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Capítulo 6
À PROCURA DO MESSIAS
A intervenção de um fariseu chamado Gamaliel,1 doutor da Lei, e muito estimado pelo povo, salvou a vida dos apóstolos (cf. At 5,34-39). Ele ordenou que os acusados saíssem por alguns instantes. Pedro, Tiago, João e Simão, o Zelota, foram levados para uma sala ao lado. De onde se encontravam, não podiam escutar o que se dizia no local onde o Sinédrio estava reunido. João, porém, como estava próximo à porta, distinguiu claramente algumas palavras pronunciadas por Gamaliel: “Algum tempo atrás apareceu Teudas, que se fazia passar por uma pessoa importante, e a ele se juntaram cerca de quatrocentos homens... No tempo do recenseamento, apareceu Judas, o Galileu, que arrastou o povo atrás de si.”
Estaria Gamaliel comparando a atuação de Jesus com a dos falsos messias e profetas? Estaria se referindo ao poder de atração que esses líderes exerciam sobre o povo? João, então, logo se lembrou de que, naquela época, ele mesmo e muitos outros estavam à procura do Messias.
Para a grande maioria do povo judeu, havia uma esperança viva a respeito da aparição próxima do Messias, o Ungido de Deus. A palavra “messias” provém do termo hebraico mashiah, que significa “ungido”. Seu equivalente grego é “cristo” (christos). Em Israel, o sentido da unção feita com azeite era comunicar à pessoa ungida qualidades sobre-humanas, que a colocavam acima das outras. A unção fazia parte do rito de coroação dos reis (cf. 2Sm 2,21; 14,2). A ideia de Messias estava, portanto, ligada à vinda de um personagem régio, que seria sinal de salvação para o povo, num momento de crise insuperável para as forças humanas. Acreditava-se que Deus faria surgir um rei ungido, segundo o exemplo de Davi, para libertar Israel de seus opressores, levando-o a uma vida de esplendor glorioso. Os judeus lembravam-se, sobretudo, da promessa comunicada pelo profeta Natã à estirpe de Davi. Deus não retiraria sua graça dos descendentes de Davi, mas tornaria estáveis sua casa e sua realeza, confirmando seu trono para sempre (cf. 2Sm 7,12-16).
Além dessa opinião dominante, havia outras versões a respeito do enviado de Deus. Para a comunidade de Qumrã, constituída por judeus piedosos conhecidos como essênios, e que vivia às margens do mar Morto, o Messias seria um sacerdote escatológico, que reuniria o povo liberto da impureza e do pecado. Outros acreditavam que ele seria o verdadeiro profeta ou o Moisés redivivo. Os que abraçavam as ideias apocalípticas esperavam o Messias como Filho do Homem, um personagem sobrenatural, que haveria de descer do céu nos últimos dias para realizar o julgamento final e conduzir os justos à felicidade eterna. A ideia de um Messias vivenciada e cultivada pelos movimentos revolucionários populares também estava presente no meio do povo. Apesar da diversidade das versões sobre o Messias, todas elas tinham em comum a aparição do Ungido de Deus como rei e juiz, que poria termo à humilhação de Israel, expulsando os pagãos e inaugurando o reino da glória.
Essa expectativa contribuía para que muitas pessoas estivessem dispostas a abandonar suas casas para seguir um profeta no deserto; a levantar-se em rebelião contra seus opressores judeus e romanos; ou a fugir para as montanhas juntando-se a algum bando de salteadores. Para isso, bastava ser dado o sinal por alguém que se fazia passar por “rei”. Constantemente surgiam indivíduos cujos seguidores queriam ver neles o Messias. Havia, portanto, uma grande procura por um líder carismático, que haveria de cumprir todas as promessas messiânicas.
João, então, recordou que, certo dia, ele e André haviam ido a Jericó, à casa de Simão, o Zelota, para adquirir o linho que seria usado no conserto e confecção das redes de pesca.
Quando ali chegaram, a mulher de Simão os informou que este havia partido para o deserto, do outro lado do rio Jordão, tornando-se discípulo de um profeta que pregava a vinda iminente do julgamento de Deus.
