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As crianças, os mensageiros

 

 

No dia 13 de maio do ano 2000, quis o papa São João Paulo II celebrar a Santa Missa no santuário de Fátima, beatificando os pequenos irmãos Francisco e Jacinta, os “pastorinhos” de Nossa Senhora. Sem dúvida alguma, um dos mais belos sinais deixados pela presença da Santíssima Virgem na Cova da Iria foi o heroísmo dessas crianças em entregar completamente suas vidas a Deus. Os pastorinhos foram os primeiros discípulos nessa escola da Virgem, que é a mensagem de Fátima. Por isso, dirigindo-se especialmente às crianças, em grande número no santuário por ocasião da beatificação, disse o papa:

 

Pedi aos vossos pais e educadores que vos ponham na “escola” de Nossa Senhora, para que Ela vos ensine a ser como os pastorinhos, que procuravam fazer tudo o que lhes pedia. Digo-vos que se avança mais em pouco tempo de submissão e dependência de Maria, que durante anos inteiros de iniciativas pessoais, apoiados apenas em si mesmos. Foi assim que os pastorinhos se tornaram santos depressa. Uma mulher que acolhera Jacinta em Lisboa, ao ouvir conselhos tão bons e acertados que a pequenita dava, perguntou quem lhos ensinava. “Foi Nossa Senhora”, respondeu. Entregando-se com total generosidade à direção de tão boa Mestra, Jacinta e Francisco subiram em pouco tempo os cumes da perfeição.

 

Tendo sido as três crianças os primeiros a serem admitidos nesse caminho, vale a pena conhecer algumas poucas coisas a seu respeito, antes de fazermos, também nós, o nosso itinerário.

Em 28 de março de 1907 nasceu Lúcia, a mais velha dos pastorinhos. Era uma Quinta-feira Santa, e dona Maria Rosa, sua mãe, foi à Missa e comungou, pensando em voltar à tarde para a visita ao Santíssimo Sacramento. Não o pôde fazer, pois nasceu a pastorinha. O fato de a mãe ter comungado pela manhã do dia do seu nascimento era para Lúcia motivo de grande alegria, dizendo que tinha feito a primeira comunhão antes de nascer. Era a mais nova de uma família com seis filhos.

Em suas memórias, Lúcia agradece o exemplo de retidão e de vida cristã encontrado especialmente na mãe. Dizia que aprendeu a partilhar estando ainda no seu colo. De fato, uma vizinha havia dado à luz e não conseguia amamentar o filho; ora, foi dona Maria Rosa quem o amamentou, repartiu a “refeição” da filha. Um pouco mais tarde, Lúcia recorda as lições de generosidade aprendidas em família. Quando batia à porta algum pobre a pedir esmola, era a menor a encarregada de entregar-lhe o que lhe era destinado. Assim, ao receber a esmola das mãos de uma criança, isso era mais doce ao pedinte e menos humilhante. E a criança aprendia a alegria de dar.

 

O pai, Antonio dos Santos, era especialmente cari-nhoso com a filha mais nova. Foi com ele que Lúcia aprendeu a chamar o sol de “a candeia de Nosso Senhor”; a lua, de “candeia de Nossa Senhora”; e as estrelas, de “candeias dos anjos”.

A mãe de Lúcia era a catequista das crianças de Aljustrel, a aldeia onde moravam. Devido à sua especial atenção aos ensinos da mãe, Lúcia estava pronta para ser arguida sobre a doutrina já aos seis anos. E, de fato, extraordinariamente, foi com essa idade que fez a primeira comunhão. Em sua primeira confissão, tendo perguntado ao padre como poderia fazer para manter seu coração puro para Deus, recebeu do confessor o seguinte conselho: “De joelhos, aos pés de Nossa Senhora, pede-lhe com muita confiança que tome conta do teu coração, que o prepare para receber dignamente Jesus e que o guarde só para Ele.” E assim Lúcia fez. Sentiu então no peito a voz da Mãe Santíssima a lhe dizer: “Minha filha, a graça que hoje te é concedida permanecerá para sempre viva em teu peito, produzindo frutos de vida eterna.” Essas palavras gravaram--se tão indelevelmente em sua alma que, mesmo muitos anos depois, Lúcia dizia que eram o laço da sua união com Deus.

Em 11 de junho de 1908 nasceu Francisco; e em 10 de junho de 1910, Jacinta. Ambos eram filhos de Olímpia de Jesus, irmã de Antonio dos Santos, e Manuel Pedro Marto. Por ocasião das aparições de Nossa Senhora, as crianças tinham, respectivamente, dez, nove e sete anos.

