• Home
    • -
    • Livros
    • -
    • Madre Teresa – amar e ser amado: Um Retrato Pessoal de uma das Maiores Líderes Humanitárias do Mundo
  • A+
  • A-


6. Um chamado

Capítulo 6

 

Um chamado

 

“O que eu posso fazer, você não pode. O que você pode fazer, eu não posso. Mas, juntos, podemos fazer algo belo para Deus.”

– Madre Teresa

 

Madre Teresa era uma mulher apaixonada. Jesus era seu tudo. Mas o nível do qual dependia da intercessão divina de sua mãe, Maria, não pode ser desprezado. O fundamento teológico da devoção à Nossa Senhora era simples: “Sem Maria, não haveria Jesus”. Os documentos fundacionais das Missionárias da Caridade eram, igualmente, inequívocos: “Sem Nossa Senhora, não podemos suportar”.

Como muitas boas mulheres católicas antes e depois, o exemplo de vida da Madre foi Maria. Mas poucas, se alguma, conseguiram ser tão parecidas com a Santíssima Mãe. Como Maria, ela nasceu para ser virgem e mãe. Embora não tivesse filhos de seu ventre, sua maternidade se estendeu pelo mundo. Começou com as Missionárias da Caridade, se espalhou aos seus amados pobres, tocou os afortunados em trabalhar com ela e, inclusive, tocou muitos que a conheceram apenas pela mídia.

“Minhas irmãs, padre, são o presente de Deus para mim, são sagradas para mim – cada uma delas”, escreveu para um de seus guias espirituais. “É por isso que eu as amo – mais do que amo a mim mesma. Elas são uma grande parte da minha vida.” Quando a Madre e eu íamos a uma de suas missões, as freiras davam gritinhos de alegria. Ela cumprimentava cada irmã como uma criança singularmente amada, olhando em seus olhos e segurando seu rosto, enquanto impetrava sua bênção. Lembro-me de deixar a Madre, após um longo dia, às 22 horas, em um convento no México. Ela estava exausta, mas, mesmo assim, estava ansiosa para ver suas irmãs. Quando a acompanhei até a porta, vi a longa fila delas esperando por sua mãe. Cada uma queria ficar a sós com ela, e ela se alegrava na companhia delas. O sono podia esperar.

E normalmente esperava. Ela nunca reclamava sobre o pouco que tinha dormido, embora acordasse antes das cinco da manhã, como suas irmãs, e dificilmente ia para a cama antes da meia-noite. Muitas vezes a vi esfregando os olhos vigorosamente para mantê-los abertos, mas nunca testemunhei qualquer mau humor por causa da privação de sono. Ela exigia alegria de suas irmãs e dava o exemplo.

A vida como freira veio naturalmente para a Madre. Desde o dia em que chegou à Índia, nunca duvidou ou olhou para trás. Mesmo quando ainda estava no convento de Loreto, era conhecida por sua ética no trabalho, permitindo-se quase nenhum momento de descanso. Acreditava que, se a mãe de Deus, grávida, pôde selar um jumento e ir a um lugar distante para ajudar sua prima Isabel, ela deveria ter o mesmo senso de urgência em lidar com os que sofriam nas favelas próximas.

Para os pobres e indesejados, o amor da Madre não tinha limites. Irmã Clare certa vez contou a história de uma criança abandonada que foi cuidada pela Madre: “Encontramos um menino picado por formigas negras e jogado numa lata de lixo – um recém-nascido”. O bebê estava vivo, mas não havia para onde levá-lo, então as irmãs o trouxeram para viver com elas. Ele tinha a pele muito escura e a Madre o chamava de “Kalo Bhaluk”, um diminutivo bengali que significa “urso negro”. Após um dia em Kalighat, ela amava voltar para casa e segurá-lo. Cuidava das burocracias do dia segurando o bebê com um braço.

Madre Teresa fazia questão que as irmãs tratassem umas às outras com delicadeza. Certa vez, quando Irmã Monica admitiu que tinha ofendido outra irmã, a Madre mandou que ela fosse se desculpar. Obedientemente, Monica foi, mas encontrou a irmã dormindo. Achando que tinha cumprido a missão, voltou alegre e relatou para a Madre, que insistiu: “Acorde-a gentilmente e peça perdão”.

