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As Grandes Maravilhas De Fátima

8. NAS VÉSPERAS DO GRANDE MILAGRE

(11 DE OUTUBRO DE 1917)

Convencido da sinceridade absoluta das três crianças, que disseram ter visto cinco vezes Nossa Senhora, no local denominado Cova da Iria, da freguesia de Fátima, concelho de Vila Nova de Ourém, e ter ela declarado que no dia treze de Outubro corrente havia de fazer que todo o povo acreditasse no seu aparecimento, voltei pela terceira vez àquela povoação. Embora receasse que as crianças fossem vítimas duma alucinação, hipótese que aliás tudo me fazia repelir, ou que os acontecimentos extraordinários que ali se realizavam fossem provocados pelo espírito das trevas para fins desconhecidos, no meu espírito ia-se radicando cada vez mais a convicção de que Fátima era o lugar destinado pela Rainha do Céu, Padroeira de Portugal, para teatro de novos prodígios da sua bondade e misericórdia. Por esse motivo resolvi partir com alguns dias de antecedência, tomando no dia dez, às onze horas e meia da manhã, na estação de Santarém, o comboio que me devia conduzir a Chão de Maçãs, estação do caminho de Ferro mais próxima da que talvez venha a ser considerada, por mercê de Deus, a Lourdes ou a La Salette Portuguesa. Uma charrette transportou-me a Vila Nova de Ourém, donde, após haver trocado impressões com o rev.do pároco daquela vila sobre os acontecimentos que motivaram a minha viagem, segui noutra charrette para Fátima, onde me apeei às onze horas da noite, dirigindo-me imediatamente para o lugar do Montelo, a dois quilómetros de distância. Ali fiquei hospedado em casa da família Gonçalves, muito considerada pela sua honestidade e pelos seus sentimentos religiosos. No dia seguinte de manhã propus-me ir interrogar novamente os videntes de Aljustrel, onde residem, a três quilómetros de Montelo. Antes disso, porém, interroguei Manuel Gonçalves Júnior, de trinta anos de idade, casado, filho do meu hospedeiro, homem inteligente e dotado de muito bom senso e de faculdades invulgares de observação.

Depoimento de Manuel Gonçalves Júnior

São do teor seguinte as perguntas que lhe fiz e as respectivas respostas:

– Os pais das crianças de Aljustrel que se dizem favorecidas com aparições de Nossa Senhora têm boa fama, são gente honrada e de bons costumes?

– Os pais do Francisco e da Jacinta são pessoas muito boas, profundamente religiosos e respeitados por todos. O pai tem fama de ser o homem mais sério do lugar. É incapaz de enganar alguém.

O pai da Lúcia embriaga-se às vezes e frequenta pouco a igreja. Não é, porém, dotado de maus sentimentos. No dia treze de Julho, alguns companheiros mal intencionados embriagaram-no, no intuito de o levarem a praticar desatinos no local das aparições. Efectivamente, embora, como sempre, tivesse deixado ir a filha àquele local, mandou retirar o povo (ele é o proprietário da charneca onde está a carrasqueira que serve de pedestal à aparição). O povo, vendo-o em estado de embriaguez, não se importou com essa intimação, e um homem empurrou-o, fazendo-o cair. A mãe é uma mulher honesta, religiosa, e amante do trabalho.

– Que pensam os habitantes de Fátima a respeito do que as crianças dizem? Não as acreditam? Julgam-nas mentirosas? Ou julgam-nas vítimas duma alucinação?

– A princípio o povo não queria ir à Cova da Iria. Ninguém acreditava nas crianças. Em treze de Junho, dia da segunda aparição, havia festa na igreja da freguesia em honra de Santo António. Na Cova da Iria estavam apenas, à hora da aparição, umas sessenta pessoas. Os pais do Francisco e da Jacinta tinham ido de manhã cedo para Porto de Mós à feira chamada “dos treze”, com o fim de comprar bois, e chegaram já de noite. Na sua ausência a casa encheu-se-lhes de gente, que queria ver as crianças e interrogá-las. Presentemente uma grande parte do povo julga que as crianças falam verdade. Pela minha parte, estou convencido disso.