Ao saber desta notícia, João e André partiram imediatamente ao encontro desse profeta, que se chamava João Batista, pois o deserto exercia um grande fascínio sobre todos aqueles que aguardavam a chegada do Messias. Várias pessoas, convencidas da atuação e do poder de Deus, seguiam seus líderes no deserto. Acreditavam que ali era o local onde Deus haveria de manifestar sinais e prodígios, como os que haviam ocorrido nos grandes atos de libertação, na história da formação do povo de Israel. Através do deserto, Deus conduziu o seu povo e afugentou todos os seus inimigos. Antes de se tornar rei, Davi vivia como chefe de bandidos no deserto, dificultando a vida do rei Saul. Os israelitas piedosos do deserto se levantaram em guerra contra a dominação dos sírios e conseguiram derrotá-los. O deserto se tornou um marco de iniciação para o profetismo de Israel, pois do deserto surgiria o libertador que reuniria o povo para conduzi-lo à terra prometida. O deserto adquiriu, portanto, grande relevância no meio popular, gerando o ideal de que era através do deserto que a libertação final se processaria na história de Israel.
No deserto, João Batista vivia da mesma maneira que o profeta Elias, já que o seu modo de se vestir com “peles de camelo, e um cinto de couro” (Mt 3,4) era característico de Elias (cf. 2Rs 1,8). Seus seguidores acreditavam que, por causa do retorno de Elias, o Dia do Senhor estaria certamente muito próximo. Quando, porém, perguntaram a João se ele era o Messias, ele confessou abertamente: “Eu não sou o Cristo” (Jo 3,20). Entretanto, considerava-se como precursor do Messias, pois dizia:
– Depois de mim, vem o mais forte do que eu, de quem não sou digno de, abaixando-me, desatar a correia das sandálias. Eu vos tenho batizado com água. Ele, porém, vos batizará com o Espírito Santo (Mc 1,7-8).
João e André ficaram tocados ao ouvir a pregação de João Batista; foram batizados por ele e se tornaram seus discípulos.
Enquanto seguia o Batista, João fez amizade com um homem chamado Judas, que também fazia parte do grupo de discípulos do profeta. Judas tinha o apelido de Iscariotes, pois era natural da cidade de Queriote, situada ao sul da Judeia.2 Seu pai, Simão Iscariotes (cf. Jo 13,26), um fiel seguidor das antigas tradições judaicas, era da tribo de Judá. João lembrava-se da admiração que nutria por Judas, pois, quando o conheceu, ele era tido como herói, por ter enfrentado, com zelo e coragem, uma provocação do governador romano aos judeus.
Logo depois que assumiu o governo da Judeia, no ano 26 d.C., Pilatos mandou introduzir, de noite, secretamente, em Jerusalém, imagens do imperador romano que serviam de estandartes. Isso provocou uma grande revolta entre os judeus. Eles estavam convencidos que a Lei deles havia sido espezinhada, já que ela proibia que fosse erguida qualquer imagem na cidade. Não só os habitantes de Jerusalém se indignaram com isso, mas o próprio povo do campo acorreu em massa. Judas Iscariotes, que era um judeu zeloso no cumprimento da Lei (zelota), também ficou muito indignado com a provocação de Pilatos. Ele, juntamente com uma grande multidão, dirigiu-se à residência do governador em Cesareia, para implorar que fossem retirados os estandartes de Jerusalém e fossem respeitadas as leis de seus antepassados. Diante da recusa de Pilatos, os judeus lançaram-se ao chão em torno do palácio do governador, e assim permaneceram durante cinco dias e cinco noites. No sexto dia, Pilatos sentou-se no tribunal, num grande estádio, e mandou chamar o povo, como se quisesse dar-lhes uma resposta. Fez então a seus soldados armados um sinal previamente combinado, para que cercassem os judeus. À vista inesperada da tríplice linha de combatentes que os cercavam, os judeus ficaram tolhidos de pavor. Pilatos ameaçou matá-los a todos de uma vez, se não aceitassem a presença das imagens de César; e deu uma ordem aos soldados para que desembainhassem as espadas. Todavia, como se tivessem combinado entre si, Judas e seus companheiros se lançaram por terra e ofereceram suas cabeças, gritando que preferiam morrer a transgredir a Lei. Profundamente impressionado com o ardor do seu fervor religioso, Pilatos ordenou a imediata retirada dos estandartes da Cidade Santa.3
Judas Iscariotes gozava de grande consideração entre os discípulos de João Batista, por ter demonstrado coragem e bravura ao enfrentar os soldados armados de Pilatos.
