Na homilia proferida na Festa da Dedicação da Basílica de São João de Latrão, Leão XIV recordou que este templo foi construído por vontade do imperador Constantino, e que "nós, operários da Igreja viva, antes de podermos erguer estruturas imponentes, devemos escavar em nós mesmos e à nossa volta, para eliminar todo o material instável que possa impedir-nos de alcançar a verdadeira rocha de Cristo".
Mariangela Jaguraba - Vatican News O Papa Leão XIV presidiu a missa, neste domingo (09/11), Festa da Dedicação da Basílica de São João de Latrão, na Basílica de São João de Latrão, em Roma. Participaram da celebração eucarística duas mil e setecentas pessoas. Esta igreja é a Catedral da Diocese de Roma, cujo bispo é o Papa. "A construção foi realizada por vontade do imperador Constantino, depois de ter concedido aos cristãos, no ano 313, a liberdade de professar a sua fé e de exercer o culto", recordou o Papa Leão no início de sua homilia. O Papa Silvestre I dedicou-a ao Cristo Salvador, no século IV. "Esta Basílica, 'mãe de todas as igrejas', é muito mais do que um monumento e uma memória histórica: é sinal da Igreja «de pedras vivas, edificada sobre o alicerce dos apóstolos, tendo Cristo Jesus como pedra angular», e como tal lembra-nos que também nós, formando um templo espiritual, «somos edificados aqui na terra como pedras vivas. Por esta razão, como observava São Paulo VI, surgiu desde muito cedo na comunidade cristã o uso de atribuir o «nome de Igreja, que significa a assembleia dos fiéis, ao templo que os reúne»", frisou o Santo Padre. A seguir, olhando para este edifício, o Papa refletiu "com a ajuda da Palavra de Deus sobre o nosso ser Igreja". Primeiramente, refletiu "sobre os seus alicerces", ressaltando que "se quem a construiu não tivesse escavado bem fundo até encontrar uma base suficientemente sólida sobre a qual erguer tudo o resto, há muito que toda a construção teria ruído ou a qualquer momento correria o risco de ceder, de tal forma que também nós, estando aqui, nos exporíamos a sério perigo. Felizmente, aqueles que nos precederam deram à nossa Catedral bases sólidas, escavando em profundidade, com esforço, antes de começarem a erguer as paredes que nos acolhem, e isso faz-nos sentir muito mais tranquilos". "Contudo, isso também nos ajuda a refletir. De igual modo nós, operários da Igreja viva, antes de podermos erguer estruturas imponentes, devemos escavar em nós mesmos e à nossa volta, para eliminar todo o material instável que possa impedir-nos de alcançar a verdadeira rocha de Cristo. São Paulo fala-nos explicitamente disso na segunda leitura, quando diz que «ninguém pode pôr um alicerce diferente do que já foi posto: Jesus Cristo», o que significa voltar constantemente a Ele e ao seu Evangelho, dóceis à ação do Espírito Santo. Caso contrário, o risco seria sobrecarregar com estruturas pesadas um edifício com bases frágeis", disse ainda Leão XIV, acrescentando: Por isso, queridos irmãos e irmãs, ao trabalharmos com todo o empenho ao serviço do Reino de Deus, não sejamos nem precipitados nem superficiais: escavemos em profundidade, livres dos critérios do mundo, que demasiadas vezes exige resultados imediatos, porque desconhece a sabedoria da espera. A história milenar da Igreja ensina-nos que só com humildade e paciência se pode construir, com a ajuda de Deus, uma verdadeira comunidade de fé, capaz de difundir a caridade, de favorecer a missão, de anunciar, celebrar e servir o Magistério apostólico, do qual este Templo é a primeira sede. Falando sobre o Evangelho deste domingo, ressaltou que "Zaqueu, homem rico e poderoso, sente a necessidade de encontrar Jesus", mas é baixo demais e sobe numa árvore que "significa para Zaqueu reconhecer os seus limites e superar os freios inibidores do orgulho". A partir do encontro com Jesus, começa para Zaqueu uma nova vida. "Jesus transforma-nos e convida-nos a trabalhar no grande estaleiro de Deus, moldando-nos sabiamente segundo os seus desígnios de salvação. Nos últimos anos, a imagem do «estaleiro» foi frequentemente utilizada para descrever o nosso caminho eclesial. É uma imagem bonita, que fala de atividade, criatividade, empenho, mas também de esforço, de problemas – por vezes, complexos – a resolver", disse ainda o Papa. Ela expressa o esforço real, palpável, com que as nossas comunidades crescem todos os dias, na partilha dos carismas e sob a orientação dos Pastores. Em particular, a Igreja de Roma é testemunha disso nesta fase da implementação do Sínodo, na qual o que amadureceu ao longo de anos de trabalho pede para passar através do confronto e da verificação “na prática”. Isto implica um caminho íngreme, mas não devemos desanimar. Pelo contrário, é bom continuar a trabalhar, com confiança, para crescermos juntos. Por fim, Leão XIV mencionou "um aspecto essencial da missão de uma Catedral: a liturgia". "Ela é «a meta para a qual se encaminha a ação da Igreja e a fonte de onde promana toda a sua força». Nela, podemos encontrar todos os temas que mencionámos: somos edificados como templo de Deus, como sua morada no Espírito, e recebemos força para pregar Cristo no mundo", sublinhou. "Por essa razão, o cuidado posto na celebração da liturgia, no lugar da Sé de Pedro, deve ser tal que possa servir de exemplo para todo o povo de Deus, no respeito pelas normas, na atenção às diversas sensibilidades de quem participa, segundo o princípio de uma sábia inculturação e, ao mesmo tempo, na fidelidade ao estilo de solene sobriedade típico da tradição romana, que tanto bem pode fazer às almas de quantos nela participam ativamente", disse ainda o Papa, que concluiu, dizendo: Preste-se muita atenção para que, aqui, a beleza simples dos ritos expresse o valor do culto em prol do crescimento harmonioso do inteiro Corpo do Senhor. Santo Agostinho dizia que «a beleza não é senão amor, e o amor é a vida». A liturgia é um âmbito onde esta verdade se realiza de forma eminente; e desejo que quem se aproxima do Altar da Catedral de Roma possa depois partir cheio daquela graça com a qual o Senhor deseja inundar o mundo.