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As Grandes Maravilhas De Fátima

7. DEZ ANOS DEPOIS

(13 DE MAIO DE 1927)

A grande romagem de Maio
O trono das graças de Maria
O primeiro decénio após as aparições
Fátima, estância de mistério e de prodígios

Mais uma vez, no planalto sagrado de Fátima, se desenrolou um dos espectáculos mais grandiosos e mais belos, que a olhos humanos é dado contemplar sobre a terra.

Durante três dias e três noites consecutivas, as multidões acorreram de todos os pontos de Portugal, em devota romagem, ao santuário das aparições, impulsionadas por uma fé viva e por uma piedade ardente e acrisolada.

Ali, representada na sua Imagem veneranda sobre um pedestal de glória, a augusta Virgem do Rosário, semelhante a uma visão radiosa do Paraíso, recebe as homenagens de seus filhos, que a aclamam como sua Padroeira e lhe dirigem súplicas estuantes de confiança e amor.

Centenas de milhar de fiéis lá vão cada ano depositar a seus pés virginais um tributo espontâneo de saudações e de lágrimas, de flores e de lumes, de esperança e de acções de graças.

Incessantemente, pessoas de todas as condições sociais arrastam os joelhos pelas pedras duras da Cova da Iria, em torno do padrão comemorativo dos sucessos maravilhosos, cumprindo votos e promessas feitas em horas negras de cruciante angústia.

De perto e de longe, mesmo dos confins de Portugal, voam até aos pés da Mãe de Deus tantas almas sedentas de consolação, tantos corações ulcerados pela dor.

Naquela região de mistérios e de prodígios, que a Rainha do Céu escolheu para seu trono de graças, há bálsamo para todas as mágoas, lenitivo para todos os sofrimentos, resignação e conforto para todas as desditas!

E, por isso, Fátima é, e continuará sempre a ser, o pólo magnético das almas, o centro de atracção dos corações, que uma força sobrenatural, poderosa e irresistível, arrasta suavemente para aqueles plainos escalvados e desertos, onde apenas vegetam a urze e a azinheira.

E agora, treze de Maio de 1927, dez anos depois da primeira aparição, novamente as multidões se precipitam, em torrentes caudalosas, no vasto recinto murado da Cova da Iria, teatro das cenas, ao mesmo tempo mais assombrosas e mais comoventes, de que há memória desde os tempos bíblicos.

O recinto das aparições
A procissão das velas
A apoteose da Virgem
Um lago e um rio de luz
Assombroso espectáculo de fé e piedade
A vigília de armas

No dia dez chegam a Fátima os primeiros peregrinos. Desde esse dia até à manhã do dia treze, a romagem cresce de hora para hora. Na véspera à tarde, o vasto anfiteatro da Cova da Iria está cheio de fiéis.

Às vinte e duas horas começa a organizar-se a procissão das velas. O aspecto do local transforma-se como que por encanto, mercê dos milhares de luzes acesas de repente pelos peregrinos, que se preparam para tomar parte no imponente e deslumbrante cortejo em honra da Virgem.

Dir-se-ia um enorme lago de fogo, cheio de ondas encapeladas, donde sai um rio de luz, manso e tranquilo, que, partindo da capelinha das aparições, serpenteia em torno dos santuários, sobe à estrada e, passando sob o arco de triunfo, desce pela avenida central para ir desaguar junto da estátua da Virgem, onde, duas horas antes, tinha surgido.

Os milhares de fiéis que tomam parte no cortejo, a multidão inumerável dos que assistem à sua passagem, as preces e os cânticos, que brotam de lábios trémulos de comoção, a fé viva e a piedade estreme daquela imensa mole de pessoas de todas as classes sociais e de todos os pontos do país, tudo isto constitui um espectáculo assombroso, que simultaneamente comove e encanta, elevando as nossas almas, num suave arroubo místico, para regiões inacessíveis às agitações e misérias deste mundo.

