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    • Tempestades e Calmarias: a História de Tiago e João
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Capítulo 3

CORAGEM E DETERMINAÇÃO

A noite estava adiantada. Tiago percebeu que um dos guardas havia se retirado, enquanto o outro permanecia vigilante em frente à porta da cela. Caminhou até a porta, e pediu ao carcereiro que lhes trouxesse um pouco de água. O guarda saiu e voltou com um vasilhame feito de pedra e barro, espécie de cantil, contendo água. Entregou-o a Tiago, que bebeu e depois partilhou com seus companheiros. Em seguida, Tiago pediu ao guarda que lhes trouxesse mais água, a fim de que pudessem lavar as feridas de Pedro e João. O guarda imediatamente concordou com o seu pedido. O gesto amigável do carcereiro encorajou-o a perguntar-lhe como se chamava.

– Jasão, respondeu ele, enquanto entregava o vasilhame com água a Tiago. Sou levita, natural de Nazaré na Galileia, mas há muito tempo mudei-me para Jerusalém, a fim de fazer parte da polícia do Templo.1 A verdade é que não gosto muito de exercer esta função, mas nestes tempos difíceis não podemos fazer muitas escolhas.

Ao escutar o guarda dizer que era de Nazaré, Tiago perguntou-lhe se já ouvira falar em Jesus.

– Sim, respondeu Jasão. Ele foi crucificado pelos romanos, pois pretendia ser o rei dos judeus. Soube que ele era de Nazaré e sempre que ia por lá escutava falar sobre as maravilhas que realizava no meio do povo. Mas era difícil para nós acreditarmos nele (cf. Mc 6,1-6). Seu pai era carpinteiro e chamava-se José. Sua mãe chamava-se Maria, e quando eu era criança costumava brincar com alguns de seus parentes. Mas dele mesmo não me recordo muito bem, pois saí da cidade muito cedo para trabalhar em Jerusalém. Só agora fiquei sabendo sobre o que lhe aconteceu. Vocês o conheceram? – perguntou o guarda, demonstrando interesse sobre o que conversavam.

– Nós estamos presos exatamente por causa de Jesus – respondeu Tiago. E com muitas palavras ele e seus companheiros começaram então a anunciar ao carcereiro que Jesus era o Messias e que Deus o havia ressuscitado dos mortos. E acrescentaram:

– Pois não há, debaixo do céu, outro nome dado aos homens pelo qual devamos ser salvos (At 4, 12).

Ao ouvir essas palavras, o guarda ficou bastante impressionado e perguntou:

– Senhores, o que devo fazer para ser salvo?

Tiago então respondeu:

– Acredite no Senhor Jesus, e serão salvos você e todos os de sua casa.

No mesmo instante, Jasão pediu para ser batizado, ele e toda a sua família, no nome de Jesus. Os apóstolos lhe prometeram que o fariam logo que saíssem da prisão. Simão, o Zelota, então, convidou todos para rezar e cantar um hino de louvor a Deus (cf. At 16,25). Enquanto oravam, Tiago agradeceu a Deus pela amizade de Simão, que lhe era preciosa.

Ele conhecia Simão desde a época em que viajava com seu pai e mais dois empregados à casa do Zelota, no vale do Jordão. Zebedeu e Tiago costumavam comprar dele o linho que era usado na confecção das redes de pesca, pois o linho produzido na Galileia era mais caro e de qualidade inferior. Simão possuía, juntamente com seus irmãos, uma pequena indústria de linho nas imediações de Jericó. Sempre que para ali viajavam, Tiago e seu pai hospedavam-se na casa de Simão.

Simão era conhecido como o Zelota,2 pois, alguns anos antes, havia feito parte de um grupo liderado por Judas, o Galileu,3 e pelo fariseu Sadoc, que resistiram fortemente à pretensão dos romanos em aumentar a tributação sobre os povos dominados.

