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As Grandes Maravilhas De Fátima

4. FÁTIMA,
PÓLO MAGNÉTICO DAS ALMAS

A Lourdes portuguesa

Glória a Deus no Céu e na terra louvor, honra e bênção à doce e piedosa Virgem do Rosário, que do seu trono magnificente de Fátima vem espargindo graças a flux sobre os seus filhos queridos, em toda a vasta extensão da bendita terra de Portugal!

Quantas almas ulceradas pela culpa receberam das suas mãos virginais o dom precioso duma contrição salutar!

Quantos corações alanceados por mágoas pungentes hauriram no seu coração maternal o bálsamo dulcíssimo dum poderoso lenitivo ou duma consolação inefável!

Quantos corpos torturados por longos e cruciantes sofrimentos encontraram o alívio ou a cura dos seus males, recorrendo à protecção valiosíssima d’Aquela que é justamente chamada pelos Santos Padres a Omnipotência suplicante e por toda a Igreja a Saúde dos enfermos!

Nos páramos sagrados e misteriosos de Fátima a Rainha dos Anjos ergue o seu sólio de amor e misericórdia sobre um pedestal formado pelos corações de milhões de portugueses.

Efectivamente, de todos os pontos do território nacional, desde as margens encantadoras do Minho e do Lima até às praias perenemente verdejantes do Algarve, desde a graciosa Pérola do Oceano até aos sertões adustos da nossa África, aos palmares da Índia e à própria China, desde as duas Américas às regiões longínquas da Oceânia, em toda a parte onde palpitam corações portugueses e se fala a formosa língua de Camões e Vieira, um coro de louvores se eleva para a Virgem sem mácula que, sob a invocação de Nossa Senhora do Rosário, se dignou aparecer, para felicidade dos portugueses, nos planos áridos e escalvados do planalto de Fátima.

Esta terra santificada pela presença da Rainha dos Anjos, privilegiada com as bênçãos mais preciosas do Céu e ungida pela piedade de toda a nação, é hoje, sobre a face do mundo, o centro da mais enternecida e fervorosa devoção à gloriosa Mãe de Deus e dos homens e simultaneamente o trono mais esplendoroso de Jesus no seu Sacramento de amor, a Santíssima e Augustíssima Eucaristia.

E é por isso que Fátima, essa humilde povoação, feudo minúsculo do condado do Santo Condestável, ainda há poucos anos quase desconhecida e hoje aureolada dum prestígio sem igual, constitui o mais poderoso íman dos corações, o pólo magnético espiritual para onde se voltam irresistivelmente as almas sedentas de paz, de vida, amor e luz.

Salvé, Fátima, mil vezes salvé!

A assombrosa mobilização das almas

Muitos dias antes do nono aniversário da primeira aparição da Virgem aos humildes pastorinhos de Aljustrel, treze de Maio de 1926, já em diversos pontos do país grupos de peregrinos se punham em marcha para a estância das aparições e dos prodígios. Que maravilhoso espectáculo o desse longo e interminável concurso de romeiros que por tantas estradas se dirigem a Fátima! São ranchos de homens e mulheres das classes mais humildes que rezam e cantam louvores à Virgem e que, de tempos a tempos, param e sentam-se à beira dos caminhos para comerem os seus suculentos farnéis ou para descansarem das fadigas da viagem.

Lá vão, cheios duma alegria sã e santa, através das cidades, vilas e aldeias, ora subindo ao cume dos montes, ora descendo até ao fundo dos vales, recitando o terço ou cantando cânticos religiosos e suspirando ardentemente pela hora da chegada à nesga da terra que o contacto dos pés virginais de Maria Santíssima santificou para todo o sempre.

E os grupos sucedem-se constantemente uns aos outros, em centenas de estradas, em milhares de caminhos, como as fitas cinematográficas se desenrolam no écran, formando um espectáculo encantador, deslumbrante, uma verdadeira e grandiosa manifestação de fé e piedade colectiva, uma assombrosa mobilização das almas.

As primeiras vésperas

Na manhã do dia doze o movimento de peregrinos começou a intensificar-se dum modo prodigioso.

Durante todo o dia esse movimento cresce cada vez mais, numa progressão ascendente, atingindo o seu máximo na manhã do dia seguinte. Os comboios ordinários e especiais vomitam legiões de peregrinos nas plataformas das estações mais próximas de Fátima. Depois veículos de toda a espécie, desde o camion gigantesco e veloz até ao ronceiro carro de bois, desde o automóvel de luxo até ao pesado chars-à-bancs e à humilde e ligeira bicicleta, transportam esses peregrinos para o local das aparições.

