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    • Juventude: crises, cruzes e luzes – José Fernandes de Oliveira
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O Papa falou

Estou lendo e anotando, sentença por sentença, a Exortação Apostólica Pós-Sinodal de Bento XVI, Sacramentum Caritatis. É um passar a limpo magistral dos principais temas que desafiam os católicos no mundo contemporâneo. Estão nos pressionando e enchendo de adjetivos nada agradáveis de se ouvir. Em tese, estaríamos perdendo porque estamos perdendo alguns números. Vem o Papa e pede que firmemos o pé. Se o mundo é teimoso e tem o que dizer a nosso respeito, nós também somos teimosos e temos o que dizer a respeito do mundo que nem sempre nos respeita.

Sendo um sacerdote dehoniano, lembro-me da exclamação do Pe. Dehon no fim do século XIX, quando Leão XIII, após a Rerum Novarum, o mandou divulgar as suas encíclicas. “O Papa falou”, disse ele. “Mãos à obra!”

O que leio na Exortação do Papa? Que sempre estive certo? É claro que não é por aí. Ele não a escreveu para mim. Escreveu para a Igreja, e é melhor que eu continue me encaixando no pensamento da Igreja. É precisamente a isso que ele visa. Quer os padres, os catequistas e os comunicadores da fé definindo claramente o que é ser católico, agrade ou desagrade, custe o que custar, e isso sem perder a caridade e a classe. Tarefa para catequistas maduros e equilibrados! “Pensamos assim, é por aqui que vamos.” O mundo pode dizer o que quiser sobre modernidade, avanço, progresso, retrocesso, que nós, com dois mil anos de história, cheia de pecados e pecadores, mas também cheia de mártires e santos, diremos o que pensamos.

Afinal, o que é modernidade? Só porque alguém se considera moderno e progressista ele é moderno e progressista? O que é ser moderno? A modernidade trouxe imensa quantidade de bens materiais, conforto inimaginável há cinquenta anos; em muitos aspectos, a ciência facilitou a vida e a comunicação humana. Mas em que pé está o cuidado pelos vivos e pelos que poderiam viver? Onde está o respeito pelo embrião e pelo feto, pelos anciãos, pelos doentes, pela família? Não os fazemos esperar seis meses para extirpar um tumor, quando há dinheiro para dez estádios que nos divulgarão perante o mundo? E um país sem doentes a morrer nas entradas e corredores de hospitais, não seria também uma excelente divulgação?

Não estamos atropelando a vida, o amor e a fé em nome de novos dogmas chamados modernidade, globalização, mundialização e livre comércio?

Podemos ou não podemos questionar quem nos questiona? A Igreja questionada pode ou não pode, deve ou não deve questionar o modernismo, o capitalismo, o marxismo, o socialismo, as democracias e as ditaduras do mundo? São assim tão perfeitos que podem nos criticar e não aceitam ser criticados? Nosso púlpito existe só para levar pedradas ou também podemos falar? Se outras religiões podem, nós também podemos. Estamos aqui há mais tempo! Este país nasceu à sombra da Vera e da Santa Cruz!

Podem atirar no Papa na Praça São Pedro e tentar destruí-lo, podem questionar nossas doutrinas, acusando-nos de ultrapassados e retrógrados, e esperam que nos encurralemos num canto? Paulo VI, na Populorum Progressio, João Paulo II, na Redemptor Hominis, e Bento XVI, na Sacramentum Caritatis, perguntaram ao mundo e aos católicos: o que é o progresso? É isso que temos visto?

Progresso é ir à Lua e não conseguir chegar aqui perto, onde milhões de pessoas passam fome e são massacradas? É gastar bilhões para fabricar ogivas e não ter verbas para comprar os produtos dos países pobres? É permitir o aborto e fechar os olhos para o tráfico de mulheres e de crianças e o trabalho escravo?

Qual o papel do Estado? Distribuir camisinhas nas escolas para adolescentes já que não vão parar de fazer sexo, ou ajudar os pais e educar essa meninada? Não é esse o papel da escola? Distribuir milhões de camisinhas no carnaval e nem uma vez mencionar, na campanha, que o melhor seria evitar promiscuidade naqueles dias? Indo na mesma esteira, o que impediria um Estado supostamente liberal e democrático e permissivo de, já que alguns jovens as usam, distribuir drogas nas escolas para que não as recebam dos traficantes? Que tal trabalhar duro para impedir que entrem nela ou para tirá-los de lá?

