Moradores da cidade do Crato e de toda a região do Cariri, no Sertão do Ceará, aguardam com expectativa a festa que celebra inauguração do monumento de Nossa Senhora de Fátima, com 54 metros de altura, considerado o maior do Brasil e o maior do mundo em homenagem a Santa. Mais de 100 caravanas já confirmaram presença para peregrinar até o local que será elevado a santuário, segundo o bispo diocesano.
Mariane Rodrigues - Cidade do Vaticano “Sou devota de Nossa Senhora de Fátima desde muito jovem e a presença dela sempre foi um sinal de conforto, fé e esperança na minha vida”. A declaração é de Francisca Bida, 67 anos, moradora do Crato, Sertão do Ceará. Mas a expressão de fé não se resume apenas em palavras para o povo da região do Cariri. Ela é manifestada também pelas tradicionais peregrinações e romarias na localidade e, agora, por um expoente monumento de 54 metros de altura da Madre Santa, considerado o maior do mundo em homenagem à Nossa Senhora de Fátima. Os fiéis aguardam com expectativa a inauguração da imagem, que está prevista para ser realizada com grande festa no dia 13 de novembro. Para se ter uma ideia do tamanho dela, é possível comparar a sua altura com um prédio de 16 a 18 andares, dependendo das características de construção. A solenidade marcará também a segunda visita da imagem peregrina originária de Portugal, cuja primeira ida à região do Cariri foi registrada há 72 anos. Caravanas e Jornada Mariana Já são previstas cerca de 100 caravanas de fiéis que partirão de diversos estados do Nordeste para prestigiar as celebrações, dentre eles, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Rio Grande do Norte, Bahia, Piauí, além de diferentes cidades do Ceará. A festa será ainda enriquecida com a Jornada Mariana Diocesana, que integra o Jubileu da Esperança. Segundo a Diocese do Crato, esse será um encontro – entre os dias 10 e 13 de novembro – de espiritualidade, celebração e compromisso missionário. A imagem de Nossa Senhora de Fátima de Portugal visitará paróquias, hospitais e outros estabelecimentos da cidade do Crato. História de "amor profundo" e devoção Para o bispo diocesano do Crato, Dom Magnus Henrique Lopes, OFMCap, a cidade da região do Cariri porta em sua raiz um amor “profundo” por Nossa Senhora. Ele informou que a nova imagem de Nossa Senhora de Fátima será um santuário que promoverá ainda mais a fé e devoção em Maria. “A cidade do Crato traz, em sua alma e em sua história, um profundo amor pela figura de Nossa Senhora. A nossa Diocese, marcada pelo espírito romeiro e pela riqueza da devoção popular, encontra neste futuro santuário um novo espaço para alimentar e celebrar a fé. A formosura da imagem de Nossa Senhora de Fátima convida-nos a abrir o coração e a escutar, com docilidade, a voz de Jesus Cristo, que continua a nos chamar ao caminho da conversão”, expõe o bispo Dom Magnus Henrique. A cidade do Crato tem 172 anos de história de fundação. Atualmente, ela possui uma população de mais de 13 mil habitantes. Ela também é a cidade de nascimento de Padre Cícero, conhecido pelos nordestinos como ‘Padim Ciço’ e agora considerado servo de Deus, por ter dedicado sua vida à fé, obediência e servidão ao Senhor. Dentre os municípios que Crato faz divisa está Juazeiro do Norte, também conhecida pelas tradicionais romarias em homenagem a Padre Cícero. Dentro desse contexto, os fiéis de Crato também dedicaram sua devoção à Nossa Senhora Penha, a padroeira da cidade. Mas em 13 de novembro de 1953, os moradores da cidade sertaneja foram agraciados com a visita da Imagem Peregrina Mundial de Nossa Senhora de Fátima. Às 15 horas daquele dia, ela foi recepcionada com festa no antigo aeroporto da Floresta Nacional do Araripe, que posteriormente passou a se chamar Nossa Senhora de Fátima. Naquele dia festivo, a imagem foi levada para a Praça Francisco de Sá, onde foi recebida por religiosos, autoridades e a população em geral, sendo conduzida pelo padre Francisco Demontier. Informações da Diocese do Crato dão conta que, no final de novembro de 1953, a Sé Catedral de Crato ganhou de presente uma réplica, esculpida por Guilherme Thedim, em Cedro, o mesmo escultor da Peregrina Mundial. Assim, a fé por Nossa Senhora de Fátima tomou proporções até então não vistas na cidade. Novas paróquias foram criadas e levam o nome da Santa. O aeroporto Nossa Senhora de Fátima fechou posteriormente. Mas, após seu fechamento, foi erguido no local a primeira imagem em homenagem a Santa, em 1968. Em 2014, a cidade inaugurou um monumento de Nossa Senhora de Fátima numa altura de 45 metros, até então a maior do Brasil. A mesma que será substituída pela nova imagem. Outros equipamentos públicos da cidade, como creche, escolas, ruas e bairros também homenageiam Nossa Senhora de Fátima, além de paróquias e foranias. “A visita da imagem de Nossa Senhora de Fátima foi uma experiência que aflorou e que deu condições para a Igreja trabalhar a espiritualidade Mariana no povo e nas nossas famílias. As pessoas falam muito da passagem de Nossa Senhora pelas ruas do Crato e que muitas graças, muitas obras aconteceram pela intercessão de Nossa Senhora”, afirma