Durante vinte e quatro horas, desde o meio dia de quarta feira até ao meio dia de quinta feira da Ascensão, o planalto sagrado de Fátima assemelha-se a uma bacia imensa, onde em catadupas gigantescas se precipitam torrentes caudalosas, rios intermináveis, cujas gotas de água são seres humanos, cujas ondas são massas compactas de fiéis, multidões inumeráveis de peregrinos.

Na véspera à noite, naquela estância abençoada do Céu, milhares de velas, acendidas pela piedade dos crentes, polvilham de luz e cor o grandioso anfiteatro da Cova da Iria, transformando aquele recinto num templo gigantesco tendo por pavimento o solo da charneca coberto de urzes e azinheiras e por cúpula a abóbada celeste cravejada de miríades de estrelas. E desse templo único na terra, evolam-se para o Céu súplicas veementes, invocações fervorosas, hinos de júbilo, reconhecimento e amor, que sobem até às mãos de Maria e das mãos de Maria até aos pés de Deus.

A apoteose da Virgem

Às dez da manhã do dia treze, a Cova da Iria é um lago imenso de gente que se aglomera em torno da capela das aparições, do pavilhão dos doentes e da fonte miraculosa. Os servos de Nossa Senhora do Rosário transportam em macas os paralíticos e os doentes, cujo estado é mais grave, para o recinto destinado a receber enfermos, em frente da capela das missas.

No Posto das verificações médicas, inaugurado nesse mesmo dia, muitos clínicos de vários pontos do país, entre os quais distintos especialistas e lentes das universidades, examinam os enfermos que vão chegando, trazidos ou acompanhados pelos servitas, e fornecem-lhes, após o exame, o cartão de ingresso no respectivo pavilhão.

Numerosos fiéis, de todas as idades, cumprem as suas promessas, dando voltas de joelhos à capela das aparições, por entre a multidão apinhada junto dela em oração fervorosa. No recinto dos doentes as Servas de Nossa Senhora, cuja associação tinha sido inaugurada com a maior solenidade no dia seis, assistem carinhosamente os doentes, prestando-lhes o seu desvelado auxílio com uma dedicação enternecedora, que só a caridade cristã sabe inspirar. Envergando batas brancas, duma alvura puríssima de neve, elas parecem anjos descidos do Céu para confortar as vítimas de tantos flagelos que ali se encontram santamente resignadas, com as lágrimas nos olhos, o sorriso nos lábios e a paz no coração.

Aqui e acolá vêem-se reporters dos principais jornais e revistas do país fotografando aspectos da multidão e artistas cinematográficos filmando colégios, associações e grupos organizados de peregrinos, precedidos dos seus lindos, ricos e vistosos estandartes, alguns dos quais reproduziam a cena empolgante, cheia de beleza e de encanto, da aparição da Virgem aos pastorinhos.

As missas e as comunhões

Entretanto, desde as seis horas da manhã, celebra-se o Santo Sacrifício, quase sem interrupção, nos três altares da capela nova. Assistem a essas missas os doentes, que são cada vez mais numerosos, e uma multidão de povo que engrossa a olhos vistos, de momento para momento.

Vêem-se nessa multidão representadas todas as classes sociais. São titulares da velha nobreza, sacerdotes e médicos, juízes e advogados, professores e alunos das universidades e dos institutos de instrução secundária e superior, capitalistas e lavradores, senhoras, donzelas e crianças, humildes camponeses e mulheres do povo. E toda esta mole, atenta e devota, reza e canta, implorando a saúde para os enfermos, remédio para todas as necessidades, e celebrando as glórias imarcescíveis da augusta Padroeira da Nação.

Quase ininterruptamente, enquanto se celebram as missas, quatro sacerdotes distribuem a Sagrada Comunhão aos fiéis que se prepararam para ela com a recepção do sacramento da confissão. E milhares de partículas consagradas vão unir cerca de cinco mil e quinhentos corações inocentes ou purificados pela penitência, numa união sublime e inefável, com o coração Sacratíssimo de Jesus, com o próprio Deus feito homem, no seu Sacramento de amor.

A procissão

É uma hora e meia em ponto.

A estátua de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, duma formosura incomparável, é conduzida aos ombros dos servitas, da capela das aparições para a capela das missas. O cortejo que a acompanha é encantador na sua simplicidade. Quando o andor chega ao limiar do pavilhão dos doentes, a cena que se passa é indescritível. Dezenas de milhar de mãos agitam no ar lenços brancos que parecem pombas a voar, estrugem salvas de palmas, bastas e nutridas, e reboam no espaço vivas e aclamações à Virgem.

Quase todos os olhos estão marejados de lágrimas de comoção. A Virgem passa, como uma visão de Paraíso, espalhando profusamente bênçãos e graças. E a multidão, enternecida, prostra-se a seus pés, bendizendo-a e saudando-a como sua Rainha e Mãe, como augusta Padroeira de Portugal.

