O Jubileu do Mundo Educativo incluiu a presença do presidente da ODUCAL, Padre Anderson, reitor da PUC do Rio. Na conversa com a Rádio Vaticano destacou-se o encontro significativo com Papa Leão, onde mais de 100 reitores discutiram a função das universidades católicas como serviço à igreja e à sociedade. O Papa enfatizou a importância da educação integral e o papel das universidades católicas em formar cidadãos comprometidos com o bem comum.
Silvonei José – Vatican News O Papa Leão XIV recebeu no Vaticano nesta sexta-feira, (31/10) os membros da Organização de Universidades Católicas da América Latina e do Caribe (ODUCAL), reunidos em Roma por ocasião do Jubileu do Mundo da Educação. No início da saudação o Santo Padre saudou o presidente da organização, padre Anderson Antonio Pedroso, S.I., jesuíta brasileiro e reitor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). E nós conversamos come ele: Padre Anderson, que alegria poder recebê-lo aqui nos estúdios da Rádio Vaticano, seja bem-vindo. “Muito obrigado Silvonei, prazer enorme estar aqui neste contexto do Jubileu da Educação, Jubileu de Esperança e acho que educação é quase sinônimo de esperança. Partimos do encontro que os senhores tiveram com o Santo Padre nesta sexta-feira. “Sim, foi o encontro dos reitores e autoridades acadêmicas da ODUCAL. Conseguimos reunir mais de 100 reitores, e ele nos recebeu em uma audiência privada, ou seja, tivemos essa oportunidade de estar conversando com o Papa, sermos recebidos e cumprimentá-lo. Foi muito significativo o gesto dele, a generosidade dele, cumprimentou cada reitor, nos deu uma mensagem extraordinária, fez a foto, é claro, todo mundo espera a foto, mas mais do que isso ele demonstrou grande carinho, amor e esperança também por nós, transmitiu muita esperança para nós. Foi um momento extraordinário, as pessoas ficaram muito comovidas. E eu, estava à frente e tive essa oportunidade de olhar, de ver a reação de cada um, então foi um encontro muito bonito, de muita densidade, muito afeto, muito carinho, e sobretudo, de compromisso comum de servirmos a Igreja na nossa missão com as universidades católicas”. Depois de citar o senhor, o Papa agradeceu a presença de todos. Ele falou também das finalidades da ODUCAL, ou seja, entre elas, o progresso da educação superior católica e o serviço à sociedade, criando espaços de encontro entre fé e cultura. “Olha, para nós é fundamental essa essa definição eu diria, da universidade católica. A universidade católica é serviço da Igreja à sociedade. A gente gosta sempre de lembrar a universidade. A universidade católica não é só para os católicos. Inclusive em muitos países a universidade católica é lugar de liberdade, de encontro de outras religiões, de outras sensibilidades. É de fato, espaço em que a Igreja pode abrir um pouco da sua riqueza para que outros possam somar. Então, eu diria que é quase uma definição mesmo, a universidade católica ela é serviço da igreja à sociedade, espaço de comunhão”. E o Papa diz mais também. As universidades católicas devem se tornar itinerários da mente rumo a Deus. “É muito interessante essa expressão dele, isso é uma aventura que nos fala da direção, não é? A finalidade última é a evangelização, que é, de alguma maneira aproximar as pessoas através do mundo acadêmico, com os métodos próprios do mundo acadêmico. Aproximar as pessoas a Deus, ou apontar o caminho. Eu acho bonito essa metáfora do itinerário porque você aponta o caminho, e ajuda a caminhar, mas é caminho sempre da pessoa e isso dá uma grande dignidade e grande liberdade intelectual inclusive de cada um ir se aproximando da verdade, à sua maneira, seu modo. Que as universidades possam apontar isso, eu acho extraordinário”. E ainda, as universidades católicas formando pessoas integrais, de modo integral, inteligências com sentido crítico, corações crentes e cidadãos comprometidos com o bem comum. “Isso, o Papa recupera, diria toda essa visão integral, que inclusive no mundo acadêmico, pedagógico, se tornou algo fundamental, sem isso já não se pode mais pensar na experiência universitária e na experiência educativa. Deve-se educar não somente a cabeça. O Papa Francisco tinha essas imagens bonitas. Cabeça, coração e mãos. Então, a educação integral ela já é patrimônio comum, se fala em todos os lugares, mas nas universidades católicas, no mundo católico, tem muito mais sentido e muito mais