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PREFÁCIO
Mercê de reiteradas e cativantes solicitações de numerosos amigos e de muitas outras pessoas, algumas delas desconhecidas, que se nos dirigiram nesse sentido, resolvemos dar à estampa este novo livro, como natural sequência e complemento do opúsculo “Os episódios maravilhosos de Fátima”, que o público se dignou acolher com tanto interesse e favor.
Esta obra singela e despretensiosa não aspira a ser um trabalho completo, em que se pronuncie a última palavra sobre o assunto que versa. É uma obra de ocasião, feita de peças diversas e desconexas, redigidas sob a impressão de momento, e portanto naturalmente falha de outra unidade além daquela que lhe imprime tão-somente a intenção do autor, que quis oferecer aos seus leitores uma vista retrospectiva de conjunto sobre algumas fases e aspectos mais interessantes dos episódios maravilhosos de Fátima. Na longa série de quadros, constituídos pelos quarenta e três capítulos do opúsculo, não se expõem todos os factos ocorridos, não se encadeiam sistematicamente os sucessos uns nos outros e não se profere um juízo crítico definitivo.
Trata-se duma matéria, assaz delicada e melindrosa que, em virtude da sua índole peculiar e da sua relação íntima com a vida moral e os destinos do homem, tem logrado apaixonar profundamente o país inteiro, despertando júbilo e entusiasmo nuns, indiferença noutros, ódio e malquerenças nalguns, felizmente bem poucos e de nula cotação intelectual e moral. A autoridade eclesiástica competente, que já nomeou uma comissão de inquérito aos acontecimentos de Fátima, ainda não se pronunciou sobre esta questão controversa, sendo lícito a todos os católicos apreciá-la como lhes aprouver e emitir livremente sobre ela o seu modo de pensar. Por esse motivo, sem outra preocupação que não seja a de encontrar e traduzir a verdade, o autor apresenta intencionalmente, num feixe de notas e observações, mas sobretudo de factos, e factos bem averiguados e de todo o ponto incontestáveis, o fenómeno religioso, extraordinário e admirável, vulgarmente chamado “o milagre de Fátima”.
Daí a variedade de estilo, a repetição de conceitos e reflexões, a insistência em certos pontos que mais vivamente impressionaram o espírito do autor, cujo papel, nesta obra, é mais o dum simples cronista ou repórter, aliás consciencioso e imparcial, do que o dum historiador ou dum crítico, no sentido legítimo e próprio da palavra. Esta última missão, mais alta e de maior responsabilidade, reserva-a ele para mais tarde, quando a Igreja tiver proferido em causa tão momentosa, a sua sentença definitiva e inapelável. Só então verá a luz da publicidade a obra em preparação “História crítica dos acontecimentos de Fátima” em dois volumes: “As Aparições” e “As curas miraculosas”. Entretanto Nossa Senhora do Rosário abençoe este humilde tentame destinado a propagar o seu culto e a levar às almas torturadas pala dúvida ou martirizadas por sofrimentos físicos ou morais um pouco de luz, consolação e conforto.
Do precursor deste livro, o opúsculo “Os episódios maravilhosos de Fátima”, de carácter particular, apenas algumas dezenas de exemplares foram enviados para as livrarias, não se tendo anunciado a sua publicação nem oferecido exemplares aos diversos órgãos da imprensa periódica. Apesar disso, o ilustre escritor sr. Conselheiro Fernando de Sousa (Nemo), director do diário católico “A Época”, de Lisboa, dignou-se publicar no número daquele jornal de 5 de Março de 1922, uma benévola apreciação desse modesto trabalho que, aproveitando o ensejo, agradecemos reconhecidamente e com a devida vénia passamos a transcrever. É do teor seguinte:
“Os episódios maravilhosos de Fátima”, pelo Visconde de Montelo. – É um opúsculo ilustrado de 27 páginas de tipo miúdo, em que são pormenorizadamente narrados os factos extraordinários ocorridos em 1917 em Fátima.
Três crianças asseveravam ter-lhes aparecido uma figura feminina de sobrenatural beleza e ter-lhes dirigido a palavra pedindo a construção duma capela em sua honra, recomendando penitência e a recitação do rosário e declarando por fim que era Nossa Senhora do Rosário. Acorreram a Fátima milhares de pessoas, afirmando muitas terem visto um extraordinário aspecto do sol. Deram-se em seguida curas extraordinárias. Afluíram ao lugar da aparição multidões cada vez mais numerosas, intervindo as autoridades para contrariar esse movimento pacífico, pela força.
O snr. Visconde de Montelo empreendeu a narrativa circunstanciada e imparcial dos acontecimentos, submetendo o seu opúsculo ao juízo da autoridade eclesiástica que autorizou a impressão, considerando o seu trabalho um depoimento consciencioso.
Aguardando que a Igreja se pronuncie sobre os factos ocorridos e reconheça o seu carácter sobrenatural, julgamos interessante a leitura dum relato bem escrito da pessoa que o censor eclesiástico declara “possuir ciência sólida e sólida piedade”.
A prudente reserva da autoridade eclesiástica é a que nos cumpre imitar, fugindo aos escolhos, quer da credulidade excessiva perante narrativas de factos sobrenaturais quer da incredulidade sistemática recusando testemunhos fidedignos. – Nemo”.8
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