhavam os seus testemunhos. O de uma estudante, nascida e criada num campo cigano em Roma, foi uma voz que clamava por respeito e dignidade: "Sei que há ciganos que cometem erros, que se comportam mal, mas a responsabilidade é sempre pessoal e a culpa nunca é de um grupo étnico ou de um povo. Quando penso no futuro, penso em cidades e povoados onde também haja lugar para nós, como cidadãos plenos como todos os outros, não como um povo a ser isolado e temido." O testemunho sucessivo foi o de uma cigana austríaca que sobreviveu aos campos de extermínio de Auschwitz e Bergen-Belsen, para onde foi deportada quando tinha aos 9 anos: "Auschwitz: tudo lá permaneceu como era; até os homens estão lá, que permaneceram como eram. Somos as flores deste mundo e somos pisoteados, maltratados e mortos." Uma freira cigana nascida na Eslováquia conta então a sua história. Na adolescência, conheceu um padre e um grupo de jovens cristãos, que passou a frequentar sem o conhecimento do regime. "Espero", afirma perante o Papa, "que o Evangelho e o amor de Jesus cheguem em breve a muitos dos nossos irmãos e irmãs ciganos que ainda não o conhecem." Encontros com Francisco O Papa Francisco se encontrou com o povo cigano em diversas ocasiões. Cerca de 7.000 deles estiveram presentes na Sala Paulo VI, com seus ritmos e danças em 26 de outubro de 2015. O Pontífice enfatizou que "é possível construir uma convivência pacífica, na qual diferentes culturas e tradições preservem seus respectivos valores". Francisco: "Virar a página" Não queremos mais assistir a tragédias familiares em que crianças morrem de frio ou de incêndios, ou se tornam objetos nas mãos de pessoas depravadas, ou jovens e mulheres envolvidos no tráfico de drogas ou de pessoas. Isso ocorre porque muitas vezes caímos na indiferença e na incapacidade de aceitar costumes e modos de vida diferentes dos nossos. Gostaria que uma nova história, uma história renovada, começasse também para o seu povo. É preciso virar a página! Chegou a hora de erradicar preconceitos seculares, preconceitos e desconfianças antigas que muitas vezes estão na raiz da discriminação, do racismo e da xenofobia. Após o Pai-Nosso cantado em romani, o Papa Francisco renovou, cinquenta anos depois de Paulo VI, a coroação da estátua de Maria, Rainha dos Ciganos. As notas da Ave Maria cantadas por um cigano francês ecoam ao fundo. Por fim, o Pontífice pronunciou o ato de entrega dos ciganos à Virgem Maria. Além do de 2015, outro encontro entre Francisco e os ciganos e sinti ocorreu em 9 de maio de 2019. O Papa Francisco escolheu a Sala Régia, o nobre coração da Residência Apostólica, onde recebeu o Corpo Diplomático, para acolher quinhentos representantes de diversas etnias num lugar de honra e rezar com eles e por eles. "Vocês não são cidadãos de segunda classe", disse Francisco àquela parcela do povo de Deus na Sala Régia: "Os verdadeiros cidadãos de segunda classe", explicou o Pontífice, "são aqueles que descartam as pessoas: estes são de segunda classe porque não sabem abraçar. Sempre usando o adjetivo, eles jogam fora, eles descartam, e vivem descartando." O Jubileu dos Ciganos e o abraço com Leão XIV Um dos eventos deste Ano Santo é o Jubileu dos Ciganos, programado para 18 de outubro e marcado pelo tema: "A esperança é itinerante; meu pai e minha mãe eram arameus errantes" (cf. Dt 26,5). Neste dia, está previsto um momento de oração na Sala Paulo VI para professar a profunda fé dos povos Ciganos, Sinti e Itinerantes. É uma oportunidade para encontrar o Sucessor de Pedro. No domingo, 19 de outubro, um dia após o abraço com Leão XIV, está previsto um momento de oração no Santuário de Nossa Senhora do Divino Amor, próximo à igreja ao ar livre dedicada ao Beato Zeferino Giménez Malla. Ele é conhecido como "o Pelé", o primeiro mártir cigano da fé. Ele foi fuzilado em 1936 durante a Guerra Civil Espanhola e jogado numa vala comum por defender um sacerdote com seu Rosário. Seu testemunho é um modelo para um povo, para a família humana, para a Igreja.

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