À meia-noite termina a apoteose da Virgem com o canto do Credo, a magnífica profissão de fé dos Apóstolos, cujos acentos ecoam nos montes vizinhos, repercutindo-se de quebrada em quebrada até se perderem ao longe.

Extintos os últimos ecos do Credo, a maior parte da multidão dispersa-se na melhor ordem, indo formar os seus acampamentos para a vigília nocturna.

Pequenas, mas inúmeras fogueiras de velas, iluminam o recinto e aquecem o chão, que ainda se conservava húmido, devido às fortes bátegas de água que tinham caído durante o dia.

E pela noite adiante nem uma só nota profana vibra naquele ambiente de intensa piedade, ouvindo-se apenas o brando ciciar das preces dos peregrinos que velam junto dos companheiros profundamente adormecidos num sono reparador das forças gastas em tão longa e penosa viagem.

A missa dos servitas
A comunhão dos servitas e dos escuteiros
Cerca de oitenta missas
Os servitas e os escuteiros
As peregrinações com os seus estandartes
A fonte de água miraculosa
Uma cena comovente

Às três horas da manhã, os sacerdotes previamente inscritos no respectivo registo começam a celebrar a santa missa nos três altares da capela nova, sucedendo-se uns aos outros sem interrupção.

A segunda missa é rezada pelo rev.do dr. Marques dos Santos, capelão-director dos servitas, que a ela assistem, recebendo das suas mãos o Pão dos Anjos.

Entretanto, chegam grupos de escuteiros católicos de Lisboa, de Leiria e de Coimbra que, depois de ouvirem missa e de comungarem, organizam, juntamente com os servitas e sob a direcção dos seus chefes, o serviço de ordem e de transporte dos enfermos.

Pouco a pouco, vão-se reunindo as servas de Nossa Senhora do Rosário que, envergando batas alvinitentes, dão-se pressa em iniciar a sua piedosa tarefa de assistência aos enfermos.

Às sete horas, uma chuva miudinha e impertinente principia a cair, molhando tudo e todos, sem conseguir, porém, que os peregrinos desistam de ficar para as cerimónias oficiais da peregrinação.

Sucessivamente, de espaço a espaço, transpõem o arco de triunfo e descem pela avenida central longas e numerosas peregrinações precedidas dos seus párocos, confrarias e estandartes.

Junto de nós, rezando o terço ou cantando piedosos cânticos, desfilam processionalmente, entre outras, as peregrinações do Beato (180 pessoas), de Belas, Nazaré, Coruche (150 pessoas), Ansião (100 pessoas), Filhas de Maria de Vagos, Pombal (120 pessoas), Figueiró dos Vinhos, Vila Nova de Foz Coa, Martigança, Benedita (150 pessoas), Rio de Moinhos, Monte Real, Esposende, Viana do Castelo, Soure, Teixoso, Vila do Conde e Braga.

São lindos e vistosos os estandartes, alguns dos quais representam a cena incomparável da aparição da Virgem aos pastorinhos. Os cânticos comovem pelo sentimento que a letra e a música traduzem e pela expressão de fé e piedade com que são executados.

Algumas peregrinações, como a de Pombal e a de Figueiró dos Vinhos, fizeram o percurso a pé! Os peregrinos desta última passaram a noite em adoração ao Santíssimo exposto na igreja paroquial de Fátima, onde assistiram à missa e receberam a Sagrada Comunhão.

São quase nove horas. Uma grande multidão aglomera-se em torno da primeira fonte. Numerosos servitas dirigem o serviço de acesso. Filas, sem cessar renovadas, de quarenta e cinquenta pessoas, aguardam em frente de cada uma das quinze torneiras a sua vez de beberem ou de encherem os recipientes que trazem consigo.

Fervem as ordens, repetem-se os avisos. E aquela multidão inumerável, paciente e dócil, obedece sem relutância, cumprindo pontualmente as instruções dos servitas, dadas muitas vazes com energia, mas sempre com caridade.

