Padre Luís Miguel Modino: quando a comunicação se faz missão - Vatican News via Acervo Católico

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Padre Luís Miguel Modino: quando a comunicação se faz missão - Vatican News via Acervo Católico
Fonte: VATICANO

Após 19 anos de missão no Brasil, o padre Luís Miguel Modino retorna à Espanha levando na bagagem histórias, aprendizagens e o compromisso amadurecido com a comunicação e a Igreja na Amazônia. Nesta entrevista, ele revisita sua trajetória, partilha desafios e esperanças, e reflete sobre o novo capítulo que se abre em sua vida e vocação.

Júlio Caldeira IMC/REPAM Luiz Miguel Modino, presbítero espanhol da Arquidiocese de Madri, é uma das vozes mais reconhecidas da comunicação eclesial na Amazônia na última década. Ordenado presbítero em sua diocese de origem em 1998, chegou como padre “fidei donum” à missão no Brasil em 2006, servindo por quase dez anos na Diocese de Rui Barbosa, na Bahia, onde aprofundou sua experiência com a vida comunitária e com a força evangelizadora das pequenas comunidades. Em 2016, foi enviado para a Amazônia, inicialmente na Diocese de São Gabriel da Cachoeira, acompanhando comunidades indígenas. Mais tarde, passou à Arquidiocese de Manaus, onde ampliou sua ação missionária (na Área Missionária São José do Rio Negro, Comunidade Nossa Senhora de Fátima no Tarumã Mirim) e assumiu responsabilidades significativas na comunicação da Igreja: atuou na comunicação da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), no Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM) e como assessor de comunicação do Regional Norte 1 da CNBB. Ao longo desses anos, tornou-se uma referência na cobertura comunicativa e pastoral dos grandes processos eclesiais da região, especialmente durante o Sínodo para a Amazônia (2018-2019), Assembleia Eclesial ALC (2021) e o Sínodo sobre a Sinodalidade (2021-2024). Seu trabalho uniu missão, presença pastoral e comunicação comprometida com a vida dos povos amazônicos, tornando-o uma ponte entre suas histórias e a Igreja no mundo inteiro. Agora, após quase vinte anos de missão no Brasil, Luiz Miguel Modino retorna à sua Arquidiocese de Madri para assumir novas responsabilidades, levando consigo a riqueza espiritual, humana e pastoral aprendida em solo brasileiro. Nesta entrevista, ele revisita sua trajetória, suas aprendizagens e os desafios vividos em quase duas décadas de missão no Brasil — da Bahia às profundezas da Amazônia, passando por importantes serviços na comunicação eclesial continental. Padre Luís Miguel, quando você chegou ao Brasil? Onde trabalhou e o que realizou durante tantos anos de missão? Cheguei ao Brasil em 26 de setembro de 2006 para trabalhar na Diocese de Rui Barbosa, na Bahia. Ali permaneci até fevereiro de 2016, quando fui enviado como missionário na Amazônia. Na Bahia, destaco sobretudo a descoberta da força das pequenas comunidades. Aprendi que a vida da Igreja se sustenta na comunhão, na partilha e na presença próxima do missionário. Sempre busquei ser não apenas uma presença sacramental, mas uma presença evangélica que ajude o povo a descobrir que o Evangelho é fonte de vida e que na vivência na comunidade a gente vai dando sentido ao nosso batismo e descobrindo as diversas vocações às quais estamos chamados por Deus. Depois dessa etapa tão bonita no Nordeste, você chegou à querida Amazônia. Como foram seus primeiros anos em São Gabriel da Cachoeira? Em São Gabriel da Cachoeira, onde mais de 90% da população é indígena, acompanhei comunidades nas paróquias de Pari-Cachoeira e em Cucuí. Ali aprendi algo essencial: o povo espera mais do que sacramentos; espera presença. Aprendi a andar “sem pressa”, como diziam os comunitários. A Amazônia tem outra relação com o conceito de tempo e o espaço. “Longe” ou “perto” não têm o mesmo sentido que em outros lugares. Ir até a última comunidade, chegar onde quase ninguém chega, é fundamental. Essa vivência também tive em Manaus, especialmente na Área Missionária São José do Rio Negro, nas comunidades ribeirinhas. O missionário precisa estar com os últimos, com aqueles que ficam mais longe, e ser uma presença que alegra a vida do povo com nossa visita. Nestes últimos anos você também se dedicou muito ao trabalho de comunicação para a Igreja da Amazônia e Latino-americana. O que esse serviço significou para você? Para mim, na comunicação da Igreja temos que entender que comunicar é evangelizar. Quando testemunhamos aquilo que faz parte da vivência do povo, descobrimos que comunicar as histórias, as dores, as