João se recordava do dia em que Jesus de Nazaré tinha ido ao Jordão para ser batizado pelo Batista. Isso ocorreu na primavera. As águas do rio corriam límpidas e caudalosas e numerosos arbustos floridos enfeitavam as suas margens. O céu azul sem nuvens reluzia e as oliveiras estavam carregadas de rebentos. Não muito distante ouvia-se o balido das ovelhas, tangidas pelos pastores com seus cajados.
Depois de ter sido batizado pelo profeta, Jesus permaneceu no meio dos discípulos do Batista, até que este começou a incentivá-los para que seguissem Jesus (cf. Jo 1,29-34). Judas Iscariotes foi o primeiro, dentre os discípulos de João Batista, a seguir Jesus. Alguns dias depois, João e André, que haviam ficado muito impressionados com a pessoa de Jesus, resolveram acompanhá-lo e perguntaram onde ele morava (cf. Jo 1,35-39). Jesus respondeu: “Venham e vejam”. Foram com Jesus ao local onde ele costumava pregar e batizar (cf. Jo 3,22), e começaram a conviver com ele naquele mesmo dia. A partir de então, eles se tornaram discípulos de Jesus. Para o filho de Zebedeu, aquele foi um dos momentos mais felizes da sua vida. Ele jamais esqueceu a hora exata em que esse encontro aconteceu: mais ou menos pelas quatro horas da tarde. Esse acontecimento marcou-o para sempre.
Mais tarde, quando se reuniu com seu irmão Tiago em Betsaida, João estava completamente entusiasmado com Jesus. Ele foi logo dizendo a Tiago:
– Encontramos o Messias, Jesus de Nazaré, aquele de quem Moisés e os Profetas escreveram.
Tiago, porém, não se convenceu de que Jesus era o Messias. Ele, então, exclamou:
– De Nazaré pode sair algo de bom?
E começou a recordar a João que Nazaré era um vilarejo sem nenhuma tradição nas Escrituras, e que ali não havia qualquer evidência que sugerisse a origem de um Messias Galileu.
João ficou decepcionado com o ceticismo do irmão. Naquela ocasião ele estava preocupado com a amizade de Tiago com Barrabás, pois Tiago havia lhe confidenciado que pretendia fazer parte de um grupo de salteadores, não por necessidade, mas por convicção. Ele desejava engajar-se num movimento de resistência e acreditava que Barrabás poderia liderar uma revolta armada contra os romanos. Porém, antes que isso acontecesse, João desejava que Tiago se encontrasse com Jesus.
Um dia, sabendo que Jesus estava em Cafarnaum, João insistiu com Tiago para que o acompanhasse àquela cidade. Tiago aceitou o convite do irmão e os dois partiram muito cedo, pela estrada que ligava Betsaida à aldeia de Naum. O tempo das chuvas havia cessado, e os bosques de álamos farfalhavam ao ímpeto do vento. Do lado esquerdo do caminho, a região era pantanosa, formando um mosaico de lagunas pouco profundas de águas esverdeadas, onde cresciam bambus, juncos do mar, papiros e arbustos anões. Havia também grande profusão de flores do campo: açucenas, narcisos, jasmins, tulipas avermelhadas, anêmonas multicoloridas e perfumadas moitas de menta. Do lado direito surgiam hortas com uma variedade extensa de verduras e legumes, entre os quais o grão de bico e as favas. Ao longe, distinguiam-se vultos de camponeses encurvados sobre a terra, ou descansando à sombra de amendoeiras, alfarrobeiras e sicômoros. Ao alcançarem o rio Jordão, eles atravessaram uma sólida ponte construída pelos romanos, com a tradicional silhueta de dorso de asno e três grandes arcadas e travejamento. Do outro lado do rio, frente a frente, à direita e à esquerda do caminho, diversos marcos, de um metro de altura, erguiam-se, sinalizando e advertindo o caminhante de seu ingresso nos domínios de Herodes Antipas.
