- A+
- A-
APRESENTAÇÃO
No 10º aniversário das aparições, o Padre Manuel Nunes Formigão tomou a iniciativa de publicar As grandes maravilhas de Fátima. Era a primeira publicação em forma de livro sobre os singulares eventos, que desde 1917 tinham ocorrido na Cova da Iria e sobre os quais ele mesmo tinha escrito em pequenos artigos e crónicas, desde 1918, publicados em modestos periódicos eclesiais sob o pseudónimo de Visconde de Montelo.
Com tal publicação retomava artigos seus anteriores, com a finalidade de proclamar o chamado “milagre de Fátima”, divulgando a mensagem e acompanhando o evoluir dos acontecimentos, que tinham apaixonado profundamente o país inteiro. O subtítulo indica as três partes que o compõem: 1ª parte: As aparições da Santíssima Virgem; 2ª parte: As grandiosas manifestações de fé e piedade; 3ª parte: As curas extraordinárias. De facto, alguns dos capítulos da 1ª parte tinham aparecido no jornal “A Guarda”, a partir de 1918, depois retomados no opúsculo Os episódios maravilhosos de Fátima (1921); os capítulos da 2ª parte, provêm de crónicas publicadas no jornal “Voz da Fátima”, entre 1922 e 1927; a 3ª parte é constituída por narrações de curas e de presumíveis milagres, que Padre Formigão foi reunindo até 1927.1 A edição é já ilustrada com várias fotos.
Depois da recente publicação dos primeiros escritos do Padre Formigão sobre Fátima,2 as Irmãs Reparadoras decidiram continuar a reedição das suas obras, publicando As grandes maravilhas de Fátima, pelo impacto que então teve o livro e pelo testemunho que, hoje, representa, em formato actualizado, na proximidade do centenário das aparições3.
A primeira parte é introduzida por um Prefácio e pelo capítulo “A visão dos pastorinhos”, com os quais o autor salienta, a modos de grande introdução, as questões abordadas no decorrer do livro. Coloca as aparições da Senhora “mais brilhante que o sol” ou a visão dos três pastorinhos no tempo e no espaço, no contexto politico e eclesial, no campo teológico e da religiosidade popular. Sumariamente, indica o conteúdo da mensagem, os sinais, as conversões e as curas, como características de um fenómeno tão extraordinário. Também põe em relevo o fenómeno do “milagre do sol”, “a torrente caudalosa das multidões”, “a formidável vaga humana”, assim como o ridículo e vacuidade das atitudes dos opositores.
Os capítulos da 1ª parte de As grandes maravilhas de Fátima recebem um título novo. O facto de o Padre Formigão recuperar os textos já publicados justifica-se: os textos que preparara, além de terem sido objecto de acurada atenção, ainda não tinham tido a divulgação que os meios anteriores não tinham garantido. Continuavam válidos e para preparar outros não lhe sobrava o tempo! E o tempo veio a dar-lhe razão, porque na edição crítica documental de Fátima, tudo o que saiu da pena do Padre Formigão foi “aproveitado” e copiado, sendo considerado uma testemunha privilegiada em todo o processo.
Particular relevo é dado nesta parte aos interrogatórios dos pastorinhos, só em parte divulgados antes nos Episódios. Os interrogatórios do Padre Formigão constituem uma parte muito significativa desta obra, não só pelos três capítulos que ocupam, mas também pelo seu conteúdo. Na sua primeira edição, o Padre Formigão apresentou as respostas dos pastorinhos como raiz e fonte das “Grandes maravilhas de Fátima”, mas por alguns receios omitiu a sua publicação integral.
Sensível à importância do problema, Padre Formigão procura por todos os meios legítimos chegar à verdade daquilo que os três videntes diziam ter visto e ouvido. Agora, pela primeira vez, se apresentam em obra de divulgação. A sua atitude de seriedade e a complexidade do problema podem avaliar-se pelo volume I da Documentação Critica de Fátima (DCF)4. Aqui encontramos textos de interrogatórios não publicados antes (caps. 9, 10, 11).