Como uma mãe, ela se preocupava com suas irmãs e seus amigos. Certa vez, quando estávamos juntos no México, ela notou que eu não tinha almoçado. E, apesar de eu insistir que comeria mais tarde, foi até a cozinha, espalhou um pouco de manteiga de amendoim em duas fatias de pão e disse: “Aqui, toma. Agora você come isso”. Então enfiou três bananas no bolso do meu casaco, sob meus protestos, o que ela achou engraçado. Outra vez, estávamos juntos numa terça-feira gorda, na véspera do início da Quaresma, e a Madre insistiu que eu comemorasse com uma xícara de café (estávamos com Padres MC, que normalmente servem apenas chá). Ela sugeriu que eu colocasse açúcar. “É muito escuro”, disse. Colocou um bolinho e meia toranja no meu prato e ficou me observando até eu comer tudo.

Seu coração maternal sofria quando seus filhos sofriam. Ela se sentava ao lado da cama de irmãs doentes aplicando compressas para combater as febres altas da malária e lhes dando o conforto de um toque materno. Irmã Leonia foi mordida por um cachorro e contraiu raiva. As irmãs observaram seus espasmos e alucinações, sintomas clássicos dessa doença temida e incurável. A Madre se manteve ao seu lado durante suas últimas e agonizantes 48 horas de vida.

Madre Teresa tinha uma vasta família espiritual, e seu coração sofria quando alguém amado deixava esta terra. Ela ficou muito triste com a morte do Padre Celeste Van Exem, em 1993, seu guia espiritual nos anos em que estava saindo de Loreto e o homem que era considerado por alguns como cofundador das MCs. Depois por causa de Irmã Agnes, a primeira jovem a se juntar às MCs em 1949, que morreu cinco meses antes da Madre, em 1997. Madre chamava Agnes de seu “segundo eu” e mal conseguiu suportar tamanha dor.

Irmã Sylvia, que era muito próxima da Madre e supervisionava os lares das Missionárias da Caridade nos Estados Unidos, estava viajando com Irmã Kateri quando pneus defeituosos de sua van de passageiros explodiram numa estrada interestadual, próxima a Washington, em 1995. Ambas faleceram no acidente. Uma irmã, que estava em Calcutá naquela noite, me contou que, no momento do acidente fatal, Madre Teresa acordou no convento e perguntou às irmãs do quarto ao lado: “Quem está chorando? Ouço uma irmã chorando”.

A fé da Madre na providência divina a sustentou nessa e em inúmeras outras tragédias, inclusive pessoais, como a separação de sua família. Sua mãe e irmã mais velha viviam na Albânia quando o país caiu sob o domínio impiedoso do ditador comunista Enver Hoxha, em 1946. Elas ficaram presas atrás da Cortina de Ferro. A correspondência tinha que ser contrabandeada para dentro e fora do país, e a Madre ficou sem informações sobre sua família durante onze anos. Quando finalmente recebeu notícias, em 1957, Madre Teresa escreveu a um amigo: “Recebi uma longa carta da minha mãe. Finalmente elas receberam notícias minhas – e só agora minha mãe sabe sobre as Missionárias da Caridade. Em 1948, soube que eu estava deixando Loreto – e depois nada –, por isso, pensou que eu estava morta”. Esse período de silêncio foi excruciante para ambas.

Sua mãe escreveu: “Quero ver você antes de morrer. É a única graça que peço a Deus”. Madre Teresa resolveu realizar esse desejo. Em 1965, foi à embaixada albanesa em Roma implorar permissão para que sua mãe e irmã deixassem o país. “Vim como uma criança buscando por sua mãe”, ela disse ao funcionário albanês. “Depois expliquei que minha mãe era idosa e doente. Que tinha 81 anos e que desejava me ver, assim como eu desejava vê-la após tantos anos. Disse a ele que eu estava impotente para fazer algo e que apenas os albaneses poderiam dar a ela permissão para vir a Roma.”

Embora o funcionário tenha se emocionado com esse apelo desesperado, seu governo negou o pedido. Madre Teresa recebeu a má notícia com sua característica confiança em Deus, mas não negou o preço emocional que isso exigiu. “Você não sabe o que esse sacrifício de não ver minha mãe custou para minhas irmãs”, escreveu mais tarde. “O sacrifício dela e o meu nos aproximarão de Deus.”

Em julho de 1972, Madre Teresa recebeu a notícia de que sua mãe falecera. Sua irmã, Age, morreu um ano depois. Após a morte do ditador Hoxha, em 1985, Madre Teresa finalmente pôde viajar à Albânia e reenterrou os restos mortais da mãe ao lado dos de Age. Elas esperariam pela eternidade lado a lado. A Madre colocou um crucifixo em cada túmulo e então beijou os túmulos.

