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Fátima continua

A sétima aparição
Após a aparição de outubro, a vida dos pastorinhos foi transformada profundamente pela afluência de pessoas que desejavam ouvi-los falar da mensagem de Nossa Senhora. Ao contrário do que as famílias supunham, o fim das aparições não tornou sua vida mais calma; ao contrário, era cada vez maior o número de peregrinos. Os pais de Jacinta e Francisco decidiram não mais enviá-los com os rebanhos às pastagens, visto que a todo o momento deviam chamá-los de volta para atender os visitantes. Lúcia, portanto, teria de ir sozinha, o que causava grande tristeza aos três. Ficou decido então, em 1918, que Lúcia seguiria para a escola e que os primos lhe fariam companhia. Talvez fosse possível, assim, que a vida das crianças transcorresse em maior tranquilidade. Além disso, cumpria-se o pedido de Nossa Senhora de que Lúcia aprendesse a ler e escrever.
Contudo, novas cruzes iam chegando. Nesse ano, na esteira da guerra, alastrou-se uma epidemia que matou famílias inteiras em Portugal, de severa gripe. Francisco e Jacinta também caíram doentes, sem jamais se recuperar por completo. Por causa disso, não puderam mais acompanhar Lúcia à escola. Assim, quase todos os dias, ao voltar para casa, Lúcia visitava os primos e dava-lhes “notícias” do “Jesus Escondido” que as crianças tinham o costume de visitar no retorno da escola, fazendo uma visita ao Santíssimo Sacramento na igreja matriz. Também nessa época, Lúcia começou a aprender o ofício de tecelagem com a mãe e as irmãs.
Estando uma vez em casa, a menina recebeu um aviso urgente de Jacinta e foi até ela apressada; encontrou-a cheia de alegria. Em suas memórias, ela nos conta:
Um dia mandou-me chamar: que fosse junto dela depressa. Lá fui, correndo. “Nossa Senhora veio-nos ver e diz que vem buscar o Francisco muito breve para o Céu”, disse a Jacinta. E a mim perguntou-me se queria ainda converter mais pecadores. Disse-Lhe que sim. Disse-me que ia para um hospital, que lá sofreria muito; que sofresse pela conversão dos pecadores, em reparação dos pecados contra o Imaculado Coração de Maria e por amor de Jesus. Perguntei se tu ias comigo. Disse que não. Isto é o que me custa mais. Disse que ia minha mãe levar-me e, depois, fico lá sozinha! Em fins de dezembro de 1919, de novo a Santíssima Virgem se dignou visitar a Jacinta, para Ihe anunciar novas cruzes e sacrifícios. Deu-me a notícia e dizia-me: “Disse-me que vou para Lisboa, para outro hospital; que não te torno a ver, nem os meus pais; que, depois de sofrer muito, morro sozinha, mas que não tenha medo; que me vai lá Ela buscar para o Céu.” Durante a sua permanência de 18 dias no hospital em Lisboa, Jacinta foi favorecida com novas visitas de Nossa Senhora, que lhe anunciou o dia e a hora em que haveria de morrer. Quatro dias antes de a levar para o Céu, a Santíssima Virgem tirou-lhe todas as dores. Nas vésperas da sua morte, alguém lhe perguntou se queria ver a mãe, ao que ela respondeu: “A minha família durará pouco tempo e em breve se encontrarão no Céu… Nossa Senhora aparecerá outra vez, mas não a mim, porque com certeza morro, como Ela me disse.”
Também nesse tempo, a mãe de Lúcia, dona Maria Rosa, caiu doente. Desenganada pelo médico, recebeu o sacramento da Unção dos Enfermos e despediu-se das filhas, manifestando especial preocupação pelo destino de Lúcia. Dona Maria Rosa não conseguia acreditar nas aparições, causando especial tristeza à filha mais nova; além disso, as irmãs diziam à Lúcia que a mãe estava morrendo de desgosto pelo que havia se tornado a vida da família. Desafiada pela irmã mais velha, Lúcia correu à Cova da Iria e fez a Nossa Senhora um voto. Se a mãe fosse curada, toda a família iria até ao local das aparições, durante nove dias seguidos, e rezariam o Rosário. Iriam de joelhos desde o alto da estrada até junto do lugar onde havia estado a azinheira. No último dia, levariam nove crianças pobres e dariam um belo jantar a todas.
Depois de concluir suas orações, a menina voltou para casa, cheia de confiança na intercessão de Nossa Senhora. Sem tardar manifestou-se o poder de Deus! Ao chegar a casa, a mãe já estava sentada na cama, tomando uma tigela de canja. Na hora do jantar, os parentes, que já estavam vindo para participar do luto da família, puderam juntar-se às orações de ação de graças, visto que Maria Rosa sentia-se restabelecida. Passados alguns dias, toda a família cumpriu a promessa feita por Lúcia. O caminho que fizeram de joelhos é até o dia de hoje percorrido por muitas pessoas que, repetindo o mesmo gesto, agradecem a Nossa Senhora as graças recebidas.