A segunda parte é constituída por 12 capítulos, provenientes dos artigos que o Padre Formigão, sob o pseudónimo de Visconde de Montelo (V. de M.), publicou no jornal “Voz da Fátima”, para cuja fundação e divulgação muito contribuiu. Aos 11 capítulos da 1ª edição, cobrindo o arco de cinco anos, junta-se nesta o capitulo sobre “A grande peregrinação de Outubro 1927”. Através dessas crónicas ficamos a compreender a evolução e o crescimento físico, eclesial e humano do fenómeno Fátima. Aí se espelha a fé de um povo e o entusiasmo do jornalista, que tudo procura acompanhar, seja junto à capelinha, seja nas grandes celebrações da missa e do terço, seja nas procissões, etc.
Partindo do tema “Glória e Reparação”, fala da Padroeira, da “Lourdes portuguesa”, das glórias da Mãe de Deus, da peregrinação no 7º centenário de S. Francisco de Assis, da peregrinação nacional, de peregrinações de Lisboa, do Porto e de outras povoações, da Terra da Virgem. Nas Crónicas compraz-se a indicar meios de transporte, nomes de personagens mais ou menos ilustres, as origens das peregrinações nacionais e estrangeiras. Além da Padroeira, um lugar especial é reservado ao Santo Condestável, como o prova também a sua actividade pastoral em Santarém.
São impressionantes as expressões com que o Padre Formigão olha para a Cova da Iria: Cantinho do Éden, visão do céu, formoso oásis do deserto da vida, jardim perfumado, terra sagrada e bendita, pólo magnético das almas, o paraíso na terra, estância de mistério e prodígios, imponente santuário, planalto sagrado, o primeiro santuário nacional…
Depois de divulgar os sucessos maravilhosos, compraz-se a falar do suave e místico encanto que se vive em Fátima, da patética cerimónia da bênção dos enfermos, da adoração do Santíssimo, das comunhões, das missas, das confissões, do jornal “Voz da Fátima”, etc.
As suas informações constituem uma das fontes privilegiadas para a história do Santuário; fala de arco de triunfo, pórtico monumental, capela nova, fonte de água miraculosa, sineta do santuário, megafones.
Além dos nomes de médicos e de outros personagens, o Padre Formigão anota em cada peregrinação os nomes dos bispos (de Leiria e de Beja) e dos sacerdotes que pregaram ou celebraram missa (por exemplo: O santo dr. Cruz, Cónego Francisco Maria Felix, Dr. Luis Castelo Branco, Dr. Manuel Marques dos Santos, P. Paulo Durão Alves, P. Manuel Pereira da Silva, P. Luís de Sousa, P. Manuel de Sousa, P. Agostinho Marques Ferreira, P. João Nunes Ferreira, P. Manuel Dias Costa, P. Agostinho Pinto Veloso).
A terceira parte da primeira edição é toda dedicada à exposição de dezassete casos de curas consideradas miraculosas, que o Padre Formigão expõe ao mesmo tempo com entusiasmo e com reserva. À semelhança de Lourdes, onde esteve em contacto com o sector dos doentes, ele prestou particular atenção a esse campo, seguindo de perto o posto de verificações médicas. Tendo em conta o cuidado da Igreja em reconhecer a prova dos milagres, o Padre Formigão limitava-se a descrever os casos como jornalista, e a apresentá-los como homem de fé, aberto à força dos sinais, na esperança de uma decisão acordada entre a autoridade eclesiástica e o campo da ciência médica. Nos anos seguintes, à falta dessa decisão e à ausência de uma verdadeira motivação para a insistência na sua divulgação, optou-se pela sua omissão, na presente edição do livro.
Correspondendo a esse espaço, insere-se variada documentação fotográfica, anterior à data da publicação do livro em 1927. As fotos da época reproduzem o espaço da Cova da Iria, os pastorinhos e seus familiares, as multidões que aí acorriam nos dias 13 de cada mês, a construção da Capelinha e o atentado de que foi objecto, o pavilhão dos doentes, a fonte miraculosa, a celebração da missa e procissões, etc.
O primeiro apêndice sobre “As promessas aos devotos do Rosário” é repetição do que inserira no opúsculo Os acontecimentos de Fátima (1923). O Padre Formigão aproveita a oportunidade de publicar também, como segundo apêndice, os “Estatutos da Confraria de Nossa Senhora do Rosário de Fátima”, presumivelmente da sua autoria5.
