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Capítulo 7
Mãe dos excluídos
“A pior doença não é a lepra ou a tuberculose. É a solidão. É ser rejeitado. É esquecer a alegria, o amor e o toque humano.”
– Madre Teresa
Passei o início dos anos 1990 tentando equilibrar as demandas de uma família que crescia, os muitos pedidos de ajuda de Calcutá e meu trabalho cotidiano dirigindo a Agência de Serviços de Saúde e Reabilitação de Miami com seus cinco mil funcionários. Meu escritório ficava do outro lado da rua, em frente à delegacia de polícia, no bairro de Overtown. Estava no centro da ruína da cidade e em contato regular com legiões de crianças adotivas, portadores de deficiência e doentes mentais em instituições públicas, e os numerosos pobres da cidade que dependiam de cupons de alimentação federais para sobreviver. Estava havia nove meses na função quando o furacão Andrew varreu o sul da Flórida e aumentou enormemente o número de moradores sitiados buscando ajuda governamental. O trabalho era gratificante e exaustivo em igual medida.
Fiquei dezoito meses em Miami e depois fui a Tallahassee para chefiar toda a rede de serviços do estado. Foi lá que aprendi os limites do que os programas financiados pelos contribuintes podem fazer pelos mais necessitados. Um viciado em drogas ou uma mãe sem teto, não importa o quão bem-intencionados ou orientados sejam, precisam mais do que serviços de burocratas. Os pobres clamam por conexão humana, por alguém que se importe com eles. O governo não pode fornecer isso, porque o governo não pode amar. É por isso que organizações religiosas e comunitárias normalmente são mais eficazes em reparar as vidas despedaçadas daqueles a quem servem. Madre Teresa me ensinou que as feridas mais profundas da humanidade podem ser melhor curadas por meio do amor e da compaixão, uma pessoa de cada vez.
O voto das Missionárias da Caridade de fornecer “serviços sinceros e gratuitos aos mais pobres dos pobres” significa não apenas trabalhar nas favelas, mas trabalhar com os mais miseráveis dos moradores das favelas. Veja o exemplo dos leprosos de Calcutá. A lepra acompanha a civilização desde o início. Ser um leproso sempre significou exclusão de todas as partes da sociedade organizada, incluindo família e amigos, e uma vida de exílio como mendigo. Na Europa, na Idade Média, leprosos eram obrigados a usar roupas especiais e tocar um sino ao se aproximar de incautos. Mil anos mais tarde, na Calcutá do pós-guerra, o estigma da doença não era menos humilhante. Eles eram marginalizados e abandonados por todos. As primeiras incursões de Madre Teresa dentro das favelas de Entally a colocaram em contato direto com essas almas negligenciadas. Eram essas pessoas que a Madre buscava ao fundar as MCs. Ela não tinha medo e estava certa do consolo que sua missão traria.
A Madre e suas Missionárias da Caridade montaram clínicas móveis para levar serviços médicos a bairros com alta concentração de leprosos. Ela sabia que eles não estariam dispostos nem seriam capazes de ir até um consultório de tijolos e argamassa. Quando eu fui testemunhar esse trabalho, as MCs já tinham registrado quatro milhões de visitas de leprosos a essas clínicas em toda a Índia. Madre também fundou Shanti Nagar, uma cidade para os leprosos e suas famílias a cerca de 320 quilômetros de Calcutá. Era nesse lugar que era tecido o algodão dos saris usados pelas MC, em teares operados por leprosos. A Madre falava com orgulho dessa conexão, sempre que era perguntada sobre seu traje. Ela procurou dar aos leprosos um trabalho significativo e propósito em servir aos outros, em vez de simples caridade.
O cuidado da Madre por todos os excluídos era inspirado no exemplo de Jesus. Os Evangelhos registram a cura de leprosos, sua ternura para com a mulher samaritana no poço e com a adúltera lançada aos Seus pés, e a parábola do Bom Samaritano. Jesus disse “Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo”, e então a Madre abriu lares reservados para leprosos, crianças órfãs, deficientes graves e mulheres e meninas escravizadas no tráfico sexual.