Logo depois de depor Arquelau, filho de Herodes Magno, no ano 6 a.C., os romanos encarregaram Quirino, legado da Síria, juntamente com Copônio, o novo prefeito romano, de realizar um censo de toda a população da nova província, para fazer um levantamento do montante da receita que podia ser arrecadada no território. Para Judas, o Galileu, essa política adotada pelo Império Romano, de fazer o senso demográfico, era uma medida expressamente proibida e condenada pela lei judaica (cf. 2Sm 24), pois feria os direitos mais elementares do povo judeu em usufruir os bens da terra, que era uma dádiva de Deus em benefício do seu povo. Significava, portanto, escravidão para os judeus, que deviam lutar pela sua libertação, pois formavam o povo escolhido de Deus. Além disso, reconhecer o imperador, considerado divino no Oriente grego, como seu senhor, pagando-lhe impostos, significava infringir o primeiro mandamento da Lei, que prescrevia honrar somente a Deus. Por causa de seu zelo pela Lei, os partidários do movimento liderado por Judas passaram, então, a ser conhecidos como “zelosos” (em grego zelotas). Esse termo tinha não só um componente nacionalista, mas também um forte sentimento religioso, pois eram considerados zelotas os judeus profundamente zelosos na prática da Lei mosaica e que, em alguns casos, chegavam a usar de hostilidade, violência e até mesmo de assassinato para separar Israel dos gentios, considerados imorais e idólatras.

Muitos jovens idealistas se engajaram no movimento liderado por Judas e Sadoc, inclusive Simão, que se dedicou com empenho à campanha para que o povo se negasse a pagar impostos à potência estrangeira. Apesar de não violento, pois não pregava a revolta armada, esse movimento foi fortemente reprimido pelos romanos (cf. At 5,37). Depois da morte de Judas, seus adeptos se dispersaram e Simão fugiu para Alexandria. Ali permaneceu até que, depois de alguns anos, voltou para Jericó, onde assumiu a pequena indústria de linho deixada como herança por seu pai.

Certa vez, quando Tiago e Zebedeu chegaram a Jericó, os agricultores tinham terminado a colheita do linho que havia sido semeado no inverno. Costumava-se arrancar as plantas com a mão, com raiz e tudo, e as hastes eram colocadas para secar nos tetos das casas. No terraço da casa de Simão havia grande quantidade de feixes de linho empilhados (cf. Js 2,6). Depois, eles eram comercializados para a fabricação de tecidos, sobretudo do bad, as vestes sacerdotais. Tiago costumava conversar com Simão sobre os acontecimentos daquela época em que Judas, o Galileu, se rebelara contra a cobrança do imposto romano. Ele sabia que, apesar de rechaçados pelos romanos, os ideais de Judas continuavam a inspirar muitos de seus correligionários, que resistiam à dominação estrangeira.4 Em Jericó, aproveitavam também para se informar sobre os últimos acontecimentos em Jerusalém, que naquele ano se referiam à nomeação de Caifás, pelos romanos, como sumo sacerdote.5

A nomeação do sumo sacerdote era uma notícia que interessava grandemente a Tiago e a seu pai Zebedeu, bem como a todos os judeus. Nesse período em que não havia mais rei, e sendo Israel uma teocracia,6 a importância do sumo sacerdote tinha aumentado consideravelmente. Enquanto chefe do Sinédrio, o sumo sacerdote representava o povo judeu diante dos romanos. Esse papel de chefe do sumo sacerdote repousava no caráter de natureza cultual, a “santidade eterna”, que lhe permitia, e só a ele entre os mortais, a entrada, uma vez por ano, na parte mais sagrada do Templo, o Santo dos santos, para cumprir a expiação pela comunidade (cf. Ex 30,10; Lv 16). Esse caráter, oriundo de sua função, era-lhe conferido pela investidura,7 a tradição dos paramentos pontificais compostos de oito peças.8 Tal veste constituía para os judeus um símbolo da sua religião, pois cada uma das oito peças expiava determinados pecados, sendo que o diadema de ouro expiava a impureza do sangue da vítima e a impureza do fiel, quando ele oferecia a vítima como sacrifício.

O sol já percorrera o seu caminho costumeiro, desde o nascente em direção ao poente, e do alto do céu aquecia a terra com seu calor abrasador. Enquanto os dois servos carregavam as mercadorias de linho nos dorsos dos asnos, os três amigos, sentados à sombra de uma figueira verdejante, entretinham-se a conversar sobre o ocorrido em Jerusalém.

