O presépio de Belém no diário de viagem de Matilde Serao - Vatican News via Acervo Católico

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O presépio de Belém no diário de viagem de Matilde Serao - Vatican News via Acervo Católico
Fonte: VATICANO

Em 1893, a escritora e jornalista italiana viajou para a Terra Santa. Dessa experiência nasceram alguns escritos capazes de oferecer um relato brilhante e comovedor de sua visita aos lugares onde nasceu Jesus. Entre as páginas mais densas estão as que descrevem a gruta da Natividade.

Eugenio Murrali - Vatican News A escritora italiana Matilde Serao sabia reconhecer e descrever a alma dos lugares. Graças à energia da sua escrita, uma feliz combinação de reportagem e narrativa, ela foi capaz de fixar a memória da sua viagem à Terra Santa em 1893. Ela transferiu essa experiência para as páginas de um livro publicado em 1920 pela editora Fratelli Treves: Nel paese di Gesù. Ricordi di un viaggio in Palestina (Na terra de Jesus. Memórias de uma viagem à Palestina). Desse impressionante diário, vivido e escrito no final do século XIX, quando a área estava sob o controle do Império Otomano, algumas partes estão novamente disponíveis, graças à editora Garzanti, reunidas no pequeno volume Nel presepio di Betlemme (No presépio de Belém), páginas que guiam o leitor em uma peregrinação do coração pela grande cidade de Jerusalém, pela pequena aldeia da Natividade e pela Galiléia de Jesus. Sobre essas etapas principais repousa o olhar perspicaz de Matilde Serao, aquela vivacidade intelectual que a torna, não por acaso, a fundadora de grandes jornais como Il Corriere di Roma e Il Mattino. A alma de um país Em Jerusalém, a escritora admira, entre outras coisas, a presença da “pobre e querida igreja latina, a única que, por meio dos frades franciscanos, resiste há centenas de anos, impávida, ao impacto de tantas guerras”. Uma igreja que ela também define como santa e “obrigada a navegar por mares tempestuosos, com os olhos fixos em uma estrela divina, mas a cada minuto em perigo, pobre igreja nossa, inesquecível!”. Sua imersão na Terra Santa é um percurso de pesquisa que combina o vigor de uma crônica informada, descontraída e corajosa com a profundidade de um impulso espiritual que se estende além de qualquer realidade fenomênica, decidido a ultrapassar a superfície para responder a perguntas mais urgentes, buscando o sopro vital das coisas e dos lugares. Ela escreve em sua introdução: “fugaz e ao mesmo tempo onipresente, flutuante, fluida, a alma de uma cidade está, às vezes, nos olhos de suas mulheres, em uma de suas ruas, em uma paisagem a uma certa hora, em um fragmento de estátua, em uma arma enferrujada, em uma canção, em uma palavra. Às vezes, a alma de uma cidade é uma flor”. Uma Belém sonhada que é realidade Aquela flor que se torna fruto, em Belém tem um nome: Jesus. “Agora, circula nesta Belém, tão sonhada nos sonhos infantis, tal qual um suave sopro de bem que parece — e não só parece, mas é — que a Natividade irradia toda a sua poesia. Esses belemitas amam o trabalho, como fonte de todo seu destino: suas mãos hábeis gravam delicadamente a madrepérola, em muitos objetos de piedade”, feitos de âmbar, madeira de oliveira, pedra vulcânica negra do Mar Morto. O Natal em Belém tem uma “grande ostentação”, de toda a Terra Santa as pessoas se põem a caminho, conta a escritora, para assistir às cerimônias na igreja da Natividade. O tom mais comovente da escritora Serao está na admiração que sua voz revela ao perceber, passo a passo, que o imaginário brilhante formado na infância não é um conto de fadas, mas a verdade. “Aqui — escreve Matilde Serao — nasceu o Menino para quem, há dois mil anos, se estendem as mãos de todas as crianças cristãs da terra: este é o berço onde ele foi deitado, pelas mãos leves e carinhosas da jovem mãe, aqui, talvez, para adormecer o pequeno bebê, ela cantou-lhe uma canção, na lenta e suave língua hebraica. Este é o presépio. Este é o lugar simples, ingênuo, cândido, familiar, com o qual as imaginações mais humildes sonham”. A gruta da Natividade O Mistério de um Menino nascido em um khan — que chamamos de cabana e que nada mais é do que um abrigo, às vezes encostado a uma rocha e dotado, quando “é magnífico”, de um pedaço de telhado —, comove “em sua nudez e pobreza”. A escritora não consegue esquecer a rocha viva da pequena e despida gruta onde o coração de Jesus bateu pela primeira vez. Ela vê e mostra — com olhos e palavras que agem muito além da inteligência — o campo com árvores, prados, ruelas, a “população de pastores, agricultores, tocadores de gaita e até mesmo caçadores”. Apesar das vicissitudes, “e não foram poucas”, esses lugares e sua santidade permaneceram intactos. Depois de pegar uma pequena vela na igreja, Matilde Serao desce doze degraus altos esculpidos na parede, atravessa um corredor estreito e escuro até que a luz das lâmpadas a acolhe e revela a gruta da Natividade. Tudo o resto se dissolve no olhar da viajante: as lâmpadas e os mármores preciosos que formam os altares, as tapeçarias historiadas, todos os enfeites desaparecem diante da grandeza daquele Menino que veio para mudar o coração do ser humano. Até mesmo a História, com sua imensa carga de dor já naquela época, e hoje ainda mais, parece silenciar por um momento diante da indescritível doçura do Natal de Jesus. O presépio é como imaginam O Monte das Oliveiras, o Gólgota, o Santo Sepulcro serão certamente objeto dos relatos de Matilde Serao para “todas as existências consumidas nas lutas e nos sofrimentos”, mas em Belém ela pode reencontrar, dentro da caverna fria, uma parte de si mesma, para compartilhar com as crianças que “não conhecem a dor da Paixão”, o significado solene da mirra. Conclui a autora: “Ao voltar, será preciso dizer às crianças de grandes olhos curiosos, onde brilha uma luz de inteligência e piedade, que o presépio é como elas imaginam, uma pequena gruta onde se estendiam musgos e ervas, onde na penumbra se vislumbravam os olhos plácidos do boi e o focinho branco do burro, onde Maria se inclinou sobre o menino para aquecê-lo com seu calor, onde, diante da porta, toda uma fila de pessoas boas e simples veio se ajoelhar”. Na gruta escura, a luz da Ressurreição já brilha.

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