– Nos dias das aparições tem havido sinais extraordinários? Há muitas pessoas que afirmam tê-los visto?

– Os sinais são muitos. Em Agosto quase todos os que estavam presentes viram esses sinais. Uma nuvem baixou até carrasqueira. Em Julho notava-se o mesmo. Não havia poeira no local. A nuvem empoou os ares, que pareciam enevoados.

– Houve mais algum sinal?

– Viam-se no céu, próximo do sol, umas nuvens brancas que se tornavam sucessivamente vermelhas vivas (cor de sangue), cor de rosa e amarelas. O povo tornou-se desta última cor. A luz do sol diminuiu bastante de intensidade. Sentiu-se também um rumor em Julho e em Agosto.

– Suspeita-se de alguém que tenha induzido as crianças a representar uma comédia?

– Não, nem isso é verosímil.

– Tem vindo muita gente de fora ver as crianças e falar com elas?

– Têm vindo inúmeras pessoas de toda a parte.

– Elas aceitam o dinheiro que lhe queiram dar?

– Têm aceitado qualquer coisa, quando teimam muito com elas, mas não aceitam por sua vontade.

– As famílias são pobres? Vivem do seu trabalho? Têm propriedades?

– Não são pobres. São até abastadas. E, se a família da Lúcia não o é mais, isso é devido à circunstância de o pai se entregar com frequência à embriaguez, descurando assim o amanho das suas propriedades.

– Há em Fátima pessoas que tenham estado ao pé das crianças durante as aparições?

– Em Julho estiveram ao pé delas Jacinto de Almeida Lopes, do lugar da Amoreira, e Manuel de Oliveira, deste de Montelo.

– Que faz a Lúcia durante o tempo da aparição?

– Reza o terço. Quando se dirige à Senhora, fala alto. Eu próprio a ouvi em Junho, porque estava próximo. Algumas pessoas afirmam que ouvem o som das respostas.

– O local das aparições é muito frequentado também nos outros dias por pessoas piedosas ou por curiosos?

– É muito frequentado, sobretudo aos Domingos. A maior concorrência é à noite. Vão ali muitas pessoas, de longe e de perto, e mais ainda de fora da freguesia. Rezam o terço e cantam cânticos populares em honra da Virgem.

Terminado este interrogatório, pus-me a caminho de Aljustrel e, tendo chegado àquele lugar, dirigi-me sem demora a casa da Lúcia. Estava junto da sua habitação dando serventia a um pedreiro que consertava o telhado. Logo que me viu, pediu-me a bênção respeitosamente.

A mãe apareceu no mesmo instante e acedeu da melhor vontade ao pedido de me deixar interrogar de novo a filha. Primeiro, porém, fiz-lhe algumas perguntas.

Depoimento da mãe da Lúcia

– Sua filha é parenta do Francisco e da Jacinta?

– É prima, porque meu marido é irmão da mãe deles.

– Como soube que a Senhora apareceu a sua filha da primeira vez? Foi ela que lho contou?

– Tive conhecimento desse facto pela família das outras crianças, porque a Lúcia aconselhou os seus companheiros a não dizerem nada, com receio de que lhes ralhassem. Só depois de interrogada por mim é que disse o que tinha visto.

– Nunca repreendeu sua filha por ir à Cova da Iria? Deu-lhe sempre inteira liberdade de lá ir no dia treze de cada mês?

– Nunca a proibi de ir a esse sítio. Umas vezes perguntava-lhe se queria ir e ela respondia afirmativamente, outras vezes ela mesma dizia que iria, se eu lhe desse licença.

– As três crianças costumam ir sozinhas ao local das aparições ou vão acompanhadas doutras crianças?

– Vão sós. Quase sempre vão também outras crianças, mas são acompanhadas pelos pais e ficam ao pé deles, não se juntando com a Lúcia e os primos dela.

