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15 Prestígio profissional | Trabalhar bem, trabalhar por amor (v2)

Prestígio profissional

 

«A vocação cristã é também, por sua própria natureza, vocação ao apostolado»255. Como aos primeiros discípulos, Cristo nos chamou para que O sigamos e O levemos a outras almas: vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens (Mc 1, 17).

Valendo-se dessa comparação do Senhor, São Josemaria ensina que o prestígio profissional tem uma função nos desígnios de Deus para quem foi chamado a santificar os outros com seu trabalho: é um importante meio de apostolado, «anzol de pescador de homens»256.

Por isso, chama a atenção dos que se aproximam da formação oferecida pelo Opus Dei para que busquem o prestígio na sua profissão:

Tu também tens uma vocação profissional que te «aguilhoa». – Pois bem, esse «aguilhão» é o anzol para pescar homens.

Retifica, portanto, a intenção, e não deixes de adquirir todo o prestígio profissional possível, a serviço de Deus e das almas. O Senhor conta também com isso257.

 

Prestígio e humildade

 

Deus criou todas as coisas para manifestar e comunicar a sua glória258 e, ao fazer do nosso trabalho uma participação no seu poder criador, quis que este refletisse aos demais essa mesma glória. Brilhe assim a vossa luz diante dos homens, para que vejam vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai, que está nos céus (Mt 5, 16).

A santificação do trabalho profissional exige que o realizemos com perfeição, e que essa perfeição por amor seja luz que atraia para Deus aqueles ao nosso redor.

Não deveríamos buscar a nossa glória, mas sim a glória de Deus, como reza o salmo: Non nobis, Domine, non nobis, sed nomini tuo da gloriam (Sal 113, 9), não a nós, Senhor, não a nós, mas ao teu nome dá glória. Quantas ocasiões de repetir estas palavras! «Deo omnis gloria – para Deus toda a glória. [...] A nossa vanglória seria isso precisamente: glória vã. Seria um roubo sacrílego. O “eu” não deve aparecer em parte alguma»259.

Em muitas ocasiões será necessário retificar a intenção. Mas um filho de Deus não tem de ser apoucado, deixando de buscar o prestígio profissional por temor à vanglória ou por medo de não ser humilde, já que é uma qualidade que serve à missão apostólica própria dos leigos, um talento que se deve fazer render.

O Magistério da Igreja recorda que os leigos se esforçarão por adquirir verdadeira perícia260 em todos os campos. «Os fiéis leigos deverão executar o seu trabalho com competência profissional, com honestidade humana, espírito cristão, como meio da própria santificação»261.

São Josemaria convida-nos a considerar que o prestígio profissional não impede a humildade:

Sendo o trabalho profissional o eixo da nossa santidade, devemos conseguir o prestígio profissional, e cada um no seu posto e condição social se verá rodeado da dignidade e do bom nome que correspondam a seus méritos, ganhados em lide honesta com seus colegas, com seus companheiros de ofício ou profissão.

Nossa humildade não consiste em mostrarmo-nos tímidos, apoucados ou carentes de audácia nesse campo nobre dos afãs humanos. Com espírito sobrenatural, com desejo de serviço – com espírito cristão de serviço – temos de procurar estar entre os primeiros, no grupo de nossos iguais.

Alguns, com mentalidade pouco laical, entendem a humildade como falta de aprumo, como indecisão que impede de agir, como abandono de direitos – às vezes do direito da verdade e da justiça – com a finalidade de não desgostarem a ninguém e de serem considerados amáveis por todos. Por isso, haverá quem não compreenda a nossa prática da humildade profunda – verdadeira –, e ainda a chamarão de orgulho. Deformou-se muito o conceito cristão dessa virtude, talvez por se tentar aplicar a seu exercício no meio da rua moldes de natureza conventual, que não podem cair bem aos cristãos que hão de viver, por vocação, nas encruzilhadas do mundo262.

 

Por amor a Deus e às almas

 

O prestígio profissional de um cristão não consiste necessariamente no êxito. É certo que o triunfo humano é como uma luz que atrai as pessoas. Mas caso essas pessoas, ao aproximarem-se daquele que triunfa, não encontrem o cristão, o homem de coração humilde e apaixonado por Deus, mas um presunçoso cheio de si, então sucede o que está descrito no ponto de Caminho: «De longe, atrais: tens luz. – De perto, repeles: falta-te calor. – Que pena!»263.

O prestígio que serve para levar almas a Deus é o das virtudes cristãs vivificadas pela caridade: o prestígio da pessoa trabalhadora, competente na sua tarefa, justa, alegre, nobre e leal, honrada, amável, sincera, solícita... Virtudes que podem se dar tanto no êxito quanto no fracasso humano. O prestígio de quem cultiva dia a dia essas qualidades por amor a Deus e aos outros.

São Josemaria escreveu que «o trabalho nasce do amor, manifesta, orienta-se para o amor»264. O mesmo podemos dizer do prestígio no trabalho: «nasce do amor», porque este tem de ser o motivo que leva a procurá-lo, não a vaidade ou o egocentrismo; «manifesta o amor», porque o espírito de serviço tem de ser patente num cristão com prestígio profissional; e «se ordena ao amor», porque o prestígio não pode converter-se no fim do trabalho, mas sim em meio para aproximar as almas a Deus, concreta e diariamente.

