Dom Oriolo: A Igreja num oceano com mudanças

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Dom Oriolo: A Igreja num oceano com mudanças
Fonte: VATICANO

Dom Oriolo: A Igreja num oceano com mudanças

Em um mundo marcado pela incerteza, pela desigualdade e pela fragilidade das relações humanas, tanto a natureza quanto os indivíduos clamam por uma resposta que transcende as soluções meramente humanas.
 

Dom Oriolo - Bispo da Igreja Particular de Leopoldina MG

A sociedade contemporânea é marcada pela inovação constante, pela diversidade de valores e pela incerteza do dia de amanhã. Para expressar essa complexidade, utilizamos metáforas como “sociedade líquida” e “sociedade gasosa”, que evocam a ideia de um mundo em constante fluxo e transformação. Essas terminologias nos auxiliam a compreender as realidades nas quais somos enviados a lançar “as sementes do evangelho” e promover o Reino de Deus. A rápida evolução tecnologia, caracterizada pela Revolução 4.0 e pela perspectiva da sociedade 5.0, intensifica essa dinâmica e exige uma adaptação constante de nossa ação evangelizadora.

Os acrônimos Vuca, Bani, Tuna e Rupt têm sido utilizados para descrever as profundas mudanças que ocorrem em nosso mundo. Essas transformações impactam diretamente nossa forma de viver, trabalhar e nos relacionar, incluindo a maneira como anunciamos a Boa-Nova. A realidade é ágil em suas transformações que repercutem tanto na pessoa do evangelizador quanto no ser evangelizado. Ao compreender os desafios e oportunidades representados por esses conceitos, podemos desenvolver estratégias mais eficazes para alcançar as pessoas e compartilhar a missão de anunciar o amor misericordioso de Deus revelada pela Palavra encarnada Jesus Cristo (cf. EN 22)

O termo Vuca foi criado pelo exército dos EUA, após a guerra fria. Serviu como ferramenta para analisar e planejar ações em um mundo marcado pela instabilidade e incerteza. Vuca = Volátil (volatility) - Incerto (uncertainty) - Complexo (complexit) - Ambíguo ( ambiguity).

A pandemia da Covid-19 acelerou as mudanças globais, tornando o mundo ainda mais frágil, ansioso, não linear e incompreensível, o que levou à criação do termo Bani por Jamais Cascio como uma nova forma de entender a realidade. Bani = Frágil (brittle) - Ansioso (anxious)  - Não linear (nonlinear) - Incompreensível ( incomprehensible)

O termo mundo Tuna evoluiu a partir de conceitos como Vuca e Bani, refletindo a necessidade de descrever um cenário cada vez mais dinâmico e desafiador. Ele se tornou uma ferramenta útil para profissionais e pesquisadores de diversas áreas, que buscam entender as implicações das mudanças constantes em suas vidas e em suas organizações. Tuna = Turbulento (turbulent) - Incerto (uncertain) - Novo (novel) - Ambíguo (anbiguous)

O acrônimo Rupt foi criado pelo analista estratégico indiano Raghu Raman. Oferece uma nova perspectiva para entendermos o mundo em que vivemos, caracterizado por mudanças rápidas e profundas. RUPT. – Rápido ( rapid) - Inesperado (unpredictable) - Paradoxal  (Paradoxical) - Transformador ( Tangled)

Em um mundo natureza e humano marcado por constantes transformações, caracterizado por termos como Vuca, Bani, Tuna e Rupt, a Igreja é desafiada a encontrar novas formas de evangelizar. A sinodalidade, um caminho de escuta, diálogo e participação, emerge como uma resposta a esse contexto complexo. Ao convidar todos os batizados a participarem ativamente da vida da Igreja, a sinodalidade promove um sentido de pertença e corresponsabilidade, fortalecendo os laços comunitários e fomentando uma nova mentalidade comunicativa. No entanto, para que a evangelização seja eficaz nesse novo cenário, é fundamental que a Igreja adapte suas práticas e linguagem, promovendo ações evangelizadoras para alcançar as pessoas onde elas estão.

Destarte, a redescoberta da sinodalidade nos impulsiona a evangelizar, levando a Boa-Nova tanto à natureza quanto à humanidade em suas múltiplas interações. Desde os primeiros séculos do cristianismo, a Igreja tem buscado viver essa dimensão sinodal, como atestam os escritos de Inácio de Antioquia e São João Crisóstomo, que identificavam a Igreja como um corpo em comunhão. Ao convidar todos os batizados a participarem ativamente da vida da Igreja, a sinodalidade promove um sentido de pertença e corresponsabilidade, fortalecendo os laços comunitários. Essa dinâmica de participação e diálogo, inspirada no Concílio Vaticano II (cf. EG 31), fomenta uma nova mentalidade comunicativa e um renovado agir missionário, em linha com a exortação apostólica Evangelii Gaudium (cf. EG 20-24).

A evangelização, isto é, o avançar para águas mais profundas (cf. Lc 5,4), carece de técnicas e metodologias que contemplem o horizonte humano sob a perspectiva de Jesus de Nazaré (cf. EG 24). É salutar, com efeito, pensar de forma sistêmica e sistemática todo o caminhar da Igreja, no intuito de aprimorar os meios necessários para que a Palavra seja mais bem anunciada, os sacramentos sejam mais satisfatoriamente administrados e a Eucaristia seja mais perfeitamente celebrada, haja vista os mistérios de Jesus Cristo (ressurreição e encarnação).

Em um mundo marcado pela incerteza, pela desigualdade e pela fragilidade das relações humanas, tanto a natureza quanto os indivíduos clamam por uma resposta que transcende as soluções meramente humanas. O Evangelho de Jesus Cristo, com sua mensagem de amor, perdão e esperança, oferece uma alternativa radical e transformadora a esses desafios. Ao anunciar a Boa-Nova, a Igreja se coloca a serviço da humanidade, buscando promover a justiça, a paz e a fraternidade universal. Essa busca por uma resposta transcendente é fundamental para construir um futuro mais justo e fraterno para todos, isto é, a “civilização do amor”.

 
 

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