o padre Arileudo Machado, administrador do monumento. Como fortalecimento dessa devoção, ele cita o exemplo da comunidade periférica Alto da Penha, na cidade do Crato. O padre conta que, desde a primeira visita da imagem peregrina mundial, os moradores dessa localidade reservam o último domingo de cada mês para peregrinar e passar o dia dedicado a louvor e orações à Nossa Senhora de Fátima. “Tudo isso fez com que a devoção à Nossa Senhora de Fátima pudesse ser alicerçada entre nós”, pontua ele. O mundo viveu um período pandêmico, iniciado em 2020. A população se viu fechada em suas casas, impedida de sair, se aglomerar, e se socializar. Expressar a fé em comunidade se tornou uma prática vedada pelas autoridades, assim como outras atividades de convivência humana, por causa dos riscos de contaminação da Covid-19, que matava centenas de milhares de pessoas em todo o mundo. Foram três anos de restrição, até que o mundo viu as portas se abrirem novamente. “As pessoas estavam com aquele desejo de celebrar, de rezar e nós tivemos a sensibilidade de favorecer aquele espaço, do antigo monumento, dedicado à Nossa Senhora, à experiência com Maria, mesmo sabendo que muita coisa precisava ser feita no âmbito espiritual e estrutural para acolher as pessoas que iam até lá”, relatou o padre Arileudo Machado. Ele observa que a devoção à Nossa Senhora de Fátima aumentou desde que a pandemia foi embora e a expectativa é de que a restruturação do espaço permita que os fiéis não apenas passem pelo local, mas vivenciem verdadeiramente a sua espiritualidade mariana e possam reverberar seus testemunhos de fé. “O interessante é que nós, enquanto igreja, possamos promover um espaço de encontro, onde as pessoas não só passem, mas fiquem no monumento, para que o turismo religioso local possa crescer. Fazer com que Crato possa entrar no roteiro religioso, que as pessoas permaneçam e testemunhem. Existe muita expectativa de nossa parte, mas é importante que nós, como cratenses, como moradores da região do Cariri, tenhamos o compromisso a mais de propagar aquilo que já temos vivenciado no monumento dedicado a nossa senhora”, considera o padre Arileudo. Ele reforça que o novo monumento de 54 metros de altura foi um verdadeiro trabalho de estruturação do espaço celebrativo, que contou ainda com a requalificação da capelinha das aparições, que é uma réplica de Portugal. “Fico feliz porque foi muito comum, ao longo desses anos, ainda com a outra imagem, testemunhar pessoas de dia, ou de noite, à tarde com o sol quente, ou no início da manhã, cumprindo sua promessa com Nossa Senhora e indo testemunhar o que Nossa Senhora, intercedendo a Jesus, conseguiu para o nosso povo. O nosso povo pode olhar hoje para a imagem de Nossa Senhora e escutar como os pastorinhos escutaram: ‘Enfim, meu coração triunfará’”. Expectativa Quem também está na expectativa da inauguração é a devota cratense Camila Arruda de Albuquerque, de 42 anos. Ela possui uma história íntima com Nossa Senhora de Fátima, desde que se agarrou à fé na Santa para enfrentar as complicações de um Aneurisma Roto – um AVC hemorrágico – que a deixou imóvel por 13 dias em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI). “Eu sou um milagre. Por intercessão de Nossa Senhora de Fátima, eu fui curada”, afirma ela. Toda a família se envolveu em uma corrente de orações. “No hospital, muito fraca e sem poder levantar da cama, não perdia nenhuma celebração, pedia com muita fé a minha cura”, desabafa ela. “Em nenhum momento Nossa Senhora de Fátima largou minha mão. Hoje vivo para servi-la”, enfatizou a moradora do Crato. Agora, a ansiedade bate no peito porque, na cidade onde mora, um símbolo de Nossa Senhora demonstrará ainda mais a força da devoção do povo sertanejo. “Meu Deus, estou tão ansiosa, não consigo dormir direito. Acompanhei desde a retirada de todas as peças. E a montagem. Será um dia de muita alegria. Todos os dias acordo e vou na calçada da minha casa, para olhar para ela. Tão linda. Vamos trazer muita gente de fora, da região, vai ser lindo”, expõe a devota. A nova escultura foi construída pelo artista brasileiro Ranilson Viana. A estrutura foi feita mantendo os símbolos de Nossa Senhora de Fátima, com a coroa – representando a realeza da Madre Santa – e o manto branco – significando a sua pureza. O escultor lembra que ela ainda é maior que a imagem do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, que tem 38 metros de altura. “Com 54 metros de altura, a escultura no Crato (CE) supera o Cristo Redentor (RJ) e o Cristo Protetor de Encantado (RS) e se torna um marco global de fé, arte e identidade sacra. Mais que um monumento, é um símbolo que transforma o turismo, a cultura e a alma de uma cidade”, afirmou ele. A devota Francisca Bida, do início da reportagem, externa o que sente ao olhar para Nossa Senhora de Fátima. “Sinto que ela me acolhe como mãe. Aquela que intercede, que consola e que nos ensina a permanecer firmes mesmo diante das dificuldades. A nova imagem traz ainda mais beleza e significado para nós, devotos, renovando a fé do povo e lembrando que o amor de Maria está sempre entre nós”.