A crise de violência que há décadas aflige nossa cidade tem raízes profundas, agravadas por opções e decisões errôneas e pela ausência de políticas públicas permanentes e eficazes, capazes de alcançar integralmente as comunidades e promover condições reais de segurança e cidadania.
CardeaL Orani João Tempesta, O. Cist.- Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro Após os tristes acontecimentos que abalaram a cidade do Rio de Janeiro, expressamos profunda gratidão pelas manifestações de solidariedade e oração recebidas da Presidência e dos Regionais da CNBB, de cardeais e bispos do Brasil e do exterior, bem como de tantas pessoas de boa vontade. Essa comunhão fraterna revela uma Igreja viva, que sofre com os que sofrem e reza com os que esperam. Unidos, renovamos nosso compromisso pela reconciliação, pela proteção da vida e pela construção de uma sociedade fundada na justiça e na paz. A crise de violência que há décadas aflige nossa cidade tem raízes profundas, agravadas por opções e decisões errôneas e pela ausência de políticas públicas permanentes e eficazes, capazes de alcançar integralmente as comunidades e promover condições reais de segurança e cidadania. Essa realidade fere a convivência social e o sentido de pertença, exigindo de todos: Estado, sociedade civil, Igreja e cidadãos, um compromisso perseverante pela reconstrução da confiança, pela promoção da justiça e pela presença solidária nas realidades mais vulneráveis. O drama vivido pelo Rio de Janeiro reflete, em escala local, as guerras e conflitos que assolam o mundo e se alimentam de economias ilícitas, do tráfico de drogas, armas, pessoas, onde populações acabam submetidas a cobranças e controles indevidos até sobre serviços essenciais. No entanto, experiências bem-sucedidas em outras cidades e países mostram que a superação da violência é possível quando há vontade política, responsabilidade ética e compromisso com o bem comum. A paz nasce da verdade, da justiça e do diálogo. É essencial que os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, em seus níveis federal, estadual e municipal, atuem de modo articulado e responsável, promovendo políticas de segurança que preservem vidas e respeitem a dignidade humana. A eficácia da segurança se mede por sua capacidade de prevenir e proteger, unindo ações firmes a políticas sociais duradouras que assegurem educação, saúde, saneamento e oportunidades de trabalho, especialmente nas comunidades mais vulneráveis, onde há sonhos de uma cidade onde todos possam ter justiça, paz, habitação, emprego e liberdade. É fundamental reconhecer na juventude uma força decisiva para a paz. Quando lhes oferecemos escuta, participação e oportunidades reais de educação, cultura e trabalho, rompemos o ciclo da exclusão. A paz floresce quando os jovens podem sonhar e construir com liberdade, dignidade e fé. O Papa Leão XIV recorda que “a paz de Cristo é desarmada e desarmante, humilde e perseverante”. E adverte: “Nada se perde com a paz; tudo pode se perder com a guerra.” Com esse mesmo espírito, o Papa nos convida: “Rezemos pela paz, especialmente no Rio de Janeiro.” Que essa súplica se traduza em compromisso concreto com o bem comum e com a reconciliação entre todos os cidadãos. O Rio de Janeiro precisa, com urgência, adotar políticas de segurança que dialoguem com a educação e a cultura, fortalecendo as comunidades e investindo nas famílias e nos jovens. Ao mesmo tempo, o país deve articular ações nacionais que reforcem o controle das fronteiras, combatam o tráfico, o enriquecimento ilícito e promovam alternativas econômicas sustentáveis. Somente um pacto amplo, ético e cooperativo poderá devolver ao Brasil o equilíbrio e a paz social. Que o Senhor, Príncipe da Paz, nos conceda sabedoria para transformar o medo em confiança, o conflito em cooperação e o presente em um futuro de justiça e fraternidade duradoura.