Temendo pela saúde de Lúcia, um devoto casal se ofereceu para tirá-la um tempo da aldeia, a fim de que pudesse respirar outros ares e descansar. O quadro de saúde de Francisco e Jacinta, contudo, não melhorava. Como havia prometido, Nossa Senhora levou Francisco para o Céu no dia 4 de abril de 1919, uma primeira sexta-feira do mês. No dia 30 de julho do mesmo ano, o pai de Lúcia foi diagnosticado com pneumonia dupla e, no dia seguinte, faleceu. Jacinta, por sua vez, faleceu no dia 20 de fevereiro de 1920, em Lisboa, como previra.
Lúcia ficou então sozinha. O cônego Manuel Nunes Formigão, sinceramente preocupado com a situação da menina, encarregou-se de enviá-la para a casa de algumas senhoras distintas em Lisboa, a fim de que continuasse recebendo educação e ficasse salvaguardada das indiscrições dos peregrinos. Contudo, nesse ínterim, foi sagrado bispo de Leiria o senhor dom José Alves Correia. Lúcia já estava com 13 anos, e o desejo do bispo era que ela pudesse mudar-se para o Porto e que se tornasse aluna interna das irmãs de Santa Doroteia; ali, quem sabe, poderia discernir a vocação religiosa. As condições que o bispo exigiu, no entanto, pareceram demasiado duras para a menina: não deveria revelar a ninguém sua identidade, nem falar dos acontecimentos de Fátima; não deveria corresponder-se com ninguém, a não ser com sua própria mãe; não deveria voltar a Fátima para passar férias, nem para qualquer outra coisa, sem a sua licença. Com o coração apertado, mas sabendo do consentimento que dona Maria Rosa havia dado às intenções do prelado, Lúcia aceitou a proposta, desejosa de não desagradar nem ao bispo nem à mãe.
A viagem para o Porto ficou marcada para o dia 15 de junho de 1921. Lúcia conseguiu que esse dia ficasse reservado para que pudesse visitar os locais de Fátima onde a recordação de Nossa Senhora e dos primos era mais intensa. Com a mente e o coração cheios de pensamentos e dúvidas, ajoelhou-se junto à grade de proteção que marcava o lugar onde estivera a azinheira das aparições. Ela se lembra de ter chorado muito, pedindo perdão a Nossa Senhora por não ser capaz de oferecer-lhe, dessa vez, este sacrifício que parecia maior que suas forças. Recordando-se do primeiro encontro com Nossa Senhora e do “sim” que havia pronunciado quando a Virgem Mãe lhes perguntou se queriam oferecer-se a Deus, Lúcia sentia o coração cheio de amargura. Não havia ali, então, ninguém a quem pudesse pedir conselhos, e era preciso ou acolher a vontade do bispo como sinal da vontade de Deus, ou desistir de obedecer e entregar-se a algum outro projeto, indo talvez para Lisboa, junto das pessoas queridas com quem já havia convivido um dia.
Foi então que, sentindo uma mão amiga a lhe tocar o ombro, Lúcia levantou o olhar e viu que Nossa Senhora estava ali. Ouvindo mais uma vez a voz de Maria, seu coração se encheu de paz:
— Aqui estou pela sétima vez. Vai, segue o caminho por onde o senhor bispo te quiser levar, essa é a vontade de Deus.
De repente, pareceu que um peso imenso havia saído de seus ombros. Lúcia renovou então o seu sim à vontade de Deus, muito mais consciente do que em 13 de maio de 1917. Ela recordou que, naquele momento, surgira pela primeira vez em seu coração o sinal da vocação religiosa. Lembrando-se da aparição de outubro, recordou a visão que tivera de Nossa Senhora do Carmo e experimentou atração pelo Carmelo. Naquele dia, tomou como protetora a irmã Teresinha do Menino Jesus. Na madrugada do dia 16 de junho, partiu com uma senhora acompanhante para a cidade do Porto. Alguns dias depois, por conselho de dom José Alves Correia, que se mostrou um excelente pastor de sua alma, Lúcia tomou como norma de vida a obediência e como lema as palavras de Nossa Senhora narradas no Evangelho de João: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2,5).
A sétima aparição de Nossa Senhora na Cova da Iria, tão pouco conhecida, manifesta os cuidados da Mãe do Céu pelo nosso progresso no caminho de Deus. Como é bom saber, como Lúcia descobriu então, que, nas horas de indecisão, quando não podemos ou não sabemos descortinar as dúvidas e preocupações de nosso coração a outras pessoas, Deus conhece o nosso íntimo e quer ser nosso apoio. Há momentos em que nosso “sim” à vontade de Deus parece custoso demais, mas é justamente este “sim” o instrumento capaz de aliviar nossa alma e desatar os laços que nos afligem. A palavra “obediência”, que costumamos identificar com uma disposição a nos conformar aos desejos de outra pessoa, na verdade é a palavra-chave para a paz da nossa alma. Quando, diante de uma situação difícil, simplesmente abrimos mão de entender e controlar tudo e nos dispomos a buscar fazer a vontade de Deus, isso é obediência. Há momentos em que o único cajado que teremos para nos apoiar e permanecer firmes diante dos desafios será o cajado ou o apoio da obediência. Saber que, numa circunstância dolorosa qualquer, podemos dizer “sim” a algo que Deus espera de nós é muitas vezes o único recurso que nossa alma encontra para vencer a desesperança e manter a paz.
