- A+
- A-
13. A MORTE DE JACINTA MARTO
É crença geral entre o povo que toda a família dos videntes de Fátima, assim como também estes, estão condenados a desaparecer dentro de pouco tempo, e acrescenta-se que isso lhes teria sido anunciado pela Aparição. Qualquer que seja o fundamento desta crença, o certo é que o pequeno Francisco, irmão da Jacinta, já faleceu, a Jacinta também, assim como uma irmã dela, o pai da Lúcia da mesma forma, e a mãe esteve há pouco tempo à morte.
Das três crianças resta apenas a Lúcia, que era a que conversava com a Senhora, segundo ela afirma.
A Jacinta, que era relativamente robusta, foi acometida pela pneumónica, donde lhe resultou uma pleurisia purulenta, seguida doutras complicações.
Tendo vindo a Fátima um distinto especialista da capital, e tendo observado a pequena, empenhou-se em que ela fosse para Lisboa, a fim de ver se, por meio duma operação, ainda era possível salvá-la.
Buscou-se alojamento em casa dalgumas pessoas abastadas, mas não se conseguiu.
Foi então hospedar-se na pobre morada duma modesta criatura que a recebeu de bom grado, com grande contentamento da pequena que, tirada do seu meio provinciano, toda ela era acanhamento e confusão.
Para fazer a operação escolheu-se o hospital de D. Estefânia.
Antes, porém, de recolher ao hospital, a criança disse que a Senhora lhe havia aparecido, assegurando-lhe que morria, e por esse motivo achava que a operação era inútil.
Apesar disso, e muito embora ela insistisse em afirmar que tudo era inútil, fez-se-lhe a operação, que correu bem, conquanto sem êxito feliz, como se viu.
Quatro dias antes de morrer, como a pequena tivesse grandes dores e se queixasse, dizia-lhe a criatura que a havia recolhido e a quem tratava por madrinha, que suportasse com paciência as suas dores, que isso seria muito agradável a Deus.
Na manhã do dia seguinte disse-lhe a Jacinta:
– Olhe, madrinha! Eu já não me queixo! Nossa Senhora tornou-me a aparecer, dizendo que em breve me viria buscar e que me tirava as dores!
E de facto, desde esse dia até que morreu, segundo consta, não tornou a queixar-se, nem deu mostras de sofrimento.
Tendo sucedido a madrinha passar ou sentar-se ao pé da cama, não longe do sítio em que a Jacinta disse ter visto a Senhora, a vidente exclamou:
– Tire-se daí, madrinha, que aí esteve a Senhora!...
E a mesma preocupação se lhe apresentava, quando alguma enfermeira passava pelo mesmo sítio.
Como fossem ao hospital algumas pessoas, imodestamente vestidas, ou visitá-la, ou ver outros doentes, e algumas enfermeiras se apresentassem com certos exageros, no traje, dizia indicando essas pessoas e referindo-se a determinados enfeites e decotes:
– Para que serve aquilo!? Se soubesse o que é a eternidade!...
Falando dalguns médicos que ela julgava serem incrédulos, lastimava-os dizendo:
– Coitados, mal sabem o que os espera!
Afirmava a vidente que Nossa Senhora lhe havia comunicado: que o pecado que leva mais gente à perdição era o pecado da carne, que era preciso deixarem-se de luxos, que não deviam obstinar-se no pecado como até aqui, e que era preciso fazer muita penitência.
E parece que a Senhora, ao dizer isto, se mostrava muito consternada, porque a pequena acrescentava:
Ai! Eu tenho muita pena de Nossa Senhora! Tenho muita pena!
Enquanto esteve em casa, antes de ir para o hospital, vivia em companhia doutra pequenita, a quem recomendava muitas vezes que fosse muito obediente, que não fosse preguiçosa e que nunca faltasse à verdade.
Pouco antes de morrer, perguntando-lhe se queria tornar a ver a mãe, respondeu: que a família dela durava pouco tempo e que em breve se encontrariam no Céu.
Disse mais que Nossa Senhora devia ainda aparecer outra vez, mas não a ela, porque com certeza morria, segundo ela lhe disse.
Pediu licença para se confessar, muito embora se tivesse confessado e comungado antes de entrar para o hospital.
Foi confessá-la o rev.do prior dos Anjos, dr. Pereira dos Reis, mas não teve tempo de lhe dar a Sagrada Comunhão.
Entrou para o hospital no dia dois de Fevereiro e morreu no dia vinte.
Depois de falecer, alguém aventou a ideia de a transportarem para a terra da sua naturalidade e assim se fez, promovendo-se uma subscrição para esse fim.
Muitas pessoas que a não tinham querido receber em sua casa, depois que a pequena morreu já se mostravam solícitas em lhe prestar homenagem, até talvez com um bocadinho de exagero, o que provocou alguns reparos justos dum ilustre sacerdote.
Esteve o cadáver da pequena na casa do despacho da igreja dos Anjos, aguardando a remoção para a estação e as necessárias formalidades, saindo depois com grande acompanhamento.
Alguém notou a coincidência de, quando saiu o enterro, se achar na igreja o dr. Domingos Pinto Coelho e algumas pessoas da família, que por incidente ali haviam ido, e relacionou este facto com o célebre artigo escrito por esse ilustre advogado em Outubro de 1917, o qual apesar de ortodoxo, motivou reparos dalguma gente que ferve em pouca água.
A pequena deixou dois segredos para uma pessoa que se tem interessado por este assunto.
Em suma e em conclusão:
Deus permita que a luz da verdade resplandeça sobre este caso, não só pelo que possa ter de miraculoso, como pelas consequências que daí possam resultar para a regeneração espiritual desta nossa querida Pátria.
Entretanto, seja como for, vamos nós cumprindo a exortação que a pequena atribui a Nossa Senhora e que é, afinal, a doutrina da Igreja.
Façamos penitência! Evitemos o luxo e o pecado da carne! Não nos obstinemos no pecado, para que não nos suceda como a uns infelizes a quem a pequena se referiu, quando, dizendo-lhe a madrinha que era preciso também orar por sua intenção, ela respondeu:
Pois sim, madrinha, mas esses já não têm remédio.
Receba a Liturgia Diária no seu WhatsApp
Deixe um Comentário
Comentários
Nenhum comentário ainda.