Subimos à estrada. O espectáculo é único e indescritível. Vêem-se dezenas de milhar de camions, automóveis, trens e outros veículos ao longo da estrada e nos terrenos adjacentes, numa extensão de muitos quilómetros. Dir-se-ia que toda a população do país se tinha transportado naquele dia, a um sinal da sua augusta Padroeira, para junto do seu santuário predilecto, na Lourdes portuguesa.

Por entre a multidão que enxameia na estrada ouvem-se frequentemente frases que exprimem admiração e assombro, observações e comentários acerca do número de peregrinos e da grandiosidade daquele espectáculo de fé e piedade cristã, único na história da nossa nacionalidade.

A assistência é avaliada em trezentas mil pessoas. De repente na avenida central, depois da passagem duma das peregrinações, depara-se uma cena bastante singela, mas em extremo comovente, cuja vista arranca lágrimas de muitos olhos.

Uma mulher de meia idade, rezando em silêncio, desce vagarosamente de joelhos, a avenida. Ao lado, dando-lhe a mão, caminha o marido, empunhando uma vela acesa, e à frente dois filhos gémeos de oito anos e uma filha de treze, cada um deles também com uma vela na mão. Vieram a pé da Ribeira de Rio de Moinhos, onde residem, cumprir a promessa que tinham feito e agradecer à Santíssima Virgem a cura da esposa e mãe, que se encontrava gravemente enferma, em perigo de vida e desenganada da ciência humana.

O Posto de verificações médicas
Os médicos e os doentes
A resignação e a confiança dos enfermos
A oração de cem mil pessoas

Como costuma suceder em treze de Maio e em treze de Outubro, os doentes são também desta vez muito numerosos.

Os servitas transportam em macas os paralíticos e aqueles doentes, cujo estado é mais grave, para o Posto de verificações médicas e depois para o respectivo pavilhão. Os enfermos que podem andar reúnem-se em frente do Posto e aguardam a sua vez de serem examinados e de receberem o cartão de ingresso no recinto reservado.

Entre os médicos que prestam obsequiosamente os seus serviços vêem-se os drs. Augusto Mendes, Luz Preto, Weiss de Oliveira, Eurico Lisboa, Pereira Gens, Veloso da Costa, Garcia de Carvalho e Gabriel Ribeiro que examinam e registam algumas centenas de enfermos, procedentes de todas as regiões do país e atacados de toda a espécie de enfermidades.

Havia doentes de Penela, Louriçal, Mira, Vila Franca de Xira, Cuba, Lisboa, Torres Novas, Constância, Trancoso, Cartaxo, Alcobaça, Lousã, Cantanhede, Porto de Mós, Aldeia Galega, Gavião, Coruche, Tomar, Guarda, Figueiró dos Vinhos, Cabeceiras de Basto, Oleiros, Carregal do Sal, Leiria, Castelo Branco, Abrantes, Fundão, Mangualde, Alquembrão, Valverde, Ansião, Sintra, Pedrógão, Elvas, Pombal, Crato, Monte Real, Gouveia, Covilhã, Lourinhã, Gois, Oliveira do Hospital, Nogueira do Cravo, Louredo, Évora, Foz do Arelho, Penacova, Batalha, Albufeira, etc.

A inscrição estava já encerrada às onze horas por não comportar mais doentes o pavilhão que lhes é destinado em frente da capela das missas.

No pavilhão rezam os doentes com fervor e esperam resignadamente a hora da última missa. Em volta, mais de cem mil pessoas juntam as suas preces às dos enfermos, suplicando para eles a cura dos seus males e a resignação e o conforto de que carecem para os suportarem com mérito para o Céu.

A procissão solene
Representantes de todas as classes
As Confrarias e Irmandades
A revoada dos lenços, as palmas e os vivas

É quase meio-dia solar. Organiza-se junto da capela das aparições a procissão solene do costume, agora muito mais solene e imponente, para conduzir a branca estátua de Nossa Senhora de Fátima para a capela das missas.

