“Se o Evangelho não queimar é porque perdeu-se alguma coisa”, afirma o padre José Frazão Correia. “Há a necessidade de voltar a um contacto vivo, generoso, disponível com o Evangelho para que ele, de facto, nos queime, nos interpele”, assinala o sacerdote jesuíta.
Rui Saraiva – Portugal Foi lançada em outubro, com a chancela da Paulinas Editora, a mais recente obra do padre José Frazão Correia com o título “Quem quiser ganhar há de perder”. Recuperamos aqui declarações suas à Agência Ecclesia, sobre o livro, num trabalho da jornalista Lígia Silveira. Esta frase do Evangelho de S. Mateus “quem quiser ganhar há de perder” é o mote para um livro que reflete sobre o desafio de dar formas à força do Evangelho nos dias de hoje. Uma frase cuja utilização, explica o sacerdote da Companhia de Jesus, é uma liberdade necessária para enfrentar este tempo de mudança”. “Fui buscá-la ao Evangelho de S. Mateus por ser uma expressão, de alguma maneira, quase impossível. Na realidade já ninguém quer perder, habitualmente queremos ganhar, ficar à frente, ter sucesso. Coisas legítimas. Mas é interessante deixar provocar por essa exortação de Jesus: é uma espécie de regra de jogo. Um jogo que poderíamos jogar, quase como as crianças. E neste tempo que vivemos, que é o ponto de partida deste livro, como disse o Papa Francisco, assinalando que não estamos apenas num tempo de mudança, mas numa mudança de era, de tempo. E talvez essa disponibilidade e é aí que vou buscar Mateus, uma disponibilidade para enfrentar de uma maneira positiva, esperançosa, esta mudança de tempo. E para o fazer é preciso uma espécie de liberdade, não para nos agarrarmos a alguma coisa para sobreviver, mas acolher o bom que este tempo de mudança nos traz. Com todos os desafios. ‘Quem quiser ganhar há de perder’ é uma liberdade necessária para enfrentar este tempo de mudança”, diz o padre José Frazão Correia. “Como é que neste tempo de mudança o Evangelho continua a ser uma força capaz, que tenha alcance cultural e que tenha pertinência eclesial também?”, interroga-se o sacerdote. O autor fala em reavivar o fogo do Evangelho. “Se o Evangelho não queimar é porque perdeu-se alguma coisa”, afirma. “Há a necessidade de voltar a um contacto vivo, generoso, disponível com o Evangelho para que ele, de facto, nos queime, nos interpele”, assinala o sacerdote jesuíta. “Precisamos de ter disponibilidade, a tal liberdade para imaginar possibilidades novas, para jogar essa tal regra de ‘quem quiser ganhar há de perder’, diz o padre Frazão. O autor refere a importância de que neste tempo de mudança se faça a experiência do “bom lugar”, um lugar que seja “espaço aberto” e não “espaço ocupado”. “Nós cristãos dizemos que esse espaço é o Espírito Santo”, assinala, propondo que esse espaço aberto deve ser “percorrido por múltiplas dinâmicas, por múltiplos intervenientes, por múltiplos protagonistas individuais e coletivos, sem ter a preocupação e a tentação de ocupar esse espaço”, declara o sacerdote. “Hoje temos uma consciência mais aguda e ainda bem de que a realidade é complexa. E por ser complexa precisa de múltiplos olhares e perspetivas. Procurar compreender, mas sem a afunilar numa única resposta”, sustenta o sacerdote jesuíta referindo que a missão da Igreja passa hoje por “acompanhar múltiplos ritmos, múltiplas vidas que não caminham todas da mesma maneira”. E isto permite que “o Evangelho possa falar a cada pessoa e a cada realidade, segundo a sua necessidade”. O padre José Frazão Correia foi Provincial da Companhia de Jesus em Portugal, sendo o atual diretor da Revista Brotéria. Laudetur Iesus Christus