Assim foi com Lúcia, assim também é conosco. Talvez, no dia de hoje, haja um “sim” a ser dado a Deus de nossa parte. A situação sofrida que estamos vivendo, seja uma enfermidade, ou uma separação, ou o desemprego, talvez só possa ser transformada a partir do instante em que nosso coração, como o de Lúcia, estiver pronto a dizer: “Sim, Senhor. Em meio a tudo que tenho vivido, desejo seguir fazendo a tua vontade. Não sei muito bem o que está acontecendo; não sei como as coisas vão se desenrolar. Sei apenas que Te dou o meu ‘sim’; apresento-te, hoje, o meu coração desejoso de corresponder ao que esperas de mim em meio a tudo isso. Obrigado porque me ajudas a reencontrar a paz, não retirando a cruz do meu caminho, mas ajudando-me a passar por ela com o coração rendido nas tuas mãos. Amém.”
Pontevedra: a devoção dos primeiros sábados
Lúcia permaneceu no Porto durante quatro anos como aluna interna do colégio das irmãs doroteias de Santa Paula Frassineti. Ao longo desse tempo, era conhecida por todas pelo nome de Maria das Dores. No dia 8 de junho de 1923, festa do Sagrado Coração de Jesus, foi escolhida pelas companheiras como zeladora do Apostolado da Oração; no dia 26 de agosto do mesmo ano, foi admitida como congregada entre as filhas de Maria. Neste dia, com licença do confessor, ao consagrar-se de modo especial a Nossa Senhora, consagrou-se também inteiramente a Deus pelo voto privado de castidade perpétua; tinha então dezesseis anos. No dia 8 de julho de 1924, Lúcia foi submetida a um interrogatório canônico, tendo o bispo de Leiria aberto o inquérito oficial sobre os acontecimentos de Fátima em 1922. Em outubro de 1926, pela primeira vez ele visitou a Cova da Iria. Em 1930, publica a sua aprovação da autenticidade das aparições, nos seguintes termos: “Em virtude das considerações expostas e outras que omitimos por brevidade, invocando humildemente o Divino Espírito Santo e confiados na proteção de Maria Santíssima, depois de ouvirmos os reverendos consultores desta nossa diocese, havemos por bem declarar como dignas de crédito as visões das crianças na Cova da Iria, freguesia de Fátima, desta diocese, nos dias 13 de maio a 13 de outubro de 1917.” Por essa declaração ficava permitido oficialmente o culto a Nossa Senhora de Fátima.
No dia 24 de agosto de 1925, Lúcia foi crismada e juntou ao nome, como era costume então, aquele de Maria.
Terminado o tempo dos estudos, ela ingressou como postulante na congregação das doroteias. Seu desejo pessoal era tornar-se carmelita e ingressar no Carmelo de Lisieux, devido à sua devoção a Santa Teresinha. Contudo, por desejo de dom José Alves Correia, permaneceu nessa congregação, postergando a possibilidade do ingresso no Carmelo. Nesse tempo, não havia noviciado de ordens religiosas em Portugal, e por isso Lúcia foi transferida para a cidade de Pontevedra, na Espanha. Lá chegou no dia 26 de outubro de 1925.
Contudo, a Santíssima Virgem havia prometido, na aparição de julho de 1917, voltar para oferecer ao mundo um caminho de salvação: a devoção ao seu Imaculado Coração. Essa promessa foi cumprida no dia 10 de dezembro de 1925. Enquanto Lúcia estava em seu quarto, Nossa Senhora apareceu, tendo ao seu lado, como que suspenso em uma nuvem luminosa, um Menino. Pondo a mão sobre seu ombro, Nossa Senhora lhe mostrava, ao mesmo tempo, um coração que tinha na outra mão, cercado de espinhos. Então, disse o Menino:
— Tem compaixão do coração de tua Santíssima Mãe, que está coberto de espinhos, que os homens ingratos lhe cravam sem cessar, sem que haja ninguém que faça um ato de reparação para arrancá-los.
Então, Nossa Senhora disse:
— Olha, minha filha, meu coração cercado de espinhos que os homens ingratos me cravam sem cessar com blasfêmias e ingratidões. Tu, ao menos, procura consolar-me; e diz que a todos os que, durante cinco meses, no primeiro sábado, se confessarem, receberem a sagrada comunhão, rezarem o Rosário e me fizerem quinze minutos de companhia, meditando nos quinze mistérios do Rosário, com o fim de desagravar-me, prometo-lhes assistir na hora da morte com todas as graças necessárias para a sua salvação.