Os párias da sociedade despertaram a mãe na Madre. Em seu discurso nas Nações Unidas, em 1985, ela fez alusão ao lar para portadores de aids que estava abrindo em Greenwich Village. O mundo tinha acabado de descobrir a doença que se espalhava rapidamente, de modo assustador, nas comunidades marginalizadas: homens gays e usuários de drogas. A doença era tão terrível e misteriosa que os que contraíam aids normalmente não tinham para onde ir. As pessoas estavam com medo desses novos leprosos, e a Madre correu para preencher o vazio. O lar para aidéticos de Nova York foi seu primeiro nos Estados Unidos. Em alguns anos, ela abriu novas casas desse tipo em Washington, D.C., São Francisco, Denver, Atlanta e Baltimore. Meu tempo como voluntário na Gift of Peace, em Washington, foi muito enriquecedor para mim; os moribundos que conheci me mostraram coragem e dignidade irrestrita.
Christine e Gregory são dois dos quais não posso esquecer. Eles vieram para a Gift of Peace, na capital, com meses de diferença entre um e outro, em 1990, e os dois pareciam estar entre os candidatos mais improváveis a ter aids e a não ter teto. Ambos eram inteligentes e tinham diploma universitário e ambos tiveram empregos bem remunerados – ela na Blue Cross Blue Shield, uma empresa privada de planos de saúde, e ele na Amtrak, empresa estatal de transporte ferroviário. Chris tinha os trejeitos e feições de uma modelo profissional, e Greg tinha inteligência e charme que atraíam os outros à sua companhia. Com tudo isso, como esses dois tinham ido parar na Gift of Peace?
No caso de Greg, a resposta era simples: foram as drogas. Ele vinha de uma família grande: uma irmã mais velha, Anita; dois irmãos mais novos, Neil e Adrian; e uma irmãzinha, Bonnie. A vida em casa fora profundamente afetada pelo assassinato do pai. A mãe precisou trabalhar em tempo integral para sustentar a família, deixando os adolescentes por conta própria. Seus irmãos rapidamente se voltaram para as drogas, mas Greg resistiu à tentação. O bom exemplo de Anita lhe dava forças para resistir, ele me disse. Porém, um dia, ele a viu usando drogas secretamente e cedeu. Rapidamente ficou viciado, e o estilo de vida de um viciado em drogas acabou levando-o para as ruas e, então, para o lar de aidéticos. Nas raras ocasiões em que seus irmãos vieram visitá-lo, lhe deram pouco amor ou compaixão. Uma vez os vi discutindo na frente dele sobre quem ficaria com a televisão após sua morte. Eles gastavam os cheques governamentais dele e ignoravam seus pedidos para lhe trazerem um pacote de Newports (sua marca favorita de cigarros) e suco.
Algumas semanas antes de sua morte, eu lhe perguntei se acreditava em Deus e se se arrependia de seus pecados. Ele respondeu com seu jeito caracteristicamente franco: “Jim, experimentei de tudo o que é possível na vida, e olhe para onde isso me trouxe. Quero experimentar Deus. Acho que pode ser uma coisa boa”. Para ele foi simples assim, e então pediu para ser batizado. As irmãs fizeram os preparativos e convidaram a família dele. De seu quarto, desci as escadas com Greg nos braços até a capela, onde toda a sua família estava reunida. Provavelmente acreditavam que ele tinha sido coagido e que aquele ritual era o quid pro quo pelos cuidados gratuitos que recebera das irmãs. Era tudo, menos isso. Quando o Padre Ryan começou o ritual do batismo, perguntando: “Greg, você acredita em Deus, o Pai Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra?”, sua resposta foi retumbante. O “Sim, acredito” de Greg não poderia ter sido mais forte ou ter mais convicção. Sua mãe começou a chorar e não conseguia parar. Seus irmãos ficaram profundamente aturdidos.
