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Esperança em tempos difíceis

A rota de fuga

Tu és o meu refúgio e o meu escudo;
espero na tua palavra.

Sal 119, 114

Apesar de ter mirado a glória, São Paulo sabia que teria que sofrer muito enquanto estivesse «na carne» (Gal 2,20) e que iria morrer (cf. Fil 1,23).

Para aqueles de nós que não compartilham dos dons teológicos de São Paulo, o sofrimento e a morte são mistérios profundos. Sabemos que entraram no mundo por causa dos pecados (Rom 5,12). Mas também acreditamos que Cristo nos libertou do poder do pecado e da morte (Rom 8,2).

Se isso é verdade, por que ainda devemos sofrer com perdas e morte?

Paulo sabia que até Jesus Cristo tinha sofrido, não como um substituto de uma humanidade pecaminosa, mas como nosso representante. Assim, a Paixão salvadora de Cristo não nos isentou de sofrer, mas em vez disso dotou nosso sofrimento de poder divino e valor de redenção.

São Paulo até mesmo se «alegrava» com seus problemas:

Gloriamo-nos até das tribulações. Pois sabemos que a tribulação produz a paciência, a paciência prova a fidelidade e a fidelidade, comprovada, produz a esperança. E a esperança não engana. Porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.

(Rom 5,3-5)

A própria Vida desce para fazer-se matar; o Pão desce para ter fome; o Caminho desce para cansar-se da caminhada; a Fonte desce para ter sede; e tu te recusas a sofrer?

SANTO AGOSTINHO DE HIPONA

São Paulo nos deu a chave para o sofrimento: «Tenho para mim que os sofrimentos da presente vida não têm proporção alguma com a glória futura que nos deve ser manifestada» (Rom 8,18).

Pelo Espírito de Deus, somos filhos de Deus – «filhos no Filho», para usar a expressão clássica dos Padres da Igreja. E Deus dá para seus filhos tudo o que tem, e até mesmo compartilha com eles a sua natureza divina (cf. 2Pe 1,4). Mas Ele não poupa seu Filho de sofrer. O sofrimento era central para a missão de Jesus como redentor. E também está incluso na nossa participação na sua vida e na sua missão.

Assim, o sofrimento não é um componente opcional da vida cristã. Lembre-se de quando Paulo nos disse: Somos filhos de Deus e também herdeiros, herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo, contanto que soframos com ele, para que também com ele sejamos glorificados (Rom 8,16-17; grifo nosso). Sem sofrimento, sem glória.

Mas conseguimos aguentar o sofrimento, porque não passa de uma bobagem se comparado à felicidade para que nos prepara. Conseguimos aguentar porque Deus está do nosso lado.

A única fuga real

O que não conseguimos fazer é aguentar por conta própria. Precisamos de ajuda.

Portanto, quem pensa estar de pé veja que não caia. Não vos sobreveio tentação alguma que ultrapassasse as forças humanas. Deus é fiel: não permitirá que sejais tentados além das vossas forças, mas com a tentação ele vos dará os meios de suportá-la e sairdes dela.

(1Cor 10,12-13)

Ora, essa saída não significa que conseguimos nos livrar das dificuldades. Não, nossa rota de fuga nos leva através do fogo. É por isso que Paulo diz que Deus não permitirá que sejais tentados além das vossas forças, mas com a tentação ele vos dará os meios de suportá-la e sairdes dela. Seja lá o que estiver nos incomodando, temos que aguentar. Temos que sofrer a tentação, a perda, a dor – e lidar com isso.

Mas Deus promete que nós conseguiremos lidar com isso – quando aprendermos como somos fracos e desamparados.

Não conseguimos lidar com isso por conta própria. Mas se estivermos dispostos a nos apoiar em Deus – o que muitas vezes não conseguimos aprender a fazer até todos nossos outros recursos terem sido tirados de nós –, aí Deus vai nos levar através da escuridão até a luz. Ele vai nos dar a rota de fuga.

E essa rota é através dos sacramentos.

Os sacramentos nos unificam com Cristo. Fazem dos nossos próprios sofrimentos uma parte do sofrimento de Cristo.

O próprio Paulo faz essa conexão. Depois de prometer a seus leitores «a rota de fuga», imediatamente, nos próximos versículos, já traça o mapa para eles. Insiste em que evitem a adoração dos ídolos e a substituam pela adoração verdadeira – o culto Eucarístico –, e essa é a rota de fuga!

O cálice de bênção, que benzemos, não é a comunhão do sangue de Cristo? E o pão, que partimos, não é a comunhão do corpo de Cristo? (1Cor 10,16). Quando comemos o pão e bebemos o vinho, o Corpo e o Sangue de Cristo se tornam nossos. E então temos forças para suportar o que Cristo suportou.

Suportamos nossas próprias dificuldades, por maiores que possam ser, porque recebemos o Corpo que suportou a pior dificuldade de todos os tempos.

Deus é fiel, diz São Paulo, e Ele nos dará a rota de fuga.

Estou pregado à cruz de Cristo. Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim. A minha vida presente, na carne, eu a vivo na fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim.

(Gal 2,19-20)

E é por isso que há grande diferença entre a rota de Deus e a rota do mundo.

O mundo também nos oferece meios de fuga. Vários meios de fuga, na verdade. E todos prometem que não vamos mais ter que sofrer.

Álcool, sexo, drogas: é tão fácil vê-los como nossas rotas de fuga. Eles fazem a dor ir embora. Fazem a gente se sentir bem de novo. Pelo menos por um tempo.

Sem a Sagrada Eucaristia não haveria felicidade neste mundo; a vida seria insuportável.

SÃO JOÃO MARIA VIANNEY

Por outro lado, a Igreja só nos promete que vamos ter que passar pela dor, mas que teremos forças para suportá-la.

Não parece um negócio muito bom.

E não seria mesmo, se não soubéssemos para o que servem os tempos difíceis. Tempos difíceis nos deixam mais perto de Deus; nos deixam mais parecidos com seu Filho. As rotas substitutas que o mundo nos oferece não fazem isso. Elas nos deixam ir alegremente para o caminho da perdição, afastando-nos de Deus, até que nada consiga nos trazer de volta.

* * *

Lembre-se:

Os sacramentos dão a rota de fuga dos nossos problemas.

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