Lúcia comunicou o conteúdo dessa mensagem ao seu confessor, dom Lino Garcia, e à superiora da casa. Esta, por sua vez, comunicou-o ao bispo de Leiria. Contudo, não se tornou público o pedido de Nossa Senhora.
Alguns meses depois dessa aparição, Lúcia encontrou, junto ao portão da casa, onde era encarregada dos serviços domésticos, um menino, a quem perguntou se sabia rezar a Ave-maria. Respondendo ele que sim, pediu-lhe então que rezasse para que ela o ouvisse. E, como o menino não se resolvia a fazê-lo sozinho, ela repetiu a oração por três vezes junto com ele. Ao final, pediu novamente que o menino a dissesse só, mas ele não era capaz de dizer a oração sem ajuda. Lúcia então perguntou se ele sabia onde era a igreja de Santa Maria, e recebeu resposta afirmativa. Disse-lhe então que fosse lá todos os dias e que dissesse assim: “Ó minha Mãe do Céu, dá-me o vosso Menino Jesus.” E depois de ter dito isso, voltou à lida diária.
No dia 15 de fevereiro de 1926, estando novamente no mesmo lugar, encontrou o menino e perguntou-lhe imediatamente: “Bom, pediste o Menino Jesus à Mãe do Céu?” Ele então se voltou para ela e disse: “E tu, propagaste pelo mundo o que a Mãe do Céu te pediu?” Nisso, transfigurando-se o menino e resplandecendo, ela percebeu que era Jesus. Lúcia então expôs as dificuldades que tivera com o confessor. Também disse que a madre superiora estava disposta a propagar a devoção, mas que o confessor havia dito que ela sozinha nada poderia. Jesus, então, respondeu: “É verdade que tua superiora nada pode. Mas, com minha graça, pode tudo.”
De fato, a prática dos primeiros sábados demorou a ser propagada fora dos muros dos conventos das doroteias. Somente três anos após as aparições em Pontevedra, ou seja, por ocasião de sua profissão perpétua (3 de outubro de 1928), é que Lúcia comunicou ao cônego Formigão o pedido de Nossa Senhora. Este, por sua vez, regressando a Portugal, pediu ao bispo dom José Alves Correia permissão para divulgar o conteúdo da mensagem. Recebeu a permissão para fazê-lo de forma privada. Por isso, estando no Porto, o padre imediatamente adquiriu uma grande quantidade de estampas do Imaculado Coração, nas quais mandou imprimir alguma coisa sobre os primeiros sábados. Distribuiu então o material entre algumas comunidades religiosas conhecidas, e seu esforço foi acolhido com muito entusiasmo. A autorização para a divulgação pública da devoção dos primeiros sábados, contudo, só foi anunciada em Fátima em 1939.
Lúcia também apresentou a Jesus algumas dificuldades que imaginou a respeito da devoção. Tendo conversado com algumas pessoas, percebeu que para alguns seria difícil confessar-se no sábado; por isso, pediu que fosse válida a confissão feita dentro de oito dias. O Senhor então lhe respondeu que sim e “até muitos dias mais, contanto que, quando me receberem, estejam em graça e tenham a intenção de desagravar o Imaculado Coração de Maria”. Lúcia ainda insistiu, perguntando a respeito das pessoas que, porventura, esquecessem-se de formular a intenção de desagravar o Imaculado Coração. Jesus respondeu que “poderiam formulá-la na confissão seguinte, aproveitando a primeira oportunidade que tivessem para confessar-se”.
Um de seus confessores perguntou à Lúcia o porquê dos cinco primeiros sábados. Colocando-se em oração, Lúcia recebeu do Senhor, na noite do dia 29 para 30 de maio de 1930, algumas luzes a esse respeito. Disse-lhe Jesus:
— Minha filha, a razão é simples: trata-se de cinco espécies de ofensas e blasfêmias proferidas contra o Imaculado Coração de Maria. São elas: blasfêmias contra a sua Imaculada Conceição; blasfêmias contra a sua virgindade perpétua; blasfêmias contra a sua Maternidade Divina, recusando ao mesmo tempo a recebê-la como Mãe dos homens; infundir publicamente nos corações dos pequenos a indiferença, o desprezo e até o ódio para com a Mãe Imaculada; os ultrajes que lhe são dirigidos nas suas sagradas imagens.
Tendo surgido algumas outras dúvidas, Lúcia recebeu mais alguns esclarecimentos sobre a devoção dos primeiros sábados. Um sacerdote perguntou-lhe se a prática da comunhão reparadora poderia ser feita no domingo seguinte ao primeiro sábado. A resposta do Céu foi que “será igualmente aceitável a prática da devoção no domingo seguinte ao primeiro sábado, quando meus sacerdotes, por motivos justos, assim concederem às almas”. Depois, a confissão, mesmo sendo feita em outro dia, deve corresponder à comunhão reparadora. Ou seja: uma confissão feita na intenção de desagravar o Imaculado Coração de Maria para cada primeiro sábado. Com relação aos quinze minutos de companhia a Nossa Senhora: devem ser aproveitados para meditar os mistérios do Rosário. Pode-se fazer isso à medida que se vão rezando os mistérios; ou então meditando no final do terço um mistério em particular ou todos eles juntos. Ou seja: que o terço não seja rezado sem a meditação dos mistérios, quer de forma dirigida (em comunidade), quer de maneira individual.