densidade, integrar toda a pessoa. Aí entra a dimensão ética, a dimensão afetiva, que é tão importante, educar com amor, educar para o amor. O fato de que nós podemos usar a inteligência, hoje fala-se da inteligência artificial, mas nós podemos e devemos usar a inteligência para o bem. Qual é a finalidade que nós usamos a inteligência humana, natural ou artificial? Para o bem. Eu creio que o Papa nos ajuda, nos coloca no centro mesmo de uma nova pedagogia, formar a pessoa por inteiro, formação integral, educação, para viver em sociedade. A universidade é uma experiência cidadã também, não é? Nós temos as cidades universitárias lá no Rio, nós temos o campus da PUC. O campus da PUC tem igreja, tem a prefeitura, tem o prefeito. Tem o cartório. É quase que uma visão pequena, mas fundamental, do que é viver em sociedade. E eu acho essa função da universidade irrenunciável. Inclusive, é uma anedota aqui, se posso contar. Temos uma história de que uma pessoa bastante simples escreveu universidade, com com “c”. Ao invés de menosprezar ou dizer que é erro, uma pessoa que comentou isso comigo falou assim: olha isso daqui é verdade, é uma cidade. Então, a dimensão cidadã é fundamental, e as universidades precisam se ocupar disso. Por isso, na ODUCAL nós temos uma perspectiva também muito mais ampla, que não é só a educação em si mesma, mas a educação para a sociedade, para viver em sociedade, com a dimensão democrática, cidadã, que é fundamental". Neste dia primeiro nós tivemos momento muito especial na Praça São Pedro, Santa Missa, Solenidade de Todos os Santos e a proclamação de John Henry Newman também como doutor da igreja. “Sim, acho que não podia ter sido de maneira mais completa e com uma linguagem mais adaptada para esse mundo educativo. O doutorado é tido no mundo acadêmico como grande momento em que uma pessoa é reconhecida por um gesto intelectual fundamental, que de alguma maneira muda o sistema, o mundo, o mundo acadêmico. É um grande gesto de acolhimento, quando alguém recebe doutorado e se torna doutor. Na verdade não é só uma honra para a pessoa, mas é uma honra para todo o sistema, o mundo acadêmico, é sinal de vitalidade do mundo acadêmico, é sinal de acolhimento do mundo acadêmico de uma ideia. Tudo isso eu estou falando do mundo acadêmico. Agora o mundo eclesial, o mundo da fé…, o doutorado não é um doutorado qualquer. Tornar-se doutor da Igreja significa que o pensamento de Newman é acolhido. Ele recebe a legitimidade fundamental para que seja não só aprofundado, mas reproduzido. Certamente o longo período de estudo, tudo o que ele escreveu, o que ele pensou, a sua vida, porque é santo? E eu acho que isso marca também mais a vitalidade da Igreja nessa direção. Então é um doutorado. Eu estive aqui, quando era seminarista, no doutorado de Santa Teresinha. Foi algo muito impressionante para mim. Então, hoje eu também estou, até pessoalmente se posso dizer isso, muito feliz por ver isso e por estar concluindo o Jubileu da educação com um doutorado. Um doutorado que tem a sua base na santidade. Une o conhecimento profundo com a santidade de vida. E isso eu acho que são as duas linhas fundamentais que devem nos guiar como educadores ou pessoas que vivem nessa missão da educação católica. Conhecimento profundo, que dá humildade, e santidade de vida, que dá densidade pra qualquer conhecimento". Padre Anderson, obrigado pela sua presença, pela sua missão, e pela nossa PUC do Rio. “A PUC do Rio que continua, é vibrante e é um desafio enorme. Na nossa cidade do Rio, que tem seus conhecidos desafios, mas às vezes pouco conhecidas virtudes, eu acho que a PUC ajuda muito. Ela é uma instituição fundamental para o Rio, porque ela exalta as virtudes do carioca, o pensamento carioca, o jeito de ser, e a resiliência do carioca. A PUC do Rio exalta as virtudes do Rio, ajuda a cidade, mantém viva a esperança, e por fim, a PUC do Rio é projeto de país, porque grandes projetos saíram dali, plano real, muitas políticas públicas de inclusão. É uma universidade pontifícia, faz ponte, não só com a cidade querida cidade do Rio que eu amo, mas também com o nosso país. Então eu quero também daqui dos estúdios da Rádio Vaticano, mandar um grande abraço para a minha comunidade acadêmica, comunidade universitária que vai além da acadêmica, para os antigos alunos, grande abraço à PUC Rio, e logo nós estaremos aí de volta para continuar a nossa missão”.