– As crianças guardavam o gado? A quem é que ele pertencia?

– A Lúcia guardava um pequeno rebanho de ovelhas e os primos outro. Pertenciam os rebanhos às respectivas famílias. Às vezes juntavam o gado, mas unicamente porque queriam. As ovelhas que a Lúcia guardava, já as vendi.

– Como é que as crianças têm ido vestidas?

– Da primeira vez iam mal arranjadas, como andam quase sempre os pastores. Das outras vezes, no dia treze de cada mês, vão vestidas de fato claro e levam um lenço branco na cabeça.

– Consta-me que possui um livro intitulado “Missão abreviada” e que às vezes o lê a seus filhos. É verdade?

– É verdade; possuo esse livro e tenho-o lido a meus filhos.

– Leu a história da aparição de La Salette diante da Lúcia e doutras crianças?

– Só diante da Lúcia e dos outros meus filhos.

– A Lúcia falava às vezes na história de La Salette, mostrando de qualquer modo que essa história tinha produzido grande impressão no seu espírito?

– Nunca lhe ouvi dizer nada a esse respeito, se bem me recordo.

– Quando as crianças foram presas pelo administrador de Vila Nova de Ourém, foi alguém reclamar que as restituísse aos pais?

– Um irmão do Francisco e da Jacinta foi falar com eles a casa do administrador. A senhora do administrador perguntou-lhe se ia buscar as crianças, ao que ele respondeu negativamente. O próprio administrador as veio trazer a Fátima.

– Tem vindo muita gente ver sua filha?

– Tem vindo muita gente quase todos os dias.

Concluído este interrogatório, convidei quatro indivíduos dignos de todo o crédito a assistir como testemunhas ao interrogatório da Lúcia: Anastácio da Teresa, Gonçalves da Silva e Manuel Henriques, todos de Aljustrel, e Francisco Rodrigues, da Moita do Martinho. Imediatamente dei princípio à inquirição da vidente.

Interrogatório da Lúcia

Disseste-me há dias que Nossa Senhora queria que o dinheiro oferecido pelo povo fosse levado para a igreja em dois andores. Como é que arranjam os andores e quando é que eles devem ser levados para a igreja?

– Os andores compram-se com o dinheiro oferecido e serão levados nas festas da Senhora do Rosário.

– Sabes com certeza em que sítio é que Nossa Senhora deseja que se edifique uma capela em sua honra?

– Não sei ao certo, mas julgo que ela quer a capela na Cova da Iria.

– Que disse ela que havia de fazer para que todo o povo acreditasse que ela aparecia?

– Disse que havia de fazer um milagre.

– Quando foi que disse isso?

– Disse-o umas poucas de vezes, mas só uma vez, na ocasião da primeira aparição, é que lhe fiz a pergunta.

– Não tens medo de que o povo te faça mal, se não vir nada de extraordinário nesse dia?

– Não tenho medo nenhum.

– Sentes dentro de ti alguma coisa, alguma força que te arraste para a Cova da Iria no dia treze de cada mês?

– Sinto vontade de lá ir e ficava triste se não fosse.

– Viste alguma vez a Senhora benzer-se, rezar, ou desfiar as contas do rosário?

– Não vi.

– Mandou-te rezar?

– Mandou-me rezar umas poucas de vezes.

– Disse-te que rezasses pela conversão dos pecadores?

– Não disse; mandou-me só rezar à Senhora do Rosário para que acabasse a guerra.

– Viste os sinais que as outras pessoas dizem ter visto, como uma estrela, rosas a despregarem-se do vestido da Senhora, etc.?

– Não vi a estrela nem outros sinais extraordinários.

– Ouviste algum rumor, trovão ou tremor de terra?

– Nunca ouvi.

– Sabes ler?

– Não sei.

– Andas a aprender a ler?

– Não ando.

– Como cumpres então a ordem que a Senhora te deu nesse sentido?

– ! ..........................