A vivência da devoção ao Imaculado Coração de Maria tem o seu centro na prática dos primeiros sábados. Sabemos que, desde há muitos séculos, o sábado tem sido especialmente dedicado à veneração de Nossa Senhora. Podemos dizer que o sábado é, por excelência, o dia da fé e da esperança. Nesse dia, os discípulos, apavorados com a morte violenta de Jesus, dispersaram-se e ficaram entregues à dúvida, talvez imaginando que tudo o que tinham vivido com o Mestre fora em vão… Maria Santíssima, contudo, concentrou em seu coração toda a fé da Igreja e a manteve viva: “Bem-aventurada aquela que acreditou, porque se cumprirá tudo aquilo que o Senhor lhe prometeu” (Lc 1,45). O sábado, véspera do “Dia do Senhor”, anuncia a glória do Cristo que, ressuscitado, vem ao nosso encontro. Vivemos, portanto, esse dia junto à Mãe de Jesus, recobrando com ela a esperança que nos faz vencer o abatimento e o desânimo da Cruz.
Em uma de suas cartas, a irmã Lúcia recomendava que o primeiro sábado do mês “fosse para toda a vida”. Em uma conversa, disse também que seu coração vivia com imensa alegria a chegada desse dia. É verdade que o número de cinco sábados se refere à reparação das cinco ofensas que se cometem ao Imaculado Coração de Maria. Contudo, podemos também entender que nessa “escola de Maria”, que é a mensagem de Fátima, os cinco primeiros sábados são como que o início de um percurso, no qual criamos um bom hábito capaz de nos educar para a conversão contínua. A confissão frequente, a comunhão com o Senhor na Eucaristia e a meditação do terço são instrumentos valiosos para a transformação do coração e devem ser cultivados por toda a vida. Mergulhados nesse compromisso com Deus, experimentamos o cumprimento da promessa de Nossa Senhora de “assistir-nos na hora da morte com todas as graças necessárias à nossa salvação”.
Vale a pena ainda considerar outro pormenor da devoção dos primeiros sábados. Entre as práticas pedidas por Nossa Senhora, está a de “fazer-lhe companhia” por quinze minutos, meditando nos mistérios do Rosário. Ora, quem pede companhia está garantindo sua presença. A meditação dos mistérios do Rosário no primeiro sábado significa que Nossa Senhora nos convida a compartilhar de sua intimidade e olhar, com seus olhos e seu coração, para o Cristo Jesus. Nesse breve tempo de meditação, Nossa Mãe Santíssima deseja comunicar ao nosso íntimo as luzes do seu próprio Coração a respeito do Mistério de Cristo. O Salvador nos ensina, no Evangelho de João, que a vida eterna consiste “em conhecer o único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo que Ele enviou” (Jo 17,3). Acompanhando-os na meditação do Rosário, Nossa Senhora abre nossos olhos para o conhecimento de Deus e para a vida que Ele tem para nós.
Por fim, a prática dos primeiros sábados é um convite à confissão e à comunhão. Não há caminho para Deus que não passe pelo conhecimento de si mesmo. E, se esse conhecimento é verdadeiro, manifesta-se na humilde confissão de nossos pecados. Nosso mundo, marcado pela vaidade, não é mais capaz de reconhecer o que é o pecado; por isso, o hábito da confissão sacramental tem se tornado distante para muitos. Não porque nos tornamos pessoas melhores, ou porque nos despimos dos preconceitos antigos e fomos revestidos de uma “inocência” liberal; mas porque nos tornamos orgulhosamente incapazes de reconhecer nossos pecados e nossa necessidade do perdão e da presença de Deus. Para tempos assim, o antídoto de Nossa Senhora é: confissão frequente; renovar a capacidade de examinar a nossa própria consciência diante de Deus. Desse modo, vamos experimentar aquela maravilhosa graça da qual nos fala o Salmo 50: o Senhor nos dará novamente “a alegria de ser salvos”. Essa alegria está reservada àqueles que abraçam, com humildade, sua condição de pecadores e, cheios de confiança, correm de volta para os braços de Deus.