Felizmente, seu irmão Lazar havia se mudado para a Itália antes da Cortina de Ferro. Quando a Madre começou a viajar para o exterior, ela pôde visitá-lo e à sua família. Sua filha, Agi Guttadauro, tinha crescido com as histórias do pai sobre sua irmãzinha, Agnes: como ela contrabandeava comida quando ele era mandado para a cama sem jantar por mau comportamento e, às vezes, até fazia o dever de casa por ele. Agi foi o mais próximo que Madre Teresa teria de uma filha biológica. Sempre que podia, ela os visitava na Itália, saboreando o tempo que passavam juntos. Foi um grande sacrifício para ela deixar de ter a própria família. Mas era mãe de suas irmãs e amigos, incluindo a mim. E ajudava seus filhos espirituais a discernirem a vocação, fosse na vida religiosa ou não, e a se renderem, como ela fez, à vontade de Deus.

Era uma vida difícil, mas nem todas que a amavam eram chamadas a serem irmãs.

 

 

Em 1987, minha futura esposa, Mary Sarah Griffith, suspendeu seus estudos no Davidson College e foi para Calcutá em busca de Madre Teresa e de uma direção para sua vida – assim como eu fizera dois anos antes. Desesperada para preencher um vazio espiritual que a atormentava, decidiu passar o inverno em Calcutá, servindo e orando junto com Madre Teresa e suas irmãs.

Ela chegou depois que o albergue da Associação Cristã de Mulheres Jovens (YWCA, na sigla em inglês) já estava fechado, então, em sua primeira noite em Calcutá, dormiu na calçada. Durante os dois meses seguintes, trabalhou em silenciosa obscuridade nas missões das MCs, começando e terminando seus dias na capela da sede, onde normalmente se sentava perto de Madre Teresa. Nunca se apresentou, mas estudava intensamente a Madre.

Mary voltou para casa no subúrbio de Washington, D.C., convencida de que Deus a estava chamando para ser freira. Entrou em contato com a casa MC no Bronx, e Irmã Frederick ficou animada com a notícia. Ela instruiu Mary a passar um tempo no lar para aidéticos, que acabara de abrir na capital, e a trabalhar e orar com as irmãs até maio, quando seriam admitidas novas candidatas. Mary se tornou voluntária residente da casa, e foi lá que a vi pela primeira vez, com o esfregão na mão, limpando o chão.

Soube, pelas irmãs, dos planos de Mary de ingressar nas MCs, e a admirei por isso. Ocasionalmente eu passava por ela na cozinha dos voluntários quando fazia serviço noturno com os homens no andar superior, mas não conversávamos. Havia sempre uma pressa para chegar aos residentes e começar a prepará-los para dormir. Além disso, conversas triviais com as irmãs e mulheres como Mary, que aguardavam a hora de serem chamadas a servir, eram desencorajadas. Jovens, que não eram padres, nem sempre tinham acesso à Madre ou às suas irmãs. Eu era muito cuidadoso em manter uma distância segura das mulheres.

Não consegui deixar de prestar atenção em Mary depois de vê-la rir. Cerca de um mês antes de ela entrar para o convento no Bronx, as irmãs decidiram entreter os residentes da Gift of Peace com uma pequena peça sobre a aparição da Virgem Maria, em 1858, à Bernadette Soubirous, de catorze anos, em Lourdes, na França. As irmãs designaram Mary para a direção, e duas residentes, Nila e Debbie, estrelariam a produção. Como todos os residentes, as duas eram portadoras de aids. Tinham sido viciadas em drogas e prostitutas e sobrevivido a grandes dificuldades, mas o amor das irmãs na casa, ia lentamente suavizando suas feridas amargas. Nila interpretaria a Santíssima Mãe, e Debbie, a jovem Bernadette.

No dia da peça, os residentes se reuniram, cerca de 25 no total, e, encostados nas paredes, estavam as irmãs e os voluntários, que tinham ido apreciar o show. Mary estava linda empunhando anotações de direção, vestida com um suéter rosa e uma saia com estampa floral. Ela deu boas-vindas a todos e leu a introdução da peça. Debbie colhia flores imaginárias quando Nila apareceu em uma gruta improvisada, com a cabeça coberta por um véu azul e um halo. Debbie recitou a primeira fala, como ensaiado: “Qual o seu nome?”. Nila deveria responder como a Santa Virgem respondeu em 1858: “Sou a Imaculada Conceição”. Em vez disso, ela disse: “Oi, sou Nila”.

