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PÓRTICO
A vida dos santos é uma luz que ilumina o caminho das nossas vidas quando a noite cai. Eles percorreram esse mesmo caminho, e souberam como atingir a meta: o Amor de Deus que é a nossa origem e deseja abraçar-nos por toda a eternidade.
Nestas páginas, vamos dirigir nosso olhar à vida santa de Josemaria Escrivá. Especificamente, a algumas descobertas que ele fez em seus anos de jovem sacerdote.
Muitas pessoas que o conheceram destacaram que ele foi um apaixonado por Deus, que ensinou muitas almas a “entrar nas profundezas do Amor de Deus, para assim podermos mostrá-lo aos homens, com a palavra e com as obras”1. Esse é o caminho da vida cristã, que nós também desejamos empreender.
Porém, esse caminho “para dentro” tem uma peculiaridade. Não é mover-se de um lugar conhecido para outro desconhecido: consiste em aprofundar no que já é conhecido, no que parece óbvio, por termos ouvido tantas vezes. Descobrimos então algo que, de fato, era conhecido, mas agora se percebe com uma nova força e profundidade. São Josemaria se refere a essa experiência ao falar de diferentes “Mediterrâneos” que se abriram diante dos seus olhos de maneira inesperada. É assim que ele explica isso, por exemplo, em Forja:
“Na vida interior, tal como no amor humano, é preciso ser perseverante.
Sim, tens de meditar muitas vezes os mesmos argumentos, insistindo até descobrires um novo Mediterrâneo*.
- E como é que não tinha percebido isto antes, com esta clareza? Perguntar-te-ás surpreendido. - Simplesmente porque às vezes somos como as pedras, que deixam resvalar a água, sem absorver nem uma gota.
- Por isso, é necessário voltar a refletir sobre as mesmas coisas - que não são as mesmas! -, para nos empaparmos das bênçãos de Deus”2.
Esse é o caminho de contemplação a que estamos chamados. Trata-se de navegar em um mar que, à primeira vista, não tem nada de novo, porque faz parte da nossa paisagem diária. Os romanos chamavam o Mediterrâneo de Mare Nostrum: era o mar conhecido, o mar com o qual conviviam. São Josemaria fala sobre a descoberta de Mediterrâneos porque, assim que entramos naqueles mares que pensamos que conhecemos bem, abrem-se diante de nossos olhos horizontes amplos, que havíamos imaginado. Podemos então dizer ao Senhor, nas palavras de Santa Catarina de Sena: “És um mar profundo. Quanto mais nele penetro, mais encontro; quanto mais encontro, mais Te procuro”3.
Essas descobertas respondem a luzes que Deus dá quando e como Ele quer. No entanto, a consideração pausada nos prepara para receber essas luzes do Senhor. “É como aquele que primeiro estava nas trevas e, de repente, vê o sol que ilumina o seu rosto e distingue claramente o que ele não viu até então, da mesma forma aquele que recebe o Espírito Santo fica com a alma iluminada”4. Nessas páginas, analisaremos alguns destes Mediterrâneos que são Josemaria descobriu em sua vida interior, para entrar, com ele, “na profundidade do Amor de Deus”5.
Notas
1 São Josemaria, É Cristo que passa, n. 97.
2 São Josemaria, Forja, n. 540.
3 Santa Catarina de Sena, Diálogo, c. 167.
4 São Cirilo de Jerusalem, Catequese 16, 16.
5 Os textos deste livro, com exceção do interlúdio, foram publicados com diversas variantes no site do Opus Dei durante o ano de 2017.
* Na obra em espanhol, São Josemaria usa a expressão “um novo Mediterrâneo”, que foi traduzida ao Português como “uma nova América” (cfr. Forja, n. 540, Quadrante, São Paulo). Neste artigo preferimos usar a expressão original do autor.
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