“O coração fala ao coração” por São João Henrique Newman

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“O coração fala ao coração” por São João Henrique Newman
Fonte: VATICANO

O Papa Leão XIV vai proclamar São João Henrique Newman (1801-1890) doutor da Igreja. O título será conferido em 1 de novembro durante o Jubileu da Educação. O Pe. Maicon Malacarne assina artigo sobre o cardeal inglês "reconhecido pela sua vida de santidade e pelo saber teológico que compartilhou com o mundo. Em Newman, temos a referência fundamental e tão necessária do doutor do diálogo, do doutor da escuta, do doutor da consciência e do doutor das coisas do coração".

Pe. Maicon A. Malacarne* A vida de São João Henrique Newman é um sinal luminoso para o nosso tempo. Nascido em 1801, na cidade de Londres, era o mais velho de seis irmãos, dentro de uma família anglicana. Depois de estudar em Oxford, foi ordenado sacerdote da Igreja Anglicana e dedicou-se especialmente aos pobres e doentes. Nunca abandonou o rigor nos estudos, a leitura assídua, a escrita diária e as pesquisas diversas sobre temas da fé e da ciência. Tal erudição levou Newman a enfrentar conflitos e rejeições que, aos 44 anos, fizeram-no tomar uma decisão corajosa e escandalosa para o ambiente em que vivia: converteu-se ao catolicismo. A conversão foi um novo ponto de partida para a vida de Newman – entre os anglicanos, foi rejeitado e perdeu todos os amigos – entre os católicos, era uma figura desconhecida e levantava suspeitas. Em meio as tensões, não esfriou a intensidade da sua rotina. Depois de ensinar alguns anos em uma universidade de Dublin, na Irlanda, retornou a Inglaterra, onde fundou um Oratório inspirado em São Felipe Néri, lugar que permaneceu até a sua morte, em 1890, equilibrando os estudos com o cuidado pastoral. O tema da consciência era uma das questões mais caras a Newman e que ele buscava articular com os seus interlocutores. De fato, afirmava que a consciência de cada pessoa é o lugar por excelência da relação com Deus que “nem mesmo o Papa ou toda a doutrina da Igreja pode violar”. Tal expressão se encontra no final da famosa “Carta ao Duque de Norfolk”. Newman não buscava colocar em conflito a consciência pessoal com os dogmas ou com a autoridade do Papa, senão de resgatar a necessidade de cada pessoa educar a sua consciência – tomar consciência - para decisões mais equilibradas, mais humanas, mais livres, sem se tornar repetidora da consciência dos outros. A fé, nesse sentido, não é um vínculo por tradição, senão a consciência de uma relação fundamental entre criador e criatura. Mais tarde, em 1965, o Concílio Vaticano II ensinou, pela Constituição Pastoral Gaudium et spes, que “a consciência é o centro mais secreto e o santuário do ser humano, no qual se encontra a sós com Deus, cuja voz se faz ouvir na intimidade do seu ser. Graças à consciência, revela¬-se de modo admirável aquela lei que se realiza no amor de Deus e do próximo. Pela fidelidade à voz da consciência, os cristãos estão unidos aos demais homens, no dever de buscar a verdade e de nela resolver tantos problemas morais que surgem na vida individual e social” (n.16). Não é difícil encontrar o ressoar da teologia de Newman (além de Santo Afonso Maria de Ligório e outros). O saudoso Papa Francisco, em 2016, na Exortação Apostólica Amoris Laetitia, dentro da reflexão sobre a difícil situação atual das famílias, escreveu: “somos chamados a formar as consciências, não a pretender substituí-las” (n. 37). O dever moral de quem se coloca ao lado das circunstâncias mais complexas da vida é ser um canal da graça de Deus, um facilitador da esperança, um alívio do fardo, com a disposição de favorecer o discernimento a partir da vida compartilhada e não da imposição de regras morais e doutrinais. Trata-se da pastoralidade e da proximidade que o Papa Francisco insistiu tantas vezes. A tarefa de amadurecer a consciência não é teórica, não se faz apenas com livros e doutrinas, mas sobretudo no contato real e verdadeiro com as pessoas. Aqui está o coração da vida de Newman e o ponto de viragem da sua conversão. A consciência não está distante das intenções do coração. Viver “com o coração” é a maior graça que podemos alcançar! Não é à toa que Newman escolheu como lema “cor ad cor loquitur”, ou seja, “o coração fala ao coração”. Fora “do coração” não há consciência e nem mesmo verdade. O Papa Leão, no dia 1º de novembro próximo, fará de São João Henrique Newman o 38º doutor da Igreja. Um doutor é reconhecido pela sua vida de santidade e pelo saber teológico que compartilhou com o mundo. Em Newman, temos a referência fundamental e tão necessária do doutor do diálogo, do doutor da escuta, do doutor da consciência e do doutor das coisas do coração. * professor de Teologia Moral e pároco da Paróquia São Cristóvão - diocese de Erexim/RS

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