O cortejo põe-se em marcha. Acompanha-o uma multidão enorme de fiéis de todas as classes e condições sociais. Abrem o cortejo os pendões de várias irmandades e confrarias. Seguem-se os servitas em filas cerradas. Depois a veneranda Imagem é conduzida aos ombros dos servitas. Quando esta chega ao Pavilhão, milhares de lenços brancos, semelhando um bando de pombas, são agitados de longe e de perto, ao mesmo tempo que estrugem os vivas e ecoam as palmas e os olhos de todos se marejam de lágrimas de comoção.

O Credo de Lourdes
A missa dos doentes
O terço do Rosário
Sete mil comunhões

Um coro uníssono de vozes fortes e afinadas canta o Credo de Dumont. Em seguida o celebrante da missa dos doentes sobe ao altar central e principia o Santo Sacrifício.

Ao mesmo tempo o rev.do capelão-director dos serviços dá início à recitação do terço do Rosário, que é rezado alternadamente com o povo. O silêncio é profundo e a devoção dos fiéis intensifica-se à medida que se aproxima o momento augusto da Consagração.

De vez em quando ouve-se um cântico em honra de Jesus Hóstia ou da Santíssima Virgem. Quando a Vítima Sacrossanta dos nossos altares é levantada entre o Céu e a terra, toda aquela mole de povo ajoelha no chão, curva-se e adora a Jesus escondido sob as espécies do seu Sacramento de Amor.

A comunhão é mais uma vez distribuída aos fiéis. Deviam ter comungado cerca de sete mil pessoas, durante as oitenta missas celebradas desde a madrugada.

A bênção dos doentes
Lágrimas de comoção
Súplicas veementes
Apoteose final à Rainha do Céu e da terra
Dia de triunfo e de glória

Após a missa, o celebrante, depois de incensar a Hóstia Santa, exposta num ostensório de ouro, pega nele e desce os degraus do altar para dar princípio à bênção dos doentes. Os servitas, os escuteiros e numerosos sacerdotes acompanham o Santíssimo. Os doentes, sentados nos bancos do pavilhão ou deitados nas suas macas, oram com fervor e aguardam confiadamente a hora da cura ou do conforto divino.

Jesus passa fazendo o bem, como outrora, durante a sua vida mortal, nas cidades e vilas da Palestina. Quase todos os doentes e muitas outras pessoas choram de comoção. A cena que se passa é empolgante e patética. Esses pobres farrapos humanos, vítimas dum sem número de misérias físicas – paralíticos, cancerosos, cegos, surdos-mudos, tísicos, leprosos, etc. – de mãos postas e olhos fitos na Hóstia Santa, imploram, numa prece silenciosa mas veemente, um olhar de misericórdia, uma palavra de consolação e de conforto.

As invocações pelos enfermos, instantemente repetidas, de momento para momento, redobram de intensidade e parecem fazer violência ao Céu, para que se apiede daquela legião de desgraçados.

Depois o sacerdote sobe ao altar e, cantado o Tantum ergo, dá a bênção a toda a multidão ajoelhada a seus pés.

Após a bênção sobe ao púlpito o rev.do Paulo Durão Alves, que fala sobre a devoção a Nossa Senhora e o cumprimento dos deveres cristãos.

Por último organiza-se de novo a procissão a fim de reconduzir a Imagem de Nossa Senhora para a capela das aparições. Repete-se o espectáculo comovente da primeira procissão e os vivas, as palmas e os cânticos e o acenar dos lenços constituem uma verdadeira apoteose à Rainha do Céu e da terra.

Pouco a pouco a multidão dispersa-se e os veículos conduzem ao seu destino os romeiros, que vão cantando os seus cânticos de despedida à Virgem.

Os anais de Fátima, – a Lourdes portuguesa, a Jerusalém do Ocidente – registam, em letras de ouro, mais um dia de triunfo e de glória para a Virgem, mais um espectáculo grandioso e empolgante de fé e piedade cristã, único nas páginas imortais da história de Portugal.

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