Um prestígio profissional sem fruto apostólico seria um prestígio estéril, uma luz que não ilumina. O prestígio tem de ser anzol de pescador – e acaso pode se dizer que alguém é pescador se não pesca? Não estamos falando de uma joia para olhar e guardar, como um avaro faz com seus tesouros, mas sim para arriscar no serviço a Deus, sem medo.

Não devemos ignorar os riscos. Os cristãos, tendo prestígio profissional, podem topar com pessoas que, quando se lhes fala de Deus, retraem-se e deixam de apreciá-los como antes. Inclusive, como se sabe, há ambientes – clubes, grupos, sociedades influentes... – que abrem suas portas a profissionais de prestígio, oferecendo vantagens de relações e apoios mútuos, com a condição de que não manifestem a sua fé, aceitando implicitamente uma concepção da vida na qual a religião deve ficar confinada à esfera privada. Pretendem justificar essa atitude como respeito à liberdade, mas na realidade negam que exista a verdade em matéria religiosa, e desse modo perecem juntar nesses locais a verdade e a liberdade, negando o vínculo que ensina o Senhor: Conhecereis a verdade, e a verdade vos fará livres (Jo 8, 32). Nesses clubes constitutivamente laicistas, onde é proibido – esta é a palavra que reflete a realidade – falar de Deus e, definitivamente, fazer apostolado, não há como estar presente um cristão, obrigado a deixar sua fé na porta como se deixa um chapéu.

A conclusão não pode ser isolar-se, mas sim empreender um labor apostólico mais audaz, com a força e a alegria dos filhos de Deus que receberam este mundo em herança, para possuí-lo e configurá-lo. Um labor baseado no apostolado pessoal de amizade e confidência, que chegue também a criar ambientes abertos e livres – alheios a esse fanatismo indiferentista, sem necessidade de etiquetas confessionais –, onde seja possível dialogar e colaborar com todas as pessoas de boa vontade que queiram construir uma sociedade conforme à dignidade transcendente da pessoa humana. Não é tarefa fácil, mas é irrenunciável. O cristão deve conquistar prestígio profissional e saber empregá-lo para infundir o espírito cristão na sociedade.

 

Em todos os trabalhos

 

Durante os anos de vida em Nazaré, Jesus crescia em sabedoria, em idade e em graça diante de Deus e dos homens (Lc 2, 52). O Evangelho também nos diz que era conhecido como o artesão (Mc 6, 3). Basta-nos unir esses dois dados para apreciar o prestígio que o Senhor tinha no trabalho.

Na sua tarefa divina de carpinteiro, sem realizar prodígios extraordinários, seus concidadãos o viam crescer não só em idade, mas também em sabedoria e graça. Quantos detalhes encerram estas palavras! No modo de atender às pessoas, de receber os encargos e cumpri-los com maestria profissional, de praticar a justiça com caridade, de servir aos próximos, de trabalhar com ordem e intensidade, descansar e procurar que os demais descansassem...; em sua serenidade, em sua paz, em sua alegria, e em todas as suas tarefas se percebia um algo que atraía, que levava a procurar estar com Ele, a confiar nEle e a seguir seu exemplo: o exemplo de um homem que viam tão humano e tão divino, que transmitia amor a Deus e amor aos homens, que os fazia se sentir no céu e na terra ao mesmo tempo, animando-os a ser melhores. Como o mundo seria diferente, pensariam muitos deles, se procurássemos ser como Jesus em nosso trabalho! Que distinta a vida na cidade ou no campo!

O crescimento de Jesus em idade, sabedoria e graça, o progressivo manifestar-se da plenitude da vida divina que enchia a sua natureza humana desde o momento da Encarnação, ocorria num trabalho tão corrente como o de carpinteiro. «Diante de Deus, nenhuma ocupação é por si mesma grande ou pequena. Tudo adquire o valor do Amor com que se realiza»265. O prestígio profissional é, em última análise, a manifestação do amor com que se realiza o trabalho. É uma qualidade da pessoa, não da tarefa que se realiza. Não consiste em se dedicar a uma profissão prestigiosa aos olhos humanos, mas sim em levar a cabo de modo prestigioso qualquer profissão, brilhante ou não.

Aos olhos dos homens, sim, há trabalhos mais brilhantes que outros, como os que trazem consigo o exercício da autoridade na sociedade, ou os que têm mais influxo na cultura, maior projeção dos meios de comunicação, no esporte, etc. Precisamente por isso – porque gozam de melhor consideração e influem muito na sociedade –, é mais necessário que quem o exerça tenha um prestígio não só técnico, mas também moral: um prestígio profissional cristão. É de vital importância que todos os filhos de Deus realizem com prestígio essas atividades das quais depende em boa medida o tom da nossa sociedade.

Geralmente são os intelectuais que as levam a cabo, e por isso «temos de procurar que, em todas as atividades intelectuais, haja pessoas retas, de autêntica consciência cristã, de vida coerente, que empreguem as armas da ciência a serviço da humanidade e da Igreja»266. São Josemaria o tem muito presente quando escreve, explicando o labor apostólico do Opus Dei:

Escolheu-nos o próprio Jesus Cristo, para que no meio do mundo – no qual nos colocou e do qual não quis segregar-nos – cada um de nós procure a santificação no seu estado e – ensinando, com o testemunho da vida e da palavra, que a chamada à santidade é universal – promova entre pessoas de todas as condições sociais, e especialmente entre os intelectuais, a perfeição cristã no próprio cerne da vida civil267.

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