- A+
- A-
Trabalho e família
O Papa Francisco recordou na Exortação Apostólica Amoris Laetitia (n. 31) que o bem da família é decisivo para o futuro do mundo e da Igreja. Para alcançar esse bem, é necessário ter em conta que
O trabalho constitui o fundamento sobre o qual se edifica a vida familiar [...]. Estas duas esferas de valores – uma conjunta ao trabalho e a outra derivante do caráter familiar da vida humana – devem unir-se entre si e compenetrar-se de um modo correto268.
Harmonizar as exigências das vocações familiar e profissional nem sempre é fácil, mas é parte importante do empenho por viver a unidade de vida. É o amor de Deus que dá unidade, põe ordem no coração, ensina quais são as prioridades. Entre essas prioridades está saber situar sempre o bem das pessoas acima dos outros interesses, trabalhando para servir, como manifestação da caridade; e viver a caridade de maneira ordenada, começando por aqueles que Deus confia mais diretamente aos nossos cuidados.
A vida familiar e a profissional se sustentam mutuamente. O trabalho, dentro e fora de casa, «de alguma maneira, é a condição que torna possível a fundação de uma família»269. Em primeiro lugar, porque a família «exige os meios de subsistência que o homem obtém normalmente mediante o trabalho»270.
Por sua vez, o trabalho é um elemento fundamental para alcançar os fins da família.
Trabalho e laboriosidade condicionam também o processar-se da educação na família, precisamente pela razão de que cada um «se torna homem» mediante o trabalho, entre outras coisas, e que o fato de se tornar homem exprime exatamente a finalidade principal de todo o processo educativo271.
A Sagrada Família nos mostra como compenetrar esses dois âmbitos. São Josemaria aprendeu e ensinou as lições de Santa Maria e de São José. Com seu trabalho, proporcionaram a Jesus um lar em que crescer e se desenvolver.
O exemplo de Nazaré ressoava na alma do fundador do Opus Dei como escola de serviço:
Em Belém, ninguém reserva nada para si. Lá, não se ouve falar da minha honra, nem do meu tempo, nem do meu trabalho, nem das minhas ideias, nem dos meus gostos, nem do meu dinheiro. Ali, põe-se tudo a serviço do grandioso jogo de Deus com a humanidade, que é a Redenção272.
Imitar a São José
Vede: que faz José, com Maria e com Jesus, para seguir o mandato do Pai, a moção do Espírito Santo? Entrega-lhe todo o seu ser, põe a sua vida de trabalhador ao seu serviço. José, que é uma criatura, alimenta o Criador; ele, que é um pobre artesão, santifica o seu trabalho profissional, coisa de que os cristãos se tinham esquecido por séculos, e que o Opus Dei veio recordar. Dá-lhe a sua vida, entrega-lhe o amor do seu coração e a ternura dos seus cuidados, empresta-lhe a fortaleza dos seus braços, dá-lhe... tudo que é e tudo o que pode: o trabalho profissional ordinário, próprio da sua condição273.
São José trabalhou para servir ao Filho de Deus e à sua Mãe. Nada sabemos do produto material de seu trabalho, nem nos chegaram os objetos que terá fabricado ou consertado; mas sabemos, sim, que sua tarefa serviu à obra da Redenção. José ensinou a Jesus o ofício a que se dedicou por longos anos de sua vida, e trabalhou profundamente unido a Quem, já nestes momentos, redimia-nos. Com seu trabalho, edificou o lar de Nazaré onde Jesus havia de crescer, lar que é imagem da Igreja. Nunca descurou a família por causa do trabalho de artesão, nem pelo cansaço da jornada. Antes: pôs esse trabalho inteiramente ao serviço do Filho de Deus e da Virgem Maria e não lhes privou das atenções próprias do chefe de família. E o seu trabalho, longe de se ver empequenecido pelas exigências que lhe impunham essas atenções – viagens, mudanças de país e de domicílio, dificuldades e perigos – viu-se infinitamente enriquecido.
Que grande lição para quem facilmente se deixa fascinar pelo desejo de afirmação pessoal e pelo êxito no trabalho! A glória de São José foi ver crescer Jesus em sabedoria, em idade e em graça (cf. Lc 2, 52), e servir à Mãe de Deus. As horas de esforço continuado do Santo Patriarca tinham rosto. Não terminavam numa obra material, por mais bem-feita que estivesse, mas sim no bem de Jesus e de Maria. Eram o conduto para amar a Deus no Filho e em sua Mãe.
Deus nos deu também a possibilidade de descobri-lO e amá-lO servindo à família com a nossa tarefa profissional. Muitas pessoas colocam fotografias de seus entes queridos na mesa ou no lugar de trabalho, e o cristão põe também algo que lhe recorde o sentido divino do amor humano: às vezes um crucifixo ou uma imagem da Sagrada Família, ou outro recordatório oportuno segundo o lugar em que se encontre, porque se há amor a Deus, há também união entre família e trabalho.
Dá pena ver pessoas interiormente divididas, que sofrem inutilmente. As obrigações familiares lhes parecem um obstáculo para crescer profissionalmente. Tratam de conciliar uma multidão de compromissos, e se lamentam de que não têm tempo para a família. Mas, muitas vezes, não é tempo o que lhes falta, mas sim um coração ordenado e enamorado. O exemplo de São José pode nos ajudar a todos. O cuidado da Sagrada Família e o trabalho de artesão não eram âmbitos incomunicáveis, mas uma mesma realidade. O amor a Maria e a Jesus o levava a trabalhar, e com seu trabalho servia à Sagrada Família.
Apostolado urgente
A família constitui um dos mais importantes termos de referência, segundo os quais tem de ser formada a ordem sócio-ética do trabalho humano [...]. Com efeito, a família é, ao mesmo tempo, uma comunidade tornada possível pelo trabalho e a primeira escola interna de trabalho para todos e cada um dos homens 274.
Enfrentamos hoje o desafio de conseguir que se outorgue à família o lugar central que lhe corresponde na vida das pessoas e no mundo do trabalho. Esse desafio assume muitas facetas. Em primeiro lugar, é preciso valorizar aqueles trabalhos mais estreitamente ligados aos fins próprios da família, como a atividade doméstica, a tarefa educativa – muito especialmente nos primeiros anos de vida –, e as distintas formas de colaboração na assistência aos enfermos e anciãos.
Também é um objetivo urgente conseguir que a organização do trabalho não gere incompatibilidades com as obrigações do lar. Essas situações acontecem amiúde, por conta de salários insuficientes para sustentar uma família; de horários que obrigam a reduzir muito a presença do pai ou da mãe em casa; de entraves à abertura à vida de muitas mães que desejam compatibilizar a dedicação à família com profissões fora do lar. Essas e outras dificuldades afetam de modo particular os profissionais jovens que se veem submetidos à pressão de um ambiente, de uma organização social e de um sistema de vida que dificulta a formação de uma família e sua estabilidade.
O empenho que ponhais, filhas e filhos meus, para imprimir um tom profundamente cristão em vossos lares e na educação de vossos filhos, fará de vossas famílias focos de vida cristã, remansos de águas limpas que influirão em muitas outras famílias, facilitando também que brotem vocações275.
Receba a Liturgia Diária no seu WhatsApp
Deixe um Comentário
Comentários
Nenhum comentário ainda.