Instituídos pelo Papa Francisco em março de 2024, os Grupos entregaram os relatórios do trabalho realizado até agora, a partir da conclusão do Sínodo sobre a sinodalidade. A data de entrega dos relatórios finais a Leão XIV foi fixada para 31 de dezembro. Entre os temas, a missão digital, o papel das mulheres, o ecumenismo, a poligamia, a liturgia, o ministério dos núncios e a escolha dos bispos.
Salvatore Cernuzio – Cidade do Vaticano Vinte meses após sua criação por vontade do Papa Francisco – que desejava uma colaboração mais estreita entre os Dicastérios da Cúria Romana e a Secretaria Geral do Sínodo –, os dez Grupos de estudo chamados a aprofundar as questões emergentes na dupla sessão do Sínodo sobre a Sinodalidade divulgaram hoje, 17 de novembro, seus relatórios preliminares. Um passo adiante, após a apresentação dos primeiros relatórios durante a segunda sessão da assembleia (outubro de 2024). Dois novos grupos Vários temas: da missão no mundo digital aos ministérios e à participação feminina na Igreja; das relações com as Igrejas Orientais ao papel dos núncios e à escolha dos bispos; depois, o ecumenismo, as Igrejas Orientais, questões doutrinárias “controversas”, melhor definidas como “emergentes”, como, por exemplo, a violência contra as mulheres em contextos de guerra. Juntamente com os relatórios, foram também apresentado o documento da Comissão Canônica e do SECAM (Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagáscar) sobre o desafio da poligamia e, pela primeira vez, o do Grupo sobre A liturgia numa perspectiva sinodal. Este é um dos dois novos grupos que o Papa Leão XIV quis acrescentar à luz do Documento final, e que começou a trabalhar no final de julho de 2025. O outro, por sua vez, ainda está em constituição e diz respeito ao Estatuto das Conferências Episcopais, das Assembleias Eclesiais e dos Concilios Particulares. Prorrogação na entrega dos relatórios finais Todos os Grupos foram convidados a entregar ao Papa as suas reflexões no final de junho de 2025. A morte de Francisco, a eleição de Leão e a necessidade de mais tempo para os trabalhos tornaram necessário prolongar a data de entrega. Leão XIV, em julho passado, concedeu a prorrogação e solicitou que os relatórios finais lhe fossem entregues, “na medida do possível”, até 31 de dezembro de 2025. “Alguns grupos estão prestes a concluir seu trabalho, outros continuarão ainda nos próximos meses”, escreve o cardeal Mario Grech, secretário-geral do Sínodo, em uma nota de acompanhamento. As relações com as Igrejas orientais O primeiro relatório é sobre as relações entre as Igrejas católicas orientais e a Igreja latina, elaborado pelo Grupo de Estudo 1. Entre os temas que o Grupo se propõe desenvolver, está a possível revisão das normas do Direito canônico oriental. O clamor dos pobres e da terra O Grupo de Estudo 2 trabalhou sobre o tema da escuta do clamor dos pobres e da terra, entrando em contato com várias redes e Igrejas locais. O Grupo também recolheu mais de 200 contribuições de institutos religiosos femininos. A missão no ambiente digital O Grupo de Estudo 3 aprofundou a questão da missão da Igreja no ambiente digital, lançando a iniciativa “A Igreja te escuta” com as experiências de acompanhamento digital por parte de 1.618 missionários digitais de 67 países com jovens e pessoas que vivem à margem. Também foi importante o diálogo com a Pontifícia Comissão para a Proteção de Menores, cujos membros destacaram as questões éticas e de proteção nos contextos digitais. A revisão da "Ratio" sobre os sacerdotes Um longo caminho é traçado no relatório do Grupo de Estudo 4, dedicado à Ratio Fundamentalis Institutionis Sacerdotalis, o documento de 2016 sobre a formação sacerdotal. A perspectiva é a de uma revisão da Ratio em chave sinodal, que possa acolher também a necessidade de “uma formação mais inserida na experiência do Povo de Deus”; momentos compartilhados entre leigos, consagrados, seminaristas; uma maior participação das mulheres e das famílias. A participação das mulheres na vida da Igreja O Grupo 5 abordou o tema da participação das mulheres na vida e na liderança da Igreja com referências às tensões críticas em relação ao clericalismo e ao machismo e às contribuições de Francisco e Leão XIV sobre este assunto. Quanto à questão do acesso das mulheres ao diaconato, tema para o qual o Papa Francisco “reativou” os trabalhos da Segunda Comissão de Estudo, o relatório preliminar explica que “foram enviados a esta Comissão todos os contributos emergentes dos