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    • Juventude: crises, cruzes e luzes – José Fernandes de Oliveira
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Nuvem só

Uma nuvem que, sozinha, passeava lá no céu me disse muitas coisas. Nuvens não falam, mas eu as imagino falando. Poetas costumam dar voz a quem não a tem. Leio e estudo filosofia e acredito em sonhos e ilações.

A nuvem que, sozinha, passeava lá no céu, num dia claro de outono, me fez pensar no cidadão sozinho que também não é percebido, até mesmo quando é o único cidadão naquela esquina da vida. Não há solidão mais cruel.

Alguns cidadãos carregam esta sina de, mesmo sendo únicos, não serem percebidos por quem chega. Existem sem existir. São anônimos até quando levam no peito um crachá com o próprio nome. Perguntam- -lhe se aquele é o nome da sua firma...

Penso no que disse um menino de 10 anos numa casa onde era ignorado: “Eu passo, grito, berro e urro e ninguém me ouve. Não é porque não escutam, é porque não querem me escutar”.

O ser humano tem essa incrível capacidade de ouvir sem ouvir e de ver sem ver. Somos seletivos. Vemos o que queremos ver e fazemos de conta de não ver o que não queremos ver. Ouvimos o que queremos ouvir e decidimos que aquele outro som não nos diz respeito. Por isso produzimos tanta solidão e por isso também nos sentimos, às vezes, tão solitários. É que só incluímos em nossa vida o que nos interessa.

Aquela nuvem sozinha no céu me fez pensar nos velhinhos com histórias para contar e ninguém para ouvi-las, nas crianças com historinhas para contar e pais sem tempo para ouvi-las, nos adolescentes com mil façanhas a contar e sem amigos para lhe dizer um “continua”. Para muitas pessoas falta o incentivo de “comunique-se”, “fale que eu ouvirei”. A dor de muitas crianças ou idosos é a falta de ouvidos. As pessoas se fingem de surdas. É uma das grandes dores em família. Isso inclui os pobres e ricos!

É doloroso ter muitas coisas a dizer e ninguém para ouvi-las. A solidão da maioria das pessoas é fruto dessa indiferença. O irônico é que muitos que não têm o que dizer têm à disposição os microfones e as câmeras do mundo e quem tem muito a dizer nunca é chamado a falar para mais do que duas ou três pessoas.

Voltemos à nuvem só! A solidão de milhões de seres humanos vem não tanto de não ter o que dizer, mas de não ter quem os queira ouvir. É difícil explicar uma nuvem solitária, mas ela existe. Vaga pelo céu sem companhia. Amanhã talvez encontre outra. Podemos entre escolher chamá-la de nuvem desgarrada ou de nuvem pioneira. Mas aí depende da nossa cabeça e não da nuvem. Ela sabe por que parou lá em cima!

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