Quando o Papa questiona a maneira de os padres celebrarem ou se dirigirem ao povo; quando pede mais cultura e mais profundidade dos pregadores; quando reafirma que casar no catolicismo é uma escolha exigente, que entre nós não se facilita um segundo casamento; quando usa a palavra “praga” para mostrar com que facilidade o divórcio entrou na nossa sociedade; quando, sem o impor, propõe o latim em liturgias mais universais e para todos os povos, sugerindo que não joguemos fora uma cultura de séculos; quando pede uma linguagem coesa da Igreja; quando aponta para a unidade e a coragem de a Igreja se afirmar Católica, digam dela o que quiserem; quando ensina a dialogar sem perder as convicções, a ceder no que é possível, sem ceder no que para nós é sagrado e fundamental... nessa linguagem corajosa o Papa está dizendo que é hora de gritar nossa opinião no templo do mundo, como Jesus o fez. Se eles gritam suas ideias pela TV dentro de nossa casa, vamos nós gritar nossas ideias diante dos areópagos deles! Eles podem? Nós também podemos. Eles fazem passeatas e marchas? Nós também temos pernas e somos capazes de nos organizar. Ou não?

Voltemos não necessariamente ao passado, mas a uma era de convicções. Eles falam? Nós também falamos. Temos algo a dizer ao mundo e vamos dizê-lo, sem pedir desculpas por nossas convicções.

Caridade não é agredir, mas também não é ceder para agradar. Vai-se até o ponto em que é possível, sem perder a caridade e o respeito quanto aos outros pontos de discordância.

A Igreja não pensa como o mundo em muitos assuntos. O mundo nos diz todos os dias no que discorda de nós. Pois que ele saiba também no que discordamos dele. Eles têm mídia? Nós também temos. Eles têm um médico famoso e um presidente que nos chamam de hipócritas? Não lhes daremos o mesmo adjetivo, mas ouvirão a nossa voz. Se são inteligentes, nós também somos. Eles têm o seu porquê e se acham modernos? Nós também!

O mundo discorda de nós na questão do aborto, da camisinha, do feto, da droga, do modo como tratar a Aids? Vejam quem mais criou casas de acolhida para as vítimas da droga e da Aids... Nem por isso achamos que se deve liberalizar tudo ou distribuir camisinhas no carnaval. Pode ser moderno, mas não é ético. Cada caso é um caso e como tal deve ser tratado por médicos, religiosos e políticos, preocupados em formar uma geração que aprende a esperar.

Quando riem de nós e de quem propõe a espera pelo encontro, o Papa diz que é isso mesmo que deve ser ensinado aos adolescentes e aos jovens. A televisão mostra o que quer nas suas novelas. Nós, católicos, ensinaremos diferente nas nossas Igrejas, lares, encontros e mídia. E se pudermos, daremos, sim, a nossa opinião! Temos o mesmo direito que eles! A democracia que ajudamos a formar e a preservar também existe para nós.

O texto da Sacramentum Caritatis é suave em algumas passagens e, em outras, duro e contundente. Filósofos e teólogos se debruçam sobre ele e, enquanto alguns condenam, muitos que nem são católicos entendem que é uma afirmação corajosa de quem acha que também tem o que dizer e está dizendo em letras garrafais.

Bento XVI não é de hoje. Quem se der à curiosidade de ler o seu livro-entrevista com Peter Seewald, O sal da terra, vai ver o então Cardeal Ratzinger dizer exatamente isso que diz agora na sua Exortação. Não pediu para ser Papa, não ficou Papa para agradar ou desagradar, mas para afirmar e, se preciso, proibir.

Quem quiser adjetivá-lo que o faça. Quem quiser adjetivar os católicos que o faça. Já somos adjetivados como Católicos Apostólicos Romanos. Os outros adjetivos podem até nos ferir, mas passam. O que precisa ficar é que temos uma visão e uma palavra, e elas serão mostradas. Os outros não mostram as suas?

Sacramentum Caritatis é teologia forte. Podemos todos mudar. Todos, incluindo os pregadores tidos como profetas. A coisa mais errada seria dizer que o Papa aprovou o que dizemos e fazemos e condenou os outros. Seria também a coisa mais sectária e infantil a se fazer. Não é assim que se recebe uma Exortação Apostólica. Quem fazia missa-espetáculo ou defendia a distribuição a granel de camisinha precisa repensar sua postura. Quem pregou política com viés marxista ou capitalista também deve reconsiderar. Quem facilitou casamentos e cerimônias de gente que não estava preparada para tal sacramento tem que mudar de atitude. Quem se resumiu a fazer da fé uma festa de cantos e danças precisa repercutir mais a doutrina social dos católicos.

Seremos bons sem sermos bonzinhos e bonachões, e exigentes sem sermos truculentos. Todos precisamos mudar. Acentuar nossa fé católica passa por repensar a nossa pregação! É como dizemos na missa: é bom, é justo e nos faz todos ser mais santos!

Quem não leu, leia! Vai saber o que o Papa disse e por que o disse daquele jeito. Que os católicos saiam a campo!

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