Daquele dia em diante, se tornaram visitantes regulares e frequentemente faziam vigília em seu quarto. No sábado antes de sua morte, seu irmão Neil e sua irmã Bonnie foram visitá-lo. Eu estava no quarto quando chegaram e, com um inesperado rompante de força, Greg falou: “Neil, venha aqui, me dê um abraço”. Relutantemente, Neil se obrigou a um abraço rápido e frio. Greg olhou para ele e continuou: “Você tem sido um irmão terrível, mas eu o perdoo por tudo o que fez e amo você”. Neil começou a chorar. Não disse uma palavra. Não precisava.
A espiral descendente de Christine, para mim, estará sempre envolta em mistério porque ela tinha se fechado emocionalmente antes de chegar à casa Gift of Peace. Falava pouco e sorria ainda menos. Sua única visita foi a avó, que veio apenas algumas vezes. Irmã Carmel, uma das MCs que cuidava de Chris, sabia que ela era solitária e lhe preparou uma comemoração de aniversário. As irmãs compraram um bolo e acenderam um punhado de velas. Chris estava tão fraca que precisei pegar uma das velas e aproximá-la de seus lábios para que tivesse fôlego suficiente para apagá-la. Mesmo que nenhum amigo ou familiar tivesse vindo, ela pareceu feliz com a festa e a atenção. Numa tarde de domingo, saí para o estacionamento e vi dois homens tomando goles de uma garrafa embrulhada em um saco de papel pardo. Perguntei por que estavam ali, e o mais bêbado se identificou como o pai de Chris. Eu o acompanhei escada acima até a ala feminina da casa, onde poderia ver a filha. A visita foi um desastre, eu soube mais tarde, e apenas pareceu deixar Chris ainda mais triste.
Ela faleceu cerca de uma semana depois da visita. Irmã Dolores, superiora do lar, anunciou que haveria um funeral na capela maior, no andar superior, o que foi uma surpresa, pois eu não achava que Chris tivesse família ou amigos que se incomodassem em comparecer. Estava errado – e chocado. Cerca de cem pessoas vieram, lotando nossa capela. O corpo de Chris descansava em um caixão simples em frente ao altar, e amigos e ex-colegas de trabalho soluçavam; alguns, inclusive, desabaram em luto. Um disse em voz alta: “Me perdoe, Chris, por não ter vindo visitar você. Sinto tanta culpa”. A morte de Chris parecia estar ensinando a eles uma lição amarga em uma época em que a aids ainda carregava um enorme estigma.
As irmãs na casa Gift of Peace ofereceram a Chris e a Greg amor, cuidado e perdão quando a própria família e os amigos deles não puderam. Greg fez as pazes com os irmãos e seu passado, e a família e os amigos de Chris tiveram a oportunidade de buscar perdão por suas falhas. Esse foi o sucesso de Madre Teresa. O trabalho de sua vida enviava ondas de compaixão que podiam transformar um lar para portadores de aids em um lugar de cura, reconciliação e aceitação.
Amor assim era algo que o estado simplesmente não poderia fornecer. Na verdade, parecia que muitos burocratas não conseguiam sequer entender. Em 1995, o Departamento de Serviço Social da Califórnia tentou fechar o lar para aidéticos da Madre em São Francisco, em boa parte por causa das armadilhas religiosas arraigadas nos cuidados que as irmãs forneciam. Em seus primeiros cinco anos de operação, a Gift of Love[1] foi o lar terreno final de 134 homens. Muitos dos pacientes vieram da penitenciária estadual de San Quentin e de outras prisões. As irmãs amavam e cuidavam de todos eles e nunca pediram um centavo do governo local, estadual ou federal.
Em maio de 1995, o governo estadual notificou as Missionárias da Caridade. Para continuar operando, a Gift of Love deveria estar em conformidade com as 44 páginas de regulamentos que regem “Instalações Residenciais de Cuidados de Doentes Crônicos”. O novo treinamento e as obrigações burocráticas eram onerosos e caros para uma casa simples, administrada por freiras com a ajuda de alguns voluntários devotos. Outros requerimentos eram igualmente inaceitáveis. Refeições não poderiam ser mais trazidas pelas igrejas locais. As irmãs e os voluntários deveriam ter as digitais coletadas. Pornografia deveria ser permitida nos quartos dos residentes, e o tom religioso da casa deveria ser atenuado. Se as MCs não cumprissem essas regras, receberiam multas diárias por quaisquer “deficiências” e, em última análise, a instituição seria fechada.
