• Home
    • -
    • Livros
    • -
    • As Grandes Maravilhas de Fátima
  • A+
  • A-


As Grandes Maravilhas De Fátima

2. LOURDES E FÁTIMA

Meu caro Amigo:

Acuso a recepção da tua estimada carta em que me fazes um pedido que parece quase uma intimação, tão veementes e categóricos são os termos em que o formulas.

Apelas para a minha consciência e não hesitas em afirmar peremptoriamente que me incumbe o rigoroso dever de tornar do domínio público o que sei acerca dos acontecimentos de Fátima. Permite-me que discorde da tua opinião. Os episódios extraordinários que há dezasseis meses a esta parte se têm desenrolado naquela humilde povoação alcandorada num dos contrafortes da serra de Aire, revestem, pela sua natureza e pelas suas consequências, um carácter tão delicado e tão melindroso que considero uma temeridade indesculpável ocupar-me deles prematuramente.

Não ignoras que me interessaram sempre os factos miraculosos de Lourdes, cuja natureza está hoje perfeitamente definida perante a ciência, sempre exigente, e perante a Igreja, ainda mais exigente do que a ciência. Nenhum espírito recto, embora céptico ou incrédulo, ousa contestar a índole preternatural desses factos.

Em 1906 trezentos e quarenta e seis médicos franceses, entre os quais numerosos e ilustres professores de Universidades e membros da Academia de Medicina, proclamaram a sua crença nos milagres de Lourdes, assinando uma declaração nesse sentido e autorizando a publicação dos seus nomes. Convém notar que essa declaração via a luz da publicidade precisamente na época em que as peregrinações à Jerusalém do Ocidente eram alvo de violentos ataques, que não se entibiavam sequer perante o fenómeno estupendo do milagre passado ao estado de permanência, na frase tão expressiva como rigorosamente verdadeira, do Dr. Verger, professor da Faculdade de Medicina de Montpellier, que estudou conscienciosa e profundamente a história das curas miraculosas.

Na cidade privilegiada da Virgem passei semanas e meses, durante alguns anos, no intuito porventura pouco louvável de ver, apalpar e, se assim me posso exprimir, surpreender o sobrenatural.

Desempenhando alternativamente, na qualidade de simples soldado voluntário, os serviços honrosos e disputados de maqueiro, servente das piscinas, enfermeiro e correspondente particular dum dos primeiros diários católicos do nosso país, tive por diversas vezes ocasião de presenciar as curas mais assombrosas realizadas instantaneamente e assistir à verificação e confirmação dessas curas, feitas por médicos competentes, muitos deles insuspeitos, no Bureau des Constatations Médicales.

Conheces tão bem como eu a história maravilhosa dos acontecimentos de Lourdes.

Sabes como eles foram combatidos logo desde o início com um encarniçamento verdadeiramente providencial, não só pelos inimigos declarados da Religião e da Igreja, mas ainda por numerosos crentes, aliás bem intencionados. Os próprios representantes da autoridade civil, desde o barão de Massy até ao comissário de polícia Jacomet, promoveram a guerra mais formidável de que há memória a essas manifestações irrecusáveis do sobrenatural, julgando zelar dessa forma os interesses superiores da Religião do Estado. Houve momentos até durante as aparições, em que aqueles mesmos que já estavam intimamente convencidos da realidade delas, sentiram a sua fé ou completamente perdida ou, pelo menos, profundamente abalada nos seus fundamentos. É que às vezes a Providência, nos seus desígnios insondáveis, compraz-se em envolver no véu do mistério as suas obras mais portentosas para castigo dos ímpios e provação dos crentes. A verdade impôs-se, porém, a breve trecho, com a força indomável da evidência, enchendo de consolação os bons e de confusão os maus.

Quatro anos depois das aparições, a autoridade eclesiástica, pela boca de Monsenhor Bertrand-Sévère, bispo de Tarbes, proferia o seu veredictum, que reconhecia nos factos de Lourdes uma intervenção sobrenatural e divina.

A partir desse momento, escritores de grande envergadura, desde Henri Lasserre, o historiador de Nossa Senhora de Lourdes, Barbet, Estrade e o dr. Dozous, testemunhas das aparições, até ao dr. Boissarie e ao cónego Bertrin, fazem a apoteose da Virgem de Massabielle, descrevendo com a exactidão mais escrupulosa os sucessos portentosos de que as margens do Gave têm sido teatro desde 1858 até aos nossos dias.

Mas, se é lícito aproximar pelo pensamento Lourdes e Fátima e cotejar os acontecimentos miraculosos da formosa cidade dos Pirenéus com os factos extraordinários sucedidos na humilde povoação da serra de Aire, declaro com franqueza que não reconheço em mim a autoridade, o critério e a competência indispensáveis para tratar condignamente destes últimos, como qualquer dos escritores acima nomeados se ocupou dos primeiros. Acresce que a autoridade eclesiástica tem guardado absoluto silêncio sobre o assunto, sinal evidente de que os elementos de informação que possui não a habilitam, por enquanto, a pronunciar-se num sentido favorável à realidade sobrenatural das aparições.

Mas tu pedes-me que, sem embargo disso, narre os factos de que tenho conhecimento e exponha a minha opinião acerca deles.

Fá-lo-ei tão somente para satisfazer o pedido dum amigo que muito prezo e estimo. Se julgares, pois, que vale a pena interessar a opinião pública nestas coisas, conquanto não estejam ainda de todo esclarecidas, e precisamente por esse motivo, e que a consciência católica tem direito a que não se lhe oculte o que se passa em Fátima, mesmo com o risco de se escandalizar aqueles que, entrincheirados na torre de marfim da sua sabedoria e da sua prudência, crêem zelar superiormente os interesses da Igreja, recusando-se a estudar estes factos ou negando-lhes a priori todo o valor, sob pretexto de que a Religião Católica não precisa de novas provas para abonar a sua origem divina, o que aliás é verdade, faz como melhor entenderes e publica o que te parecer conveniente. Devo, porém, advertir-te desde já de que, mercê das múltiplas ocupações que me absorvem quase o dia inteiro, escrevo estas cartas currente calamo, não sendo, por isso, de admirar que falte à minha exposição, singela e despretensiosa, aquele nexo lógico e aquela correcção de frase que seria para desejar e que evidentemente não pode ter.

Um só pensamento me norteia: o de dizer a verdade.

Um só desejo me abrasa: o de conhecer toda a verdade. Faça-se luz!

E por hoje basta.

14-IX-918

Teu amigo dedicado

V. de M.

Receba a Liturgia Diária no seu WhatsApp


Deixe um Comentário

Comentários


Nenhum comentário ainda.


Acervo Católico

© 2024 - 2025 Acervo Católico. Todos os direitos reservados.

Siga-nos