Perante “uma matéria assaz delicada e melindrosa” (Prefácio), o Padre Formigão sublinha que a autoridade eclesiástica seguiu o caminho da prudência. Só depois de o bispo de Leiria, D. José Correia da Silva, ter autorizado a celebração da missa nos dias 13 de cada mês6, o Padre Formigão deixou um apontamento sobre a primeira missa em 13 de Outubro de 19217.
E perante a complexidade de tais acontecimentos, não deixa de salientar que o bispo da diocese nomeou uma Comissão Canónica para inquirir sobre os factos e para elaborar um relatório sobre os mesmos, da qual Padre Formigão era elemento eminente.
Em todos os momentos e fases significativas do processo de inquirição, o Padre Formigão está presente, não por decisão própria mas por escolha do bispo de Leiria. Com a sua prudência, sentido crítico, saber teológico e zelo pastoral, acompanhou sempre o evoluir dos acontecimentos. Sem querer, ele viu-se no meio da trama de tais eventos e, por causa dessa consciência, sentiu-se impelido, não só a testemunhar o que tinha visto e ouvido, mas também o que ia observando e reflectindo, a partir da sua própria participação nas cerimónias que se iam sucedendo, entre a surpresa e a admiração. Apesar de o fazer sob pseudónimo, ele é, desde os primórdios, o alto-falante dos pastorinhos e o grande cronista de tudo quanto ia sucedendo na Cova da Iria.
Perante isso, ele não encontra outra palavra senão a de “maravilha”, para falar do que acontecera na Cova da Iria (1ª Parte) e aí ia acontecendo (2ª e 3ª Partes). Na palavra “maravilha”, que ele repete com frequência, cruzam-se os sentimentos de estupefacção, mistério, alegria, comoção, e, com a repetição da palavra, ele acaba por significar aquela vivência espiritual própria da contemplação perante o inefável. Com base na ideia bíblica, que fala das “maravilhas” operadas por Deus (cf. Sl 66,1-5; 107,24) e em Maria (cf. Lc 1,49), Formigão dá expressão a esse sentimento de maravilha, que está para além das curas físicas e dos milagres, e que consiste na contemplação de um misterioso desígnio revelado mediante a SS.ma Virgem a três crianças. Tratava-se de uma realidade que ultrapassava a dimensão pessoal, para se tornar num dado que envolvia a própria comunidade eclesial.
No meio de um ambiente adverso, condicionado até, por medidas de oposição violenta e por desconfiança no seio da própria Igreja, uma tal experiência do Padre Formigão não podia deixar de ser proclamada pelos meios possíveis, para que pudesse ser ouvida e vista por todos, crentes e não crentes. Era “o grande sinal” de Deus, o esplendor da fé, experimentado como “maravilhas” (plural de intensidade), que ele não podia calar!
Ao aproximar-se o centenário das Aparições, os textos deste livro vêm, com a frescura e a verdade que os caracteriza, enriquecer o conhecimento de tal fenómeno nas suas origens e permitir a redescoberta do amor que o Padre Formigão nutria por tudo quanto se relacionava com Fátima, reconhecendo a justiça do título que lhe foi atribuído de “apóstolo de Fátima”. Assim, o seu apostolado continua, contribuindo para uma vivência mais consciente e mais maravilhada da mensagem de Nossa Senhora para o mundo mediante os pastorinhos!
Os capítulos da 1ª parte do presente livro, citados segundo a publicação original, são quase todos assinados por Visconde de Montelo e foram recentemente reeditados numa nova colecção sob o título Fátima, Os primeiros Escritos. Os capítulos da 2ª parte encontram-se no jornal “Voz da Fátima”, a partir da sua fundação, também com a assinatura V. de M. Uns e outros se encontram na Documentação Crítica de Fátima, obra importante, mas de difícil acesso ao grande público.
A presente edição fica a dever muito ao revdo Dr. Luciano Cristino pelas suas sugestões. À sua dedicação pelas coisas de Fátima, junta-se o preito da nossa gratidão.
Monsenhor Dr. Arnaldo Pinto Cardoso
Postulador da causa de canonização do
Padre Manuel N. Formigão (Visconde de Montelo)
Receba a Liturgia Diária no seu WhatsApp
Deixe um Comentário
Comentários
Nenhum comentário ainda.