"Tive a honra e a responsabilidade de participar do momento introdutório do Jubileu das Equipes Sinodais, no Vaticano", escreveu Mariana Venâncio nas redes sociais. Há um mês, a assessora da Comissão para a Animação Bíblico-Catequética da CNBB era convidada pela Secretaria Geral do Sínodo para uma participação sobre "A sinodalidade como profecia social".
Vatican News Teve início nesta sexta-feira, 24, o Jubileu das Equipes Sinodais e dos Organismos Participativos, em Roma. O evento é considerado momento significativo na fase de implementação das orientações emanadas do Documento Final da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, o Sínodo sobre a Sinodalidade. Na abertura do encontro, a assessora da Comissão para a Animação Bíblico-Catequética da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Mariana Aparecida Venâncio, membro da Equipe Nacional de Animação do Sínodo, foi uma das palestrantes da mesa e falou sobre Sinodalidade como Profecia Social. Respostas aos desafios das sociedades Em sua apresentação, Mariana Venâncio afirmou que as práticas autênticas de sinodalidade permitem aos cristãos “desenvolver uma cultura capaz de profecia crítica em relação ao pensamento dominante e oferecem, assim, uma contribuição única para a busca de respostas a muitos dos desafios que as sociedades contemporâneas devem enfrentar e para a construção do bem comum”. Partindo da compreensão da sinodalidade como profecia social, Mariana aprofundou o sentido desse caminho de exercício da missão da Igreja de “anunciar e instaurar o Reino de Cristo e de Deus em todos os povos e constituir o germe e o princípio desse mesmo reino na Terra”. “A Sinodalidade não pode ser somente um modelo de organização de estruturas, nem só uma forma de configurar as relações no interno da Igreja. Mas também deve ser compreendida como a forma pela qual a Igreja vive e age no mundo, especialmente diante dos desafios que interpelam a Igreja em nosso tempo”, destacou. A Igreja como comunidade A “passagem do eu ao nós eclesial” é uma condição para a sinodalidade, segundo Mariana. Ela promove “a redescoberta da Igreja enquanto comunidade de fiéis, não uma sociedade, uma empresa, uma corporação”. A comunidade, destacou, “é lugar de reciprocidade e de gratuidade, proporciona a certeza de que em toda necessidade haverá alguém com quem se pode contar. E isso, na sociedade do individualismo e das relações líquidas, é já exercício de profecia”. “Na comunidade cristã, o impulso a viver em comunidade não está fundado somente numa convicção, ele parte da escuta atenta da Palavra e do Espírito e se expressa concretamente no compromisso com a vida fragilizada como resposta à Eucaristia celebrada. Dessa forma, a Igreja realiza a sua vocação de ser casa e escola de comunhão, para a qual de nada servem as estruturas e os organismos se não acompanhados da conversão do coração e da mente e do treinamento ascético para a acolhida e a escuta recíproca”. Espiritualidade da escuta Mariana também destacou atitudes relacionadas à redescoberta da sinodalidade e à conversão das relações, como a abertura a uma espiritualidade da escuta. Tal dinâmica valoriza a voz do outro e se deixa interpelar por ela. “Uma Igreja que escuta marca a sociedade com o testemunho de valorização de cada pessoa em sua identidade e individualidade, em suas diferenças e anseios, e naquilo que cada um pode oferecer como contribuição para o bem de todos. Na sociedade, portanto, ela é uma resposta forte e profética à cultura do descarte”. Para Mariana, a cultura da escuta é uma forma de assumir a identidade de uma Igreja em saída missionária, “que deseja ser o rosto de Cristo que escuta tantos irmãos e irmãs que estão às margens e os reintegra à vida”. Diálogo Diante das situações de polarizações na Igreja, também observadas em várias nações pelo mundo, o diálogo “permite superar esse fechamento em si e adotar uma postura de escuta, reconciliação e busca de um propósito comum em nome do qual unir esforços, gerando corresponsabilidade e fraternidade”. “O esforço pela sinodalidade tem nos mostrado, ao longo do tempo, que é possível ouvir e estabelecer diálogos fecundos que não uniformizam, mas unem pensamentos e posturas diferentes em nome do critério fundamental de que a unidade prevaleça sobre o conflito”. Mariana ainda citou exemplos de lugares por excelência que a Igreja tem testemunhado o compromisso com a sinodalidade, como o diálogo ecumênico e inter-religioso e nas relações cultivadas com o mundo da educação, da economia e da política, nas quais a Igreja realiza sua missão de caminhar junto com a humanidade, “anunciando o Reino e marcando cada tempo com os sinais que permitem a humanidade intuí-lo”. O Pacto Educativo Global, as iniciativas da Economia de Francisco e Clara e a presença da Igreja nas COPs sobre mudanças climáticas são exemplos. Ao final de sua reflexão, Mariana pontuou a necessidade de que a missão da Igreja na atualidade deve ser, “antes de mais nada, anunciar o amor de Deus tal como Jesus o anunciou: em gestos de fraterna escuta e comprometido acolhimento em vista da promoção da vida, o que pode ganhar expressão concreta na sinodalidade”. “Neste horizonte cristocêntrico e pascal, a sinodalidade pode ser mais que a renovação das estruturas eclesiais, pode ser a forma como a Igreja vive e realiza a sua missão no mundo, convidando a humanidade a ouvir e atender ao chamado de Cristo: a que sejamos um assim como ele e o pai são um afim de que o mundo creia”. Anunciar ao mundo e construir pontes Participam do evento cerca de 2 mil membros de equipes sinodais e organismos participativos, como conselhos presbiterais, conselhos pastorais, conselhos financeiros, entre outros, em nível diocesano/eparquial, nacional e/ou de grupos eclesiais de todo o mundo. Segundo a Secretaria Geral do Sínodo, o Jubileu representa o primeiro momento coletivo da fase de implementação, com o objetivo de traduzir as orientações do Documento Final em escolhas pastorais e estruturais consistentes com a natureza sinodal da Igreja. Ao mesmo tempo, o evento busca reconhecer o valioso serviço prestado por esses organismos e pelas pessoas que neles atuam, situando a construção de uma Igreja mais sinodal no horizonte da esperança do Jubileu. Depois do momento inicial de abertura, com uma celebração e as palestras, o Papa Leão XIV acompanhou a apresentação de relatórios de representantes de sete regiões geográficas sobre os desafios e as mudanças introduzidas para implementar a sinodalidade em seus territórios. Leão também respondeu a uma pergunta de cada um desses representantes. Ele destacou que o processo sinodal “serve para ajudar a Igreja a cumprir o seu papel primário, de anunciar a pessoa de Jesus em cada parte do mundo” e que nos ajuda a construir pontes. Colaboração: CNBB