– Mais uma vez, como é costume acontecer após uma investidura, os romanos guardaram as vestes do sumo sacerdote na fortaleza Antônia,9 disse Simão com tristeza.

– Penso que eles assim o fazem, por considerar esse um meio eficaz de nos manter sob seu domínio, preservando-se de alguma rebelião ou agitação, acrescentou Zebedeu.

– Isso tem ocorrido desde a época de Herodes Magno; e, apesar da luta renhida das nossas autoridades para reavê-las, eles apenas as devolvem para uso do sumo pontífice nos dias de festa,10 retrucou Simão manifestando certa revolta.

– Certamente Caifás, tendo sido escolhido pelos romanos, deverá ser um completo aliado deles, como foram seus antecessores, concluiu Zebedeu.

Tiago escutava a conversa em silêncio, mas sentia-se tomado por um acesso de raiva. Parecia-lhe que a aversão que nutria pelos romanos havia aumentado consideravelmente dentro dele. Como tinha um temperamento explosivo, experimentava grande indignação quando confrontado com qualquer situação de injustiça. Isso aconteceu certa vez, quando ele ainda era adolescente.

Naquela ocasião, encontrava-se na praia com Zebedeu, consertando as redes, quando soube que uma jovem chamada Lia estava sendo arrastada para fora da cidade, para ser apedrejada. Lia tinha sido prometida em casamento por seu pai a um de seus parentes, a quem ela não amava. Até a idade de doze anos e meio, uma jovem não tinha direito de recusar o casamento decidido pelo genitor; por isso, ela teria de casar-se com seu primo, mesmo contra a sua vontade.11 Durante o período do noivado, que durava cerca de um ano, concebeu um filho de outro jovem com quem desejava se casar, e cuja identidade jamais foi conhecida ou revelada. Naquele tempo, o noivado consistia num verdadeiro compromisso e seus efeitos jurídicos equivaliam aos do matrimônio. Sendo assim, de acordo com a Lei, ela havia cometido adultério. Diferentemente do divórcio, que era tratado como assunto privado e integrava a lei familiar – já que o marido tinha o direito de agir independentemente da comunidade, e a cerimônia para terminar um casamento realizava-se privadamente no lar –, o adultério era tido como crime, e não assunto particular. Considerado não apenas como ofensa pessoal, mas também como desordem social, sua execução era assumida pelo Estado, e não pelo marido injuriado. Por isso, de acordo com a Lei (cf. Dt 22,22-27; Lv 20,10), Lia deveria ser condenada à morte.12

Seu noivo, sentindo-se traído e ofendido, formalizou uma denúncia contra ela num tribunal que havia em Betsaida, e que também se chamava sinédrio; pois aí os problemas eram julgados conforme a jurisprudência fixada pelo grande Sinédrio de Jerusalém. Alguns doutores da Lei, ordenados para a jurisprudência como juízes, foram designados para julgar o caso. O processo a que Lia foi submetida foi longo e cheio de formalidades. Só após o nascimento de seu filho, e depois de ele ter sido desmamado, é que ela foi julgada. Porém, não obstante o empenho de seus defensores, não conseguiu escapar à pena de morte. Seus acusadores conseguiram provar que ela havia traído seu noivo na cidade e não no campo, já que, quando ela concebeu o filho, não era tempo do plantio ou das colheitas (cf. Dt 22,25-27). E com o auxílio de duas testemunhas, conseguiram também provar que seu noivo não era o pai da criança, pois, durante aquele período, ele estava ausente da cidade.

Ao saber do que estava acontecendo, Tiago dirigiu-se ao local onde a jovem seria executada. Sentia-se revoltado pela injustiça que, segundo ele, os notáveis da cidade estavam prestes a cometer.

