O fato de a violência surgir no silêncio dos lares ou na solidão dos estudantes — muitas vezes muito jovens — é um sinal de alerta que não pode ser ignorado. Especialmente para um país que, por sua própria natureza, se recusa a abrir mão da facilidade de acesso a armas de fogo: nos Estados Unidos, quase 400 milhões de armas estão em mãos civis. Isso equivale a aproximadamente 120 armas por 100 habitantes: a maior taxa do mundo.
Guglielmo Gallone - Cidade do Vaticano Houve 389 tiroteios em massa nos Estados Unidos em 2025. Esse número foi divulgado recentemente pelo Gun Violence Archive (GVA), mas, infelizmente, a notícia já traz uma atualização dramática: no sábado, 13, na Universidade Brown, em Rhode Island, um agressor, ainda não identificado, matou dois estudantes no campus de engenharia e feriu outros nove. Apesar dos números e dos inúmeros eventos dramáticos, parece haver um aspecto positivo nessa história: em comparação com 2024, os tiroteios em massa nos Estados Unidos diminuíram, de 500 para 389. Outro dado, também divulgado pelo GVA, parece confirmar isso: o número de pessoas feridas por armas de fogo nos Estados Unidos em 2025 foi de quase 25.000, uma queda de 20% em relação ao ano anterior, quando ultrapassou 31.000. Embora os números estejam diminuindo, eles ainda são muito, muito altos e parecem confirmar que a violência caracteriza todas as fases da história do país da América do Norte. A questão, portanto, não é contabilizar o número de ataques, mas compreender o que a violência revela sobre o estado atual dos Estados Unidos. Em primeiro lugar, há a crise familiar. Embora os números divulgados pelo GVA sobre ataques a escolas (6) e universidades (150) estejam diminuindo, Wilson Hammett, do Rockfeller Institute of Governement, examinou 252 episódios de violência citados pelo GVA e concluiu que metade das vítimas (792) foram mortas em residências particulares. Esse número torna-se ainda mais alarmante se considerarmos a idade das vítimas: quase 90% das crianças menores de dez anos mortas em tiroteios em massa foram baleadas em casa; entre crianças de 10 a 17 anos, o número sobe para 62%. Em outras palavras, para as crianças mais novas, o risco de morrer em um tiroteio em massa é dezenas de vezes maior em casa do que na escola, apesar da atenção da mídia estar concentrada quase exclusivamente nas escolas. Mesmo entre os adultos, o lar continua sendo o lugar mais perigoso: 44% das vítimas adultas de tiroteios em massa morrem em residências particulares. Do total, metade das vítimas adultas do sexo feminino foram mortas em ambientes domésticos. A intolerância recíproca e a legitimidade da violência O fato que os alvos sejam lares, escolas e universidades, ou seja, locais que deveriam garantir proteção e educação, diz muito sobre o que talvez seja a causa principal de tanta violência: a intolerância recíproca, a incapacidade de se comunicar, de aceitar que outros possam ter opiniões diferentes. Consequentemente, o problema é que, nos EUA, a legitimidade da violência como forma de combater aqueles que pensam diferente parece estar aumentando.Isso deixa uma questão em aberto: as instituições estão preparadas para conter a ameaça de tal violência? Os dados decrescentes, frequentemente associados a maiores investimentos em segurança ou proteção predial por parte de escolas e universidades, nos dão esperança. Mas o fato de a violência surgir no silêncio dos lares ou na solidão dos estudantes — muitas vezes muito jovens — é um sinal de alerta que não pode ser ignorado. Especialmente para um país que, por sua própria natureza, se recusa a abrir mão da facilidade de acesso a armas de fogo: nos Estados Unidos, quase 400 milhões de armas estão em mãos civis. Isso equivale a aproximadamente 120 armas por 100 habitantes: a maior taxa do mundo.