A missa dos enfermos

Vai principiar a missa dos enfermos, que é aplicada por estes e por todos os peregrinos. A oração intensifica-se. O silêncio e o recolhimento são mais profundos. Respira-se um ambiente saturado de sobrenatural. Tem-se a impressão bem sentida que se vai operar um contacto misterioso entre o Céu e a terra, entre Deus e a natureza. O terço do Rosário é recitado em coro.

Imediatamente após a elevação, a Santíssima Eucaristia é aclamada por centenas de milhar de bocas num cântico formosíssimo, repassado de piedade e unção. Continua a recitação do terço, sempre estuante de fervor, seguindo-se a da ladainha lauretana.

Ao communio distribui-se pela última vez o Pão dos Anjos. Acaba a missa. Vai dar-se aos enfermos a bênção com o Santíssimo Sacramento. É o momento mais solene dos cultos do dia treze. Mil enfermos aguardam cheios da mais viva ansiedade a passagem do Rei de amor. E Jesus passa efectivamente, como outrora nas ruas e praças da Palestina, espalhando o bem.

Aqueles rostos emaciados por tantos sofrimentos físicos, aqueles olhos, que reflectem nitidamente mágoas pungentes de almas torturadas, aquelas mãos que, no seu gesto de súplica, traduzem angústia e pesares de corações ulcerados, dirigem-se para o Divino Mestre, numa expressão patética de dor, implorando lenitivo, resignação e conforto. E os farrapos humanos que ali ostentam as suas misérias físicas numa exposição macabra, adoram profundamente o Deus humanado por nós, o homem das dores, vir dolorum, como lhe chama a Sagrada Escritura.

Terminou a bênção dos enfermos. Vai ser dada agora a bênção a todo o povo. O ministro do Senhor traça no espaço, com o ostensório de prata, uma cruz sobre a multidão, que ajoelha a seus pés e se benze devotamente.

A Imagem da Virgem é reconduzida para a sua capela.

“Levanta-te e anda”

Sucede então um facto extraordinário. Uma senhora de nome D. Helena Violeta Pereira da Silva e Sousa, moradora na rua do Alto de Vila, 318, Foz do Douro, paralítica das mãos e dos membros inferiores, em virtude dum envenenamento por meio de arseniato ministrado por uma criada, ao aproximar-se da Imagem já colocada sobre o seu pedestal, sente-se subitamente curada e, soltando-se dos braços robustos dos servitas que a seguram e amparam, ajoelha em fervorosa acção de graças à Virgem. Passados breves momentos levanta-se e corre em direcção à capela das missas, para adorar e agradecer a sua cura a Jesus Sacramentado. Na sacristia, em que entra seguida de muitos peregrinos, e em que nos encontrávamos também nessa ocasião, fizemos-lhe algumas perguntas.

A multidão aclama entusiasticamente a Virgem Santíssima, que mostrava assim mais uma vez o seu valimento junto de Deus e a sua bondade para connosco.

D. Helena é conduzida ao Posto de verificações médicas, onde vários facultativos a examinaram detidamente. Saindo do Posto, vai despedir-se de Nossa Senhora e, sempre ladeada pelos bravos escuteiros de Leiria, que formam a haie para a livrar dos efeitos da curiosidade e do entusiasmo popular, dirige-se para o automóvel que a transporta a Leiria.

No dia vinte e seis, de passagem para o Congresso Eucarístico Nacional, que se realizou em Braga nos últimos dias de Maio, fomos vê-la à sua casa da Foz do Douro, constatando a permanência da cura, cuja notícia causou enorme sensação em todo o Porto, onde a sua família é muito conhecida.

A ditosa senhora tem sido visitada por inúmeras pessoas entre as quais alguns médicos, que desejavam conhecer pessoalmente a privilegiada da Virgem.

Entretanto a multidão vai diminuindo cada vez mais. A estrada distrital descongestiona-se pouco a pouco. No local sagrado ouve-se apenas o ciciar das última preces e os piedosos cânticos de despedida dos romeiros retardatários.

A noite desce lentamente sobre o teatro de tamanhas maravilhas, envolvendo-o nas pregas do seu manto escuro.

A breve trecho, nessa antecâmara do Céu reina o silêncio majestoso dos grandiosos templos desertos e apenas, de quando em quando, se ouve o eco repetir o cântico longínquo de algum grupo de peregrinos em honra d’Aquela que, no dizer do inspirado poeta,

“Quando Roma em culto alçava

Dom Nuno a trono de luz,

veio a Fátima sorrir-nos

a doce Mãe de Jesus;

Veio dizer-nos, na bruma

da nossa tarde sombria,

que ora do Céu por nós velam

frei Nuno e Santa Maria!”

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