O abraço salvador de Deus, nós o recebemos na Eucaristia. A mensagem de Fátima, desde as aparições do Anjo da Paz, é um convite à adoração e à comunhão. Cristo, nosso Senhor, é “o pão vivo descido do Céu”. Ele mesmo prometeu que “quem come a sua carne e bebe o seu sangue, permanece nele”. A vida de nossa alma, perdoada e renovada pela misericórdia de Deus, é Jesus Cristo. Ele não só deve ser o objeto dos olhares do nosso coração, mas também a inspiração e a causa de nossos atos e palavras. O convívio transformador com Cristo na Eucaristia tem o poder de realizar o mais precioso de todos os milagres — unir de tal modo a nossa vida à dele que possamos dizer, como Paulo: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).
A irmã Lúcia recebeu do Céu muitas palavras sobre a importância da prática dos primeiros sábados. Em 1926, o Senhor já se queixava de que “muitas almas os começam [os primeiros sábados], mas poucas os acabam; e, as que os terminam, é com o fim de receberem as graças aí prometidas”. Desse modo, Jesus manifesta que o grande, o único propósito da prática dos primeiros sábados deve ser o de desagravar o Imaculado Coração de Maria. A força dos primeiros sábados consiste exatamente nisso: que nos esqueçamos um pouco de nossas preocupações e intenções e nos dediquemos unicamente a suplantar com amor a ingratidão com que os homens retribuem o Mistério da Encarnação do Filho de Deus, simbolizado na pessoa de Maria Santíssima. Se revirmos as ofensas que devem ser desagravadas nos primeiros sábados, perceberemos que elas são mais praticadas hoje do que nunca. Apenas um grande mover de amor e de reparação pode nos capacitar para deter o avanço da fúria de Satanás contra os eleitos de Jesus Cristo.
Tuy: O pedido da consagração da Rússia
Após o início de sua vida religiosa em Pontevedra, onde recebeu a revelação dos cinco primeiros sábados, Lúcia chegou no dia 18 de julho de 1926 à cidade de Tuy, também na Espanha, para iniciar seu noviciado. Foi nesse convento, onde Lúcia fez sua profissão religiosa e permaneceu por longos anos, que Nossa Senhora cumpriu plenamente a promessa que fizera em julho de 1917, vindo pedir a consagração da Rússia ao seu Imaculado Coração. Essa visita de Nossa Senhora aconteceu na noite do dia 13 de junho de 1929. Vejamos o longo trecho em que a descreve a própria irmã Lúcia:
Eu tinha pedido e obtido licença das superioras e do confessor para fazer a Hora Santa das onze à meia-noite, de quintas para sextas-feiras. Estando uma noite só, ajoelhei-me entre a balaustrada, no meio da capela, a rezar, prostrada, as orações do anjo. Sentindo-me cansada, ergui-me e continuei a rezá-las com os braços em cruz. A única luz era a da lâmpada [do sacrário].
De repente, iluminou-se toda a capela com uma luz sobrenatural, e sobre o altar apareceu uma cruz de luz que chegava até o teto. Em uma luz mais clara, via-se, na parte superior da cruz, uma face de homem com corpo até a cinta. Sobre o peito uma pomba também de luz, e pregado na cruz, o corpo de outro homem. Um pouco abaixo da cinta, suspenso no ar, via-se um cálice e uma hóstia grande, sobre a qual caíam algumas gotas de sangue que corriam pelas faces do crucificado e duma ferida do peito. Escorregando pela hóstia, essas gotas caíam dentro do cálice.
Sob o braço direito da cruz estava Nossa Senhora (era Nossa Senhora de Fátima com seu Imaculado Coração… na mão esquerda… sem espada, nem rosas, mas com uma coroa de espinhos e chamas); sob o braço esquerdo, umas letras grandes, como se fossem de água cristalina que corresse para cima do altar, formavam estas palavras: Graça e Misericórdia.
Compreendi que me era mostrado o mistério da Santíssima Trindade e recebi luzes sobre esse mistério que não me é permitido revelar. Depois Nossa Senhora disse-me:
— É chegado o momento em que Deus pede para o Santo Padre fazer, em união com todos os bispos do mundo, a consagração da Rússia ao meu Imaculado Coração, prometendo salvá-la por esse meio. São tantas as almas que a justiça de Deus condena por pecados contra mim cometidos que venho pedir reparação: sacrifica-te por essa intenção e ora.
Tiveram início aí os muitos esforços da irmã Lúcia para que se cumprisse o pedido de Nossa Senhora. Como o mesmo demorasse a ser atendido, Lúcia ouviu muitas confidências de lamento da parte do Céu. Um dia, a Santíssima Virgem lhe disse:
— Não quiseram atender ao meu pedido!… Arrepender-se-ão, e farão a consagração, mas será tarde. A Rússia já terá espalhado os seus erros pelo mundo, provocando guerras, perseguições à Igreja: o Santo Padre terá muito que sofrer…
Em 1936, Lúcia queixou-se com Jesus, perguntando-lhe por que não convertia a Rússia sem que o papa fizesse a consagração. O Senhor lhe respondeu:
— Porque quero que toda a minha Igreja reconheça essa consagração como um triunfo do Coração Imaculado de Maria, para depois estender o seu culto, e pôr ao lado da devoção ao meu Divino Coração, a devoção desse Imaculado Coração.
