A missão vicentina na Rússia oferece um testemunho silencioso, compartilhando uma pequena semente de esperança e um lugar onde as pessoas podem encontrar abrigo. Eis os frutos da congregação das Missões e das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo.
Christine Masivo e Jana-Pavla Halčinová Os padres vicentinos chegaram à Rússia, a Nizhnyj Tagil, em 1997, para servir onde apenas uma minoria da população era cristã. O que começou como uma resposta às crianças famintas tornou-se um ministério de compaixão de longa duração. A irmã Antonia Lednicka, Filha da Caridade de São Vicente de Paulo (DC), originária da Eslováquia, é religiosa há 30 anos e prestou serviço na Rússia por 23 anos. «O padre Tomaž Mavrič, CM, um dos pioneiros, comovido com a difícil situação das crianças que perambulavam pelas ruas, famintas, com frio e esquecidas, preocupou-se e discutiu sobre esta questão com os paroquianos, depois com a diretora Natalia Petrovna, da escola nº 41, e iniciou uma colaboração entre a paróquia católica e as instituições estatais», disse. Os vicentinos começaram a oferecer refeições quentes às crianças que não podiam pagar o almoço, realizando um programa de amor e fé em ação. Os paroquianos e os sacerdotes começaram simplesmente pagando os almoços escolares para 50-80 crianças que não podiam pagá-los. Filhas da Caridade na Rússia «O padre Tomaž pediu às religiosas que prestassem o seu serviço», afirmou a irmã Antonia. «Chegaram em 2000, provenientes da Eslováquia, e fundaram o Children’s Club Care, que se tornou o refúgio, a sala de aula e o segundo lar para centenas de crianças locais. Começando com um encontro semanal, agora prestam serviço cinco dias por semana». «Mais de 1.500 crianças beneficiaram deste clube», observou a irmã Antonia. «Para algumas, trata-se de um ano, e para outras, de toda a sua vida escolar». A missão do clube consistia em oferecer amor, estabilidade e orientação às crianças que não os tinham. «Muitas das crianças não eram crentes. Aos poucos, conseguimos ajudar muitos ortodoxos e muçulmanos, mas isto não era um problema; devíamos mostrar-lhes que alguém os amava», ressaltou a irmã Antonia. O testemunho de Ulyana Ulyana, uma beneficiária de 34 anos, atesta os cuidados dos vicentinos. «Tenho boas lembranças da minha infância», sorri. «Íamos todos juntos deslizar pela encosta abaixo no inverno ou fazer excursões. Era divertido, acolhedor e familiar; eu sentia-me mais feliz do que nunca». «Venho de uma família disfuncional», contou. «Não me ensinaram a gentileza e o amor, mas o clube ajudou-me a crescer como pessoa. Moldou a minha criatividade e o meu talento, por isso agora sou designer e estou grata ao clube infantil». Uma missão mais ampla As Filhas da Caridade servem também os desabrigados em Nízhny Taguil, visitando diariamente os refúgios locais e ajudando com a higiene e a reconstrução dos edifícios onde vivem os necessitados. Elas prestam serviço inclusive num hospital público para tuberculosos. «Muitos pacientes com tuberculose são desabrigados e chegam aqui sem documentos», explicou a irmã Antonia. «Ajudamo-los a obter os documentos legais, a fim de que possam receber prestações sociais ou transferir-se para outras estruturas quando lhes dão alta». As religiosas usam o próprio carro para levar os doentes aos escritórios e pagam todas as despesas. Uma vez por mês, entregam alimentos ao dispensário para pacientes com tuberculose, como incentivo a fim de que os doentes se submetam a exames médicos regulares. Oferecem um serviço pastoral aos paroquianos, promovem a catequese e, várias vezes por ano, realizam encontros para os paroquianos em várias ocasiões e festividades. Apoio em tempos difíceis Os seus programas de caridade requerem fundos, que obtêm através de subsídios da Província eslovaca dos vicentinos, bem como de doações da população local durante a coleta anual de alimentos “St. Vincent’s Bag”. «As pessoas são muito generosas, pois sabem que os alimentos serão destinados aos pobres», disse a irmã Antonia com um sorriso agradecido. Organizam espetáculos em várias ocasiões, como no Natal, na Páscoa e no dia dedicado ao respeito pelos idosos. Em Omsk O bispo Joseph Werth, S.J., da diocese de Novosibirsk, convidou as irmãs para irem para cidade de Omsk em 2010. Na cidade siberiana, as irmãs vicentinas trabalham em duas paróquias, ensinando catecismo a crianças e adultos. Servem também os desabrigados e os doentes de tuberculose na Catholic Charity de Omsk, oferecendo assistência espiritual aos agentes das obras de caridade, às famílias e às crianças. «Com o sacerdote, vamos às paróquias vizinhas, às vezes a mais de 100km de distância», frisa a irmã Antonia. Alegrias e lutas A irmã Antonia reflete sobre as profundas lutas e a tranquila esperança no seio da sua comunidade, onde o medo, a pobreza e as dificuldades familiares permanecem desafios constantes. Apesar do reduzido número de católicos, as religiosas conhecem todos pessoalmente e sentem grande alegria ao ver a geração crescer, com os filhos daqueles a quem outrora serviam. Há mais de vinte anos, a missão das irmãs vicentinas na Rússia está enraizada em pequenos gestos de amor e presença a favor da missão, inspirados pelo amor a Deus.