A partir daí, a trajetória de suas vidas é profundamente marcada pela mensagem da Virgem. De modo especial, Francisco e Jacinta não tiveram tempo para participar do que se desenvolveu dos acontecimentos de Fátima; ele foi para o Céu em 1919 e ela, no ano seguinte. Sua única preocupação em tão breve tempo de vida foi corresponder aos pedidos de Nossa Senhora. Lúcia, conforme a predição de Maria Santíssima, permaneceu “um pouco mais de tempo” na Terra, para completar sua missão em relação à mensagem. Ela entrou para o Carmelo de Coimbra em 25 de março de 1948, depois de vários anos na congregação de Santa Doroteia, e veio a falecer em 13 de fevereiro de 2005, aos 97 anos. No Carmelo recebeu o nome de irmã Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado, resumindo no nome a missão de toda a sua vida: “ajudar a estabelecer no mundo a devoção ao Imaculado Coração de Maria.” Hoje, desde 19 de fevereiro de 2006, seus restos mortais repousam na Basílica de Nossa Senhora do Rosário, em Fátima, ao lado das sepulturas dos primos.

Na “escola” de Maria, cada um dos pastorinhos recebeu de Deus um chamado pessoal; cada um deles assumiu intimamente algum elemento particular da mensagem. Francisco recebeu especialmente a revelação da tristeza do coração de Deus pelos pecados dos homens. Certa noite, o pai ouviu-o soluçar e perguntou-lhe por que chorava; o filho respondeu: “Pensava em Jesus que está tão triste por causa dos pecados que cometem contra Ele.” Gostava especialmente de fazer companhia a “Jesus Escondido” no Santíssimo Sacramento, na igreja matriz. Como nos lembra São João Paulo II, o menino “vivia movido pelo único desejo — tão expressivo do modo de pensar das crianças — de ‘consolar e dar alegria a Jesus’.” Suportou os grandes sofrimentos da doença que o levou à morte, sem nunca se lamentar. Às vezes, Lúcia lhe perguntava se sofria muito por causa da doença, ao que o pequeno respondia: “Bastante… mas não importa. Sofro para consolar Nosso Senhor; e, depois, daqui a pouco vou para o Céu.” O que mais lhe causou tristeza quando a doença se agravou foi não poder mais visitar o Santíssimo na matriz. Por isso, sabendo que Lúcia ia à igreja depois de frequentar a escola, dizia à prima: “Olhe! Vá à igreja e dê muitas saudades minhas a Jesus Escondido. O que me dá mais pena é não poder mais ficar algum tempo com Ele.” Tudo lhe parecia pouco para consolar Jesus. Morreu com um sorriso nos lábios.

Jacinta recebeu de Deus um ardor especial pela conversão dos pecadores e um grande amor pelo Santo Padre: “Parece que tenho um lume no peito, mas não me queimo!” A respeito do papa, teve revelações particulares da parte de Deus. Diz-nos Lúcia, numa de suas memórias, que um dia foram passar a hora da sesta junto ao poço de seus pais. Jacinta sentou-se na laje do poço, e ela e Francisco foram procurar mel silvestre numa ribanceira próxima. Passado um pouco de tempo, Jacinta chama por Lúcia e lhe pergunta se não viu o Santo Padre. Ela diz que não, e a prima então lhe confidencia: “Não sei como foi! Eu vi o Santo Padre numa casa muito grande, de joelhos, diante de uma mesa, com as mãos na cara, a chorar. Fora da casa estava muita gente e uns atiravam-lhe pedras, outros rogavam-lhe pragas e diziam-lhe muitas palavras feias. Coitadinho do Santo Padre! Temos que pedir muito por ele.”

Lúcia recebeu de Deus uma profunda compreensão das riquezas do Imaculado Coração de Maria. Sua vida inteira resumiu-se à missão de dar a conhecer ao mundo esse caminho de salvação que Deus oferece à humanidade.

Em sua visita ao Santuário de Fátima no dia 13 de maio de 1982, São João Paulo II afirmou:

 

Se a Igreja aceitou a mensagem de Fátima, é sobretudo porque esta mensagem contém uma verdade e um chamamento que, no seu conteúdo fundamental, são a verdade e o chamamento do próprio Evangelho. “Convertei-vos (fazei penitência), e acreditai na Boa-nova” (Mc 1,15): são estas as primeiras palavras do Messias dirigidas à humanidade. E a mensagem de Fátima, no seu núcleo fundamental, é o chamamento à conversão e à penitência, como no Evangelho. Este chamamento foi feito no início do século XX e, portanto, foi dirigido, de um modo particular, a este nosso século. A Senhora da mensagem parecia ler, com uma perspicácia especial, “os sinais dos tempos”, os sinais do nosso tempo.

 

Já chegamos aos cem anos das aparições de Fátima; rompemos a barreira de um novo século e de um novo milênio. Contudo, o chamado de Maria e suas lições de vida permanecem atuais. Talvez mais do que nunca precisemos aprender dela o segredo da paz, da oração e do perdão. Que nos sintamos nós também chamados à “escola” de Maria, onde Deus deseja nos corrigir e educar para o Reino que a todos preparou.

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