De fato, o papa Leão XIII havia consagrado o mundo ao Sacratíssimo Coração de Jesus em 1900; faltava agora completar a glória do Filho pela glorificação da Mãe. Lúcia ainda argumentou que, sendo ela uma humilde religiosa, o Santo Padre não haveria de dar crédito a suas palavras se o próprio Deus não movesse seu coração com uma inspiração especial. A esse respeito, o Senhor lhe disse:
— Ora pelo Santo Padre; ele há de fazê-la [a consagração], mas será tarde. No entanto, o Imaculado Coração de Maria há de salvar a Rússia; ela lhe está confiada.
Em 1940, Lúcia escreveu ao papa Pio XII, pedindo a consagração da Rússia. Entre outras coisas, diz: “Santíssimo Padre, se é que na união de minha alma com Deus não sou enganada, Nosso Senhor promete, em atenção à consagração que os excelentíssimos prelados portugueses fizeram da nação ao Imaculado Coração de Maria, uma proteção especial à nossa pátria durante esta guerra. E que esta proteção será a prova das graças que concederia às outras nações se, como ela, se lhe tivessem consagrado.” De fato, a promessa foi cumprida e Portugal foi poupado do flagelo da guerra. Pio XII, por sua vez, consagrou o mundo em guerra ao Coração Imaculado de Maria no dia 31 de outubro e no dia 8 de dezembro de 1942. Em 1952, por meio de uma encíclica, renova a consagração do mundo, citando especialmente a Rússia. Também o beato Paulo VI, em 21 de novembro de 1964, faz uma sua consagração ao Coração de Maria. Contudo, a todos esses atos faltava um elemento do pedido de Nossa Senhora: que a consagração fosse feita pelo papa “em união com os bispos do mundo inteiro”.
A esse respeito, Lúcia consultou o Senhor. A resposta foi que a consagração deveria ser uma chamada à união de todos os cristãos — corpo místico de Cristo — cuja cabeça visível é o Papa, a quem o Senhor confiou as chaves do Reino dos Céus. Desta união depende a fé no mundo e a caridade, que é o laço que a todos nos deve unir em Cristo, como Ele pediu ao Pai: “Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, estás em mim e eu em ti…” (Jo 17,21-23). Portanto, o pedido de Nossa Senhora ainda não tinha sido realizado.
Ainda enquanto se restabelecia do atentado na Policlínica Gemelli, o papa João Paulo II compôs um “ato de entrega” do mundo ao Coração de Maria, em 7 de junho de 1981. No dia 8 de dezembro do mesmo ano, fez uma consagração, renovada na Cova da Iria em 13 de maio de 1982. Nessa ocasião, a irmã Lúcia entregou ao papa uma carta, na qual renovava o pedido da consagração como desejada por Nossa Senhora. Nesse mesmo ano, visitou a irmã Lúcia no Carmelo de Coimbra o núncio apostólico em Portugal, e ela informou-lhe que a consagração ainda não estava feita. Sua excelência transmitiu a informação ao papa. Somente no dia 25 de março de 1984, João Paulo II, diante da imagem de Nossa Senhora que se venera na Capelinha das Aparições, e que havia sido levada especialmente para Roma por essa ocasião, consagrou o mundo ao Imaculado Coração de Maria, em união com os bispos do mundo inteiro, previamente convidados a unirem-se a ele nesse ato. Como 1984 foi declarado “Ano Santo extraordinário”, o papa convidou os bispos para a celebração do seu jubileu, exatamente na data em que estava prevista a consagração. Estavam presentes em Roma 1.500 bispos de todo o mundo. Apesar de a referência à Rússia ter sido velada, por motivos claros, em agosto de 1989 a irmã Lúcia confirmou, por meio de uma carta, que a consagração havia sido feita, tal como Nossa Senhora a pedira. Toda a humanidade pôde ver os efeitos assombrosos desse gesto profético, a partir do qual teve início a ruína do comunismo totalitário e ateu no leste da Europa. Agora, confiando que também nas necessidades atuais deseja agir em nosso favor a Mãe de Misericórdia, unindo-nos à Igreja, com as palavras saídas do coração do Santo Padre, podemos renovar essa consagração:
“À vossa proteção nos acolhemos, Santa Mãe de Deus!” Ao pronunciar essas palavras da antífona com que a Igreja de Cristo reza há séculos, encontramo-nos hoje diante de vós, ó Mãe, no ano jubilar da nossa redenção. Estamos aqui unidos com todos os pastores da Igreja por um vínculo particular, pelo qual constituímos um corpo e um colégio, do mesmo modo que os Apóstolos, por vontade de Cristo, constituíram um corpo e um colégio com Pedro. No vínculo dessa unidade, pronunciamos as palavras do presente Ato, no qual desejamos incluir, uma vez mais, as esperanças e as angústias da Igreja pelo mundo contemporâneo. Há quarenta anos atrás, e depois ainda passados dez anos, o vosso servo o papa Pio XII, tendo diante dos olhos as dolorosas experiências da família humana, confiou e consagrou ao vosso Coração Imaculado todo o mundo, e especialmente os povos que, pela situação em que se encontram, são particular objeto do vosso amor e da vossa solicitude. É este mundo dos homens e das nações que nós temos diante dos olhos também hoje: o mundo do Segundo Milênio que está prestes a terminar, o mundo contemporâneo, o nosso mundo!