Debbie a repreendeu: “Sua vadia idiota. Devia dizer ‘Sou a Imaculada Conceição’”. A audiência engoliu em seco. A discussão entre as duas rapidamente ficou mais acalorada. Mary Griffith cobriu o rosto e começou a rir. Fiz o mesmo. Foi inesquecível.

Alguns dias antes de Mary ir para o Bronx, tivemos um jantar de despedida em um restaurante tailandês. A ideia foi minha, e bastante inocente, já que ambos tínhamos a intenção de entregar nossa vida completamente a Deus e a mais ninguém. Ela me contou como acreditava que Deus a estava chamando para a vida religiosa como freira, e eu compartilhei com ela que estava considerando seriamente o sacerdócio. Foi um encontro espiritual, nada mais. Antes de partir de vez, ela me mandou uma cópia de outro livro de Malcolm Muggeridge, Jesus Rediscovered[1].

Mary Griffith se tornou Irmã Katrina em junho de 1988 e desapareceu na vida do convento das Missionárias da Caridade. Cinco meses depois, pedi demissão de meu cargo no gabinete do Senador Hatfield e fui viver com os Padres MCs em seu seminário em Tijuana, um lugar que Madre Teresa descreveu como “uma grande cidade de pobreza”. Padre Joseph me acolheu, enquanto eu trabalhava em tempo integral para a Madre. Minha vida no México era muito parecida com a que Mary tinha no Bronx. A agenda era organizada e fornecia bastante tempo para oração e trabalho, mas pouco para descanso. As necessidades das famílias no bairro onde os padres moravam eram imensas. Quando eu não estava embalando dispensas, sacos com alimentos básicos que entregávamos duas vezes por semana, ou visitando as casas simples das famílias, trabalhava em projetos designados por Madre Teresa ou por Padre Joseph. Às vezes, ele e eu conversávamos por horas sobre discernimento vocacional, oração e espiritualidade. Também analisávamos notas sobre a recente eleição de George H. W. Bush e o que isso poderia significar para nosso país natal.

Viajei muitas vezes com a Madre durante meu ano com os Padres MC. Em junho de 1989, a acompanhei a Memphis, onde tinha sido aberto um novo lar, e depois fomos a Washington, D.C. Estava esperando pela Madre na sala comunitária da Gift of Peace quando Mary Griffith entrou pela porta da frente. Fiquei surpreso: ela não estava usando o sari branco das postulantes a MC, vestia roupas comuns. Ela se sentou ao meu lado, e eu perguntei por que tinha voltado para Washington. Ela explicou que Irmã Frederick tinha lhe dito que não era vocacionada para ser uma MC e que tinha vindo apelar dessa decisão diretamente com Madre Teresa. Em instantes, Madre apareceu e pegou Mary pela mão, levando-a para uma reunião a portas fechadas na saleta. Dez minutos depois, Mary saiu com lágrimas escorrendo pelo rosto e foi embora sem nem olhar em minha direção.

Só descobri o que tinha acontecido quando voltei para o México. Recebi uma rara ligação telefônica de outro voluntário de tempo integral, Ralph Dyer, numa tarde de domingo. “Soube o que aconteceu?”, perguntou sem fôlego. “Irmã Katrina saiu. Não está mais com as irmãs.” Eu deveria ter suspeitado: a Madre não anularia a decisão da Irmã Frederick. Mas havia um motivo oculto naquela ligação: Ralph não achava que eu era feito para ser padre MC, ou mesmo um sacerdote, e admirava muito Mary. Embora não tenha falado isso explicitamente, eu deveria considerar um futuro com ela em vez de ficar com os Padres MC. O fato de ele estar me telefonando deixou isso bem claro.

Continuei naquele ano com os padres, mas o fato de Mary estar de volta à sociedade pode ter interferido em meu discernimento quanto à vocação ao celibato. Por mais que eu amasse a ideia de ser um padre, não me sentia chamado por Deus para ser um. Em janeiro de 1990, me despedi dos padres e fui a Calcutá para confirmar com a Madre que aquela era a decisão correta e ter certeza de que não estava dizendo não a Deus. Se ela tivesse me dito para entrar no seminário, eu o teria feito sem questionar, mas ela não disse. Disse que eu devia “orar para que Ele me usasse sem me consultar” (conselho que ela me daria diversas vezes). Então falou que eu deveria levar Jesus a lugares aonde ela não poderia ir, como a Casa Branca.