Ao entrarem em Cafarnaum, souberam que Jesus estava pregando nos arredores da cidade e para lá se dirigiram. Tiago ficou muito tocado com a pregação de Jesus, pois ele dizia:
– Ninguém pode servir a dois senhores. Com efeito, ou odiará um e amará o outro, ou se apegará ao primeiro e desprezará o segundo. Não podeis servir a Deus e ao Dinheiro (Mt 6, 24). Mas, ai de vós, ricos, porque já tendes a vossa consolação! (Lc 6, 25b)
Estaria Jesus se referindo aos ricos proprietários de terras e senhores, prelados eclesiásticos e clérigos, que na ociosidade viviam do trabalho e dos dízimos dos camponeses e pescadores da Galileia? Estaria ele pregando contra os governantes estrangeiros e seus aliados que exploravam o seu povo? Mesmo sem obter uma resposta clara às suas indagações, Tiago apreciou o discurso de Jesus.
No dia seguinte, que era sábado, eles foram à sinagoga (cf. Mc 1,21-28). Jesus ali ensinava. Novamente Tiago ficou admirado com o ensinamento do profeta de Nazaré. Diferentemente dos escribas que, apoiados nas tradições de antigos mestres, representavam o sistema dominante – a instituição do Templo –, Jesus ensinava com autoridade, isto é, demonstrava independência da instituição. De certo modo, os escribas estavam “investidos” de autoridade, pois falavam como delegados do sistema do Templo. Em Jesus não havia nenhuma delegação. A autoridade de Jesus estava na sua pessoa e na coerência da sua prática.
Naquela ocasião, Jesus realizou um exorcismo e Tiago ficou bastante impressionado.4 Mais uma vez a prática de Jesus entrava em conflito com a ordem simbólica dominante. O sábado, em sua origem, era uma instituição que tinha um papel social e humano importante, pois preservava um tempo de descanso e regeneração. Com o passar do tempo, porém, perdeu sua função original para estar a serviço do sistema, em detrimento das pessoas, como mostrava a casuística dos escribas e fariseus.5 Realizando esse exorcismo no sábado, Jesus afrontava esse dia, considerado um instrumento da ideologia dominante. Para ele, o sábado foi feito para o ser humano, e não o ser humano por causa do sábado (cf. Mc 2,27). Além disso, sua prática tinha por alvo o sistema sociopolítico e religioso, pois colocava em questão a instituição em sua concretização local: Cafarnaum. Era ali que o sistema mais amplo, o Império Romano, junto com a Judeia e a elite judaica, se fazia sentir em seus efeitos sobre as pessoas. De alguma maneira, Tiago e os que ali estavam perceberam que Jesus estava investindo contra esse sistema opressor, na medida em que libertava o possesso como alguém alienado, oprimido e excluído.6
Todos então se admiraram perguntando uns aos outros: “Que é isto? Um novo ensinamento com autoridade? Até mesmo aos espíritos impuros dá ordens, e eles lhe obedecem!”. Imediatamente a sua fama se espalhou em todo o lugar, em toda a redondeza da Galileia (Mc 1,27-28).
Tendo saído da sinagoga, Jesus, acompanhado por Tiago e João, foi até a casa de Simão Pedro (cf. Mc 1, 31).
Sara, a sogra de Pedro, estava de cama com febre. A febre era sintoma de alguma doença que ninguém conseguia identificar e, por isso, diziam que algum espírito impuro havia entrado nela.7 Todos estavam com receio de aproximar-se de Sara, pois poderiam contagiar-se com a mesma enfermidade. Jesus, porém, não demonstrou nenhum temor e pediu para ser levado até ela. Quando chegou ao lado da cama, inclinou-se para frente, sussurrou algo em seu ouvido e, tomando a enferma pela mão, a fez levantar-se. Imediatamente a febre a deixou. Todos ficaram admirados e começaram a perguntar entre si: “Quem é esse homem?”. Sara, a partir desse momento, se tornou discípula de Jesus, fazendo parte do grupo das mulheres que o seguiam pelas estradas empoeiradas da Galileia e da Judeia (cf. Lc 8,1-3) Colocou-se inteiramente a serviço do anúncio do Reino de Deus até o último dia da sua vida.