As MCs não conseguiram atender àquelas demandas e, após meses de negociação, percebi que o estado não recuaria. Por fim, disse à Madre que teríamos que cumprir as exigências ou interromper as operações até o fim do mês. Madre Teresa não hesitou: “Diga a eles que vou fechar a casa, e que venham buscar as pessoas”. Ao receber minha carta informando essa decisão, o Departamento de Serviço Social percebeu que enfrentaria uma crise humanitária – e um desastre de opinião pública. Subitamente, o estado determinou que a “licença para a Gift of Love [...] pode ser concedida sem qualquer grande interrupção na operação ou nos serviços da instalação [...] [Nós] não antevemos qualquer problema maior que não possa ser resolvido”.
Nem sempre foi o estado e as autoridades locais que se colocaram no caminho das irmãs em suas tentativas de cuidar das vítimas da aids. O desprezo velado do público em geral por homens gays, prostitutas e usuários de drogas fez com que esses abrigos rapidamente se tornassem objeto de resistência do tipo “não no meu quintal”. A Madre enfrentou oposição semelhante na Índia, quando procurou abrigar leprosos em locais onde os residentes ficaram horrorizados com o desejo da Madre de recebê-los. A Gift of Peace em Washington, D.C., quase não abriu devido à hostilidade dos vizinhos e do governo da capital. As audiências públicas de zoneamento tinham sido uma farsa: um vizinho alegou que um mosquito poderia picar um paciente e atravessar a rua voando e infectar alguém. Tais temores eram comuns em meados de 1980, quando pouco era conhecido sobre a aids e sua transmissão. Graças a uma brecha nos regulamentos da lei de zoneamento, as MCs puderam abrir a casa em novembro de 1986 e operá-la legalmente. dr. Anthony Fauci, mais tarde famoso por sua atuação na pandemia da covid-19, treinou o primeiro grupo de irmãs nos protocolos de doenças infecciosas.
No entanto, a oposição da vizinhança só se intensificou após a abertura, e o conselho de zoneamento ameaçou fechar a casa. A pedido da Madre, o Senador Hatfield interveio com o prefeito, e dezoito meses após a abertura da Gift of Peace, diante da contínua hostilidade do governo local, o Congresso deu um passo extraordinário ao isentar a casa da lei de zoneamento do D.C. A assinatura do presidente Reagan tornou-a Lei Pública 110-462, e a propriedade permanece isenta até hoje.
Para mim, é um lugar sagrado, e agradeço a Deus por se manter aberto. Quase todas as pessoas de quem cuidei na Gift of Peace eram adultas, mas a que não era foi uma das pessoas mais inesquecíveis que conheci. Em 1987, Tina, de oito anos de idade, chegou à casa em estágio avançado de aids. Ela havia contraído o vírus no nascimento, da mãe, que era prostitua e viciada em drogas. O pai já tinha morrido de aids quando ela chegou até nós.
Alguns meses antes, Tina havia contraído catapora. Sem nenhuma supervisão parental para protegê-la de si mesma, coçou a pele até as manchas se transformarem em grandes feridas abertas. As feridas infeccionaram e seu sistema imunológico comprometido era impotente para curá-las. Onde as mãos de Tina não conseguiram alcançar, as marcas haviam desaparecido, por isso a pele de suas costas era suave como a de qualquer criança. Mas seu rosto, pescoço, braços, barriga e pernas estavam cobertas com feridas recentes infectadas com a bactéria estafilococos.
Essas feridas sangravam e, com a aids e o estafilococos, Tina era altamente contagiosa. As irmãs tomavam o cuidado de banhá-la todos os dias, o que parecia proporcionar desconforto e alívio. Todos os que a atendiam tinham que usar máscara e luvas e ter cautela extrema para não ser infectado por seus fluidos corporais. Algumas noites, ela me pedia que removesse as minúsculas fibras de tecido presas às feridas. As fibras pareciam distraí-la de seus problemas mais sérios, como tosse incessante, febres altíssimas e diarreia persistente – todos sintomas comuns em pessoas com estágio avançado de aids.