– Quando dizes ao povo que ajoelhe e reze, é a Senhora que manda que o digas?

– Não é a Senhora que manda, sou eu que quero.

– Sempre que ela aparece, tu ajoelhas?

– Às vezes fico de pé, outras vezes ajoelho-me.

– Quando fala, a sua voz é doce e agradável?

– É.

– Que idade parece ter a Senhora?

– Parece ter uns quinze anos.

– De que cor é o cadeado do rosário?

– É branco.

– E o crucifixo?

– O crucifixo também é branco.

– O véu cobre a testa da Senhora?

– Não cobre; vê-se-lhe a testa bem.

– O esplendor que a envolve é bonito?

– É mais bonito que a luz do sol e muito brilhante.

– A Senhora nunca te saudou com a cabeça ou com as mãos?

– Nunca.

– Nunca se sorriu para ti?

– Também não.

– Costuma olhar para o povo?

– Nunca a vi olhar para ele.

– Ouves as conversas, rumores e gritos do povo, durante o tempo em que vês a Senhora?

– Não ouço.

– A Senhora pediu-te em Maio que voltasses todos os meses até Outubro à Cova da Iria?

– Disse que voltássemos lá de mês a mês durante seis meses, no dia treze.

– Ouviste ler a tua mãe o livro chamado “Missão abreviada”, onde se conta a história da aparição de Nossa Senhora a um menino e uma menina?

– Ouvi.

– Pensavas muitas vezes nessa história e falavas dela a outras crianças?

– Não pensava nessa história, nem a contei a ninguém.

Concluída esta inquirição, dirigi-me a casa das outras crianças, procedendo ali à sua inquirição, na presença do pai e dalgumas das irmãs. Interroguei primeiro a Jacinta.

Interrogatório da Jacinta

– A Senhora recomendou que rezassem o terço?

– Recomendou.

– Quando?

– Quando apareceu pela primeira vez.

– Ouviste também o segredo ou foi só a Lúcia que o ouviu?

– Eu também ouvi.

– Quando o ouviste?

– Da segunda vez, no dia de Santo António.

– Esse segredo é para serem ricos?

– Não é.

– É para serem bons e felizes?

– É. É para bem de todos os três.

– É para irem para o Céu?

– Não é.

– Não podes revelar o segredo?

– Não posso.

– Porquê ?

– Porque a Senhora disse que não disséssemos o segredo a ninguém.

– Se o povo soubesse o segredo, ficava triste?

– Ficava.

– Como tinha a Senhora as mãos?

– Tinha-as erguidas.

– Sempre erguidas?

– Às vezes voltava as palmas para o céu.

– A Senhora disse em Maio que queria que fossem à Cova da Iria mais vezes?

– Disse que queria que fôssemos lá durante seis meses, de mês a mês, até que em Outubro dissesse o que queria.

– Ela tem na cabeça algum resplendor?

– Tem.

– Podes olhar bem para o rosto?

– Não posso, porque faz mal aos olhos.

– Ouviste sempre bem o que a Senhora disse?

– Da última vez não ouvi tudo por causa do barulho que o povo fazia.

Segue-se a inquirição do Francisco.

Interrogatório ao Francisco

– Que idade é que tens?

– Tenho nove anos feitos.

– Só vês a Senhora ou ouves também o que ela diz?

– Só a vejo, não ouço nada do que ela diz.

– Tem algum clarão em volta da cabeça?

– Tem.

– Podes olhar bem para a cara dela?

– Posso olhar, mas pouco, por causa da luz

– Tem alguns enfeites no vestido?

– Tem uns cordões de ouro.

– De que cor é o crucifixo do rosário?

– É branco.

– E a cadeia do rosário?

– Também é branca.

– O povo ficava triste se soubesse o segredo?

– Ficava.

Em seguida entretive-me em demorada conversa com o pai das inocentes crianças acerca dos acontecimentos que tanto o têm preocupado. Forneceu-me informações bastante interessantes que passo a referir, porque lançam muita luz sobre esses acontecimentos20.

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