Irmã Priscilla, uma de suas confidentes no convento-sede e a secretária-geral da congregação, me contou que a Madre decidira escrever uma carta ao presidente George H. W. Bush pedindo que ele me desse um emprego. Não fiquei animado com essa notícia. Achava que tinha acabado com minha vida política em Washington e não queria inalar o gás inodoro que intoxica os que circundam o poder. A Madre parecia inflexível, então tentei baixar um pouco o tom. Talvez ela pudesse enviar a carta para John Sununu, chefe de gabinete de Bush, “para o presidente não ser incomodado com isso”, sugeri.

No dia seguinte, a Madre me entregou uma carta manuscrita:

Prezado sr. Sununu,

Estou lhe escrevendo a propósito de Jim Towey, que eu conheci em 1985, quando estava trabalhando para o Senador M. Hatfield. Jim Towey tem ajudado nossas irmãs em Washington, D.C., em seu tempo livre desde 1985 e, no último ano, o convidei a ajudar nossos padres e irmãs MCs em nossa missão, em Tijuana, próxima à fronteira de San Diego.

Jim passou quinze meses em Tijuana ajudando os padres MC de diversas formas, levando alegria, paz e amor aos pobres a quem eles servem.

Agora, Jim está retornando ao trabalho governamental em Washington com minha bênção, e é minha esperança que você possa lhe dar um emprego adequado.

Minha gratidão é minha oração por você, por sua família e pelas pessoas a quem serve.

Por favor, reze por mim e por Nossos Pobres.

Deus o abençoe,

M. Teresa, MC

Saí de Calcutá com três coisas: sua bênção, a carta e uma febre tifoide. Poucos dias após chegar a Washington, tive febre alta e fraqueza debilitante. Me mudei para um dos quartos de voluntários da Gift of Peace e fiquei tão doente quanto alguns dos residentes. Mary tinha retomado seus estudos universitários – dessa vez, na Universidade Católica –, mas ainda era voluntária no lar dos aidéticos. Irmã Dolores, a superiora lá, mandou Mary ao meu quarto com sopa e suco. Ela sabia que a presença suave e a risada maravilhosa de Mary eram mais medicinais do que o que levava na bandeja. Mais tarde ficaria claro que Irmã Dolores estava tão decidida a arranjar um casamento entre mim e Mary quanto Ralph. Quando me recuperei e voltei às minhas funções em tempo integral na casa, a irmã redobrou seus esforços. Por exemplo, certa vez ela me pediu que levasse os homens a um passeio ao zoológico e, quando os estava embarcando na van, Mary chegou para acompanhar as mulheres ao mesmo passeio.

Enquanto isso, o senador Hatfield encaminhou a carta de Madre Teresa para John Sununu, que providenciou que eu me encontrasse com seu vice, Andy Card. Ele me disse que não havia vagas abertas na equipe da Casa Branca, mas que procuraria um lugar para mim na administração. Não fiquei desapontado com a notícia nem particularmente interessado em um emprego no governo. Estava feliz em estar imerso na vida e nas necessidades dos residentes da Gift of Peace e não tinha pressa para voltar à competição desenfreada. Meses se passaram e nenhuma oferta de emprego surgiu, mas Mary e eu nos aproximamos nesse namoro mais incomum – ela morando com os pais, e eu em um lar para aidéticos.

No fim do ano, porém, eu já tinha queimado minhas economias e meu fundo de pensão e precisava voltar a um emprego remunerado. Fui entrevistado para um cargo com o recém-eleito governador da Flórida, Lawton Chiles, para quem tinha brevemente trabalhado quando ele era senador. Me apresentei vestindo um terno que alguém havia doado às MCs. Ele me contratou e disse para ser seus “olhos e ouvidos junto aos pobres”. Era uma perspectiva atraente e, melhor ainda, ele entendeu que eu queria continuar ajudando Madre Teresa e suas irmãs sempre que fosse chamado.