Tina sentia dores constantes, mas quase nunca reclamava. Amava brincar, mesmo estando confinada à cama, e sua risada fazia qualquer um esquecer por um momento onde ela estava e por quê. O sotaque sulista, sorriso iluminado e as tranças soltas conquistavam o amor das pessoas e as atraíam para cuidar dela, apesar de suas temerosas feridas. Certa manhã de sábado, Sandy McMurtrie e suas filhas adolescentes vieram para limpá-la, vesti-la e mimá-la, e ela se encantou com essa atenção especial. Irmã Dolores tomava cuidados extras para que Tina tivesse a quantidade certa de companhia, sem ficar superexposta nem sozinha.
Durante o recesso de Natal, mudei-me para a Gift of Peace para ajudar, o que me proporcionou muitas horas com Tina. Ela compartilhou histórias de sua vida em casa e não tinha noção do quão dura fora sua infância. Me contou como, certa vez, encontrou a mãe “dormindo” no chão. Tina lhe trouxe um sanduiche de queijo e um copo de leite para tentar reanimá-la, sem saber que estava desmaiada. À noite, frequentemente eu ouvia a voz de Tina ecoando pelos corredores, chamando “Onde está minha mãe? Eu quero a minha mãe!”. Uma vez, no delírio da febre, ela orou o “Pai-Nosso” em voz alta durante o sono, repetindo algumas frases diversas vezes. Cantava “Jesus me ama” repetidas vezes, indicando que alguém, em algum momento, a levara à igreja. Porém, normalmente, passava as noites tossindo, se virando, acordando e me chamando para levar alguma coisa para ela beber. Ela odiava ficar sozinha. De vez em quando, seu belo sorriso e seus olhos castanhos alegres brilhavam como os de outras meninas de sua idade. A maioria de seus dias, no entanto, era passada em tormento físico, e ela enfraquecia gradativamente.
Tina viveu na Gift of Peace por seis semanas. Pouco antes de ela falecer, Irmã Dolores telefonou para o meu escritório no Capitólio, com a voz ansiosa. “A mãe de Tina precisa vir visitá-la antes que seja tarde demais.” O endereço de Tina estava em seu formulário de admissão, mas eu sabia que um homem desconhecido aparecendo ali poderia causar problemas. Entrei em contato com uma amiga que conhecia do Capitólio, Polly Gault, e pedi ajuda. Polly era uma guerreira (tinha acabado de ser nomeada diretora-executiva da Comissão Presidencial sobre a Epidemia de HIV) e não temia a vizinhança aonde teria de ir. A mãe de Tina – embora drogada e beligerante com a chegada de Polly –, concordou em ver a filha. No caminho, Polly comprou um McLanche Feliz, o favorito de Tina, para que a mãe pudesse dar à sua filhinha.
Ainda era fim de tarde, porém escuro como a noite lá fora, quando a mãe de Tina entrou na Gift of Peace usando óculos escuros. Ela era terrivelmente magra e parecia bem doente e frágil, mas projetava um ar de orgulho desafiador em face de sua humilhação, pois todos sabiam que nunca fora uma mãe presente para a filha. Ela nos ignorou e foi direto até Tina, subiu em sua cama e a segurou como qualquer mãe amorosa faria. Surpreendentemente – e milagrosamente –, por um instante, nada poderia se colocar entre ela e sua pequena. Não ficou muito tempo, nem falou muito, mas tinha segurado a filha doente. Foi um momento de graça.
Vi Tina na véspera de sua morte. Estava muito fraca, com a respiração bem difícil. Assim que entrei em seu quarto, disse: “Tina, vamos brincar!”. Perceptivelmente, ela se animou – a criança dentro dela estava muito viva! Me pediu que fosse buscar um jogo. Saí do quarto à procura de um e, quando voltei momentos depois, ela estava dormindo profundamente. Era melhor assim. Logo, ela estaria brincando na eternidade, para sempre jovem, para sempre amada.
1. Em tradução livre, presente de amor. (N.T.)[ «« ]
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