trabalhos sinodais e relativos à questão em causa”. Os resultados do trabalho da Comissão serão divulgados em breve. Relações entre bispos, vida consagrada, agregações eclesiais O trabalho do Grupo de Estudo 6 analisou as relações entre bispos e consagrados, a colaboração entre Conferências Episcopais e Conferências dos Superiores Maiores, as relações entre agregações eclesiais e Igrejas locais. Figura e ministério do Bispo Os critérios de seleção dos candidatos ao episcopado, com a participação dos bispos do território e dos fiéis; a formação inicial e permanente dos bispos; a função judicial do pastor; a natureza e o desenrolar das visitas ad limina são as diretrizes que orientaram o trabalho do Grupo de Estudo 7, que ouviu cerca de 200 pessoas nestes meses. Sobre o tema da seleção dos candidatos ao episcopado, o Grupo obteve do Papa Francisco, por meio do então cardeal Robert Francis Prevost, prefeito do Dicastério para os Bispos, “a faculdade de examinar as Instruções confidenciais” enviadas às Nunciaturas “sobre o procedimento para as nomeações episcopais nos territórios de competência” do Dicastério para os Bispos e para a Evangelização. Entre as necessidades que surgiram, está a de promover “um envolvimento mais incisivo dos bispos do território” nas Igrejas locais. O papel dos Núncios Ao Grupo de Estudo 8 foi confiada a tarefa de “examinar” como o ministério dos representantes pontifícios “pode se desenvolver em uma perspectiva mais missionária e sinodal”. Entre os temas a serem aprofundados: o processo de seleção dos candidatos para a Academia e sua formação; a assistência aos membros do Serviço Diplomático nos primeiros anos de atividade; encontros regionais entre núncios; cuidados após a aposentadoria. Questões doutrinárias, pastorais e éticas “controversas” “Uma conversão do pensamento e uma transformação das práticas em fidelidade contextual ao Evangelho de Jesus”. A partir daí, o Grupo de Estudo 9 iniciou seu trabalho sobre questões doutrinárias, pastorais e éticas “controversas”. E também sobre questões que parecia adequado definir como “emergentes” mais do que controversas, tais como homossexualidade, conflitos e prática não violenta do Evangelho, violência contra as mulheres em situações de conflito armado. Sobre elas, especifica-se no relatório, o objetivo não é “dar soluções que sirvam para todos, mas fornecer alguns critérios de referência”. O horizonte é o “princípio da pastoralidade”, ou seja, a lógica pela qual “não há anúncio do Evangelho de Deus sem o reconhecimento e a promoção da subjetividade do outro”. O caminho ecumênico Sinodalidade e unidade dos cristãos, dois temas interdependentes. Partindo desse princípio, o Grupo 10 aprofundou os frutos do caminho ecumênico em relação a três questões: sinodalidade e primado petrino; hospitalidade eucarística, com especial atenção aos casais e famílias interconfessionais; o fenômeno das comunidades “não denominacionais” e os movimentos de “despertar” de inspiração cristã. A liturgia numa perspectiva sinodal Outro Grupo de Estudo – desejado, como já foi dito, pelo Papa – é o da liturgia que, pela primeira vez, apresenta o seu trabalho. Coordenado pelo Dicastério para o Culto Divino, em colaboração com a Secretaria Geral do Sínodo, a equipe cumprirá o seu mandato a partir da reflexão sobre a ligação entre a celebração eucarística e a vida sinodal missionária da Igreja. Entre os temas em análise, está também o de “como promover, em particular, o reconhecimento do papel das mulheres, sobretudo onde estas continuam a sofrer formas de discriminação, também através da valorização, nos lecionários litúrgicos, dos testemunhos bíblicos sobre o papel das mulheres na história da salvação”. Comissão Canônica Aos relatórios preliminares dos vários Grupos de Estudo, acrescenta-se o da Comissão Canônica, instituída durante a primeira Sessão do Sínodo em 2023. Desde então, a Comissão reuniu-se oito vezes e abordou os temas do laicato/mulher; Conferências Episcopais/Concilios particulares; organismos de participação. Sobre estes temas, avalia-se a possibilidade de revisões na normativa atual. Poligamia Sobre o tema da poligamia, a Igreja na África constituiu um grupo de especialistas no seio da SECAM. Doze especialistas provenientes de ilhas e regiões, especialistas em direito canônico, antropologia, estudos bíblicos e pastoral, refletem sobre como “promover um discernimento teológico e pastoral sobre a poligamia” e como acompanhar as “pessoas em uniões poligâmicas que se aproximam da fé”.