A força do perdão 60 anos após a carta dos bispos poloneses aos irmãos alemães - Vatican News via Acervo Católico

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A força do perdão 60 anos após a carta dos bispos poloneses aos irmãos alemães - Vatican News via Acervo Católico
Fonte: VATICANO

Na Pontifícia Universidade Gregoriana, na tarde de terça-feira, 9 de dezembro, uma conferência por ocasião do 60º aniversário do documento de 1965, organizado pelas Embaixadas da Polônia e da Alemanhã na Santa Sé. Foi uma iniciativa de diálogo muito à frente do seu tempo, disse o cardeal Kasper. O arcebispo Gallagher: “Sem a reconciliação que ocorreu entre Polônia e Alemanha não existiria a Europa como hoje a conhecemos”

Karol Darmoros - Cidade do Vaticano Após 60 anos de sua publicação (foi em 18 de novembro de 1965), a mensagem de reconciliação contida na histórica carta dos bispos poloneses aos bispos alemães ressoou em Roma com força renovada durante um congresso, nessa terça-feira, 9 de dezembro, na Pontifícia Universidade Gregoriana. Em particular, as palavras “Perdoamos e pedimos perdão” foram recordadas por todos os oradores do evento enquanto palavras que não pertencem só à história, mas também ao presente da Europa.  “A verdade histórica, por muitas vezes dolorosa, nunca foi obstáculo para a reconciliação, mas seu necessário fundamento”, enfatizou o arcebispo Paul Richard Gallagher, secretário para as Relações com os Estados e as Organizações Internacionais, presente na conferência.  Colaboração sem precedentes  O embaixador da República da Polônia na Santa Sé, Adam Kwiatkowski, abriu os trabalhos. Ele destacou o fato de que o documento histórico foi redigido em Roma. “Essa mensagem de reconciliação foi escrita aqui, na Cidade Eterna, na atmosfera do diálogo conciliar”, disse ele. E citou também uma passagem chave do documento. “Neste espírito muito cristão, mas também muito humano, estendemos as nossas mãos até Vós, sentados aqui nos bancos do Concílio que está terminando. Perdoamos e pedimos perdão”.  Kwiatkowski ainda ressaltou que as celebrações romanas têm um caráter excepcional, porque, pela primeira vez, as embaixadas polonesas e alemãs organizaram, conjuntamente, uma conferência dedicada à mensagem dos bispos da Polônia. “A reconciliação é um processo, não termina. Requer trabalho, esforço conjunto, mas também a coragem de construir  em cima da verdade”, destacou o diplomata.  A memeória transformada pelo amor  Por sua vez, o arcebispo Gallagher refletiu sobre quais foram os frutos desse gesto histórico: “A paz e a reconciliação autênticas entre os povos, como recorda o Apóstolo dos Gentios, não são frutos exclusivos da iniciativa humana, mas dom que nasce do mistério pascal de Cristo”, afirmou. E, sobre essa mesma linha, evidenciou a necessidade de uma abordagem responsável à história: “A memória  não deve ser apagada. Deve ser iluminada pela fé. Deve ser transfigurada pela caridade”.  Gallagher também recordou que a carta dos bispos se tornou um dos fundamentos da Europa moderna. “Pode-se afirmar, com serena lucidez histórica, que não exisitia a Europa assim, como a conhecemos hoje – uma Europa que procura viver na cooperação e na recíproca responsabilidade – sem a reconciliação que ocorreu entre a Polônia e a Alemanha”, disse. “Todavia, a paz entre as nações não se improvisa: ela é edificada na memória, no diálogo e no recíproco cuidado das feridas do passado”, acrescentou o prelado.  Coragem para além da lógica da divisão  Na sua fala, o cardeal Walter Kasper, compartilhando a própria experiência pessoal, definiu a iniciativa de diálogo entre os bispos poloneses e alemães como “uma palavra muito à frente dos tempos”. E enfatizou que a grandeza desse texto consistia no fato de que “não se contrapunha um erro com outro, mas reconhecia todo o mal sofrido”.  Tomando a palavra, a professora Hanna Suchocka, ex-primeira-ministra da República da Polônia, ressaltou que os bispos poloneses correram o risco de não serem compreendidos na própria sociedade, modelada pela experiência do pós-guerra. Recordou as palavras de João Paulo II: “Um homem que perdoa se torna mais forte do que um que nutre o ódio”. Na sua opinião, a carta ensina ainda hoje a cultura do diálogo e a linguagem responsável.  Entre os oradores estava também Andrea Tornielli, diretor editorial dos veículos de comunicação do Vaticano, o qual observou que esse documento, embora remeta a 60 anos atrás, é extremamente atual nesta época, sobretudo, à luz dos conflitos no Oriente Médio e na Europa.  “Os bispos poloneses ofereceram o perdão e o pediram fazendo um passo de reconciliação, ainda que a Polônia fosse uma nação martirizada”, declarou. Para Tornielli, a importância da carta é demonstrada também pelo fato de que, entre os seus signatários, estavam pessoas posteriormente elevadas às honras dos altares: o então arcebispo Karol Wojtyła – que depois se tornou São João Paulo II – e o cardeal Stefan Wyszyński, proclamado beato pela Igreja Católica. Tornielli salientou ainda que a carta dos bispos poloneses mostra que o perdão é necessário para por fim à espiral de violência.  Romper o silêncio  Diversas outras intervenções se seguiram durante a conferência. O professor Wojciech Kucharski recordou o contexto dramático da criação da carta, apenas 20 anos depois da ocupação alemã, quando ainda era viva a memória da destruição do país e das milhões de vítimas. Os bispos propuseram um modelo de diálogo “baseado na verdade, no perdão e na recíproca compreensão” que “transferiu a ideia do perdão, da esfera da ética pessoal para a política”.  O professor Marek Inglot SJ, presidente do Comitê Pontifício para as Ciências Históricas, salientou que a mensagem da carta continua sendo a expressão de uma atitude cristã sempre atual. Citando Papa Francisco, recordou que “a plena experiência do perdão abre o coração e a mente” e que, graças a ela, pode-se olhar para a história “com olhos mais serenos”. Em seguida, ele indicou que, no Jubileu 2025 que chega ao fim, essas expressões adquirem uma força particular.  Neste Ano Santo, evidenciou o Jesuíta, elas ressoam com particular intensidade, indicando a via da reconciliação.  Ao término, o embaixador da Alemanha na Santa Sé, Bruno Kahl, recordou que a mensagem de sessenta anos atrás mostrou “a força e o significado da reconciliação”, bem como a coragem de dar o primeiro passo, empreendido pelos bispos poloneses. A reconciliação polonesa-alemã foi “uma grande conquista” que “hoje está novamente exposta a perigos”, disse. A memória da carta dos bispos “hoje é mais necessária do que nunca”, porque só o diálogo, a compreensão recíproca e os valores partilhados podem proteger a Europa do retorno da lógica da divisão.  Um gesto simbólico  Ao final do encontro, foi entregue uma cópia da carta de 1965 ao arcebispo Gallagher e aos participantes do evento. Também foi apresentado um fragmento do vitral dedicado à reconciliação polonesa-alemã, que foi entregue nessa quarta-feira, 10 de dezembro, ao Papa Leão XIV, durante a Audiência Geral.    

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