O diretor cessante da Associação Inter-regional dos Bispos Católicos da África Austral (IMBISA) fala ao Vatican News sobre o seu mandato, os desafios pastorais e a importância do cuidado com a saúde mental dos sacerdotes.
Sheila Pires – Joanesburgo, África do Sul Em conversa com Vatican News durante o seminário intitulado “Saúde Mental e Autocuidado para Sacerdotes da Região”, no Centro de Retiros Padre Pio, em Pretória, o Padre Rafael Baciano Sapato, diretor cessante do Secretariado da IMBISA, partilhou reflexões sobre os frutos do seu mandato e os novos desafios que aguardam a Igreja na África Austral. “Cheguei ontem a Pretória para este workshop sobre saúde mental e autocuidado para os nossos sacerdotes da região”, contou. “O ambiente está ótimo, os participantes estão entusiasmados. Começamos com a intervenção da Irmã Yvonne Sanyanga sobre ‘O peso do silêncio’ e o feedback é muito positivo. Valeu a pena vir.” O encontro, que decorre de 27 a 31 de outubro, reúne sacerdotes de vários países da África Austral para refletirem sobre o equilíbrio emocional e o autocuidado como dimensões essenciais da vida pastoral. O programa inclui intervenções da Ir. Yvonne Sanyanga e do Padre Admar Alberto Pena, com momentos de grupo e partilha entre participantes. Segundo o Pe. Sapato, o objetivo é “despertar os nossos sacerdotes e agentes da pastoral para a necessidade de cuidar também da saúde mental”. “Temos a tentação de estarmos sempre a trabalhar, a dar, a dar, e esquecemos-nos de cuidar de nós mesmos. Corremos o risco de ficarmos esgotados. A saúde mental também é parte da nossa fidelidade ao ministério”, sublinhou. Três anos à frente da IMBISA: “O comboio continua em movimento” O Padre Rafael Sapato foi nomeado diretor do Secretariado da IMBISA em setembro de 2022, após a plenária em Windhoek, Namíbia. Agora, despede-se após três anos de serviço, regressando à sua diocese natal de Lichinga, no norte de Moçambique. “Houve mudanças na última plenária, em Manzini. O meu bispo chamou-me de volta à diocese e foi nomeado o meu sucessor, o Padre Enrico Parry, que até agora era coordenador da pastoral. Fico feliz por ver que o comboio continua em movimento”, afirmou com emoção. Durante o seu mandato, Pe. Sapato destacou o fortalecimento do trabalho em equipa dentro do Secretariado: “Desenvolvemos muito a colaboração interna. Até o pessoal do jardim sente-se parte do Secretariado. Houve um tempo em que o Secretariado era só homens de computador, e hoje todos se sentem incluídos.” Outra conquista foi a maior visibilidade da IMBISA na Região: “As pessoas dizem: a IMBISA está mais visível! Queremos que essa visibilidade se reflita na vida dos fiéis. Perguntam-nos: ‘Mas a IMBISA faz o quê?’ Queremos que a resposta venha da experiência concreta de uma Igreja mais próxima, mais sinodal.” Desafios regionais e novos horizontes O diretor cessante reconhece que o momento atual da IMBISA é também de transição e redefinição pastoral, sobretudo após o anúncio da criação de uma nova sub-região composta por Malawi, Zâmbia e Zimbábue — a Associação das Conferências Episcopais de Malawi, Zâmbia e Zimbábue (ACBC-MAZAZI). “Sinceramente, essa foi uma das matérias que mais me interessou e também me preocupou”, explicou. “Procurei saber quais são as implicações, e já pus o tema duas vezes na agenda do Conselho Permanente. Penso que é um processo ainda em curso, mas precisamos entender bem o que significará para o futuro da IMBISA.” A reflexão encontra eco nas palavras de Dom Charles Kasonde, bispo de Solwezi (Zâmbia) e presidente da AMECEA, que participou no jubileu de ouro da IMBISA em Eswatini, em 2025. “Dizemos que é uma sub-região”, explicou o prelado. “O Zimbábue continua a pertencer à IMBISA, e o Malawi e a Zâmbia continuam na AMECEA. Partilhamos uma herança comum… o que queremos é cultivar o espírito de solidariedade pastoral.” Dom Kasonde recordou ainda que o percurso histórico da IMBISA é um testemunho de resiliência e comunhão, nascido em tempos de apartheid, e destacou que “a sinodalidade faz parte da espiritualidade africana”, inspirada na filosofia do Ubuntu: “Eu sou porque nós somos. O Sínodo é o caminhar juntos — é comunhão, é comunidade, é a nossa maneira africana de ser Igreja.” De volta a Lichinga: fé, juventude e esperança Natural de Mecanhelas, Niassa, onde nasceu em agosto de 1966, o Pe. Sapato foi ordenado sacerdote em outubro de 1996. Doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade Urbaniana (Roma, 2003), foi reitor do Seminário Teológico São Pio X em Maputo, vigário-geral de Lichinga e vice-reitor da Universidade Católica de Moçambique. Autor de obras como “Para mim Iniciação sim, mas...” e “Uma vez o P. R. Sapato disse...”, o sacerdote regressa agora à sua diocese depois de quase três décadas de missão fora dela.