A Igreja, lembrada das palavras do Senhor: “Ide… e ensinai todas as nações… Eis que eu estou convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28,19-20), reavivou, no Concílio Vaticano II, a consciência da sua missão nesse mundo. Por isso, ó Mãe dos homens e dos povos, vós que conheceis todos os seus sofrimentos e as suas esperanças, vós que sentis maternalmente todas as lutas entre o bem e o mal, entre a luz e as trevas, que abalam o nosso mundo contemporâneo, acolhei o nosso clamor que, movidos pelo Espírito Santo, elevamos diretamente ao Vosso Coração; e abraçai, com o amor da Mãe e da Serva do Senhor, este nosso mundo humano, que vos confiamos e consagramos, cheios de inquietude pela sorte terrena e eterna dos homens e dos povos. De modo especial, vos entregamos e consagramos aqueles homens e aquelas nações, que desta entrega e desta consagração têm particularmente necessidade. “À vossa proteção nos acolhemos, Santa Mãe de Deus!” Não desprezeis as nossas súplicas que a vós elevamos, nós que estamos em provação!
Encontrando-nos hoje diante de vós, Mãe de Cristo, diante do vosso Coração Imaculado, desejamos, juntamente com toda a Igreja, unir-nos com a consagração que, por nosso amor, o vosso Filho fez de si mesmo ao Pai: “Por eles eu consagro-me a Mim mesmo — foram as suas palavras — para eles serem também consagrados na verdade” (Jo 17,19). Queremos unir-nos ao nosso Redentor, nesta consagração pelo mundo e pelos homens, a qual, no seu Coração divino, tem poder de alcançar o perdão e de conseguir a reparação. A força desta consagração permanece por todos os tempos e abrange todos os homens, os povos e as nações; e supera todo o mal, que o espírito das trevas é capaz de despertar no coração do homem e na sua história, e que, de fato, despertou nos nossos tempos. Oh! Quão profundamente sentimos a necessidade de consagração, pela humanidade e pelo mundo: pelo nosso mundo contemporâneo, em união com o próprio Cristo! Na realidade, a obra redentora de Cristo deve ser pelo mundo participada por meio da Igreja. Manifesta-o o presente Ano da Redenção, o jubileu extraordinário de toda a Igreja. Sede bendita, neste Ano Santo, acima de todas as criaturas, vós, serva do Senhor, que obedecestes da maneira mais plena ao chamamento divino! Sede louvada, vós que estais inteiramente unida à consagração redentora do vosso Filho! Mãe da Igreja! Iluminai o Povo de Deus nos caminhos da fé, da esperança e da caridade! Iluminai de modo especial os povos dos quais esperais a nossa consagração e a nossa entrega. Ajudai-nos a viver na verdade da consagração de Cristo pela inteira família humana do mundo contemporâneo.
Confiando-vos, ó Mãe, o mundo, todos os homens e todos os povos, nós vos confiamos também a própria consagração do mundo, depositando-a no vosso Coração materno. Oh, Coração Imaculado! Ajudai-nos a vencer a ameaça do mal que tão facilmente se enraíza nos corações dos homens de hoje e que, nos seus efeitos incomensuráveis, pesa já sobre a nossa época e parece fechar os caminhos do futuro! Da fome e da guerra, livrai-nos! Da guerra nuclear, de uma autodestruição incalculável e de toda espécie de guerra, livrai-nos! Dos pecados contra a vida do homem desde os seus primeiros instantes, livrai-nos! Do ódio e do aviltamento da dignidade dos filhos de Deus, livrai-nos! De todo gênero de injustiças na vida social, nacional e internacional, livrai-nos! Da facilidade em calcar aos pés os mandamentos de Deus, livrai--nos! Da tentativa de ofuscar nos corações humanos a própria verdade de Deus, livrai--nos! Da perda da consciência do bem e do mal, livrai-nos! Dos pecados contra o Espírito Santo, livrai-nos, livrai-nos! Acolhei, ó Mãe de Cristo, este clamor carregado de sofrimento de todos os homens! Carregado do sofrimento de sociedades inteiras! Ajudai-nos, com a força do Espírito Santo, a vencer todos os pecados: o pecado do homem e o pecado “do mundo”, enfim, o pecado em todas as suas manifestações. Que se revele, uma vez mais, na história do mundo, a infinita potência salvífica da Redenção: a força infinita do Amor Misericordioso! Que ele detenha o mal! Que ele transforme as consciências! Que se manifeste para todos, no Vosso Coração Imaculado, a luz da Esperança! Amém!