Quando ali chegou, colocou-se diante dos carrascos de Lia que já pegavam em pedras para atirar nela, e, cheio de indignação, dirigiu-lhes um discurso inflamado:

– Homens de Israel, por acaso vocês não percebem a grande injustiça que estão prestes a realizar? Pois, se a Lei manda apedrejar esta mulher que cometeu este delito, também manda apedrejar o homem que foi conivente com ela. Vocês, porém, estão agindo com dois pesos e duas medidas, e isso é abominável diante de Deus. Se não conseguem fazer como manda a Lei, não estarão por acaso incorrendo num grave erro? Além disso, vocês que têm o dever de julgar os outros, não devem ser benevolentes para com eles, já que são capazes de cometer as mesmas faltas?

Tiago falava com tanta convicção e seus argumentos eram tão convincentes que nenhum dos acusadores de Lia teve coragem de levar adiante o que tinham se proposto. Ela acabou sendo perdoada, escapando de sofrer uma morte cruel e desumana. Esse fato jamais foi esquecido na cidade e, durante muito tempo, todos louvaram Tiago pela sua coragem e determinação em defender a causa dos oprimidos e injustiçados.

Quando, alguns anos mais tarde, Tiago vivenciou um acontecimento semelhante, compreendeu o quanto o coração de Jesus de Nazaré era cheio de misericórdia, sabedoria e compaixão.

Havia em Jerusalém uma mulher chamada Dina, que tinha se casado com um rico comerciante da cidade. Ela era uma mulher muito bonita, porém, infeliz no casamento. Seu marido costumava tratá-la mal, já que possuía mais duas esposas, a quem demonstrava preferir. Além de se sentir rejeitada pelo marido, Dina tinha de tolerar a presença das duas concubinas. Naquele tempo, a poligamia era permitida, mas por questões pecuniárias, a posse de mais de uma esposa não era frequente. Em Jerusalém, porém, ao contrário do que acontecia no restante do país, encontravam-se alguns desses casos.13

Um dia, Dina encontrou um homem que, tendo recentemente se divorciado de sua primeira esposa, lhe propôs casamento. Ela o amava, mas não tinha o direito de requerer a anulação jurídica do seu matrimônio, pois o direito de divórcio achava-se exclusivamente do lado do homem. Em hipótese alguma uma mulher podia tomar a iniciativa de separar-se de seu cônjuge, a não ser em casos muito raros.14 Já que o marido de Dina não desejava divorciar-se dela, ela estava destinada a passar o resto da sua vida ao lado de um homem que a maltratava e a quem não amava.

Diante dessa realidade, Dina resolveu levar uma vida dupla. Encontrava-se às escondidas com o homem a quem amava, apesar de saber que, perante a Lei, estava cometendo um grave delito. Seu marido, desconfiando de que ela o traía, resolveu armar um flagrante contra ela. Certo dia, Dina foi surpreendida e presa, enquanto o seu cúmplice, como sempre acontecia em casos semelhantes, conseguiu escapar.

Naquele tempo, a execução da lei que prescrevia o apedrejamento para os delitos de adultério era bastante problemática. A maioria dos escribas, muitas vezes, considerava que a pena de morte para o adultério era um excesso para um ilícito que, na verdade, só interessava aos cônjuges, e nunca ao Estado ou à comunidade. Por isso, casos de condenação por adultério eram raríssimos, e em geral costumava-se lidar com eles fora do quadro da Lei. Por outro lado, com receio de contradizer a Lei de Moisés, os doutores da Lei esquivavam-se de dar qualquer parecer sobre o assunto.

Depois que Dina foi presa, alguns escribas e fariseus resolveram, então, levá-la até Jesus, pois pretendiam armar uma cilada contra ele.

Naquela ocasião, antes do nascer do sol, Jesus encontrava-se na esplanada do Templo, pregando ao povo, que, sentado ao seu redor, o escutava (cf. Jo 8,1-11). Alguns de seus discípulos também estavam presentes. Quando os escribas e fariseus trouxeram Dina e a colocaram diante de Jesus, Tiago logo percebeu do que se tratava e ficou bastante apreensivo. Eles dirigiram-se a Jesus e o interrogaram:

– Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante delito de adultério. Na Lei, Moisés nos ordena apedrejar tais mulheres. Tu, pois, que dizes? (Jo 8,4-5).

