A tensão entre Estados Unidos e Venezuela, a trégua frágil em Gaza, o direito dos trabalhadores e dos migrantes e o processo ao ex-jesuíta Rupnik foram as perguntas que os jornalistas fizeram ao Papa Leão XIV ao deixar Castel Gandolfo de volta ao Vaticano.
Vatican News Ao deixar a residência pontifícia de Castel Gandolfo para retornar ao Vaticano, o Papa Leão parou para responder a quatro perguntas feitas pelos jornalistas que o aguardavam do lado de fora da Villa Barberini. Falando especificamente sobre a tensão na costa da Venezuela entre a luta ao narcotráfico e a aproximação de militares dos Estados Unidos, com a ameaça latente de uma "guerra fria", o Pontífice reafirmou que com a violência não se vence: "Um país tem o direito de ter militares para defender a paz, para construir a paz. Neste caso, parece ser um pouco diferente, aumentando a tensão. Penso que com a violência não vencemos. A questão é buscar o diálogo, buscar um modo correto para encontrar soluções aos problemas que podem existir em determinado país". Paz no Oriente Médio Quanto ao Oriente Médio, a trégua "é muito frágil", disse Leão XIV, expressando um parecer positivo com o fato de que pelo menos a primeira fase do acordo ainda esteja em vigor. Agora, prosseguiu, é preciso encontrar formas de se passar à segunda fase, "como garantir os direitos de todos os povos". "O tema da Cisjordânia, dos colonos, é realmente complexo." Respeitar as necessidades espirituais dos migrantes nos EUA Também foi feita ao Papa uma pergunta sobre Chicago, a sua cidade natal, onde as autoridades proibiram os sacerdotes de dar a comunhão aos migrantes detidos. Em primeiro lugar, o Pontífice recordou que o "o papel da Igreja é pregar o Evangelho", citando o capítulo 25 do Evangelho de Mateus, "em que Jesus diz claramente que no final dos tempos nos será pedido: como acolheram o estrangeiro? Vocês o acolheram ou não?". "Penso que haja uma profunda reflexão a ser feita sobre o que está acontecendo", destaca o Santo Padre. "Muitas pessoas que viveram por anos e anos sem nunca causar problemas foram profundamente atingidas por aquilo que está acontecendo neste momento". O convite, portanto, é levar em consideração também os direitos espirituais das pessoas que foram detidas: "Convidaria certamente as autoridades a permitir que os agentes pastorais se ocupem das necessidades dessas pessoas. Muitas vezes, foram separadas de suas famílias por um longo período de tempo, ninguém sabe o que está acontecendo... mas suas necessidades espirituais deveriam ser respeitadas". O trabalho, direito humano Outro tema tratado foi o trabalho, em vista do Jubileu dos Trabalhadores programado para os próximos dias. O assunto voltou a ser pauta na Itália com a morte de um operário de 66 anos no desabamento de uma torre em Roma. "A voz da Igreja é pelos direitos. Acreditamos que realmente precisamos trabalhar todos juntos. É um direito do ser humano ter um trabalho digno, onde também possa ganhar para o bem da família", respondeu o Papa, reiterando a preocupação com a segurança e afirmando que a celebração do Jubileu também quer "dar um pouco de esperança e tentar unir forças para encontrar soluções e não apenas comentar os problemas". O caso Rupnik Por fim, antes de se despedir e regressar ao Vaticano, foi feita uma última pergunta sobre o ex-jesuíta Marko Ivan Rupnik, acusado de abusos por parte e algumas religiosas, cujo caso está no centro de um processo no Dicastério para a Doutrina da Fé. Em particular, questionou-se as obras de arte ainda presentes em vários locais sagrados, algumas das quais foram cobertas após pedidos e protestos das vítimas. “Certamente, em muitos lugares, justamente pela necessidade de ser sensível em relação àqueles que denunciaram ter sido vítimas, as obras de arte foram cobertas, foram removidas dos sites. Portanto, esta questão é certamente algo de que estamos cientes”, afirmou Leão XIV. Ele explicou ainda que recentemente foi iniciado um novo processo contra o ex-jesuíta: "Os juízes foram nomeados e os processos judiciais levam muito tempo. Sei que é muito difícil para as vítimas pedir que sejam pacientes. Mas a Igreja deve respeitar os direitos de todas as pessoas. O princípio da presunção de inocência até prova contrária também se aplica à Igreja. E esperamos que este processo recém-iniciado possa trazer clareza e justiça a todas as pessoas envolvidas".