Os Bispos católicos da Tanzânia apoiaram os crescentes apelos – tanto locais como internacionais – para uma investigação independente sobre a recente violência eleitoral, que resultou em centenas de mortos.
Paulo Samasumo – Cidade do Vaticano Num comunicado divulgado no sábado, 15 de novembro de 2025, Dom Wolfgang Pisa, Bispo da Diocese de Lindi e atual Presidente da Conferência Episcopal da Tanzânia (TEC), afirmou que os Bispos “discutiram e refletiram sobre os acontecimentos do dia das eleições, bem como sobre o período posterior à eleição”. A mensagem da TEC foi lida durante a Missa que encerrou a Assembleia Plenária dos Bispos. Os prelados estiveram reunidos em Dar es Salaam, de 11 a 14 de novembro, para rezar e deliberar sobre os recentes acontecimentos que afectaram o país. Reputação internacional Os Bispos condenaram conjuntamente as autoridades da Tanzânia pelo uso excessivo da força para reprimir os protestos, e instam o governo a divulgar os nomes de todos os indivíduos que ainda estão detidos por motivos eleitorais e políticos. “Estamos muito angustiados com esta situação e condenamos estes brutais e cruéis assassinatos dos nossos jovens e de outros. Verdadeiramente, isto é um grande mal e uma abominação perante o nosso Deus. Estamos todos feridos; a nação foi ferida e perdeu o respeito aos olhos da comunidade internacional”, disse Dom Wolfgang Pisa. O direito à vida Os Bispos reafirmaram o direito dos tanzanianos a protestos pacíficos, sublinhando que os protestos são um meio essencial para os cidadãos expressarem as suas queixas, especialmente quando o diálogo falha. “A Constituição da República Unida da Tanzânia reconhece o direito à manifestação pacífica”, disse Dom Pisa que prosseguiu dizendo: “Tem havido incidentes generalizados de assassinatos, raptos, agressões e ferimentos de cidadãos, muitas vezes sem um esforço firme para impedir estes males, que são contrários à Constituição da Tanzânia, especificamente ao artigo 14.º. Intitulado ‘O Direito à Vida’, o artigo 14.º da Constituição da Tanzânia refere que cada pessoa tem o direito de viver e ser protegida pela sociedade de acordo com a lei. Isto significa que todos os indivíduos têm direito à proteção das suas vidas, sendo responsabilidade do Estado garantir que este direito seja respeitado dentro dos limites legais.” Erosão da democracia Dom Wolfgang Pisa manifestou ainda preocupação pelo facto de a democracia na Tanzânia estar a ser minada pelas autoridades há algum tempo. “Há uma falta de democracia genuína na forma como os líderes são eleitos. Este tem sido um clamor constante da nossa nação desde 2016 e continua por resolver. As eleições carecem de competição justa, transparência, verdade, liberdade e credibilidade”, disse o prelado. O Presidente da Conferência Episcopal Tanzaniana concluiu ressaltando que a raiva expressa nas ruas foi alimentada pela ausência de canais adequados para os cidadãos expressarem as suas reivindicações. Embora o número exato de mortos permaneça incerto — estimativas dos media falam em mais de mil mortos no período pós-eleições, e a ONU informou recentemente que “centenas de manifestantes e outros foram mortos e em número desconhecido ficaram feridos ou detidos na Tanzânia após os protestos em torno das eleições do mês passado” — a dimensão total da violência ainda não é clara. Apelo a uma investigação independente Na tomada de posse do parlamento da Tanzânia, a Presidente Samia Suluhu anunciou que o seu governo tinha criado uma comissão para investigar a violência e os assassinatos pós-eleitorais, que atribuiu sobretudo a elementos estrangeiros. No entanto, os relatórios da ONU indicam um sofrimento contínuo entre os cidadãos, com as famílias a procurarem desesperadamente os seus entes queridos nas prisões, casas mortuárias e hospitais. “Os acontecimentos trágicos exigem uma investigação que envolva as partes interessadas dentro e fora do país. Recomendamos que esta seja conduzida por uma comissão independente e imparcial — composta por organizações internacionais, instituições religiosas, grupos da sociedade civil e especialistas em justiça, democracia e governação — e que o governo esteja preparado para receber e implementar as conclusões”, declararam os Bispos da Tanzânia, salientando que este passo é essencial para a cura nacional.