Tiago ficou tão impressionado com a pessoa de Jesus que, poucos dias depois desse acontecimento, resolveu deixar tudo para segui-lo (cf. Mc 1,19-20).
Nessa ocasião, João, Tiago, seu pai Zebedeu e alguns empregados tinham passado a noite pescando no lago de Genesaré. De manhã cedo, quando retornaram da pescaria, um vento forte, vindo do oeste, começou a soprar erguendo ondas de regular altura, vitais para a várzea de Betsaida. O céu azul sem nuvens reluzia, e o tráfego de embarcações pelo lago era intenso. A pesca tinha sido tão abundante que as redes tinham se rompido. Atracaram o barco no varadouro, e resolveram remendar as malhas. João e Tiago possuíam grande habilidade em realizar essa tarefa. O dedo grande do pé esquerdo mantinha a rede enganchada e tensa, enquanto com a mão esquerda iam remendando os rasgos e atando-os com um forte fio de linho tingido. Outros pescadores, sentados ao abrigo das embarcações, com as cabeças cobertas por turbantes e chapéus de palha, também se ocupavam com esse trabalho. A habilidade deles na costura das redes era assombrosa.
De repente, os filhos de Zebedeu viram Jesus, que caminhava com alguns de seus discípulos, pela beira do lago. Ao passar por eles, Jesus logo os chamou. Imediatamente eles deixaram seu pai na barca com os empregados e partiram, seguindo Jesus.
1 Gamaliel, cujo nome significa “Deus me fez bem”, era escriba, fariseu e neto de um rabino famoso que se chamava Hillel. São Paulo lhe devia a sua formação no farisaísmo (cf. At 22,3).
2 Iscariotes procede do hebraico, ish-kerioth, que significa “homem de Queriote”, uma cidade mencionada na história primitiva de Israel.
3 O historiador Josefo narra esse episódio em Guerra Judaica 2.169-74.
4 Embora os exegetas tendam a ver na “possessão diabólica” uma enfermidade (epilepsia, histeria, esquizofrenia ou “estados alterados de consciência”), não se pode negar que havia uma conexão desse fenômeno com a opressão de Roma. De acordo com a cura do endemoninhado de Gerasa (cf. Mc 5,1-20), o demônio é um só, mas ao mesmo tempo muitos, pois se chama “legião” como a divisão armada de Roma que controlava a Palestina. Aqui está em jogo privação econômica, desnutrição, violência endêmica e destruição das famílias rurais.
5 Concretamente, permitia-se quebrar o sábado apenas em dois casos: para defender a própria vida contra os inimigos e para salvar uma pessoa ou um animal que se encontrasse em perigo de morte. Em princípio, as curas estavam proibidas no sábado, a não ser que o enfermo corresse perigo de morte. Discutia-se também a respeito de miudezas jurídicas sobre o trabalho no sábado. Alguns doutores tinham detalhado nada menos que 39 trabalhos proibidos, entre eles, dar dois pontos de costura, fazer ou desfazer um nó, escrever duas letras e levar um figo seco fora de casa. Mesmo entre os fariseus não havia unanimidade. Os seguidores da escola rabínica de Hillel tendiam a interpretações mais abertas e liberais, enquanto os partidários da escola de Shammai se inclinavam para posições mais rígidas e rigoristas.
6 Cf. Irineu J. RABUSKE, Jesus Exorcista. Estudo exegético e hermenêutico de Mc 3,20-30, São Paulo, Paulinas, 2001, p. 251-259.
7 Naquela época, acreditava-se que o ar estava infestado por milhares de espíritos imundos à espreita do momento oportuno para entrar nas pessoas, causando doenças e dor. Acreditava-se também que os demônios e os espíritos impuros eram responsáveis por todo mal físico e moral, inclusive o pecado.
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