A intenção deles era a de que Jesus se pronunciasse publicamente sobre esse assunto, a fim de acusá-lo. Pois, se Jesus desse um parecer favorável à aplicação da Lei, estaria contradizendo a sua prática de mestre hassídico,15 misericordioso e compassivo para com os pecadores. Se desse um parecer contrário, estaria contradizendo a Lei e assumindo uma posição comprometedora. E, ainda, caso se recusasse a dar qualquer opinião, estaria negando a sua condição de Mestre da vida, cuja função principal era a de interpretar e esclarecer com sabedoria os pontos controvertidos da Torah.16 De todas as maneiras, Tiago compreendeu que seria muito difícil para Jesus escapar da cilada que lhe haviam preparado.

Jesus, porém, ao invés de responder à pergunta que lhe haviam dirigido, inclinou-se e começou a escrever alguns rabiscos na terra. A princípio, Tiago não entendeu o que ele escrevia, mas aos poucos foi compreendendo que ele estava tentando fazer os acusadores da mulher refletir sobre sua própria condição de pecadores. Pois Jesus escrevia uma lista de pecados, ajudando seus opositores a fazer um exame de consciência. Embora eles não tivessem cometido todos os pecados elencados por Jesus, certamente alguns eles tinham cometido. Os escribas e fariseus, porém, continuaram insistindo, até que, finalmente, Jesus ergueu-se e lhes disse claramente:

Quem dentre vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra! (Jo 8,7)

E inclinando-se de novo, continuou escrevendo no chão.

Tiago compreendeu que, com essas palavras, Jesus queria dizer que jamais devemos nos exceder nos nossos julgamentos, pois a verdadeira justiça supõe benevolência e compaixão. Pois, com o julgamento com que julgamos os outros, seremos julgados, e com a medida com que medimos os outros, seremos medidos (cf. Mt 7,1-5).

Depois que os acusadores de Dina se retiraram um após outro, a começar pelos mais velhos, Tiago aproximou-se dela e ajudou-a a levantar-se. Seu semblante, agora descontraído, transmitia paz e serenidade. Seu olhar confiante dirigia-se a Jesus expressando gratidão, pois se sentia inteiramente amada e acolhida por ele, tal como de fato era. Esboçava um sorriso de felicidade e aguardava com alívio as palavras de Jesus. Este, erguendo-se, lhe disse com ternura e afeto:

“Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?”. Disse ela: “Ninguém, Senhor”. Disse, então, Jesus: “Nem eu te condeno. Vai, e de agora em diante não peques mais” (Jo 8,10-11).

Finalmente o marido de Dina lhe concedeu o divórcio, e ela pôde voltar para a casa de seu pai. Pouco tempo depois, tornou-se discípula de Jesus e o seguiu pelas estradas da Galileia e da Judeia, até a cruz (cf. Mc 15,40-41; Mt 27,55-56); vindo, em seguida, a ser testemunha da sua ressurreição, até os últimos dias da sua vida.



1 Os levitas, descendentes de Levi, um dos doze patriarcas das tribos de Israel, eram inferiores aos sacerdotes e não participavam do serviço sacrifical. Eram encarregados somente da música do Templo e dos serviços anexos ao culto, entre eles o de porteiros e sacristãos. Constituíam também a polícia do Templo. Essa polícia era chamada para diversas operações policiais. Sob as ordens dos vigilantes do Templo, tinha autoridade para prender e, sob a orientação do guarda, levava à execução as penalidades infligidas. De acordo com Mc 14,43 par e Jo 18,18, Jesus foi preso por essa polícia do Templo.

2 O termo aramaico quan’ana (zeloso), em grego zelôtês (zelota), aqui é usado em sentido largo, e não designa os membros do movimento revolucionário zelote, que surgiu muito mais tarde, durante o inverno de 67 para 68 d.C., em Jerusalém, na primeira Guerra Judaica.

3 Não confundir com Judas Iscariotes, que mais tarde foi discípulo de Jesus, e tido como aquele que o traiu.

4 Depois da morte de Judas, a resistência foi conduzida adiante por sua família. De acordo com o historiador Flávio Josefo, dois de seus filhos, chamados Tiago e Simão, foram crucificados sob o procurador Tibério Alexandre em 46-48 d.C. (cf. Antiguidades 20.100-3; Guerra Judaica 2.220). Na Guerra Judaica contra os romanos (66-70 d.C.), alguns netos de Judas assumiram posições de comando. Entre eles se conta o defensor de Massada, que só foi conquistada pelos romanos em 74 d.C.