Enquanto me preparava para ir para Tallahassee, em novembro de 1990, escrevi uma carta para Madre Teresa contando que o emprego na Casa Branca, que ela havia imaginado, nunca se materializara, e ela me respondeu dizendo: “Como nada veio da Casa Branca – talvez nosso Senhor não queira você lá”. Mas também compartilhei minha intenção de pedir Mary em casamento e pedi sua aprovação e bênção. Sua resposta manuscrita não apenas me concedeu os dois, como sugeriu a data em que deveríamos nos casar. Enquanto isso, Mary estava terminando seus estudos em Washington e continuava a ajudar na Gift of Peace. Nosso relacionamento se aprofundava a cada telefonema e carta, e eu estava cada vez mais convencido de que ela era a pessoa certa para mim. Ela já havia decidido que iríamos nos casar e, não tão sutilmente, sugeriu datas e lugares onde pudéssemos nos encontrar e ficar noivos. Seus estudos de espanhol a levaram para a cidade do México em 1991, e eu a visitei lá, disfarçando minha intenção de fazer o pedido com a desculpa de que tinha ido me reconectar com os Padres MC. Fomos à missa na Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe, o santuário mariano mais visitado no mundo. Padre Joseph providenciou para que usássemos a capela privativa do andar superior, com vista para a missa que era celebrada no altar principal, abaixo.

No momento da liturgia, quando o padre convida os fiéis a oferecerem uns aos outros “um sinal de paz”, me ajoelhei e pedi a Mary que fosse minha esposa. Achava que, talvez, se fizesse o pedido naquele lugar sagrado, durante uma missa, poderia receber graças e proteção especial para não estragar o casamento. Minha doce Mary espontaneamente se ajoelhou e, com lágrimas nos olhos, disse sim.

No mundo das Missionárias da Caridade, nosso noivado foi uma grande notícia. Em um telefonema da Albânia, depois que eu tinha feito o pedido, a Madre me disse tranquilamente: “Muito bom. Muito bom. Vocês podem passar a lua de mel na Albânia”. (Esse, possivelmente, foi o único conselho seu que não seguimos.) Contudo, Madre deixou uma coisa clara: “Vocês precisam ter uma casa normal com coisas boas, apropriadas para sua posição. Vocês não são MC e não devem viver como MC. Devem ser normais. Você deve sustentar sua família com um emprego adequado. Deus lhe mostrará o que fazer”.

Madre Teresa veio a Washington em dezembro e entregamos a ela o primeiro convite do nosso casamento. Ela beijou e abençoou nossas alianças, depois segurou as mãos de Mary e olhou em seus olhos, dizendo: “Mesmo que a Madre esteja longe, estarei sempre com vocês em minhas orações”. Ela nos disse para termos cinco filhos – um para cada um dos Mistérios Gozosos do Rosário. Já estava agendada para estar no México em 1.º de fevereiro, a data de nosso casamento, mas deu rara permissão a 35 de suas irmãs para comparecerem à cerimônia, representando-a em nosso grande dia.

Tive a graça de falar com Madre Teresa por telefone naquela manhã e, quando lhe disse que a cerimônia seria ao meio-dia, ela prometeu: “Estarei na capela fazendo uma hora santa por você e Mary durante esse tempo”. Todos os que compareceram à cerimônia se lembravam do canto angelical das irmãs e de Irmã Dolores interrompendo nossa procissão triunfante pelo corredor para colocar guirlandas de flores no nosso pescoço.

Não perdemos tempo em seguir as ordens da Madre de termos uma grande família. Mary engravidou sete semanas após o casamento. James nasceu no fim de dezembro; Joseph veio 23 meses depois e Maximilian, 21 meses depois de Joe (e dez meses após um aborto espontâneo, que levou Mary à sala de emergência).

Durante aqueles cinco primeiros anos de casamento, sempre que eu telefonava para a Madre para falar de questões legais, ela invariavelmente perguntava pelas crianças. Cada vez que as encontrava, se deliciava com elas. Quando Joe foi a uma reunião comigo, ela pegou sua chupeta do chão e a colocou de volta em sua boca. Cada um dos meninos deixou sua marca indelével na Madre: Jamie a mordeu, Joe acertou sua cabeça e Max quase engoliu a Medalha Milagrosa que ela tinha lhe dado (tive que pescar a medalha da sua boca com o dedo). Durante aqueles anos, a fiz rir, sempre terminando nossas ligações com saudações dos meninos à sua “Avó Teresa”.


 

1. Em tradução livre, Jesus redescoberto. (N.T.)[ «« ]

Receba a Liturgia Diária no seu WhatsApp


Deixe um Comentário

Comentários


Nenhum comentário ainda.


Acervo Católico

© 2024 - 2025 Acervo Católico. Todos os direitos reservados.

Siga-nos