"Santo Agostinho, no Sermão 87, na interpretação da Parábola dos trabalhadores da vinha, diz que não somente nós cultivamos a Deus, como dizem os latinos, mas Ele também nos cultiva, já que ele nos chama para sua vinha".
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano Com essas palavras o Papa Leão XIV saudou os peregrinos de língua portuguesa na Audiência Geral de 4 de junho. De fato, o tema "Trabalhar na vinha do Senhor" associado ao Papa Leão XIV refere-se às suas exortações aos jovens e fiéis, usando a parábola dos trabalhadores da vinha (Mateus 20, 1-16), para encorajá-los a não adiar a resposta ao chamado de Deus, a encontrar sentido na vida, a serem generosos e a trabalharem com entusiasmo, pois Deus é justo e oferece a todos a Sua vida plena, mesmo aqueles que chegam "na última hora". A exortação é para "arregaçar as mangas!", pois vale a pena descobrir o propósito de vida no serviço a Deus e aos irmãos, um apelo que ressoa com o tema do Jubileu de 2025. E precisamente "Leão XIV, a esperança de trabalho na vinha do Senhor", é o tema da reflexão do Pe. Gerson Schmidt*: "Desde sua primeira audiência, o Papa Leão continuou o Ciclo de Catequese – Jubileu 2025, com o título Jesus Cristo Nossa Esperança, iniciado pelo Papa Francisco. Simplesmente o Papa Leão dá continuidade às diversas catequeses em suas audiências gerais de quartas-feiras, apontando o tema da Esperança. Na audiência de 28 de maio de 2025 diz assim: “Continuemos a meditar sobre algumas parábolas do Evangelho que constituem uma ocasião para mudar de perspectiva e para nos abrirmos à esperança. Às vezes, a falta de esperança deve-se ao fato de nos fixarmos num certo modo rígido e fechado de ver as coisas, e as parábolas ajudam-nos a olhar para elas de outro ponto de vista”. Nessa audiência o Papa reflete sobre a parábola do bom Samaritano e comenta assim: “Com efeito, a parábola que Jesus narra tem como cenário uma estrada, e é uma estrada difícil e impérvia, como a vida. É a estrada percorrida por um homem que desce de Jerusalém, a cidade na montanha, para Jericó, a cidade abaixo do nível do mar. Trata-se de uma imagem que já prenuncia o que poderia acontecer: efetivamente, acontece que o homem é atacado, espancado, roubado e deixado meio-morto. É a experiência que ocorre quando as situações, as pessoas, às vezes até aqueles em quem confiamos, nos tiram tudo e nos deixam no meio do caminho”. É no peregrinar que acontecem os desafios, os desânimos, os entraves, os assaltos do inimigo e precisamos perseverar. Possamos encontrar em nosso caminho de esperança um bom samaritano. Na audiência geral de 04 de junho, na Praça são Pedro, Papa Leão reflete outra parábola da esperança: os operários da vinha. E diz assim o Papa: “Desejo refletir novamente sobre uma parábola de Jesus. Também neste caso se trata de uma narração que alimenta a nossa esperança. Com efeito, às vezes temos a impressão de não conseguir encontrar um sentido para a nossa vida: sentimo-nos inúteis, inadequados, precisamente como os operários que aguardam na praça do mercado, à espera que alguém os leve para trabalhar. Mas por vezes o tempo passa, a vida corre, e não nos sentimos reconhecidos nem apreciados. Talvez não tenhamos chegado a tempo, talvez outros se tenham apresentado antes de nós, ou porventura as preocupações nos tenham detido noutro lugar”. Leão continua assim em sua palavra nessa audiência: “Trata-se de uma parábola que infunde esperança, porque nos diz que este dono sai várias vezes à procura de quem espera dar um sentido à sua vida. O dono sai imediatamente de madrugada e depois, de três em três horas, volta a procurar trabalhadores para enviar à sua vinha. Seguindo este esquema, depois de sair às três horas da tarde, já não haveria razão para sair novamente, dado que o dia de trabalho terminava às seis horas. Pelo contrário, este dono incansável, que quer valorizar a vida de cada um a todo o custo, sai também às cinco horas. Os trabalhadores que permaneceram na praça do mercado provavelmente tinham perdido toda a esperança. Aquele dia tinha sido em vão. E, no entanto, alguém ainda acreditou neles. Que sentido tem chamar operários só para a última hora do dia de trabalho? Que sentido tem ir trabalhar apenas uma hora? Contudo, até quando nos parece que podemos fazer pouco na vida, vale sempre a pena. Há sempre a possibilidade de encontrar um sentido, pois Deus ama a nossa vida!”. A catequese do Papa é dedicada a uma parábola que nos enche de esperança. Às vezes, podemos nos sentir inúteis ou rejeitados, como os trabalhadores da última hora. Na praça dos negócios de hoje, o risco é ceder a propostas que não respeitem os valores do Evangelho. Ao contrário, a parábola fala de um proprietário que vai em busca de operários em qualquer momento do dia, oferecendo-lhes um sentido para a vida. Essa realidade torna-se clara com o pagamento: reconhecendo e afirmando a absoluta dignidade humana, o Senhor da vinha dá a todos o mesmo salário, isto é, aquilo que é necessário para viver. A decepção dos primeiros empregados leva-nos a compreender que a lógica da generosidade de Deus vai além da nossa concepção de justiça: Ele quer doar-se por inteiro a quem lhe abre o coração. Papa Leão interpreta, nessa parábola, a ociosidade e a falta de trabalho dos que estavam sem nada que fazer nas praças como a falta de sentido maior para a vida, que o divino patrão nos oferece a ter com o trabalho em sua vida. O Papa convida os jovens especialmente a trabalharem na vinha do Senhor para obterem um maior sentido de viver, gastando sua vida pelo Evangelho. Santo Agostinho, no Sermão 87, na interpretação da Parábola dos trabalhadores da vinha, diz que não somente nós cultivamos a Deus, como dizem os latinos, mas Ele também nos cultiva, já que ele nos chama para sua vinha. Diz o santo de Hipona: “Os trabalhadores que ele emprega na cultura de sua vinha representam os diferentes ministros. Eles representam mesmo cada um de nós e o denário pago a todos representa a felicidade eterna. Por que não responder ao seu apelo imediatamente? Diremos que não o ouvimos? Mas o mundo inteiro está cheio do som e do brilho do Evangelho. Diremos que sempre haverá tempo, já que a mesma recompensa é assegurada a todos, qualquer que seja a hora em que eles comecem a trabalhar? O desespero é de se temer, mas a presunção não é menos temível. Hesitaremos diante da desaprovação de alguns amigos poderosos? Mas eles não nos impediriam de buscar os cuidados de um médico hábil que eles não amam e com o qual nós certamente recuperaríamos a saúde. Corramos todos ao grande Médico das Almas. Evitemos, caso ainda não o conheçamos, nos enfurecer contra ele. Tomemos cuidado também com a letargia ou a indiferença espiritual e consideremos como um grande favor as importunações apressadoras que tem por objetivo nos fazer sair”. *Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS. ______________ Traduzido de Oeuvres complètes de Saint Augustin. Bar-Le-Duc: Abade Raulx Editor, 1866, por Souza Campos, E. L. de. © 2019 Teodoro Editor: Niterói – Rio de Janeiro – Brasil.