lutas e a fé dos povos da Amazônia é tornar visíveis as sementes do Verbo presentes na vida do povo e nas comunidades. As pessoas vão entendendo que através da simplicidade a Igreja vai crescendo e ajuda o povo a encontrar o sentido da sua vida. Sempre vivi a comunicação como parte da missão. Isso agradeço as comunidades que acompanhei, que sempre entenderam que minhas ausências (pelo trabalho na REPAM, no CELAM e no Regional Norte 1 da CNBB), faziam parte da missão, e isso me ajudou muito a servir com liberdade e disponibilidade. Sabiam que eu era o pároco, que acompanhava a vida das comunidades, mas sabiam da outra missão que tinha. Através das comunidades, descobri narrativas profundas da fé que pude compartilhar com a Igreja no continente e no mundo. Quais foram os momentos mais marcantes nesses anos de comunicação missionária? Sem dúvida, a cobertura dos Sínodos em Roma, do Sínodo sobre a Sinodalidade (2021-2024) mas especialmente o Sínodo para a Amazônia (2018-2019), foi muito marcante. Ali, como comunicadores, ajudamos o mundo a reconhecer as riquezas dos povos da Amazônia e da Igreja na região. Outro aspecto marcante foi contar as histórias do povo. As pessoas mais simples comunicam o Evangelho sem verniz. É um testemunho muito mais singelo e mais claro. As vezes os que temos aprofundado mais nos estudos teológicos podemos ter um discurso mais teórico. Os tantos homens e mulheres que assumem ministérios nas comunidades e testemunham isso para os outros, é fruto da experiencia de vida, da fé em Deus e do coração. Dar visibilidade a essas vivências de pessoas dedicadas muitos anos ao serviço das comunidades da Amazônia é tarefa fundamental para qualquer comunicador da Igreja. Muitas vezes ficamos fascinados ao entrevistar cardeais e bispos, mas vemos que o Evangelho brota com força nas mãos e nos testemunhos dos ministros e ministras que servem silenciosamente suas comunidades de base. Agora você retorna à sua Arquidiocese de origem, em Madri. Quais são as perspectivas para esta nova etapa? Estamos ao serviço da Igreja. Quando comecei a trabalhar na equipe de comunicação da REPAM, consultei o então arcebispo de Madri, naquela época o Cardeal Osoro. Ele me disse: “eu lhe peço e, se não achar ruim, lhe mando que assuma essa missão”. Volto para Madri em obediência ao chamado da Igreja na qual fui ordenado. A gente nunca pode esquecer o que prometeu no dia da ordenação presbiteral: obediência e respeito ao bispo. Agora, o arcebispo atual, Cardeal Cobo, pede minha presença em Madri. Assim que volto tranquilo e agradecido à Igreja do Brasil, e disponível para servir nas necessidades atuais da Arquidiocese de Madri e do que precisem de mim neste momento. Para concluir: o que você leva no coração dessa vivência de tantos anos no Brasil? Levo o testemunho de vida de muitas pessoas profundamente comprometidas com a vida da Igreja e na vida das comunidades. São muitas as pessoas que passam pela minha mente agora que me preparo para uma nova missão. Sobretudo levo a vivência de uma Igreja que entende que o batismo é o sacramento fundamental na vida eclesial e que a partir dele nasce toda ministerialidade. Promover os ministérios laicais foi algo que aprendi aqui no Brasil e que levo comigo pra Igreja da Espanha que ainda é muito mais clerical. Devemos entender isso: o ministério ordenado é importante na vida da Igreja, ninguém nega isso. Mas a ministerialidade laical é fundamental para que a Igreja possa ter esta capilaridade que muitas vezes nos falta e assim concretizar essa “Igreja em saída” e sinodal, como tanto apostou o Papa Francisco e como o Papa Leão XIV tem impulsionado com força no seu Magistério, avançando como Igreja onde caminhamos todos, onde todos tem espaço e sentimos a necessidade de avançar juntos. Nota do Vatican News: Padre Modino, como nós sempre o chamamos, foi e continua sendo um grande colaborador da Rádio Vaticano – Vatican News. Ao longo de muitos anos ele foi nossos olhos, ouvidos e presença na realidade da Amazônia, na realidade da nossa Igreja entre os indígenas, ribeirinhos, sacerdotes, bispos e cardeais. Nosso muito obrigado por uma vida de doação à Igreja e à comunicação. Agora com nova missão e novos desafios. Certamente, teremos também um olhar e ouvidos em Madri. Obrigado padre Modino pela caminhada que fizemos juntos e que continuaremos a fazer. E obrigado, em nome de todos os nossos leitores e ouvintes, pela grande “mão”, pela ajuda que nos deu para entender o que é a Igreja na Amazõnia.

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