5 Caifás foi sumo sacerdote de 18 a 36 d.C.

6 Governo em que o poder reside na classe sacerdotal.

7 Na época herodiana e romana, a unção com óleo prescrita pela Lei (cf. Ex 29,7; 30,22-33) deixara de vigorar, e a consagração do sumo sacerdote era feita por investidura, isto é, pela imposição das quatro partes da veste do sumo sacerdote.

8 Compunham-se das quatro peças da vestimenta dos sacerdotes: túnica de bisso, calção de bisso, turbante, cinto e, além dessas, quatro peças particulares: peitoral, o efó (larga faixa de fazenda munida de alças), a túnica de baixo com capuz e o diadema de ouro colocado sobre o turbante (cf. J. JEREMIAS, Jerusalém no tempo de Jesus, São Paulo, Paulus, 1983, p. 208).

9 Situada ao norte do Templo, a fortaleza Antônia foi reformada por Herodes Magno e chamada por ele com esse nome, em homenagem ao seu protetor de então, o general romano Marco Antônio. Sob os procuradores romanos, havia sempre na Antônia uma guarnição romana que devia vigiar a esplanada do Templo.

10 A luta religiosa e tenaz dos judeus para recuperarem a guarda das vestes do sumo sacerdote só terminou quando o imperador romano, Cláudio, restituiu-as definitivamente através de um decreto assinado do próprio punho com a data de 28 de junho de 45 d.C.

11 Cf. JEREMIAS, op. cit., p. 479.

12 Na Palestina dominada pelos romanos, bem como em todo o Império, os tribunais locais não tinham a jurisdição de executar sentenças de morte, dever que os romanos se reservavam a si mesmos. Mas essa questão é controvertida. Parece que a administração romana, às vezes, fechava os olhos. Em alguns casos, como o de Estêvão (At 7,54-60) e o da mulher adúltera (Jo 8,1-11), isso ocorria mais na linha do linchamento do que de sentenças legítimas de morte (cf. J. E. STAMBAUGH; D. L. BALCH, O Novo Testamento em seu ambiente social, São Paulo, Paulus, 1996, p. 27-28).

13 Ibidem, p. 486.

14 A mulher podia exigir o divórcio apenas se o marido a obrigasse a cumprir compromissos abusivos à sua dignidade, se ele fosse atacado de lepra ou de pólipos, ou se exercesse uma destas três profissões consideradas desprezíveis: coletor de excremento de cães, fundidor de cobre e curtidor de peles (cf. JEREMIAS, op. cit., p. 409-410).

15 Esta palavra é derivada de “hassidim” (os piedosos), um grupo religioso judaico que apoiou a revolta dos macabeus (entre 168 e 142 a.C.) contra a forçada helenização da religião judaica e estava na origem de movimentos como o dos fariseus e o dos essênios. Desiludidos com as intermináveis e cruéis lutas políticas, os hassidim esperavam o rei-Messias e mantinham uma vida de exigente aperfeiçoamento humano. Na época de Jesus, havia dois hassides famosos, que tinham comportamentos, em mais de um aspecto, parecidos com os dele. Seus nomes eram Honi (em grego: Onias) e Hanina ben Dosa. Esses hassides eram muito populares, não só por serem milagreiros, mas também, em primeiro lugar, por sua santidade de vida e delicadeza no trato com os outros. Eram moderados, amigos da paz, bondosos e atentos para todos. O povo os comparava com Elias e Abraão, Moisés, Davi e Jeremias.

16 Embora Jesus fosse tratado de rabi pelas pessoas, elas não o confundiam com os intérpretes da Lei ou com os escribas que trabalhavam a serviço da hierarquia sacerdotal do Templo. Ele ensinava com autoridade própria, e nunca empregava a terminologia tradicional dos rabinos: “Assim diz a Torá”.

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